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O RELACIONAMENTO ENTRE O TERAPEUTA COGNITIVO E OS

PACIENTES COM TRANSTORNO DA

PERSONALIDADE

E X P A N D IN D O O D O M ÍN IO

IN T E R P E S S O A L

A maioria dos pacientes com transtorno da p e r s o n a lid a d e re q u e r um re la c io n a m e n to terapêutico mais atento do que os pacientes com um transtorno agudo (Eixo I), como ansiedade ou depressão, e um ajustam ento da personali­ dade pré-mórbido estável e adaptativo. No trans­ torno agudo sem complicações, o terapeuta nor­ m alm ente assume o papel de uma autoridade que conhece os procedimentos necessários para ajudar o paciente a aliviar os dolorosos sinto­ mas. O paciente geralmente aceita e recebe bem essa influência e direção, sem indevidos confli­ tos de autoridade. A confiança é prontam ente estabelecida, e relativam ente livre de grandes dúvidas ou preocupações com a aceitabilidade ou rejeição, por parte do terapeuta. O paciente com preende a sua porção de responsabilidade e, com a orientação do terapeuta, faz os esfor­ ços adequados para melhorar. Em resposta à ori­ entação do terapeuta, o paciente geralm ente sente afeição e gratidão pelo especialista que o está ajudando. Primeiro, ao antecipar o alívio e, depois, ao reconhecer a rápida melhora no esta­ do clínico. Esse intercâmbio interpessoal reflete expectativas e habilidades funcionais de ambas as partes. E necessário, relativamente, pouco pla­ nejam ento ou discussão para estabelecer e m an­ ter esse relacionam ento de trabalho.

Ao lidar com os mais persistentes e pene­ trantes transtornos da personalidade, o papel do terapeuta m uda sutilmente. O terapeuta precisa se esforçar mais para que sua influência seja acei­ ta e com preender as barreiras nos esforços do paciente. Uma porção maior do tem po da tera­ pia é dedicada a familiarizar-se com toda a vida do paciente - filhos, cônjuge, trabalho, história pessoal, interesses. Esse envolvimento do tera­ peuta, desde que m antido dentro de limites ra­ zoáveis, coloca-o no papel de um conselheiro am istoso. De fato, grande p arte do papel do terapeuta consiste em se valer de sua própria experiência de vida e da observação de outras pessoas para propor possíveis soluções para os problemas, assim como educar o paciente com relação à natureza dos relacionamentos interpes­ soais. Esse processo de educação e desenvolvi­ m ento de habilidades é particularm ente im por­ tante ao tratar pacientes com transtorno da per­ sonalidade borderline, cujos déficits de persona­ lidade ou experiências negativas podem ter im­ pedido que ele adquirisse e consolidasse habili­ dades básicas e crenças funcionais de autocon­ trole, tolerância ao estresse e relacionamentos estáveis com as outras pessoas.

O terapeuta, no decorrer do tempo, ideal­ mente toma-se um modelo de papel para o paci­ ente - alguém que o paciente pode usar como exemplo ao mostrar consideração, tato, gratidão e entendimento em seu círculo de amigos e pessoas

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íntim as. Muitos pacientes com entaram como aprenderam a ficar tranqüilos e relaxados sob estresse, a não reagir exageradamente a desapon­ tamentos e a pensar antes de falar ou agir, obser­ vando o exemplo do terapeuta. Em raras ocasiões, os pacientes podem ir longe demais e incorporar toda a persona do terapeuta, mas isso também pode ser m anejado cognitivamente. Por exemplo, o terapeuta pode explorar as razões do paciente em querer descartar a própria identidade.

Todavia, às vezes é muito difícil e emocio­ nalmente desafiador estabelecer e m anter esse relacionamento amistoso de trabalho. Uma par­ te maior da energia do terapeuta é dedicada a conceitualizar e trabalhar a interação direta pa- ciente-terapeuta, um a vez que a psicopatologia interpessoal costuma estar presente, de forma característica, d u ra n te e entre as sessões. O terapeuta talvez tenha de ajustar suas expecta­ tivas em relação ao esforço que será necessário, à relevância dos intercâmbios interpessoais ime­ diatos, ao objetivo de um domínio interpessoal ampliado e às atribuições referentes às causas de dificuldade de cooperação ou progresso.

Pode ser muito útil incluir contatos adicio­ nais com outros significativos na vida do paci­ ente, para se obter mais informações sobre suas dificuldades e trabalhar diretamente problemas interpessoais. Em alguns transtornos do Eixo II, especialmente do agrupam ento B, outros signi­ ficativos podem ser os mais angustiados e moti­ vados para o tratam ento. Com pacientes adul­ tos, geralmente é mais construtivo e consistente com os limites de sigilo estim ular o paciente a convidar o outro significativo para participar de uma sessão conjunta, com o objetivo de traba­ lhar um problema específico ou obter mais in­ formações. Com pacientes adolescentes é acon­ selhável um a abordagem similar, para m anter o

rapport terapêutico e com partilhar informações

com os pais de um a m aneira que apóie a cres­ cente autonom ia do adolescente.

Embora o papel do terapeuta possa mudar durante o tratamento do paciente com transtorno da personalidade, os limites terapêuticos básicos devem ser respeitados em todos os momentos. Os terapeutas devem se m anter objetivos e ser res­

ponsáveis por garantir que os limites protetores sejam conservados intactos, especialmente quan­ do os déficits de habilidades do paciente são gran­ des ou as crenças prejudicadas estão muito ativas (Newman, 1997). Como em qualquer psicoterapia profissional, estão explicitamente proibidos rela­ cionam entos duplos e envolvim entos sexuais (A m erican Psychological A ssociation, 2002; Koocher e Keith-Spiegel, 1998).

N Ã O -C O L A B O R A Ç Á O

Dificuldades de colaboração podem ocor­ rer com qualquer paciente. Mas a natureza crô­ nica e persistente dos transtornos da personali­ dade torna o paciente do Eixo II mais propenso a não colaborar ou a não aderir ao tratam ento do que o paciente do Eixo I. Escolhemos o ter­ mo “não-colaboração” e “não-adesão” para dis­ tinguir essa conceitualização cognitiva de visões mais tradicionais da resistência como resposta esperada e inconsciente. Alguns livros de orien­ tação com portamental trataram dessa im portan­ te questão (A. Ellis, 1985; Shelton e Levy, 1981; Watchel, 1982).

Os esquemas relativos à mudança, visão de si mesmo e dos outros podem ser extremos e superexagerados. Essa visão exagerada pode se expressar de várias m aneiras. A não-colabora- ção pode-se manifestar diretam ente em com por­ tam entos que não estão de acordo com os pla­ nos com binados (por exemplo: atrasar-se ou perder sessões) ou, mais sutilmente, em omis­ sões no m aterial relatado nas sessões. A não-co­ laboração passiva que se origina do esquema de baixa-eficácia de um paciente pode ser diferen­ te da evitação ativa, desencadeada por signifi­ cados negativos, personalizados (Davis e Hollon, 1999). Os temas mais comuns de não-colabora- ção envolvem desconfiança do terapeuta, expec­ tativ as irre a lista s, v erg o n h a pessoal, culpa extemalizada e queixas contra outras pessoas (ou instituições), desvalorização de si mesmo ou de outros, medo de rejeição e fracasso.

Ocasionalmente, os pacientes podem m a­ nifestar formas extrem as de com portam entos

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não-colaborativos, que cruzam a linha e chegam a ser importunação, o abuso emocional ou o po­ tencial abuso físico do terapeuta. Em qualquer caso extremo, o terapeuta pode conceitualizar as possíveis razões do com portam ento e, ao mesmo tempo, rotular claramente o com porta­ mento como um processo que interfere na tera­ pia e não pode ser permitido para que a terapia prossiga bem (veja Newman, 1997). Consultar colegas, no caso de com portamentos extremos de pacientes, costuma ajudar o terapeuta a com­ preender a não-adesão, a gerar idéias para con­ tingências efetivas que podem redirecionar a terapia de forma produtiva, obtendo apoio emo­ cional e autoproteção adequados.

Existem muitas razões para o paciente não aderir ao tratam ento, além de “não querer mu­ dar” ou “um a intensa batalha ocorrendo entre as estruturas intrapsíquicas do paciente”. Essas razões podem aparecer em qualquer combina­ ção ou permutação, e a força relativa de qual­ quer ação de não-adesão pode m udar com as circunstâncias de vida do paciente, com o pro­ gresso da terapia, com a habilidade do terapeuta ao tratar crenças que interferem na colaboração, e assim por diante.

E N T E N D IM E N T O C O N C E IT U A L D A

N Ã O -C O L A B O R A Ç Ã O

Várias causas de não-colaboração podem ser conceitualizadas em termos de habilidades, crenças e condições do setting. Com uma concei- tualização precisa, um plano de recuperação apropriado pode visar às causas específicas, uti­ lizando a tecnologia do modelo cognitivo. Em­ bora essas causas sejam descritas um a de cada vez, múltiplas causas podem se aplicar a qual­ quer problema dado ou a qualquer paciente, em diferentes momentos.

Para explorar as causas da não-colabora­ ção, os terapeutas podem considerar úteis as seguintes perguntas: Existem déficits de habili­ dades, quer meus, quer do paciente contribuin­ do para essa não-colaboração? Existem crenças, minhas ou do paciente que estão atrapalhando?

Certas condições do setting ou contingências es­ tão interferindo no progresso? De que modo es­ ses problemas estão se misturando? E, finalm en­ te, o que podemos fazer a respeito?

1. O paciente pode não possuir a habilidade

de colaborar. Déficits individuais de habi­

lidades podem prejudicar a capacidade do paciente de trabalhar efetivamente com o terapeuta. Para muitos pacientes, a difi­ culdade em aderir ao regime terapêutico pode acompanhar seus problemas para realizar determinadas ações em sua vida. Ambas as áreas de dificuldade se origi­ nam de habilidades inadequadam ente desenvolvidas. Embora suas habilidades possam ser adequadas para “ir levando” em certas áreas, podem ser inadequadas para tarefas mais complexas. Por exem­ plo, um paciente do Eixo II pode possuir habilidades acadêmicas ou intelectuais bem-desenvolvidas, mas carecer de habi­ lidades de vida, práticas ou sociais. O terapeuta talvez precise substituir tarefas por habilidades específicas e ensinar ou praticar alguns comportamentos que aju­ dem o paciente a colaborar para avançar na terapia e, conseqüentemente, na vida.

Exemplo Clínico: Alan era um advogado

de 39 anos, diagnosticado com transtor­ no da personalidade esquiva. Ele entrou em terapia durante o divórcio, por pen­ sar que jamais encontraria outra mulher, sempre seria magoado e, portanto, a vida não valia mais a pena. Via como irrealistas os objetivos de superar sua mágoa e de­ senvolver uma vida social. “Eu não sou assim”, ele repetia sempre. Uma tarefa de tema de casa, durante várias sessões, en­ volvia ligar para um a mulher, cujo núm e­ ro do telefone fora-lhe dado por um cole­ ga. Durante a oitava sessão, o terapeuta perguntou a Alan por que era tão difícil telefonar. Alan replicou que não tinha pra­ ticamente nenhuma experiência em con­ vidar um a mulher para sair. O terapeuta pediu que Alan dramatizasse o telefone-

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ma para a mulher e descobriu que ele não tinha idéia do que dizer a ela. Depois de p raticar várias abordagens diferentes, Alan tentou telefonar do consultório e conseguiu marcar um encontro.

Sua lim itad a experiência, com binada com sua evitação característica, fazia com que fosse difícil para Alan realizar a ta ­ refa de casa. Se o terapeuta não tivesse descoberto isso, Alan jam ais poderia ter dado o telefonema. Esse fracasso, possi­ velmente, seria interpretado como pro­ va de sua crença de que jam ais teria um encontro novamente.

2. O terapeuta pode não possuir a habilida­

de de desenvolver colaboração. Assim

como reconhecemos as diferenças indi­ viduais em nossos pacientes, tam bém precisamos reconhecer que existem di­ ferenças nas habilidades dos terapeutas. O terapeuta pode não possuir a habili­ dade de trabalhar com um determinado paciente, devido à experiência limitada com um problema específico (por exem­ plo, traum a), com um a população espe­ cífica (por exemplo, pessoas mais velhas) ou com o nível de severidade do proble­ ma (por exemplo, pessoas severamente perturbadas). Trabalhar no contexto de um a clínica ou hospital pode facilitar para o terapeuta a consulta ou a super­ visão em um determ inado caso ou pro­ blema. Em algumas situações, todavia, talvez não haja como ter essa supervi­ são. Se as habilidades do terapeuta para lidar efetivamente com o problem a não forem adeq u ad am en te desenvolvidas, então o procedim ento ético é transferir o paciente para outro terapeuta. Mas, se não houver outro terapeuta disponível, o terapeuta deve buscar m elhorar suas habilidades por meio de um a comple- m entação de sua formação. Continuar a estudar sozinho, em cursos de pós-gra­ duação, seminários, oficinas, institutos, tudo isso deve fazer parte do crescimen­ to profissional de todos os terapeutas,

independentem ente de sua formação ou

background.

Exemplo Clínico: Foi en c am in h ad a à

M aureen, um a psicóloga com pós-dou- to ra d o , um a e s tu d a n te de 18 ano s, identificada com transtorno da persona­ lidade obsessivo-compulsiva, com uma queixa de retenção urinária psicogênica. A retenção urinária não só era não-sau- dável e dolorosa como tam bém social­ m ente problem ática, pois a estudante vivia em um dormitório universitário com um banheiro compartilhado. Não possu­ indo experiência em retenção urinária, a terapeuta prontam ente levou o assunto à sua supervisão. Entretanto, a supervi­ sora também tinha um a experiência li­ m ita d a no tr a ta m e n to d a re te n ç ã o urinária feminina. As duas não consegui­ ram encontrar nenhum outro terapeuta em sua com unidade local com experiên­ cia no tratam ento desse problema, por isso entraram em contato com colegas de todo o país para obter mais dados sobre o tratam ento desse transtorno. Além dis­ so, M aureen buscou a lite ratu ra para mais informações técnicas.

Dada a natureza incomum do problema, a terapeuta precisou desenvolver estra­ tégias e intervenções para que ela e sua supervisora pudessem trabalhar efetiva­ m ente com a paciente. A pesquisa de M aureen sobre anatom ia feminina, exer­ cícios e controle muscular levou-a a en ­ contrar a solução em um livro sobre exer­ cícios físicos para a mulher: os exercíci­ os de Kegel. A paciente foi ensinada a executar esses exercícios e, ao praticar sozinha, conseguiu controlar m elhor sua bexiga. A terapia com portam ental foi realizada concomitantem ente com o tra ­ balho cognitivo de identificar e respon­ der aos pensamentos disfuncionais sobre urinar em um banheiro público. Isso, por sua vez, levou ao trabalho para modifi­ car os esquemas relacionados à limpeza, à bondade e ao perfeccionismo.

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3. O terapeuta subestima o papel da cultura

do paciente. Por definição, o com porta­

m ento problemático ou a vivência inter­ na do paciente precisam, para satisfazer os critérios de transtorno da personali­ dade, desviar-se acentuadam ente das ex­ p e c ta tiv a s d a c u ltu ra do in d ivíd u o (A m e rican P sy c h ia tric A s so c ia tio n , 2000), não da cultura do terapeuta. Pre­ cisamos verificar se um viés etnocêntrico não está agindo, quando fazemos supo­ sições sobre os elementos funcionais ou disfuncionais da situação de um pacien­ te. O fracasso em fazer isso pode levar à incompatibilidade nos objetivos da tera­ pia, a superpatologizar o paciente e a pro­ vocar nele sentimento de incomenpreen- são ou desrespeito, por parte do terapeuta.

Exemplo Clínico: Vidya, um a universitá­

ria da índia asiática, buscou terapia de­ vido à ansiedade ao teste, por estarem se aproximando as provas finais de seu curso. Ao concluir o curso, ela pretendia voltar para a casa da família e fazer um casamento arranjado por seus pais. Ela ficou perturbada e perplexa quando a terapeuta fez um a formulação de trans­ torno da personalidade dependente, e não concordou com os objetivos terapêuticos propostos, de aum entar sua assertividade e capacidade de se separar da família. 4. Crenças de outros significativos podem di­

ficultar a mudança ou reforçar o compor­ tamento disfuncional. Pode haver circuns­

tâncias ou pessoas na vida do paciente que m antêm os esquemas disfuncionais e os com portam entos disfuncionais as­ sociados. As crenças de outros significa­ tivos podem ser obstáculos sutis ou ób­ vios para a participação do paciente na terapia. Essas crenças interferentes po­ dem refletir estigmas sobre o uso da te­ rapia para a m udança, desconforto com a direção prevista dessa m udança ou idéias distorcidas sobre afetos positivos (pecaminoso, imerecido, arriscado) ou

afetos negativos (santificado, justifica­ do). A m ensagem “não m ude” pode ser comunicada, explícita ou implicitamen­ te. De m aneira explícita, o paciente pode ser fisicamente agredido por conversar sobre “questões privadas de família com um desconhecido” ou ridicularizado e verbalm ente abusado por ser um “m alu­ co”, “ter um parafuso a m enos” e perder tem po e dinheiro com problemas que são “apenas um m onte de m erda”. Implici­ tam ente, pode ser enviada um a m ensa­ gem por meio do afastamento de outros significativos, retirada de atenção ou afei­ ção, ou ações maldosas que provocam so­ frimento no paciente. Mesmo quando o co n tato com outros significativos for muito limitado ou não mais ativo, podem persistir crenças significativas sobre o ris­ co ou a inadequação de se perm itir sen­ tir-se bem, despertando ansiedade sem ­ pre que a pessoa tentar melhorar. As ex­ periências do paciente com outros signi­ ficativos o levaram a concluir que tentar se sentir bem inevitavelmente provocará rid íc u lo , re je iç ã o ou alg u m e v e n to desconcertante, e o resultado será se sen­ tir ainda pior por ter assumido o risco.

Exemplo Clínico: Bob era um homem de

30 anos que vivia em casa com os pais. Ele tinha formação universitária e um bom em prego como rep resen tan te de um a grande corporação. Embora seu sa­ lário fosse suficientemente alto para o seu sustento, os pais insistiam em que ele continuasse m orando com eles. A genuí­ na preocupação dos pais era ele não con­ seguir m anter o peso se morasse sozinho, voltando à sua obesidade m órbida de mais de 150 quilos. Embora pesasse atu ­ almente cerca de 100 quilos, estivesse em terapia e freqüentasse um grupo de apoio para o controle do peso, Bob ficou dila­ cerado quando a mãe se perguntou se a terapia não estaria pondo em sua cabeça idéias irrealistas e perigosas, ao fazê-lo pensar que poderia m orar sozinho. Bob

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ficou assustado ao ver que eles acredita­ vam que ele não conseguiria controlar seu peso, sem a estrutura e a orientação proporcionadas por eles. Os pensam en­ tos que tinha sobre desapontá-los e suas dúvidas sobre o próprio papel em seu sucesso o impediam de tentar m orar so­ zinho. Ele continuava em casa para ali­ viar a preocupação dos pais, perm ane­ cer dependente - seu garotinho - e lidar com o medo de perder o controle diante da comida. Ele continuava acreditando, como acreditavam os pais, que a preocu­ pação era necessária para ter o controle e m anejar bem a situação, e que se sen­ tir confiante sobre a própria capacidade de lidar com as coisas era perigoso e injustificado.

5. As idéias do paciente sobre seu possível fra ­

casso na terapia podem contribuir para a não-colaboração. Em qualquer terapia

cognitiva é im portante investigar os pen­ samentos do paciente sobre seu sucesso pessoal no em preendim ento terapêutico. Detectar pensamentos sobre possível fra­ casso, exam inar e aprender a responder a essas cognições negativas e autodepre- catórias podem ser objetivos muito im­ portantes a curto prazo. O sucesso pode ser colocado como um esforço dimensio­ nal, progressivo, e não como resultado de tudo ou nada. Por meio de tarefas gra­ duais, pequenos passos seqüenciais, ava­ liação de respostas e reações às tentati­ vas de mudança, inoculação de estresse e ansiedade, apoio terapêutico para a per­ sistência, tolerância à frustração e o pro­ cesso experimental da descoberta, o pa­ ciente pode deixar de focar tanto o pos­ sível fracasso e ficar mais disposto a ten ­ tar mudanças.

Exemplo Clínico: Mitch, um universitário

de 20 anos, diagnosticado com transtor­ no da personalidade esquiva, tinha m ui­ to pouca vida social e experiências de namoro. Depois de viver em um dorm i­

tório universitário por dois anos, ele saiu do campus para não ter mais de teste­ m unhar a ativa vida social dos outros ho­ mens e m ulheres de seu dormitório - eles tinham encontros, iam a festas e faziam num erosos contatos sociais informais, como telefonem as e conversas casuais. No início da terapia, Mitch aceitava inte­ lectualm ente a importância de um a vida social durante a faculdade, mas também reconhecia sua falta de habilidade, sua ansiedade e relutância. Seus pensam en­ tos sobre a terapia eram sem elhantes aos pensam entos sobre ter encontros. Em ambas as situações, ele via a si mesmo