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Evolução da Gestão de Resíduos

Relativamente à gestão de RSU, em 1995 Portugal detinha-se perante um cenário degradante, resultado da aglomeração de várias lixeiras a céu aberto existentes no País. Este era caracterizado pela existência de detritos em contínua combustão, com despejos indiscriminados, facilitando uma exposição directa entre estes e as pessoas sem condições financeiras que procuravam materiais para reutilizar. A localização de uma lixeira era feita através da visualização de fumos e da inalação de intensos cheiros incomodativos para a vizinhança.

O PERSU apresenta, de uma forma sintetizada, o diagnóstico da situação de gestão de resíduos existente em 1995, os objectivos e as acções a desenvolver em cada grupo de resíduos. Este plano permite salientar que os resíduos urbanos mereceram e merecem uma posição de destaque perante a situação nacional, devido ao crescimento demográfico e consequente aumento da sua produção.

Em 1994, a deposição incontrolada de resíduos representava cerca de 50% da sua produção, sendo as únicas formas disponíveis para destino final, as lixeiras, os aterros e a compostagem. A Figura 7.6 permite visualizar o cenário existente nesta época, a partir da qual se pode referir que a maior parte dos resíduos eram encaminhados para as lixeiras.

54 %

34 %

12 %

Lixeiras Aterro Compostagem

Destino Final RSU (1000 ton/ano)

primordial de dotar o País de um sistema de gestão e tratamento estrategicamente adequado, tendo em conta o cenário degradante compreendendo 341 lixeiras, 13 vazadouros controlados e 5 estações de compostagem.

Este documento previa que até ao ano de 2000, a separação, reutilização e reciclagem teriam que fazer parte dos hábitos comportamentais do quotidiano da população portuguesa.

O PERSU colocou também alguns desafios e tomadas de acções a desenvolver entre o período de publicação do documento e o ano 2000. Entre elas destaca-se essencialmente a irradicação das lixeiras e a disposição municipal de sistemas de gestão de resíduos, tendo em consideração:

- a prevenção, através de uma mobilização e convergência de esforços entre os produtores e consumidores;

- o tratamento, colocando restrições na fracção de resíduos eliminados em aterro não ultrapassar os 30% e a fracção de resíduos a serem eliminados por incineração ser inferior a 30%, promovendo técnicas de baixo custo para as zonas rurais e de ocupação dispersa, instalando e incentivando novos sistemas de tratamento;

- a valorização, limitando a fracção de resíduos a serem eliminados por compostagem ao valor máximo de 15%, criando estratégias de recolha selectiva em função das características e dos aglomerados populacionais e incentivando a deposição e a recolha selectiva através da sensibilização da população e criando incentivos financeiros e fiscais nas várias instalações de valorização de resíduos.

A urgente necessidade de cumprimento destes objectivos e de aproveitamento dos financiamentos comunitários, levou a que o Ministério do Ambiente acelerasse o processo de aplicação dos pressupostos impostos.

Desta forma a situação do estado de exploração das lixeiras foi avaliada, tendo sido adoptada uma filosofia de remediação e não de descontaminação imediata dos locais, constituindo uma das primeiras prioridades de acções a desenvolver em matéria de gestão dos RSU. As intervenções efectuadas basearam-se na modelação da massa de resíduos, drenagem periférica e/ou pontual de lixiviados, drenagem de biogás, de águas pluviais, cobertura final, arranjo paisagístico, a queima de biogás em lixeiras de grande dimensão e situadas na proximidade de novos aterros e criação de um sistema de monitorização.

Como concretização dos objectivos pré-definidos no PERSU foram implantados sistemas de monitorização e acções de sensibilização.

A metodologia de encerramento das lixeiras teve como base o recurso a critérios físicos e ambientais [7]. Desta forma, as acções e intervenções realizadas foram as seguintes:

- Levantamento (Diagnóstico) que consistiu no estudo e análise da lixeira e da zona envolvente;

- Estudo, Projecto e Obra: baseado na concepção, planeamento, execução e fiscalização da obra;

- Monitorização: implementação de programas de controlo de lixiviados, águas subterrâneas e biogás.

O encerramento da última lixeira datado de 28 de Janeiro de 2002 marca o fim de anos de polémica associados a estas instalações que foram substituídas por unidades de deposição controlada dos resíduos.

A deposição descontrolada dos resíduos em lixeiras que se encontravam nas imediações de zonas habitacionais e dos riscos envolvidos deu azo a que se gerassem conflitos populacionais nos locais em que se previa a implantação de aterros sanitários para deposição de RSU. A origem destes conflitos centrava-se na descrença de uma população habituada a conviver com lixeiras na vizinhança durante toda a sua vida, pelo que a implementação destas unidades foi fortemente acompanhada pela desconfiança da credibilidade dos estudos efectuados, sendo agravada pelo célere andamento dos processos.

A maior parte dos aterros construídos já demonstram alguns sinais de mau funcionamento, tanto a nível de deficiências encontradas nas respectivas estações de tratamento de lixiviados, como constatado pela Inspecção-Geral do Ambiente, como na falta de rigor na gestão e cumprimento dos fins inicialmente previstos. É de realçar que, em Portugal, um dos maiores problemas dos aterros para RSU está relacionado com a deposição dos resíduos de muitas indústrias que faziam a descarga dos seus resíduos nas lixeiras municipais. Este facto é devido à inexistência de situações alternativas, uma vez que no País o processo de construção dos aterros industriais se encontra atrasado, pelo que o Ministério do Ambiente foi autorizando a deposição deste tipo de resíduos nos aterros

Em matéria de gestão de embalagens e resíduos de embalagens o plano de acções do PERSU centrou-se na concretização das seguintes metas:

- Criar legislação adequada para a gestão de embalagens reutilizáveis e não reutilizáveis;

- Incentivar a adesão da população a sistemas de recolha selectiva multimaterial;

- Diminuir a fracção de embalagens existente nos RSU, impondo um limite máximo de 25% (1000000 toneladas) para o ano 2000;

- Valorizar 50% das embalagens geradas em 2000 e dessas embalagens reciclar no mínimo 25%, sendo o material restante destinado a incineração com recuperação energética.

A Figura 7.7 apresenta a evolução da gestão dos resíduos urbanos em Portugal durante os anos de 1994 a 2001, apresentando também as metas definidas no PERSU para o ano 2000 e 2005. Este gráfico permite referir que, relativamente aos objectivos preconizados pelo PERSU, não foi atingida a valorização por compostagem e recolha selectiva dos resíduos para 2000.

Figura 7.7 Tratamento e destino final dos RSU em Portugal continental [23]

Através de várias reformulações legais, foi possível alargar os horizontes da responsabilização e do mercado de resíduos em Portugal através da criação de sistemas gestores multimunicipais e intermunicipais em relação directa com os municípios.

Pode referir-se que em 2001, os aterros sanitários constituíam um destino de 56,5% dos RSU produzidos.

Actualmente, a gestão de RSU em Portugal é realizada por 30 sistemas, abrangendo 100% dos resíduos tratados adequadamente. Neste momento pode afirmar-se que a taxa de cobertura da população com destino adequado de RSU é de 100% para o continente.

Foram construídas unidades de tratamento e de destino final adequadas, através da implementação de estações de compostagem, incineração e de deposição controlada em aterro. Foram instaladas estações de transferência e desenvolvidos sistemas de recolha selectiva, através da instalação de ecopontos e ecocentros em sistema trifluxo.

Até 2002 pode dizer-se que o incentivo à recolha selectiva levou à instalação de vários ecopontos distribuídos pelo País, sendo que em 2001, se obteve uma densidade média de 700 hab/ecoponto. Por sua vez, a implantação de ecocentros em várias localidades do País permitiu a recolha de diversos fluxos de resíduos e de fileiras de materiais. Este facto permite evidenciar o êxito da recolha selectiva, através da utilização de campanhas de sensibilização às populações.

Algumas estações de compostagem existentes foram encerradas, alteradas e ampliadas, tendo em vista a optimização dos processos de tratamento e a melhoria de controlo da poluição e da proliferação de odores. O composto produzido é utilizado para fins agrícolas, como correctivo orgânico em vinhas, jardins e culturas hortícolas.

Devido às elevadas densidades populacionais e à produção de resíduos associada, foram construídas duas centrais de incineração de RSU com recuperação de energia. Cada instalação tem um consumo interno de cerca de 10% da energia produzida, sendo o restante exportado para a Rede Eléctrica Nacional.

No Anexo B são apresentadas as unidades de valorização orgânica e energética existentes em Portugal, bem como as respectivas capacidades de tratamento.

De uma forma geral, pode dizer-se que para a gestão dos RSU em Portugal são utilizados 37 aterros, 5 unidades de valorização orgânica, 2 unidades de incineração e 77 unidades de transferência. Em termos de recolha selectiva pode referir-se que, em 2002, estavam instalados cerca de 133 ecocentros, 13492 ecopontos e 29 unidades de triagem, cobrindo uma área ocupada por 80% da população. A recolha selectiva passou de 28000 toneladas de RSU em 1996 para 190600 toneladas em 2001.