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2 A EXECUÇÃO PROVISÓRIA COMO INSTITUTO

2.8 A distinção entre a execução provisória e a execução definitiva

2.8.1 A execução de título extrajudicial

No tocante aos títulos executivos extrajudiciais199, destaca-se que a sua execução é definitiva. No entanto, como se viu no tópico específico a respeito do artigo 587 (item 2.3), há uma hipótese na qual a lei prevê que a execução seguirá o procedimento previsto para a execução provisória: nos casos nos

198 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 379. 199“Parliamo di titoli esecutivi stragiudiziali quando il fatto rappresentato dal documento non è

um provvedimento del giudice. Data questa ipotesi il documento può rappresentare un fatto dele parti oppure di un terzo.”

No vernáculo: “Falamos de títulos executivos extrajudiciais quando o fato representado pelo documento não é um provimento do juiz. Dada esta hipótese, o documento pode representar um fato das partes ou de um terceiro.”

CARNELUTTI, AVV. FRANCESCO. Lezioni di Diritto Processuale Civile: Processo di Esecuzione. CEDAM – Casa Editrice Dott. A. Milani. Già Litotipo – Padova, 1929 – VII.

quais ainda pende julgamento da apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo.

Sobre o assunto, há que se lembrar que, anteriormente à Lei n. 11.382 de 2006, que deu nova redação ao artigo 587 do Código de Processo Civil, a doutrina majoritária defendia que, sendo iniciada a execução de forma definitiva, a pendência de apelação contra a sentença de improcedência dos embargos à execução, não seria apta a transformar a execução em provisória.200

A doutrina sustentava sua posição nos mais diversos fundamentos, afirmando que a definitividade da execução em tais casos se dava em virtude de esta seguir nos próprios autos, sendo os embargos remetidos ao tribunal, de modo diferente da execução provisória. Outros afirmavam que o executado ainda teria a chance de suspender o prosseguimento da demanda por meio de pedido de antecipação de tutela na apelação ou com cautelar inominada.201 Tanto é assim que o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 317: “É definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que pendente apelação contra sentença que julgue improcedentes os embargos”.

Contra tal corrente, havia pouca resistência, afirmando a parcela minoritária da doutrina que “enquanto a decisão dos embargos à execução não transitasse em julgado, o título não poderia ser entendido como definitivo, porque eventual acolhimento da pretensão do executado poderia afetá-lo diretamente”.202 Todavia, tal cenário se modificou com a Lei n. 11.382 de 2006, especificamente com a redação dada ao artigo 587 do Código de Processo Civil.

Nas palavras de Daniel Amorim Assumpção Neves:

200 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo:

Método, 2012, p. 912.

201 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo:

Método, 2012, p. 912.

202 LUCON, Paulo Henrique dos Santos; GRECO FILHO, Vicente; THEODORO JUNIOR,

Humberto; apud NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2012, p. 913.

Trata-se de nova redação do art. 587 do CPC, que prevê a provisoriedade da execução de título extrajudicial na pendência de apelação contra a sentença de improcedência proferida nos embargos à execução, desde que estes tenham sido recebidos no efeito suspensivo. Pelo dispositivo legal, a interposição dos embargos à execução e a concessão do efeito suspensivo – que dependerá do preenchimento dos requisitos legais – impedem a continuidade da execução até o julgamento da apelação interposta contra a sentença que decide os embargos à execução. Sendo o julgamento de improcedência, o efeito suspensivo atribuído ao recurso estará imediatamente revogado, ainda que contra a decisão seja interposto recurso e apelação, que será recebido sem o efeito suspensivo (art. 520, V, do CPC). A execução, portanto, prosseguirá, mas agora seguindo as regras da execução provisória.203

Isto é, a lei acatou o posicionamento doutrinário minoritário e, assim, a execução poderá nascer definitiva, mas se “tornar provisória” ou seguir o regime da execução provisória.

Segundo o mesmo autor, a referida Lei n. 11.382 de 2006 teve o propósito de agilizar a entrega da prestação jurisdicional, com o intuito de fazer valer os princípios da celeridade processual e efetividade da tutela. Todavia, a alteração do dispositivo em comento (artigo 587 do Código de Processo Civil) preferiu a certeza jurídica à celeridade, totalmente contra o sentido das recentes modificações procedimentais.204 Além disso, importa observar que a provisoriedade da execução, nesse caso, só se justificaria durante a pendência de julgamento da apelação. Assim, se a sentença for confirmada em segundo

203 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo:

Método, 2012, p. 912.

204 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo:

Método, 2012, p. 912. Nas palavras do próprio autor: “Para parcela da doutrina que já se manifestou a respeito do tema após a modificação do teor do art. 587 do CPC, a novidade serviria para compensar a agilidade na satisfação do direito, propiciada pela nova estrutura da execução. Seguindo a execução de forma definitiva, seria possível ao exequente adjudicar imediatamente o bem ou aliená-lo, por iniciativa particular ou por hasta pública, ainda que pendente de julgamento a apelação contra a sentença de improcedência dos embargos. De fato, não há como negar que houve sensível facilitação à satisfação do direito do exequente, mas não parece ser essa circunstância determinante para se apontar como acertada a opção pela provisoriedade da execução. Teria sido mais adequado se o legislador tivesse seguido a corrente majoritária, o que, entretanto, não aconteceu.”

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2012, p. 914.

grau, uma vez interpostos recursos especial ou extraordinário, a execução deverá prosseguir sob a forma definitiva.

Outrossim, no mesmo sentido do que aqui se entende e expôs, Rita Quartieri afirma que a execução não se transforma em provisória, pois nasce definitiva e não há como se transmudar para provisória.205

205 Nas palavras da própria autora: “O art. 587 do Código de Processo Civil institui regramento

apropriado à execução do título extrajudicial, já que a execução provisória no regime do cumprimento da sentença, foi regrada pelo art. 475-O. [...] O título extrajudicial, porém, é sempre definitivo, jamais provisório. Caso contrário, não será título executivo. A ressalva da lei, ao falar em execução provisória, diz respeito à posterior cognição com relação ao título, trazida por conta de embargos ou impugnação. Essa questão, relativa à cognição quanto à obrigação que ele representa, está relacionada ao exercício do contraditório e da ampla defesa, que poderá ser exercitada ou não, e não ao título. E a provisoriedade diz respeito e eventual suspensividade, quanto ao instrumento (embargos) que vincula essa cognição. É nesse sentido, que prevê a norma que a execução será provisória, enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (CPC, art. 739). [...] Suspensividade e definitividade revelam conceitos distintos, e a execução que nasce definitiva não se transmuda para provisória diante de eventual e superveniente veiculação de embargos por parte do executado. Aliás, o caráter definitivo da execução perdura, mesmo na pendência de recurso, já que os atos executivos jamais se desfazem. E, para Shimura, será definitiva a execução mesmo nessa hipótese, porque os embargos apenas terão condão suspensivo, retomando seu curso em seguida e ‘se teve início como definitiva, assim continuará até o final’. A definitividade verifica-se no momento da propositura da execução. Se relativa a decisão não transitada em julgado, será provisória, se atinente a título extrajudicial que goza de presunção de certeza, será definitiva. Esse tem sido o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça.”

QUARTIERI, Rita. Tutelas de urgência na execução civil: pagamento de quantia. São Paulo: Saraiva, 2009. (Coleção direito e processo: técnicas de direito processual. Coordenação: Cassio Scarpinella Bueno), p. 86.

Esta é a posição de Marcelo Abelha e Flávio Cheim Jorge: “Antes de tudo um esclarecimento do dispositivo. Não quis (e nem poderia) o legislador inventar o título executivo extrajudicial provisório, porque de fato eles não existem. O que pretendeu o legislador foi dizer que nos casos em que a execução de título extrajudicial for paralisada pelo efeito suspensivo atribuído aos embargos, ela, a execução, não precisará ficar estagnada (sem curso), permitindo-se a aplicação, em prol da efetividade do processo de execução, das técnicas processuais da ‘execução provisória’ do art. 475-O do CPC. Enfim, pretendeu o legislador que, ao invés de manter suspensa a execução pelo efeito suspensivo atribuído aos embargos, permite o dispositivo que o exequente valha-se do regime da execução provisória, prestando caução e dando prosseguimento à execução que estava paralisada. Este parece ser o sentido do dispositivo em dizer que ‘torna-se provisória a execução antes definitiva’. Não obstante a sofrível redação, merece aplausos a intenção do legislador, pois evita que uma execução fique paralisada pelo efeito suspensivo dos embargos, permitindo que se lhe aplique o regime jurídico da execução provisória do art. 475-O, do CPC, evidentemente com as restrições previstas neste dispositivo.”

QUARTIERI, Rita. Tutelas de urgência na execução civil: pagamento de quantia. São Paulo: Saraiva, 2009. (Coleção direito e processo: técnicas de direito processual. Coordenação: Cassio Scarpinella Bueno), p. 97.

Portanto, acredita-se que a execução, mesmo na mencionada hipótese do artigo 587 do Código de Processo Civil, é definitiva e não provisória. Assim, não há que se falar, por exemplo, na prestação de caução por parte do exequente, dentre outras consequências práticas inerentes ao não tratamento da execução como provisória.

3 O PROCEDIMENTO DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA