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Países em Desenvolvimento

A maior parte dos locais urbanos de países em desenvolvimento têm tido a experiência da redução na recuperação dos materiais reciclados e o correspondente aumento de resíduos pós-consumo.

A escassez de matéria-prima, a ocorrência de situações de pobreza, a disponibilidade dos trabalhadores para aceitar baixos ordenados e a existência de vastos mercados de bens usados e produtos derivados da reciclagem dos plásticos e dos metais leva à necessidade da população encontrar, nos resíduos, o seu meio de sobrevivência. Nestes países, os resíduos que eram conduzidos para a reciclagem ou depositados em aterros num país industrializado, têm um importante valor.

A redução de resíduos que seria alcançada unicamente com legislação, não tem, no presente, constituído uma elevada prioridade, embora alguns países deste grupo se estejam a deslocar nesta direcção. Os equipamentos velhos são vendidos a valores baixos para outras indústrias menores e menos avançadas. A saúde pública está a beneficiar com a reutilização de embalagens de plástico e de cartões que permitem reduzir os riscos de contaminação dos alimentos.

Todas as cidades têm mercados para bens usados, sendo este sistema adaptado às flutuações de mercado.

Muitas pessoas estão relacionadas com actividades de recuperação, processamento e reciclagem e as alternativas de encontrar outro tipo de trabalho são escassas.

As organizações governamentais são mais sensíveis às necessidades de emprego que às considerações governamentais, pelo que estão preparadas para correr alguns riscos ambientais e de saúde pública em prol da geração de empregos.

Figura 6.4 Pequena instalação de reciclagem de papel [31]

Do ponto de vista da redução de resíduos, as práticas de reparação e reutilização, e a venda, troca ou doação de bens usados são uma vantagem para os países pobres. Sem esta actividade, as quantidades de resíduos inorgânicos produzidas seriam muito elevadas.

Neste sentido, estas sociedades devem ser alertadas para mudanças socio-económicas que ameacem a conservação das tradições de reaproveitamento de materiais usados. Quando os padrões de vida se elevam, a separação voluntária tem tendência a diminuir a não ser que seja encorajada por um programa que incentive a gestão ou que se mantenham convenientes as vendas de materiais recicláveis. A importação de materiais pode encurtar o mercado de materiais locais resultando num decréscimo da recuperação de resíduos.

Quando as motivações económicas para a separação diminuem, a educação pública deve ser suficiente para garantir a gestão independente dos problemas ambientais.

O financiamento municipal da recolha selectiva de recicláveis requer o conhecimento de mercado, a coordenação da recolha de resíduos e a elaboração de planos de educação pública.

Prioridades para os países em desenvolvimento

A hierarquia adoptada em muitos países industriais com elevados padrões de vida pode não ser apropriada para alguns países menos desenvolvidos. O departamento de gestão de RSU deve encorajar a redução e a recuperação de materiais pelo sector privado. Os municípios devem ter cuidado ao adoptar programas e tecnologias ocidentais, embora

Embora a redução de resíduos não seja tão importante como é nos países industrializados, os países em desenvolvimento devem ser alertados para o crescimento das práticas de rejeição que resultem dos processos industriais e dos modos de consumo dos países desenvolvidos.

A primeira prioridade é separar os resíduos orgânicos dos restantes resíduos, uma vez que constituem uma parcela significativa na composição dos resíduos. A segunda prioridade é suportar a máxima redução/recuperação de materiais sintéticos sem separação dos RSU.

A Figura 6.5 apresenta um trabalhador a utilizar plásticos para produzir sandálias.

Figura 6.5 Produção de sandálias a partir de plásticos [31]

Argumentos contra a recuperação de materiais em países em desenvolvimento

A recolha e negociação de resíduos exige recursos. Em muitos casos a separação na fonte apoiada pelas autoridades municipais não reduzirá necessariamente a quantidade de resíduos depositados pelas autoridades. Esta razão deve-se a que muitos recicláveis com valor já se encontram separados da corrente de RSU pelos produtores de resíduos, através de sistemas privados e/ou informais de comércio e reciclagem de resíduos. Nestes casos, o departamento de gestão de RSU não será capaz de suportar os elevados custos de recolha selectiva através da venda de materiais residuais que não são vendidos pelos produtores. Como exemplo, podem apontar-se algumas cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que não foram capazes de cobrir os custos de recolha de materiais mesmo quando as redes locais de recuperação diminuíram [31].

Um impedimento adicional ao apoio municipal de recuperação de materiais advém do facto da existência de muitos indivíduos e pequenas empresas que se desenvolvem através da recuperação e negociação de recicláveis, uma vez que os resíduos separados na origem, para posterior recolha municipal, seriam roubados antes do município os recolher.

Devido aos elevados problemas laborais em países em desenvolvimento, é muitas vezes problemático reduzir o emprego do sector privado de recuperação e negociação de resíduos e transferi-lo para o sector público, o que justifica a ineficiência do sector público na gestão de resíduos.

Os métodos de separação na fonte e recuperação de materiais usados nos países industrializados podem constituir boas práticas de gestão sempre que o sistema informal encolher (como em Kuala Lumpur) ou onde existem poucas indústrias de reciclagem (como o caso de cidades africanas).

Estratégias de gestão de resíduos em países em desenvolvimento

Cada cidade ou local dos países em desenvolvimento deve estudar as características dos seus resíduos e aceder ao potencial de redução local. Existem locais com um elevado potencial de reciclagem (como o Cairo e Calcutá) e outros locais que possuem um baixo potencial de reciclagem (países visitados por turistas, como Guam e St. Kitts).

As ferramentas de promoção da redução e recuperação de resíduos nos países em desenvolvimento devem consistir em:

- realização de campanhas de educação promocional;

- estudo das correntes de resíduos produzidos (análises à quantidade e composição), sistemas de recuperação e reciclagem, mercados para materiais recicláveis e problemas de estabelecimento de estratégias para as autoridades locais;

- apoio à separação na fonte, recuperação e redes de negociação para o mercado de resíduos;

- facilidade de implementação de pequenas empresas e sociedades público-privadas;

- assistência a pessoas que recolhem de modo a remover a recolha manual através da implementação de programas de formação ou

- elaboração de legislação adequada para a redução de embalagens, recuperação e reciclagem de materiais;

- exportação dos materiais reciclados, quando há necessidade em países vizinhos, assegurando a inexistência de toxicidade;

- promoção da inovação através da criação de novos usos para os materiais e bens que poderiam ser depositados após o seu uso inicial.

Os trabalhadores e algumas pequenas empresas utilizam poucas tecnologias para optimizar os métodos de reciclagem e para produzirem novos resíduos. Usualmente não têm apoio financeiro. As condições de trabalho na recuperação e reciclagem são muito más, especialmente para trabalhadores do mais baixo nível laboral, como a utilização de mulheres na separação e “apanha” de resíduos, conforme apresentado na Figura 6.6. Os pequenos intermediários e compradores de resíduos trabalham com impedimentos, como a perseguição das autoridades locais e de grandes empresas do sector. A recolha de resíduos é abominada, mas são tomadas muito poucas medidas no apoio às pessoas que o fazem.

Figura 6.6 Recolha de resíduos por mulheres na América Latina [31]

Embora a recuperação e reciclagem sejam os princípios básicos de um desenvolvimento sustentável, impõem significativos riscos de saúde para as pessoas envolvidas, especialmente quando não existem cuidados com o seu manuseamento. Estes problemas acontecem frequentemente em locais onde as práticas sanitárias de segurança são inexistentes ou deficientes. Algumas indústrias de reciclagem de países em desenvolvimento podem ser mais poluentes que aquelas que utilizam matérias-primas provenientes dos recursos naturais, uma vez que não existe legislação regulamentar, nem, na maior parte dos casos, há capacidade para fiscalizar o seu cumprimento.

Na América Latina, as cooperativas e empresas de pequena escala têm tido algum sucesso na compra e venda de materiais recicláveis, tendo impactes benéficos para a sociedade.

Estas instituições necessitam de apoio externo para a fase inicial, sendo preferível que este apoio seja proveniente das autoridades locais. Idealmente, a autoridade local deve proporcionar a localização adequada onde os materiais recicláveis possam ser armazenados e separados antes de serem vendidos a empresas ou intermediários. A coordenação de esforços com empresas que usem os materiais secundários é importante uma vez que garante o fluxo de materiais. Estas empresas requerem formação e suporte no processamento dos materiais, tornando a gestão de resíduos num processo com baixos riscos para a saúde e o ambiente.

São exemplos da multiplicação destas organizações, as cooperativas de recolha situadas na Colômbia e no Peru.

Analistas da gestão de resíduos urbanos na América Latina concordam que este tipo de abordagem é mais viável em termos tecnológicos e económicos que a gestão municipal. Eles usam carroças motorizadas ou transportadas por pessoas, que são mais baratas e menos poluentes que os camiões de recolha. Os custos administrativos são mais baixos que os de gestão municipal. Por outro lado, as pessoas que recolhem os resíduos são membros de comunidades pobres, pelo que os empregos criados são necessários. Existem exemplos de tentativas de implementação do mesmo tipo de gestão de resíduos através do uso de cooperativas noutros continentes, como a Índia, Ásia e África, sendo que alguns não obtiveram sucesso devido a variados factores, tais como a diferença de áreas abrangidas e a necessidade de estabelecer sistemas de larga escala [31].

Por outro lado, em alguns locais de países em desenvolvimento verifica-se a recolha manual e directa dos resíduos, uma prática muito arriscada devido ao forte potencial de proliferação de doenças, uma vez que as pessoas não utilizam qualquer tipo de equipamento de protecção e muitas vezes é feito por crianças ou mulheres grávidas. As autoridades não têm capacidade para forçar a proibição, uma vez que se tratam de comunidades pobres que procuram nos resíduos uma forma de sobrevivência. Neste sentido, são sugeridas algumas acções por parte de organizações não governamentais e activistas que consistem em [31]:

- providenciar o acesso aos cuidados básicos de saúde;

- regular o sistema de recolha, através da designação de áreas de recolha em estações de transferência;

- proporcionar a formação de cooperativas para melhorar os seus lucros e condições de trabalho;

- controlar a recolha de resíduos nas ruas e os compradores intermediários.

7 Gestão de RSU em Portugal

A Lei de Bases do Ambiente e outros diplomas conferiam às Autarquias, em 1995, a responsabilidade na gestão de resíduos. Estas efectuaram um enorme esforço na recolha e transporte de resíduos, abrangendo nessa data, cerca de 98% da população, sendo que 46% era servida por um sistema de tratamento de RSU. Este documento indiciava também a necessidade de elaboração de um Livro Branco sobre o Estado do Ambiente que deveria ser entregue periodicamente à Assembleia da República.

O PERSU, publicado em 1997 constitui um dos primeiros documentos oficiais elaborados no sentido de avaliar o estado de gestão de resíduos em Portugal.