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CAPÍTULO V – DEVERES DOS ADMINISTRADORES

VI.5. Excludentes da responsabilidade civil

Lembramos que a Lei das Sociedades Anônimas prevê hipóteses de responsabilidade civil a título de dolo e/ou culpa (artigo 158, inciso I), e por infração da lei ou do contrato (artigo 158, inciso II), em virtude de dano causado à companhia, aos acionistas ou a terceiros.

Todavia, alguns fatores eximem o administrador de responsabilidade, a saber: (a) caso fortuito e força maior; (b) prova de boa-fé e que agiu visando aos interesses da sociedade (artigo 159, parágrafo sexto); e (c) consignação da divergência do administrador em ata de reunião do órgão de administração ou comunicação imediata da divergência ao órgão da administração, ao conselho fiscal, se em funcionamento, ou à assembléia geral (art. 158, parágrafo primeiro);

O Código Civil conceitua no seu artigo 393 o caso fortuito ou de força maior como “fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar, ou impedir”.

Segundo a legislação societária do México, o administrador que em qualquer operação tenha um interesse oposto ao da sociedade, deverá manifestar sua opinião aos demais administradores, abstendo-se de toda e

193 “Art. 239. As companhias de economia mista terão obrigatoriamente Conselho de

Administração, assegurado à minoria o direito de eleger um dos conselheiros, se maior número não lhes couber pelo processo de voto múltiplo.

Parágrafo único. Os deveres e responsabilidades dos administradores das companhias de economia mista são os mesmos dos administradores das companhias abertas.”

“Art. 245. Os administradores não podem, em prejuízo da companhia, favorecer sociedade coligada, controladora ou controlada, cumprindo-lhes zelar para que as operações entre as sociedades, se houver, observem condições estritamente comutativas, ou com pagamento compensatório adequado; e respondem perante a companhia pelas perdas e danos resultantes de atos praticados com infração ao disposto neste artigo.”

qualquer deliberação neste sentido, sob pena de ser responsabilizado pelos danos e prejuízos causados à sociedade. Portanto, não é responsabilizado o administrador que, estando isento de culpa, tenha manifestado sua discordância no momento da deliberação do ato que causar prejuízo. No entanto, caso o administrador, conhecendo qualquer irregularidade, não denunciar por escrito aos comissários (fiscais da sociedade), será solidariamente responsável (artigos 156, 159 e 160).

No mesmo sentido, a legislação espanhola também prevê casos de exclusão de responsabilidade. A regra geral é da responsabilidade solidária de todos os membros do órgão da administração que praticou o ato ou firmou acordo lesivo à sociedade. No entanto, não serão responsabilizados aqueles administradores que provarem não ter intervindo na prática do ato, desconhecer sua existência ou, se cientes, terem tomado todas as medidas para evitar o dano ou ao menos terem manifestado expressamente sua oposição (artigo 133).

A legislação do Equador também isenta de responsabilidade os administradores que, isentos de culpa, fizeram constar sua discordância no prazo de dez dias a contar da data em que tomaram ciência da deliberação e deram notícia aos comissários (fiscais) (artigo 264).

No mesmo sentido, a legislação portuguesa isenta de responsabilidade os administradores que provarem que não procederam com culpa, bem como aqueles que não participaram da deliberação que causou dano ou que votaram contrariamente à referida deliberação, podendo neste caso, no prazo de cinco dias, apresentar a sua declaração de voto, quer no respectivo livro de atas, quer em escrito dirigido ao órgão de fiscalização ou perante o notário (artigo 72).

“Art. 246. A sociedade controladora será obrigada a reparar os danos que causar à companhia por atos praticados com infração ao disposto nos artigos 116 e 117.”

Segundo José Edwaldo Tavares Borba,

a exclusão da responsabilidade, embora enunciada como uma circunstância a ser reconhecida pelo juiz que apreciar a ação de responsabilidade civil, também poderá resultar de reconhecimento da assembléia-geral, instância original na apreciação da matéria. Nos casos de atos dolosos, a exclusão da responsabilidade não se aplica, tanto que a boa-fé é incompatível com o dolo. A negligência igualmente não se conjuga com a boa-fé, e muito menos com a idéia do interesse da empresa194.

O oferecimento pelo administrador à sociedade de garantia assegura o ressarcimento da sociedade na hipótese de responsabilização. No Brasil, não é obrigatória a prestação de garantia pelo administrador. O artigo 148 da Lei das Sociedades Anônimas dispõe que o estatuto pode estabelecer que o exercício do cargo de administrador deva ser assegurado, pelo titular ou por terceiro, mediante penhor de ações da companhia ou outra garantia, sendo que referida garantia somente será levantada após aprovação das últimas contas apresentadas pelo administrador que houver deixado o cargo.

Referida faculdade atribuída à sociedade também está prevista na legislação mexicana, conforme segue:

Artículo 152 – Los estatutos o la asamblea general de accionistas, podrán establecer la obligación para los administradores y gerentes de prestar garantía para asegurar las responsabilidades que pudieran contraer en el desempeño de sus encargos.

A legislação espanhola também confere a sociedade tal direito:

Artículo 123 – Nombramiento – 1. El nombramiento de los administradores y la determinación de su número, cuando los estatutos establezcan solamente el máximo y el mínimo, corresponde a la junta general, la cual podrá, además, en defecto de disposición estatutaria, fijar las garantías que los administradores deberán prestar o relevarlos de esta prestación.

194 Direito Societário, cit., p. 355.

A legislação do Equador também permite à sociedade exigir dos administradores garantias de gestão:

Art. 257. El nombramiento de los administradores y la determinación de su número, cuando no lo fije el contrato social, corresponde a la junta general, la cual podrá también, si no hubiere disposición en contrario, fijar las garantías que deben rendir los administradores.

A legislação portuguesa obriga a prestação de garantia pelos administradores no caso de sociedades com subscrição pública. Nos demais casos, a caução pode ser dispensada por deliberação da assembléia geral ou constitutiva que eleja o conselho de administração ou um administrador e ainda quando a designação tenha sido feita no contrato de sociedade, por disposição deste.

A legislação argentina, diferente das citadas anteriormente, obriga os administradores a prestar garantia no valor mínimo de $10,000.00 (dez mil pesos argentinos), a qual poderá consistir em: (a) títulos públicos ou somas de moeda nacional ou estrangeira que deverão ser depositados em entidades financeiras ou em casas de valores em nome da sociedade, sendo que o seu prazo deve ser no mínimo igual ao prazo de prescrição das ações de responsabilidade; (b) fianças ou avais bancários, seguros de garantia ou de responsabilidade civil em nome da sociedade, cujo custo deverá ser suportado por cada administrador.

A prestação de garantia pelos administradores, acima mencionada, assegura a relação entre os administradores e a sociedade. No entanto os administradores também são responsáveis perante os acionistas ou terceiros. Neste caso, interessa ao próprio administrador proteger-se com um seguro contra o imponderável que o acompanhará durante toda a sua trajetória profissional.

Ainda em relação ao seguro de responsabilidade civil, é válido observar ser muito comum nos Estados Unidos a contratação pela sociedade de um seguro para os seus administradores com as mais diversas coberturas. No Brasil, apesar de não ser comum, já existem seguradoras que comercializam este tipo de produto, os quais cobrem os principais executivos de prejuízos financeiros resultantes de sentenças judiciais ou acordo entre as partes, custos de defesa, despesas de representação legal entre outras em decorrência de ato ou fato cuja conseqüência é a responsabilidade do executivo segurado.

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