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A Evolução dos Meios e das Motivações da Diplomacia Económica: da Promoção das Exportações à Captação de Fluxos de Investimento

CAPÍTULO I: A DIPLOMACIA ECONÓMICA E A INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA

1.2 A Evolução dos Meios e das Motivações da Diplomacia Económica: da Promoção das Exportações à Captação de Fluxos de Investimento

Foi nos anos 50 e 60 (do século XX) que a diplomacia económica alcançou em relação às empresas a sua máxima expressão e alcance. Este período é fundamental para descrever um conjunto de práticas que resultaram de uma política continuamente aperfeiçoada ao longo dos anos e que engloba três aspectos, nomeadamente:

1. Protecção das empresas; 2. Informação;

3. Apoio material e financeiro para enfrentar as exigências excepcionais dos mercados externos.

Em cada um destes aspectos as décadas seguintes – 70 e, sobretudo, 80 – trouxeram limites e alterações que conduziram à sua reavaliação.

A protecção das empresas e do seu pessoal é uma das missões mais antigas da diplomacia. Actualmente, em caso de guerras ou de crises é o Estado de Direito que acaba por intervir e quando surge um conflito, a solução surge pelas vias do direito ou através de garantias financeiras acordadas entre os Estados e as empresas.

A defesa das empresas não se exerce pela força, mas através de mecanismos oficiais, acompanhados, em cada caso, pelos respectivos meios de direito: tribunais, arbitragem, mecanismo de resolução de litígios da OMC.

Hoje em dia a maior parte dos conflitos resolve-se de acordo com procedimentos específicos e pacíficos. Quando as pressões são exercidas, elas têm lugar no plano comercial, enquanto o controlo jurisdicional progride.

Todavia, em termos de violação de regras, é mais fácil punir quem viola a nível de comércio interno, do que quem viola as regras a nível de comércio internacional. No âmbito do comércio internacional as regras muitas vezes são diferentes das do comércio interno, e aparentemente existe menos aparato jurídico de protecção.

Há um século atrás a informação esteve na origem da criação dos Adidos Comerciais. Naquela época e durante algum tempo a informação disponível era, de uma maneira geral, cheia de lacunas, insuficiente, pouco homogénea e de difícil acesso.

Em torno da informação eram e são organizados encontros, missões de prospecção, manifestações comerciais. Todavia, o papel do Adido Comercial está praticamente esgotado devido ao seu próprio estatuto público: ele não se pode substituir às empresas, não pode negociar e concluir as negociações por elas e não pode realizar actos comerciais em seu nome.

MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Face às grandes transformações ocorridas nos últimos anos em matéria de informação, ela tornou-se excessivamente abundante. A informação circula a uma grande velocidade, é largamente pública, está disponível nos centros de documentação e os bancos de dados são consultáveis em qualquer ponto do globo. Winston Churchill defendia que o zelo e a eficiência de um diplomata media-se pela qualidade e não pela quantidade de informação fornecida.

Acresce um facto novo, os prestadores de serviços, cada vez mais numerosos, têm capacidade de responder às crescentes exigências das empresas.

As ajudas materiais e financeiras concedidas às empresas com o objectivo das ajudar a ultrapassar as exigências excepcionais dos mercados externos no passado eram numerosas e variadas. Estas ajudas foram o resultado da conjugação de quatro motivos que levaram à criação de uma importante panóplia de intervenções: cobrir riscos de excepção, igualar as condições de concorrência (financiamentos a exportações a médio e longo prazo), promover a exportação, e desenvolver as transações barter trade.

A característica comum a todas estas medidas de ajuda era a aplicação de mecanismos gerais a operações pontuais: a um determinado contrato, a um certo investimento, etc.. Existia um exame, caso a caso, com base em estudos elaborados pelas missões diplomáticas no estrangeiro, em determinados países, nomeadamente, nos grandes consumidores de créditos, consagrando uma parte importante dos seus trabalhos a esta tarefa. Para muitos, eles produziam excelentes instrumentos da diplomacia económica: atribuir a um país condições de financiamento preferenciais. No entanto, Carrière12 aponta dois limites ao desenvolvimento destes dispositivos:

ƒ o desvio que era possível manter em relação às condições de financiamento ou de seguros disponíveis no mercado para que elas fossem suficientemente atractivas;

ƒ o esforço financeiro que os Estados “dispensadores” destas facilidades tinham a possibilidade de consentir, pois toda a subvenção equivale a pagar mais caro do que a paridade normal as divisas que se procuram ganhar.

Sobre estes dois aspectos ocorreram, a meio do período considerado, importantes alterações:

ƒ Em matéria de financiamento, o desenvolvimento de novas técnicas e a desregulamentação financeira permitiram encontrar no mercado recursos abundantes e condições flexíveis, muitas vezes melhor adaptadas às necessidades dos compradores.

MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

ƒ A disciplina instaurada pela OCDE relativa quer ao crédito à exportação, quer à ajuda pública, conduziu à restrição do carácter de concessão das primeiras e, em sentido inverso, ao aumento das segundas.

À semelhança do que aconteceu com os meios utilizados, também as motivações dos anos 50 e 60 parecem ter sido ultrapassadas pelos acontecimentos.

Se a diplomacia económica continuasse somente a privilegiar a exportação, entraria em contradição com as estratégias das empresas. É evidente que as exportações continuam a ter um papel importante, mas apenas como elemento parcial de influência internacional de uma economia, constituindo um indicador incompleto da sua competitividade.

Uma das consequências da globalização e da mundialização é o facto das empresas terem passado a dispor de uma escolha mais ampla do que no passado nas vias do seu desenvolvimento económico. Seguindo a sua estratégia, mas também produto por produto, país por país, as empresas podem agora optar entre exportação ou fabricação no estrangeiro, e nesse sentido investir nelas ou no estrangeiro, produzir directamente ou em parcerias, as quais podem ser subcontratadas, licenciadas, franchisadas ou simplesmente aliadas. Somente uma opção está excluída: o desconhecimento do exterior - o isolamento no mercado doméstico. Neste sentido, as “cruzadas públicas” para encorajar as empresas a irem para o estrangeiro deixam de ser necessárias: o trabalho já está feito!

No mundo de múltiplas possibilidades em que vivemos, os Estados já não podem basear a sua acção em objectivos pontuais e simples. Cabe às empresas a escolha dos melhores vectores de desenvolvimento. Neste contexto, é em torno deles que é necessário traçar para o futuro os objectivos da diplomacia económica no terreno e, consequentemente, é o seu desenvolvimento, o seu reforço, a sua influência internacional que poderá ser o seu novo objectivo.

No plano externo, a estratégia da diplomacia económica pode ser modelada de várias maneiras em relação às empresas: pode seguir a via clássica de apoio às empresas, seguidamente, deve acrescentar-se a investigação de uma internacionalização mais exaustiva da economia do país. Neste sentido, a preparação para os mercados externos das empresas que têm a capacidade de os enfrentar, mas ainda não tentaram, é essencial, bem como a investigação sistemática de oportunidades existentes no mercado e que ainda não foram percebidas.

Neste novo contexto, os Embaixadores e os Adidos Comerciais já não se exasperaram em relação ao que eles consideram ocasiões desperdiçadas no país onde estão em representação devido à falta de interesse das empresas. Eles conhecem melhor do que ninguém as suas capacidades, os seus pontos fortes.

MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

O trabalho de exploração do mercado, de pesquisar e de informar as empresas é essencial. No Estado semelhante serviço só pode ser realizado pelos serviços da diplomacia económica pois nenhuma outra pessoa está encarregue da internacionalização da economia do país.

A existência de fortes comunidades de emigrantes consolida as actividades económicas no estrangeiro. Geralmente, a densidade de um meio expatriado, bem integrado no meio local constitui um terreno favorável à entrada de novas empresas. Aí as empresas poderão encontrar bases de apoio (uma base de acolhimento, estabelecimentos de ensino, ...), as quais contribuem para o seu reforço e favorecem o sentido da entreajuda relativamente aos compatriotas e também agir a favor da internacionalização da economia.

“Finalmente, a novidade encontra-se na alteração do centro de gravidade da diplomacia microeconómica. Outrora ela ordenava-se em torno do Estado. (...) Doravante, é em torno da competitividade que tudo tende a organizar-se. Quem diz competitividade, diz o mercado onde ela se exerce e é efectivamente sobre o mercado que se vai encontrar a diplomacia económica a ajudar as empresas a explorar melhor as possibilidades e a utilizar para tal os meios mais inspirados em métodos comerciais do que provenientes do poder público.”13

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