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Globalização, Centros de Decisão e Diplomacia Económica

CAPÍTULO I: A DIPLOMACIA ECONÓMICA E A INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA

1.6 Globalização, Centros de Decisão e Diplomacia Económica

Face ao novo contexto internacional assiste-se a uma crescente importância da interligação entre as empresas, os Estados e a diplomacia económica no delinear de novas estratégias para os mercados.

O final da Guerra Fria e a globalização conduziram à alteração dos métodos da diplomacia económica na prossecução de objectivos, como a protecção das empresas, a sua informação, o apoio material e financeiro para enfrentar as condições excepcionais do mercado externo. Quanto ao Estado, este continua a ajudar as empresas a explorarem os mercados através do fornecimento de informação mais orientada para as necessidades das empresas, uma parte importante das prestações de apoio é actualmente facturada, os Estados comprometem-se cada vez mais ao apadrinhamento de algumas empresas e elaboram a sua própria estratégia comercial, procurando dar às suas acções uma dimensão tão incisiva como fazem as empresas. O fenómeno da globalização e dos novos mercados mundiais, principalmente a China e a Índia, quer em termos económicos, quer sociais, tornaram-se numa preocupação, sendo encarados com algumas reservas pelos países, entre os quais se encontra Portugal. Vive-se um momento de transição, sem dúvida, desafiante, o qual implica e implicará a existência de factores de crescimento: inovação, criatividade, flexibilidade da mão-de-obra, empreendorismo e uma nova postura sindical. O novo mundo exige cada vez mais dinamismo. Há que não esquecer que o que se conquista num mundo globalizado, rapidamente se perde caso não sejam consolidadas as vantagens comparativas para o futuro (como é caso da educação e formação).

Neste novo contexto, levanta-se a importante questão do interesse nacional. Onde é que ele se encontra? Deverá a diplomacia económica seguir cegamente as iniciativas das empresas?

MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Evidentemente que não! A diplomacia económica tem os seus próprios objectivos, que poderão coincidir e ajustar-se com os das empresas, tanto mais que não há sentido numa diplomacia económica que se desinteresse de contribuir para a economia nacional. A única dificuldade é medir o carácter positivo do seu contributo, numa época em que a identidade nacional das empresas, em virtude da globalização e da mundialização, não é tão evidente, como era no passado e onde a sua actividade é necessariamente internacional. Reforçar as empresas do seu país é também reforçar as empresas estrangeiras às quais elas estão ligadas.

“O aspecto paradoxal – ou irónico - é que em nome do interesse nacional, os Estados tornaram-se os promotores da transnacionalização que conduz ao desfazer dos laços que as empresas mantinham entre si. A contradição é aparente pois o que importa aos Estados são os efeitos no seu território.”31

Todavia a diplomacia económica deve seguir uma estratégia traçada pelo Governo para preservar os instrumentos de poder efectivo que garantam à comunidade do seu país a capacidade de se manter actuante e de continuar a ser politicamente relevante, no quadro integrador em que activamente participa. Sobretudo num contexto em que a disputa pelo controlo das empresas chave dos países tornou-se num dos principais objectos da concorrência internacional. Um desses instrumentos é, sem dúvida, a manutenção dos centros de decisão empresarial, os quais são um factor muito importante para as perspectivas de desenvolvimento de um país. Com efeito, a existência, ou não, de centros de decisão empresarial influencia onde se investe, onde se investiga, quem se forma, quem gere, onde se pensa. Isto num mundo em que os factores intangíveis na competitividade das economias são cada vez maiores (especialmente, quando se fala de países mais pequenos e periféricos).

A existência de empregos sustentáveis e de trabalhadores bem remunerados e pessoalmente valorizados depende da existência de empresas de sucesso, fortes e viáveis e de empresários que as viabilizem. A viabilidade das empresas, o seu crescimento e a sua sobrevivência, num universo competitivo e, cada vez mais, relevante apenas em escalas transnacionais, exigem uma base de capital, o qual tem de ser acumulado privadamente, ao mesmo tempo que esta acumulação deverá ser acompanhada de formas instrumentais que permitam transformá-la no motor do controlo e da gestão das empresas, em total respeito pelas regras de mercado.

Se a localização de actividades resultante das concentrações empresariais for feita em desfavor do país, provavelmente, perdendo a localização de relevantes centros de decisão, o país perde também o acesso aos empregos mais qualificados, com maior conteúdo funcional e com maior latitude de acção, desvalorizando e enfraquecendo os próprios centros de inteligência do país, nomeadamente universidades, centros de investigação e gabinetes de consultoria e por acréscimo os centros de competências.

MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Paralelamente, não se deve esquecer que a própria disponibilidade de importantes centros de decisão, através da localização de grandes empresas ou grupos nacionais, tem um importante efeito dinamizador sobre toda a economia e, nomeadamente, sobre as oportunidades abertas às pequenas e médias empresas nacionais.

Neste contexto, deverá estabelecer-se um diálogo concertado entre os protagonistas dos centros de decisão económica e da diplomacia económica de forma a actuarem, lado a lado, em prol de objectivos comuns. Naturalmente, tal depende não só da existência de bons empresários, como também da política económica seguida pelo Governo. O Estado pode influenciar através das políticas macroeconómicas, mas também com o “magistério da influência”, com a afirmação da sua vontade política. A manutenção dos centros de decisão empresarial não deve ser vista como um empreendimento contra estrangeiros, pelo que pode e deve passar pela escolha activa das parcerias e alianças internacionais mais convenientes ao sucesso dos objectivos visados.

Assim, a diplomacia económica deverá também concentrar-se na atracção de investimentos, centros tecnológicos e talentos que prefigurem outros tantos centros de competências. Para tal deverá activar canais de comunicação e influência, facilitar interfaces com os sectores político, económico e empresarial de outros países que têm extensas “carteiras de investimento” no exterior, trocar informações sobre o mercado e as oportunidades, estruturar lobbies portugueses e cultivar os círculos adequados que influenciem as decisões.

A diplomacia económica deverá funcionar como um instrumento capaz de contribuir para o desenvolvimento de uma economia de mercado aberta, internacionalizada, com mecanismos pontuais de defesa de alguns sectores da actividade económica, nomeadamente para preservar centros de decisão.

1.7 A Diplomacia Económica e a Importância Crescente na Promoção

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