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O Investimento Directo de Portugal no Exterior por Países de Destino

CAPÍTULO II: O CONTEXTO DO INVESTIMENTO DAS EMPRESAS PORTUGUESAS NO BRASIL – UMA COMPONENTE CHAVE DA

2. Como internacionalizar – escolha das formas ou modalidades de

2.2.1 O Investimento Directo de Portugal no Exterior por Países de Destino

Ao longo da história o IDPE tem assumido um papel de reduzida importância e expressão pouco significativa. Apenas merecem destaque os investimentos realizados no Brasil e na Venezuela, no período de 1974 a 1997, como reflexo das migrações políticas de nacionais, em ruptura com o novo regime português, nomeadamente durante o PREC.

Este panorama alterou-se substancialmente na década de 90, particularmente na segunda metade.

1990 90/1995 1996 1998 2000 96/2000

MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Com efeito, em termos dos destinos, o IDPE dirigiu-se, sobretudo, para os países da UE e para o Brasil. No seu conjunto, no período 1996/2002, e em termos líquidos, representaram 88,7% do total investido no exterior.

No seio da UE verificou-se uma forte presença em Espanha, em que se regista 27,5% do total do IDPE. Este facto é facilmente explicável pela proximidade dos dois países, bem como a natural interligação das suas economias.

Fora da UE, conforme demonstra a tabela 2.4, o Brasil é, sem dúvida, o país eleito, apresentando 36,6% do total líquido investido por Portugal no exterior, no período considerado. Esta escolha por parte do tecido empresarial português deve-se ao processo de privatizações ocorridas no Brasil, aliado à identidade cultural que liga os dois países e à necessidade de internacionalização das empresas portuguesas. A partir de 1998, constatou-se uma alteração qualitativa da posição de Portugal de investidor líquido no exterior.

Paralelamente, as empresas portuguesas ficaram atentas ao desenvolvimento das economias do Norte de África, representando o Egipto, Marrocos e Tunísia, no período 1996/2001, cerca de 5,0% do total do IDPE. Em 2002, os valores disponíveis, evidenciam um desinvestimento líquido nesta região, o qual no entanto, em parte, estará relacionado com a operação efectuada pela Cimpor, que se traduziu na transferência da totalidade das suas participações nas empresas sediadas em Marrocos, Tunísia, Egipto e Brasil, para a sociedade de direito espanhol - Cimpor Inversiones, S.L. - de que é detentora, directa ou indirectamente, da totalidade da empresa.

Em relação ao investimento directo português nos PECO, na altura candidatos à UE, a Polónia foi o principal eleito, registando entre 1996 e 2001, cerca de 2,0% do total. Contudo, em 2002, assistiu-se a um desinvestimento líquido neste país e que estará, em parte, relacionado com a reestruturação operada em 2002 no Grupo Jerónimo Martins que, entre outras medidas, envolveu a alienação de participações detidas pelo Grupo no exterior, nomeadamente na Polónia.

Com valores mais modestos, surgem os PALOP, que representaram cerca de 2,4%, (tendo, mais de metade destes recursos sido canalizados para Angola) e os EUA (1,4%).

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Tabela 2.4

Investimento Directo de Portugal no Exterior

Por País de Destino

Valores Líquidos

Unid:106 Euros

(-) Desinvestimento

Fonte: Claro e Escárnio, 2003, p. 91.

Os valores elevados de IDPE registados nos “Outros Países” nos anos de 1998 e 1999 respeitam essencialmente, às Ilhas Cayman e Bahamas, sugerindo que se trata de uma mera passagem de capitais por estes territórios, com destino efectivo para outros. Numa análise do IDPB, utilizando como fonte estatística, o Banco do Brasil, constataram-se significativas divergências, nos anos de 1998 e 1999, face aos dados do Banco de Portugal, daí ser possível aceitar que parte do movimento de capitais registado em “Outros Países” terá tido como efectivo destino o Brasil.

Centrando a atenção no Brasil, foi possível potenciar o investimento das empresas portuguesas neste país dado que se exploraram as virtualidades de uma conjuntura assente em dois aspectos convergentes:

ƒ por um lado, a política do Governo português centrada na internacionalização – que coincidiu com o período de privatizações no Brasil;

ƒ e, por outro, o interesse e as estratégias dos principais grupos empresariais em irem para o exterior.

Foi um ano após o lançamento da política pública de apoio à internacionalização que o IDE português atingiu o “pico” mais elevado, sofrendo uma redução em 1999, mas a qual não se pode afirmar que tenha sido significativa.

As privatizações entretanto realizadas no Brasil desempenharam um papel activo na captação de IDE neste país, atingindo valores entre um quarto e um terço do total de IDE nos anos mais recentes. E foi justamente através das privatizações que foi possível a entrada significativa de algumas das principais empresas portuguesas no Brasil.

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Tabela 2.5

Investimento Directo Estrangeiro e Privatizações no Brasil (106 USD)

Privatizações Outros Total % Privatizações no Total 1995 __ 5475 5475 __ 1996 2645 7851 10496 25 1997 5249 13494 18743 28 1998 6121 22360 28480 21 1999 8768 22612 31397 28

Fonte: Mendonça, 2001a, p. 23.

Segundo dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil4, até ao primeiro semestre de 2001, Portugal investiu naquele país mais de US$ 8 biliões (conforme demonstram as figuras 2.4 e 2.5). Deste montante global, US$ 4,2 biliões repartiram-se no âmbito do processo de privatizações na área das telecomunicações, através da Portugal Telecom, com a aquisição de participações nas empresas Telesp Celular, Telesp Fixa e CRT, e as privatizações noutras áreas explicam parte substancial do remanescente do IDE português, com especial destaque para a EDP, que adquiriu a distribuidora de energia Bandeirante (segunda maior empresa da área no Estado de São Paulo). No total, Portugal foi responsável por 5,8% dos capitais estrangeiros atraídos para o processo de privatizações brasileiro, somente atrás dos Estados Unidos (16,5%) e de Espanha (15%).

No entanto, o investimento nacional no Brasil também teve lugar em outros sectores à margem do processo de privatização da economia. Os sectores mais visados pelos investidores portugueses foram os cimentos e a distribuição. Empresas como a Cimpor e a Sonae Distribuição (e, em menor escala, o Grupo Jerónimo Martins) conquistaram posições de destaque no mercado, através de várias aquisições de empresas locais, apresentando-se actualmente como a terceira e quarta maiores empresas, respectivamente, em termos de facturação anual, nos sectores cimenteiro e de distribuição do Brasil.

4 Cf. J. G. Queiroz de Ataíde, “As Relações entre Portugal e o Brasil: Uma Perspectiva Económica”, in

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Figura 2.4

Evolução do Investimento Português no Brasil – 1995/ 1º Semestre de 2001

Fonte: Ataíde, Fevereiro de 2002, p. 190.

Observando a figura 2.4, constata-se que 1998 foi o ano em que se deu o grande salto em frente do investimento português no Brasil, passou-se de US$ 681 biliões, em 1997, para US$ 1,755 biliões investidos, a maioria no âmbito das privatizações. Em 1999 assistiu-se a um novo aumento, tendo as empresas portuguesas passado para um total de US$ 2,409 biliões em investimento directo.

Figura 2.5

Os Maiores Investidores no Brasil entre 1996/1º Semestre de2001

Fonte: Ataíde, Fevereiro de 2002, p. 191.

Neste período, Portugal passou a figurar entre os maiores investidores no Brasil, em termos de IDE, conforme indica a figura 2.5.

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Há que referir o facto de que o ano de 1999 marcou o início de importantes fluxos de investimento das PME’s portuguesas em direcção ao Brasil; no total, Portugal atingiu nesse ano a terceira posição entre os investidores estrangeiros.

“No ano 2000, os investimentos estrangeiros no Brasil atingiram novo máximo histórico, com fluxos que totalizaram US$ 33,331 biliões. Desse montante global, as empresas portuguesas foram responsáveis por um total de US$ 2,533 biliões, posicionando assim o nosso país novamente na terceira posição entre os investidores estrangeiros no Brasil, a seguir à Espanha e EUA, respectivamente com US$ 9,592 biliões e US$ 5,398 biliões. Este valor não significou apenas um novo recorde nos fluxos do Investimento Directo Português no Brasil (IDPB): ele consagrou também Portugal como o país que mais investiu no mercado brasileiro, em termos per capita.” 5

Em 2000, os maiores investimentos portugueses foram realizados tendo em vista a consolidação de investimentos anteriores ou a sua expansão para novas áreas de negócios. Este facto é ilustrado pelos aumentos da participação da Portugal Telecom no capital da Telesp Celular, a aquisição, também pela PT, do portal Zip Net, o alargamento da rede da Sonae Distribuição ou do Grupo Jerónimo Martins ou ainda as actividades da EDP no domínio da geração de energia eléctrica.

Tabela 2.6

Investimento Directo de Portugal no Brasil

Valores líquidos

Unid:106 US$

A conversão para dólares, dos dados do Banco de Portugal, foi efectuada utilizando a taxa de câmbio média mensal do Euro face ao dólar, do Banco Central Europeu. Fonte: Claro e Escárnio, 2003, p. 92.

Em suma, a qualidade de investidor líquido no estrangeiro, adquirida por Portugal nos últimos anos, esteve fortemente associada ao interesse que as empresas portuguesas manifestaram pelo Brasil como destino dos seus investimentos directos externos. Pode, inclusive, avançar-se que o investimento directo no Brasil foi uma opção estratégica de internacionalização por parte das maiores empresas portuguesas.

5 J. G. Queiroz de Ataíde, op.cit., p. 192.

Fonte 1996 1997 1998 1999 2000 2001 96/2001

Banco do Brasil 203 681 1 755 2 409 2 515 1 703 9 266 Banco de Portugal 350 650 4 622 1 554 2459 932 10 567

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2.3 O Processo de Privatizações no Brasil – Uma Oportunidade Chave

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