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2 A EXECUÇÃO PROVISÓRIA COMO INSTITUTO

4.3 A execução provisória das “astreintes”

No tocante ao seu conceito, como bem coloca Araken de Assis, “a

astreinte representa meio executório poderoso, aplicável vantajosamente para

289 TEIXEIRA, Guilherme Puchalski. Tutela específica dos direitos: obrigações de fazer, não

fazer e entregar coisa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012, pp. 240-244.

290 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil, IV. São Paulo:

executar de modo específico obrigação de fazer infungível”.291 Como sabido, é meio de execução indireta.292

A multa coercitiva é a imposição realizada pelo magistrado contra o devedor para que esse se sinta psicologicamente acuado para o cumprimento do vínculo obrigacional, via extinção da obrigação. Visa criar no devedor o temor de descumprimento e detém caráter pedagógico. Em outras palavras, a

astreinte indica, no processo civil, a pena pecuniária das execuções.293

291 ASSIS, Araken. Manual da execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 563. 292 Como muito bem explica Luiz Guilherme Marinoni: “A coerção indireta pode ser pessoal

(prisão civil) ou patrimonial (multa). É dita indireta porque não conduz diretamente à tutela do direito, limitando-se a incidir sobre a vontade do réu para que a tutela do direito seja prestada. Execução direta é a que permite que o direito seja realizado independentemente da vontade do demandado”. (p. 132) Há sub-rogação quando a execução substitui a prestação da parte; há coerção direta quando a atividade executiva não substitui a prestação devida, uma vez que esta não existe, ou seja, nada precisa ser feito pelo vencido para que ocorra a realização do direito, basta a expedição do mandado executivo. Exs.: hipóteses de direitos reais, recuperação de coisa, ato contrário ao direito que deve ser removido. (p. 132-133) “Perceba-se que, nos casos em que a tutela do direito independe de ato a ser praticado pelo réu, como ocorre quando se pretende apenas remover o ilícito mediante meio de coerção direta (como a busca e apreensão), obviamente não se pode pensar em condenação, justamente porque não há necessidade de exigir qualquer prestação do réu para a tutela do direito”. (p. 133) “[...] a diferença entre sentenças que são executivas em razão do que existe no plano do direito material e sentenças que dispensam a ação de execução por um a questão de política processual, relacionada apenas com a necessidade de se dar um maio poder de execução ao juiz”.

MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 134.

293 Para Luigi Ferrara, o sistema de execução das astreintes “consiste nel provvedere alla

esecuzione processuale indireta dele obligazioni di dare, di fare e di non fare mediante condanne pecuniarie d´indole comminatoria, tendenti ad ottenere, quando la prestazzione non sia devenuta impossibile, l´adempimento specifico della obbligazione, sotto la minaccia di una perdita patrimoniale suscettibile di vincere la resistenza dell´obbligato”. [...] “L´astreinte, como appare dalla sua stessa etimologia, è coazione mediante minaccia di uno svantaggio patrimoniale suficiente a influire sulla volontà dell´obbligato”.

FERRARA, Luigi. L´esecuzione processuale indireta. Napoli: Casa Tipografico-Editrice Nicola Jovene, 1915, pp. 125-126).

No vernáculo: “consiste no prover à execução processual indireta da obrigação de dar, de fazer e de não fazer mediante condenação pecuniária de índole cominatória, tendente à obter, quando a prestação não tenha se tornado impossível, o adimplemento específico da obrigação, sob a ameaça de prejuízo econômico que pode superar a resistência devedor”. [...]A astreinte, como se extrai de sua etimologia, é coação mediante ameaça de uma vantagem patrimonial, suficiente para influir na vontade do obrigado. (livre tradução).

Constitui-se em execução provisória a execução das multas coercitivas, denominadas “astreintes”, proferidas em sede de tutela de urgência294. Sendo este o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: “Antes do trânsito em julgado, as "astreintes" somente podem ser executadas mediante execução provisória, nos termos do art. 475-O do CPC, tendo em vista a natureza provisória do correspondente título judicial.”295

Assim, caso haja revogação do provimento liminar que sustenta o título executivo provisório, a execução provisória deverá ser extinta. É esse o entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, com o qual se concorda, a exemplo da seguinte decisão: “[...] Esta Corte firmou a interpretação de que a revogação do provimento liminar que lastreia o título executivo provisório das

294Sobre a execução das “astreintes”, importante é a lição de Sérgio Seiji Shimura:

“No que tange à execução da multa diária, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, o § 5º, do art. 461 autoriza o juiz a impor multa diária por tempo de atraso. Não atendida a ordem judicial, passa a incidir a respectiva sanção, cuja execução há de seguir o procedimento previsto nos arts. 646 e ss. Isto é, cabe execução provisória da multa diária, sob pena de não atingir a sua finalidade específica.

Portanto, atualmente, a multa pode ser aplicada e exigida para a efetivação da tutela específica, independentemente do trânsito em julgado. Apesar de a nova redação do § 5º do art. 461, CPC, diferir do estabelecido em outros diplomas (art. 84, CDC; art. 12, § 2º, Lei 7.347/1985, LACP; art. 213, § 3º, do ECA), cremos que não se pode mais exigir o trânsito em julgado da decisão condenatória, para, só então, se permitir a execução definitiva contra o réu. Se cabe execução provisória para o credor individual, com maior razão, há de ser dado o mesmo tratamento para as lesões de direitos coletivos ou difusos. Na conjugação dos arts. 287, 461 e 461-A, afigura-se que o legislador quis estabelecer um regime geral de incidência da multa, como instrumento de efetivação das decisões judiciais. Assim, passa a ter lugar em qualquer tipo de processo ou procedimento, independentemente de estar ou não estar inserido nos limites do Código de Processo Civil. A forma de execução da multa diária, como já salientado, segue regra prevista para a execução por quantia certa contra devedor solvente”. SHIMURA, Sérgio. Título executivo. São Paulo: Método, 2005, pp. 179-180.

295 REsp 1366950/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,

julgado em 20/06/2013, DJe 28/06/2013. No mesmo sentido:

AgRg no AREsp 200.758/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/02/2014, DJe 19/02/2014.

AgRg no REsp 1365017/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/04/2013, DJe 15/04/2013.

AgRg no AREsp 144.562/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 21/05/2012-

astreintes determina a extinção da execução, que também possui natureza provisória (art. 475-O do CPC). Precedentes. [...]”296

No entanto, importante é a advertência realizada por Luiz Guilherme Marinoni297, no sentido de que esta possibilidade de extinção da execução, referida no acórdão, gera um desestímulo no réu, que tenderá ao descumprimento da liminar, mormente nos casos em que acredita na reforma do provimento.