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2 A EXECUÇÃO PROVISÓRIA COMO INSTITUTO

3.7 Os honorários advocatícios

Anteriormente, muito se discutia a respeito do cabimento de honorários advocatícios na execução provisória. No entanto, no ano de 2013, a questão foi decidida no Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento de recurso especial representativo de controvérsia (artigo 543 do Código de Processo Civil). Assim, pela importância da decisão, que colocou fim ao debate, há que se colacionar parte de sua ementa:

245 Interessante sublinhar a problemática que envolve o “fato novo”, como bem destaca Luiz

Rodrigues Wambier:

“A liquidação por artigos será necessária, portanto, quando, para se determinar o valor da condenação, houver necessidade da prova de fato que tenha ocorrido depois da sentença, e que tenha relação direta com a determinação da extensão da obrigação nela constituída, ou de fato que, mesmo não sendo a ela superveniente, não tenha sido objeto de alegação e prova no bojo do anterior processo de conhecimento, embora se trate de fato vinculado à obrigação resultante da sentença. Dessa maneira, terá lugar tal forma de liquidação sempre que, para se precisar o quantum correspondente à obrigação fixada na sentença condenatória, houver necessidade de nova cognição, agora não mais destinada a formar a convicção judicial a respeito da existência da obrigação, mas voltada à necessidade de precisar-lhe o montante, ou a extensão.”

WAMBIER, Luiz Rodrigues. Liquidação da sentença civil individual e coletiva. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, pp. 112-113.

E, ainda, sobre o fato superveniente:

“É necessário deixar claro nosso entendimento sobre o que entendemos por superveniência do fato. Não se trata de provar fato desvinculado do pedido formulado na fase de conhecimento, de onde proveio a sentença liquidanda, pois, afinal, esse fato (ligado ao pedido) circunscreveu o âmbito de abrangência da sentença. A superveniência do fato pode se dar de dois modos: ou se trata de fato decorrente dos que embasaram o pedido, ou se trata de situação fática apenas desconsiderada na instrução do processo de conhecimento, embora já existisse àquele tempo. Neste último caso, trata-se, como afirma Cândido Rangel Dinamarco, de fato constitutivo não considerado na sentença genérica, mas integrante do contexto gerador da obrigação. Trata-se, na realidade, e fato que, se tivesse sido considerado na sentença, esta já enunciaria o quantum debeatur desde logo.”

WAMBIER, Luiz Rodrigues. Liquidação da sentença civil individual e coletiva. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, pp. 112-113.

“(...). Para efeitos do art. 543-C do CPC, firmam-se as seguintes teses: 1.1. Em execução provisória, descabe o arbitramento de honorários advocatícios em benefício do exequente. 1.2. Posteriormente, convertendo-se a execução provisória em definitiva, após franquear ao devedor, com precedência, a possibilidade de cumprir, voluntária e tempestivamente, a condenação imposta, deverá o magistrado proceder ao arbitramento dos honorários advocatícios (...).”246

Isto é, segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o juiz deverá arbitrar os honorários advocatícios apenas no caso de conversão da execução provisória em definitiva, após o julgamento do recurso.

No entanto, no presente trabalho, não se coaduna com esta posição, devendo-se fazer análise mais detalhada do cabimento de condenação em honorários na execução e especificamente na execução provisória.

Nesse contexto, verifica-se que os critérios gerais para fixação de honorários constituem-se na atividade processual técnica, ou seja, na carga de trabalho do advogado247, e, também, no princípio da causalidade. Sendo que

246 REsp 1291736/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em

20/11/2013, DJe 19/12/2013.

No mesmo sentido, ainda há diversas decisões do Superior Tribunal de Justiça:

AgRg no REsp 1370533/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2014, DJe 07/04/2014.

AgRg no REsp 1340992/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/03/2014, DJe 28/03/2014.

AgRg nos EREsp 1324808/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/03/2014, DJe 20/03/2014.

AgRg no REsp 1327498/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/03/2014, DJe 18/03/2014.

AgRg nos EREsp 1323199/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/02/2014, DJe 07/03/2014.

247 Sobre o assunto e no mesmo sentido, assim considera Eduardo Talamini:

“Uma vez que a parte desenvolva atividade em juízo que exija a prática de atos técnicos processuais, justifica-se a atribuição de honorários. Vale dizer: havendo intervenção de advogado no processo, para o desempenho de atividade que pressupõe essa qualificação profissional, põe-se a questão dos honorários.

E é o efetivo desempenho de atividade técnico-processual que justifica a atribuição dos honorários – sendo irrelevante a sede formal em que tal atividade desenvolva-se (ou seja, se constituiu ou não uma nova ação, novo processo, mera fase, etc.). Ou seja, visto que se ponha uma nova e específica carga de trabalho advocatício, exigindo de cada parte contar com um concurso de um profissional para o exercício de tal tarefa, cabem honorários.”

na execução definitiva também é necessária a imposição de honorários, pois, pelo critério da sucumbência, cabe ao executado arcar com os honorários do advogado do exequente.248

Assim, uma vez assentado, na doutrina e na jurisprudência, o cabimento dos honorários na fase de execução, sendo este entendimento pacífico e que até mesmo dispensa maiores demonstrações, e, tendo em vista que a execução provisória deve ser realizada nos mesmos moldes da execução definitiva (artigo 475-O, caput, do Código de Processo Civil), entende-se que é possível a fixação dos honorários advocatícios em sede de execução provisória.

No mesmo sentido, é o entendimento de Eduardo Talamini:

Os honorários de advogado, por sua vez, incidem em todo em qualquer caso em que estejam os pressupostos gerais para a imputação de responsabilidade pelos custos do processo. Isso deriva da função ressarcitória de que se revestem os honorários. O princípio que determina que o processo deve dar a quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo a quem tem direito justifica sua incidência generalizada. Como visto, a falta de previsão normativa expressa dos honorários, em diferentes épocas ou modalidades processuais TALAMINI, Eduardo. Execução provisória e honorários. In: ARRUDA ALVIM, José Manoel; ALVIM, Eduardo Arruda; BRUSCHI, Gilbeto Gomes; CHECHI, Mara Larsen; COUTO, Mônica Bonetti. Execução civil e temas afins: do CPC/1973 ao Novo CPC – Estudos em Homenagem ao Professor Araken de Assis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 255.

248 É bem observa Eduardo Talamini:

“Como visto, nas próprias formulações teóricas sobre o princípio da causalidade (Carnelutti) e o critério da sucumbência (Chiovenda), a questão da responsabilidade processual na execução foi expressamente enfrentada, com sua atribuição ao executado.

No processo civil brasileiro, a história dos honorários de sucumbência na execução tem seguido um padrão: inicial controvérsia quanto à sua incidência seguida do prevalecimento da resposta positiva. Foi o que se deu em diferentes épocas, em diversas modalidades executivas. As dúvidas foram sempre superadas pela constatação de que a atividade executiva envolve uma nova específica atuação advocatícia, que é objeto de remuneração própria, e de que a exigência de tutela jurisdicional plena e efetiva impõe que esse custo seja imputado à parte sem razão, o executado.”

TALAMINI, Eduardo. Execução provisória e honorários. In: ARRUDA ALVIM, José Manoel; ALVIM, Eduardo Arruda; BRUSCHI, Gilbeto Gomes; CHECHI, Mara Larsen; COUTO, Mônica Bonetti. Execução civil e temas afins: do CPC/1973 ao Novo CPC – Estudos em Homenagem ao Professor Araken de Assis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 260.

(notadamente, nos procedimentos executivos), jamais foi óbice à sua incidência.

Por isso, uma vez presentes os pressupostos gerais para sua incidência, os honorários advocatícios são cabíveis na execução provisória.249

Portanto, se o executado tem como evitar a execução provisória, cumprindo a condenação e não o faz, dá causa ao procedimento executivo provisório, por isso, a ele devem ser imputados todos os custos, incluindo os honorários.250