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Não ocorre exclusivamente durante o curso da esquizofrenia, do transtorno do humor com aspectos psicóticos, outro transtorno psicótico ou um transtorno invasivo do desenvolvimento, e nem é decorrente dos efeitos fisio­

lógicos diretos de uma condição médica geral.

negligência, ocorrida na infância, estava associa­ da ao desenvolvimento do transtorno da perso­ n a lid a d e e sq u iz o típ ic a (J o h n so n , S m ailes, Cohen, Brown e Bernstein, 2000). Olin, Raine, Cannon e Parnas (1997) coletaram, prospecti­ vamente, relatos de professores sobre compor­ tam ento escolar, para tentar avaliar os precur­ sores infantis do transtorno da personalidade esquizotípica. Eles descobriram que aqueles que, mais tarde, desenvolviam o transtorno eram mais passivos e desligados e mais hipersensíveis a crí­ ticas quando crianças. Também foi dem onstra­ do que os estilos de apego ansioso e evitativo estão associados à esquizotipia positiva, carac­ terizada por experiências alucinatórias e cren­ ças incomuns, e à esquizotipia negativa, carac­ terizada por retraim ento, apatia e anedonia. Também temos pesquisas comprovando um a as­ sociação entre dissociação e esquizotipia.

C o m p ro v ad am e n te , as p esq u isas m ais úteis, quando examinamos a esquizotipia, são as que estudam as experiências psicóticas (em pacientes e na população em geral). Os sinto­

mas individuais do transtorno da personalidade esquizotípica, como a ideação paranóide, idéias de referência, experiências perceptuais incomuns e fala ou com portamento estranhos foram estu­ dados em relação à psicose, e há muito tempo foi comprovado que estudar sintomas individuais em vez de síndromes diagnosticas fornece um m elhor entendim ento dos processos psicológi­ cos subjacentes (Persons, 1986). Por exemplo, há evidências sugerindo que as crenças para­ nóides são o resultado da atribuição externa de eventos negativos (Bentall, Kinderman e Kaney, 1994) e vieses no processamento da informação (Bentall e Kaney, 1989). Da mesma forma, as evidências indicam que o sofrimento associado às experiências alucinatórias resulta do m odo de in terp retação da pessoa (M orrison, 1998). A importância de norm alizar essas experiências foi dem onstrada com pacientes psicóticos (Kingdon e Turkington, 1994), e está claro que tais expe­ riências são muito prevalentes na população em geral (Peters, Joseph e Garety, 1999; van Os, Hanssen, Bijl e Ravelli, 2000). Essa abordagem

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norm alizadora também tem a vantagem de ser menos pejorativa e estigmatizante do que uma abordagem diagnostica, pois um rótulo de trans­ torno da personalidade provavelmente causará sofrimento.

D iag n ó stico D iferen cial

T r a n s t o r n o d a P e r s o n a l i d a d e E s q u i z o t í p i c a e T r a n s t o r n o D e l i r a n t e , E s q u i z o f r e n i a e T r a n s t o r n o s d o H u m o r c o m

C a r a c t e r í s t i c a s P s i c ó t i c a s

Quando esses diagnósticos estão presentes, para que possamos dar um a indicação adicional de transtorno da personalidade esquizotípica, o transtorno da personalidade precisa ter estado presente antes do início dos sintomas psicóticos e precisa persistir, quando os sintomas psicóticos estiverem em remissão (DSM-IV-TR). As experi­ ências psicóticas das pessoas com personalida­ de e s q u iz o típ ic a n o rm a lm e n te são m enos perturbadoras, causam m enor prejuízo funcio­ nal e são apresentadas com m enor clareza do que as dos pacientes com um diagnóstico de esquizofrenia.

T r a n s t o r n o d a P e r s o n a l i d a d e E s q u i z ó i d e e T r a n s t o r n o d a P e r s o n a l i d a d e E s q u i z o t í p i c a

Embora ambos os transtornos envolvam uma acentuada ausência de interação social, há pontos de distinção. As pessoas com transtorno da personalidade esquizotípica norm alm ente apresentam crenças e experiências perceptuais b iz a rra s, p e n sa m e n to m ágico e a p a rê n c ia comportamental ou peculiar ou incomumente in­ dividualista, ao passo que aquelas com transtor­ no da personalidade esquizóide apresentam-se arredias, indiferentes e sem aspectos notáveis.

C o n ce itu a liza ç ã o

As pessoas que satisfazem os critérios para o tran sto rn o da p ersonalidade esquizotípica freqüentem ente têm experiências de vida seme­

lhantes às das pessoas com traços esquizóides (por exemplo, foram ridicularizadas ou rejeita­ das). Além disso, elas podem ter sofrido abuso físico ou sexual na infância, o que as levou a se verem como diferentes, más ou anormais, e po­ dem ter tido outras experiências reais de perse­ guição. Como resultado, elas freqüentem ente experienciam crenças incomuns (como pensa­ mento mágico, desconfiança ou idéias de refe­ rência) ou alucinações (visuais e auditivas) e muitas vezes adotam estratégias como hipervi- gilância e relutância em confiar nas pessoas, para compensar essas crenças.

Joe (25 anos) foi encam inhado por um a equipe que trabalhava com dependentes de dro­ gas (um serviço multidisciplinar da com unida­ de que atendia pessoas com uso inadequado de substâncias) para tratar sua desconfiança, com­ portam ento bizarro e experiências incomuns. Ele vivia em um albergue comunitário e trabalhava em um bar. Joe apresentava altos níveis de ansi­ edade social, o que tornava problemático o seu trabalho, pois esperava-se que ele interagisse com os fregueses. Ele tam bém tinha experiênci­ as alucinatórias, ouvia a voz de sua m ãe morta, embora isso não lhe causasse nenhum a angús­ tia. Ele ficava paranóide em relação a pessoas que estariam falando sobre ele e pretendendo prejudicá-lo e usava álcool, m aconha e cocaína para com bater esses medos. Estava tendo pro­ blemas para dormir e também sentia muito medo de ser rotulado por ter um transtorno da perso­ nalidade, o que significava, conforme a pessoa da clínica de drogas lhe explicara, que ele pos­ suía uma personalidade defeituosa.

Joe era filho único. Sua mãe m orrera quan­ do ele estava com sete anos de idade. Seu pai tinha um emprego que provocou a necessidade de transferir-se várias vezes de cidade, de modo que Joe teve de m udar de escola tam bém diver­ sas vezes e, assim, encontrou grande dificulda­ de para fazer amigos. O pai de Joe tentou com­ pensar a perda da m ãe tratan d o -o de form a muito especial, dizendo que ele era diferente das outras crianças e que as outras pessoas tinham de perceber suas qualidades especiais. Joe en ­ tendeu isso como o desejo do pai de que ele fos­

Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade 1 4 1

se notado pelos outros. Sua dificuldade em fa­ zer amigos (tanto na escola, quanto no bairro em que moravam) transformou Joe em um alvo de brincadeiras maldosas. Para lidar com isso, ele passava mais tempo com o pai ou sozinho, quando o pai estava trabalhando. Ele desenvol­ veu estratégias para se entreter que incluíam con­ versar com a mãe m orta - e ele ouvia a voz dela respondendo e conversando com ele. Como re­ sultado dessas experiências, passou a acreditar que não tinha valor, que era vulnerável e desinte­ ressante (devido ao isolamento e à vitimização por parte dos iguais), assim como diferente e especial (por causa do pai). Para ele, os outros eram perigosos e não-confiáveis, e o mundo, hostil. Ele desenvolveu suposições condicionais como: “Se eu tentar ser amigo das pessoas, elas me rejeitarão”; “Se eu for muito diferente, os outros me notarão”; “Se eu tiver experiências muito incomuns, poderei ser im portante”; “Se eu puder conversar com a minha mãe, não esta­ rei sozinho”; “Se as pessoas virem como sou ex­ traordinário, elas ficarão interessadas”; “Se eu deixar as pessoas perceberem que estou chatea­ do, elas me m agoarão”. Ele compensava essas crenças utilizando estratégias como: adotar pa­ drões excêntricos de fala; em pregar uma lingua­ gem vaga e metafórica, ou floreada, e usar rou­ pas extrem am ente incomuns, que claram ente atraíam a atenção. Tudo isso para ser notado. Essas eram estratégias que ele adotara aos 11 anos de idade e continuava utilizando até o pre­ sente. Por outro lado, evitava situações sociais, se possível, e ficava hipervigilante a ameaças sociais o tem po todo, analisando o ambiente em busca de evidências de que os outros estavam falando sobre ele ou pretendendo lhe causar mal. Também acreditava que possuía um a capacida­ de inata para ler a linguagem corporal das pes­ soas, de modo que prestava muita atenção, mas com freqüência fazia inferências incorretas. No­ vamente, essas estratégias surgiram no início da adolescência. Ele também tomava drogas ilíci­ tas e álcool para perm anecer calmo. Às vezes isso funcionava; outras, aum entava suas suspei­ tas. A Figura 7.2 ilustra a conceitualização do caso.

A b o rd a g e m de T rata m e n to

Estratégia de Colaboração

Os aspectos interpessoais da terapia p ro ­

vavelmente serão difíceis para as pessoas com personalidade esquizotípica. Se forem socialmen­ te ansiosas, a terapia será um a atividade que vão querer evitar. Isso deve ser avaliado explicita­ mente e comparado com as razões para persis­ tir. Da mesma forma, a desconfiança pode se estender ao terapeuta, de modo que ele precisa verificar se a pessoa o acha merecedor de confi­ ança ou não. Se a resposta for negativa, devem ser desenvolvidas estratégias, colaborativamente, para lidar com isso. Por exemplo, poderia ser útil fazer um contrato de suspensão da descon­ fiança por um período de tempo limitado. Preo­ cupações desconfiadas podem ser um bom m o­ m ento para a introdução do conceito de que as evidências devem ser examinadas. Para reduzir as suspeitas e, simultaneamente, familiarizar o paciente com o modelo, podem ser redigidas duas colunas descrevendo as evidências contra e a favor da crença “Eu não posso confiar no meu terapeuta”.

A am bivalência acerca dos sintom as da personalidade esquizotípica tam bém pode ser problemática para o processo da terapia, espe­ cialmente para o desenvolvimento de uma lista com partilhada de problemas e objetivos, pois muitos pacientes têm crenças positivas sobre al­ gumas de suas características. Por exemplo, Joe v a lo riz a v a su as e x p e riê n c ia s p e rc e p tu a is incomuns. Ele também reconhecia que a descon­ fiança e a paranóia, às vezes, eram boas para ele, pois evitavam que fosse atacado. Uma con­ sideração das vantagens e desvantagens de sin­ tomas específicos pode ser útil para resolver essa ambivalência. Quanto às crenças de paranóia, convém examinar de que maneira elas se desen­ volveram, como essas crenças foram úteis, se al­ guma coisa agora m udou no ambiente atual e se as crenças ainda são úteis no presente. Muito im portante, a abordagem cognitiva explora op­ ções de crenças que seriam mais úteis nas cir­ cunstâncias atuais e futuras.

1 4 2 Beck, Freeman, Davis e cols.

EXPERIÊNCIAS INICIAIS

Intim idado n a escola. M udava de escola freqüentem ente.

Pressão p ara ser notado. M orte d a m ãe aos sete anos.

CRENÇAS CENTRAIS

“Eu sou diferente, sem valor, desin teressan te e anorm al.” “As ou tras pessoas são cruéis, perigosas e não m erecem confiança.”

“O m u n d o é hostil.”

“Se eu te n ta r ser am igo das pessoas, elas vão m e rejeitar e m e m agoar.” “Se eu for m uito diferente, as ou tras pessoas vão m e notar.” “Se eu tiver experiências m uito incom uns, serei im p o rtan te.” “Se p u d e r conversar com a m in h a m ãe, não ficarei sozinho.” “Se as pessoas virem com o sou extraordinário, ficarão interessadas.” “Se eu deixar as pessoas perceberem que estou chateado, elas m e m ag o arão .”