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CAPÍTULO V – DEVERES DOS ADMINISTRADORES

VI.4. Limites da Responsabilidade Civil

A responsabilidade dos diretores é limitada às suas funções, não podendo ser responsabilizados por atos praticados por outros diretores, salvo conluio ou negligência, situações em que se verificará solidariedade, conforme previsto no artigo 158, parágrafos primeiro, terceiro e quarto da Lei das Sociedades Anônimas (princípio da incomunicabilidade da culpa).

Ao contrário, os membros do Conselho de Administração são responsáveis coletivamente pela deliberação tomada, salvo se utilizarem os procedimentos exoneradores de responsabilidade previstos no artigo 158, parágrafo primeiro, segunda parte, e parágrafo quarto, ou seja, a consignação da divergência em ata ou comunicação da negligência ou da infração observadas aos órgãos próprios da Sociedade Anônima.

Por outro lado, os membros do Conselho não respondem por atos infracionais dos diretores que não tenham chegado ao seu conhecimento. É a aplicação do princípio dispositivo processual: Quod non est in actis non est in mundo.

VI.4.1. Solidariedade

Os administradores, em termos gerais, são solidariamente responsáveis pelos prejuízos decorrentes do não-cumprimento dos deveres impostos pela lei para assegurar o funcionamento normal da companhia, ainda que o estatuto não estabeleça tais deveres a todos os administradores (art. 158, parágrafo 2 da Lei das Sociedades Anônimas).

A Lei das Sociedades Anônimas prescreve nos parágrafos segundo a quarto do artigo 158 da Lei das Sociedades Anônimas hipóteses de

responsabilidade solidária entre os administradores. No entanto, as regras de vinculação solidária dos administradores não estabelecem nenhuma responsabilidade objetiva.

Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:

I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo; II - com violação da lei ou do estatuto.

§ 1º O administrador não é responsável por atos ilícitos de outros administradores, salvo se com eles for conivente, se negligenciar em descobri-los ou se, deles tendo conhecimento, deixar de agir para impedir a sua prática. Exime-se de responsabilidade o administrador dissidente que faça consignar sua divergência em ata de reunião do órgão de administração ou, não sendo possível, dela dê ciência imediata e por escrito ao órgão da administração, no conselho fiscal, se em funcionamento, ou à assembléia-geral.

§ 2º Os administradores são solidariamente responsáveis pelos prejuízos causados em virtude do não cumprimento dos deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da companhia, ainda que, pelo estatuto, tais deveres não caibam a todos eles.

§ 3º Nas companhias abertas, a responsabilidade de que trata o § 2º ficará restrita, ressalvado o disposto no § 4º, aos administradores que, por disposição do estatuto, tenham atribuição específica de dar cumprimento àqueles deveres.

§ 4º O administrador que, tendo conhecimento do não cumprimento desses deveres por seu predecessor, ou pelo administrador competente nos termos do § 3º, deixar de comunicar o fato a assembléia-geral, tornar-se-á por ele solidariamente responsável.

§ 5º Responderá solidariamente com o administrador quem, com o fim de obter vantagem para si ou para outrem, concorrer para a prática de ato com violação da lei ou do estatuto. (grifos do autor)

Em termos gerais, serão responsáveis, solidariamente, os administradores que forem coniventes com atos ilícitos de outros administradores, quando negligenciarem em descobri-los e quando deixarem de agir para impedir a sua prática.

Se o administrador foi conivente (equiparado a ser cúmplice) com o ato ilícito de outro administrador, será por ele responsável. O artigo 942 do Código Civil estabelece que os co-autores ou cúmplices da ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação, por ela respondendo

solidariamente (art. 158, parágrafo primeiro da Lei das Sociedades Anônimas).

Observa-se que regra geral os administradores são solidariamente responsáveis pelos prejuízos decorrentes do não-cumprimento dos deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da companhia, ainda que, pelo estatuto, tais deveres não caibam a todos eles (artigo 158, parágrafo segundo).

Entretanto, nas Companhias abertas essa responsabilidade restringe-se aos administradores com atribuições específicas para esses atos; todavia, a não comunicação, pelos demais administradores que ciência tiveram acerca do descumprimento daqueles deveres, resultará na responsabilização solidária destes (artigo 158, parágrafos terceiro e quarto).

A responsabilidade dos administradores de companhias fechada e aberta, nesta por derrogação do preceito constante do item anterior, é, entretanto, solidária quando, tendo eles conhecimento do inadimplemento desses deveres por antecessores, ou por administradores atuais, que sejam obrigados a adimpli-los, deixarem de comunicar o fato à assembléia geral.

Além disso, a solidariedade só existe em casos expressos como, por exemplo, a responsabilidade solidária dos primeiros administradores pela demora no cumprimento das formalidades complementares à constituição da companhia (artigo 92 e 99), pela não anotação, nos livros próprios, da extinção das debêntures (artigo 74, parágrafo segundo) e pela distribuição de dividendos com inobservância das exigências legais (artigo 201, parágrafo primeiro).

O direito alienígena contempla semelhante arcabouço jurídico no tocante à previsão da responsabilidade solidária entre os administradores das sociedades anônimas.

A legislação mexicana determina os administradores têm responsabilidades inerentes a seus mandatos e derivadas das obrigações que a lei e os estatutos estabelecem. Os administradores não serão solidariamente responsáveis, caso estando isentos de culpa tenham manifestado sua inconformidade no momento da deliberação e resolução de determinado ato ilícito. São responsáveis em relação a atos praticados pelo seu antecessor e pelas irregularidades incorridas quando, conhecendo-as, não as denunciem por escrito aos fiscais da sociedade (artigos 158 a 160).

A legislação espanhola também prevê a responsabilidade solidária em relação a atos praticados por outros administradores, a menos que se prove não ter intervindo na sua adoção e execução, desconhecendo sua existência ou, conhecendo, tenha tomado todas as medidas possíveis para evitar o dano, ou ao menos tenha se manifestado expressamente contrário ao ato (artigo 133).

No mesmo sentido, a legislação do Equador estabelece que:

La responsabilidad de los administradores por actos u omisiones no se extiende a aquellos que, estando exentos de culpa, hubieren hecho constar su incorformidad, en el plazo de diez días a contarse de la fecha en que conocieron de la resolución y dieron noticia inmediata a los comisarios (artigo 264).

VI.4.1.1. Solidariedade do terceiro

Nos termos da lei, ainda, a solidariedade se estende ao terceiro que, com o administrador, concorrer para a prática de ato com violação da lei ou do

contrato, independentemente do auferimento de qualquer vantagem (artigo 158, parágrafo quinto).

Para a responsabilização do terceiro, a lei exige a demonstração da intenção de busca da vantagem para si ou para outrem; caso contrário a mera concorrência para o evento não será o suficiente para sua responsabilização.

Neste caso, quando o terceiro tenha concorrido para o ato violador da lei ou dos estatutos sem, entretanto, qualquer intenção de auferir vantagem, a eventual boa-fé do mesmo só pode ser prestigiada quando se tratar de ato violador dos estatutos, diante de seu presumido desconhecimento das singulares e específicas regras. O mesmo não pode ser alegado quando tratar-se de violação da lei cuja ignorância a ninguém é dado objetar (artigo 3 da Lei de Introdução do Código Civil), surgindo, nesta hipótese, a possibilidade de responsabilização do terceiro concorrente.

Cogitem-se as mais diversas simulações, como, por exemplo, aquisições ou alienações de ativos da sociedade como forma de permitir ao administrador, ou a alguém de seu interesse, a apropriação de bens ou a obtenção de indevidos lucros, inclusive através de informações privilegiadas da companhia, ou em razão do posto nela ocupado (os insiders tradings), fraudes essas todas coibidas pelo direito pátrio.

Outros casos de responsabilidade de administradores de Sociedades Anônimas encontram-se previstos nos artigos 239, parágrafo único, que cuida da aplicação das regras do artigo 158 aos administradores de sociedades de economia mista, 245 e 246, que dispõem sobre os negócios entre as sociedades do grupo, na relação controladora/controlada ou controladas, e, especialmente, 117, que define a responsabilidade do acionista controlador,

seja na forma direta e pessoal, seja em solidariedade com algum administrador193.

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