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Responsabilidade objetiva dos notários e registradores

4.3 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES

4.3.1 Responsabilidade objetiva dos notários e registradores

Nesta teoria, os notários e registradores, como agentes públicos estatais, respondem objetivamente pelos danos causados a terceiros, independentemente da verificação de dolo ou culpa, bastando que se demonstre a conduta voluntária e o resultado danoso, este ocorrido em razão daquela, caracterizando-se o nexo de causalidade. Não havendo excludentes, nascida está a responsabilidade objetiva do agente.

O principal fundamento desta teoria consiste na interpretação do artigo 22 da lei dos notários e registradores, que disciplinou a responsabilidade civil dos notários e registradores da seguinte forma: “Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos”. (BRASIL, Lei 8935/94, 2013).

O legislador quando estabeleceu que, os notários e registradores são responsáveis pelos danos que causarem a terceiros na prática dos seus atos, não se manifestou no sentido de qual seria o tipo de responsabilidade a que estariam sujeitos. Por outro lado, na segunda parte do artigo, deixou clara a responsabilização subjetiva dos prepostos, quanto aos atos praticados com dolo ou culpa, assegurando aos titulares o direito de regresso.

Quando o referido artigo vislumbra de forma explícita a responsabilidade subjetiva no segundo caso, e não prevê a espécie de responsabilidade no primeiro, insinua ser esta “objetiva”, por não mencionar a necessidade de culpa ou dolo do titulares, como o fez no caso dos prepostos. (BOLZANI, 2007).

Neste sentido, Sartori (2002) chama a atenção para o enquadramento dos notários e registradores no artigo 37, parágrafo 6 º da Constituição Federal, consagrador da responsabilidade objetiva. O texto legal assim ensina:

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (BRASIL, CF, 2013).

Atente-se para a semelhança entre o referido texto constitucional e o artigo 22 da Lei 8935/94, motivo pelo qual a teoria da responsabilidade civil objetiva se faz incisiva em sua argumentação. Vejamos o entendimento abaixo, quanto ao enquadramento dos notários e registradores no texto constitucional:

É justamente na categoria ‘prestadoras de serviço público’ que se incluem as serventias cuidadas, dada a delegação que lhes é outorgada.

Nesse quadro, seus titulares são plenamente responsáveis quer por falha no serviço, quer pelos atos de seus prepostos, podendo exercer contra eles, entretanto, ação regressiva. (SARTORI, 2002, p. 105).

Resta evidente a intenção do autor, de expor os notários e registradores à teoria do risco, marca registrada da responsabilidade objetiva, em decorrência da atividade que exercem, e pela natureza jurídica de sua função.

Neste sentido, colhe-se da jurisprudência, entendimento favorável à espécie de responsabilidade civil em questão, como demonstrado no texto abaixo, redigido pelo ministro Marco Aurélio:

RESPONSABILIDADE OBJETIVA -ESTADO -RECONHECIMENTO DE FIRMA -CARTÓRIO OFICIALIZADO. Responde o Estado pelos danos causados em razão de reconhecimento de firma considerada assinatura falsa. Em se tratando de atividade cartorária exercida à luz do artigo 236 da Constituição Federal, a responsabilidade objetiva é do notário, no que assume posição semelhante à das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos. (BRASIL, STF, 2010).

Assim, corroborando o entendimento jurisprudencial em tela, os atos lesivos praticados contra terceiros, independentemente de culpa, pressupõem a responsabilidade objetiva dos serventuários, uma vez que estes emergem da esfera privada, porém, prestam serviço público, por natureza.

Some-se a isto o raciocínio abaixo descrito, acerca da teoria em tela, ressaltando a natureza jurídica e a autonomia de organização da atividade notarial e registral, como elementos delineadores da responsabilidade objetiva dos seus titulares, segundo o entendimento desta forma explicitado:

É incontestável a natureza pública do serviço prestado pelos tabelionatos e cartórios de registros, uma vez que a segurança jurídica e a garantia de eficácia contra terceiros interessa a toda a sociedade. Todavia, notários e registradores exercem suas atividades por suas próprias contas e riscos e não em nome do Estado, contratando seu pessoal e remunerando-o de forma autônoma, sendo certo que os titulares recebem emolumentos condizentes com tais responsabilidades. (BENÍCIO, 2005, p. 249).

Em adição aos posicionamentos objetivistas, ressalta-se a aplicação subsidiária do Código Civil, em decorrência das lacunas deixadas pela lei. O parágrafo único do artigo 927 assim argumenta: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. (BRASIL, CC, 2013).

Some-se a isso, como complemento, a base legal do artigo 932 do mesmo diploma civil, abaixo transcrito:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: [...]

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; (BRASIL, CC, 2013). Neste sentido, Maria Helena Diniz reitera a questão da objetividade da responsabilidade dos notários e registradores, quanto à reparação dos danos que causarem a terceiros:

Será preciso, ainda, deixar bem claro que o notário público autônomo, ante os arts. 186, 927 e 932, III, do Código Civil, responderá objetivamente com seu patrimônio não apenas por ato seu, mas também pelo comportamento irregular, doloso ou culposo, de seus servidores não concursados, enquanto em serviço, pouco importando de houve culpa in vigilando ou in eligendo, tendo depois ação regressiva contra eles. (DINIZ, 2003, p. 575).

Note-se que mesmo não ocorrendo culpa por parte do oficial serventuário, este responde objetivamente pelos vícios da sua conduta, seja quanto à escolha de seus prepostos, seja quanto à fiscalização dos mesmos.

Assim, a corrente que defende a teoria objetiva da responsabilidade civil dos notários e registradores, resta debatida e referenciada pelo presente trabalho, que a seguir explora a outra vertente teórica do tema em pauta.