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EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

São excludentes da responsabilidade civil as situações que rompem um dos elementos essenciais para a caracterização do prejuízo indenizável, qual seja o nexo causal. Sem este instrumento de ligação entre a ação ou omissão e o dano, não há que se falar em reparação na esfera civil. Sete são as principais excludentes da responsabilização civil no âmbito do direito moderno.

3.7.1 Estado de necessidade

A configuração do estado de necessidade como excludente da responsabilidade civil está disciplinada no Código Civil, da seguinte forma:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos: [...]

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. (BRASIL, CC, 2013).

Como visto, no estado de necessidade há uma situação de fato, com perigo iminente de dano. Na intenção de abster-se da conduta danosa, o indivíduo acaba por ocasionar prejuízo alheio àquele de que se desviou, sacrificando objeto diverso por uma necessidade iminente e ocasional.

Porém, o estado de necessidade não é soberano, estando o agente do dano necessário sujeito à “ação regressiva” por parte da vítima lesada, desde que isenta, esta, de qualquer culpabilidade acerca do perigo verificado. (STOCO, 2007).

3.7.2 Legítima defesa

Muito próxima do estado de necessidade está a excludente da legítima defesa, uma vez que imputa ao agente um ato ilícito necessário. A diferença está na conduta agressiva do causador do dano. Enquanto que no estado de necessidade o dano é instantâneo, resultado

de uma situação fática iminente e inevitável, na legítima defesa não existe situação paralela, somente a contrapartida por uma agressão sofrida.

A legítima defesa exclui a responsabilidade indenizatória pelo dano causado ao agressor primeiro, porém, a conduta do agente deve ser proporcional à agressão sofrida e desferida contra a pessoa do agressor. Do contrário, caso um terceiro, por algum motivo, seja o agredido, tem este, assim como no estado de necessidade, o direito de regresso contra o agente do dano. (GONÇALVES, 2002; STOCCO, 2007).

3.7.3 Exercício regular de um direito

Assim como a legítima defesa, o exercício regular de um direito vem disciplinado do inciso I do artigo 188 do código civil brasileiro, enquadrando-se como outra excludente da responsabilidade de indenizar.

Segundo Gomes (2000), esta excludente isenta do dever reparatório quem, de direito, comete ato ilícito teoricamente reprovável. Por exemplo, um oficial de justiça que se apropria de um bem alheio mediante mandado de busca e apreensão.

Contudo, o exercício regular do direito deve ser razoável e proporcional, na medida da possibilidade do exercício, uma vez que o exagero na conduta gera ao agente o dever de indenizar. O desvio da conduta adequada e exigível ao momento também pode gerar o prejuízo indenizável. “saliente-se que fundamenta a teoria do abuso do direito, na medida em que seu titular o exerce contrariamente à sua finalidade, afastando-a, desta forma”. (GOMES, 2000, p. 172). Equipara-se ao exercício regular do direito, o estrito cumprimento de um dever legal.

3.7.4 Culpa exclusiva da vítima

Quando se fala em excludente da responsabilidade civil, a culpa exclusiva da vítima faz jus ao seu lugar no rol de possibilidades. Embora a lei brasileira não identificou de forma clara a exclusão, o entendimento doutrinário se encarregou de construir a sua inclusão nas causas de irresponsabilidade.

O artigo 945 do novo código civil estabelece que: “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”. (BRASIL, CC, 2013). Note-se

que o legislador menciona apenas a culpa concorrente da vítima, como atenuante da responsabilidade percebida pelo autor do dano.

Desta forma o entendimento mais plausível seria de que a culpa da vítima exclui ou diminui a responsabilidade do agente, na medida em que se faz exclusiva ou concorrente. (STOCO, 2007).

3.7.5 Fato de terceiro

A matéria legal reguladora do fato de terceiro vem disciplinada no código civil, em um de seus artigos: “Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado”. (BRASIL, CC, 2013).

Azevedo (2008 p. 255) sintetiza a excludente: “a exclusão de responsabilidade do agente ocorre se for constatada a culpa exclusiva do terceiro, sem ter esse fato sido provocado pelo agente ofensor. Sendo o terceiro culpado, o fato por ele causado deve ser ilícito”.

A lei é clara quando se refere à reparação do dano como aspecto principal, independente de quem for a culpa. No caso do fato de terceiro, novamente ressurge o instrumento da “ação regressiva” contra o criador da situação de perigo, porém, o causador do dano é quem responde pelas perdas e danos sofridos pela vítima, podendo em outro momento se ressarcir, desde que provado o ato ilícito cometido pelo terceiro. (GONÇALVES, 2002).

3.7.6 Caso fortuito e força maior

Esta importante excludente da responsabilidade civil é consagrada no âmbito do direito e destacada nas palavras de Gonçalves:

O art. 393, parágrafo único, do Código Civil não faz distinção entre caso fortuito e a força maior, definindo-os da seguinte forma: “o caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.” O caso fortuito geralmente decorre de fato ou ato alheio à vontade das partes: greve, motim, guerra. Força maior é a deriva de acontecimentos naturais: raio, inundação, terremoto. (2002, p. 736).

Note-se que no caso fortuito e no de força maior, o que exclui a responsabilidade é justamente a ausência de culpa, elemento essencial caracterizador da conduta ilícita. Sem comprovação da culpa não há que se em reparação de danos, neste caso. No caso de um acidente ocasionado pelo rompimento de um fio de alta tensão, decorrente da queda de um raio, por exemplo. Não está sujeita a empresa geradora de energia, à responsabilização civil

pelo dano causado, uma vez que se rompeu o nexo de causalidade. (GONÇALVES, 2002, p. 737).

3.7.7 Cláusula de não indenizar

A cláusula de não indenizar, ou cláusula de irresponsabilidade, funda-se na esfera da responsabilidade contratual, conforme Stoco (2007 p. 185):

A cláusula ou convenção de irresponsabilidade consiste na estipulação prévia por declaração unilateral, ou não, pela qual a parte que viria a obrigar-se civilmente perante outra afasta, de acordo com esta, a aplicação da lei comum, ao seu caso. Visa anular, modificar ou restringir as conseqüências normais de um fato de responsabilidade do beneficiário da estipulação.

Esta excludente, porém, não é bem aceita no nosso ordenamento jurídico, sendo questionada sua validade, uma vez que vai de encontro ao interesse da sociedade, e permite que se criem situações de privilégios entre os contratantes, contrárias aos preceitos sociais cotidianos. Em contrapartida, alguns defendem a cláusula de não indenizar por ser uma convenção da autonomia das partes, que são livres para contratarem de acordo com seus interesses. (GONÇALVES, 2002).

4 A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES

O capítulo em pauta contempla o objetivo principal do presente trabalho, qual seja a investigação acerca da responsabilidade civil dos notários e registradores, no âmbito da atividade que exercem. Questões controversas no ambiente doutrinário e jurisprudencial serão confrontadas e amplamente debatidas, com intuito de delinear os aspectos que estabelecem a compreensão do aludido tema.