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3.3. A Coleta de dados

3.3.2. Aplicação dos exercícios e relatórios semanais

3.3.2.5. Exercícios expressivos

Ao longo da vida, vamos suprimindo muitos dos nossos sentimentos para que possamos nos adequar ao meio em que vivemos, seja ele familiar, social ou profissional. Aprendemos a conter nossas expressões de raiva, de medo, de tristeza ou até de alegria, se pensarmos que elas não estão condizentes com o ambiente ou com o momento em que nos encontramos. Em conseqüência, “a inibição da expressão dos sentimentos leva a uma perda dos mesmos, e esta é uma perda da vitalidade. Os sentimentos são a vida do corpo assim como os pensamentos, a vida da mente.” (LOWEN; LOWEN, 1985, p. 131)

É preciso, então, aprender a entrar em contato com os sentimentos, a lidar com eles e a expressá-los de maneira adequada. De acordo com o casal Lowen,

o trabalho com a expressão de sentimentos, em terapia, numa aula de exercícios ou em casa, ajuda as pessoas a entrarem em contato com parte dos sentimentos suprimidos de sua personalidade. [...] Expressar sentimentos num contexto controlado ou numa aula de exercícios, em geral, descarrega muito da excitação, de modo que o sentimento pode ser mantido dentro de limites adequados (LOWEN; LOWEN, 1985, p. 131-132).

Isso significa que expressar os sentimentos através de exercícios faz com que o indivíduo aprenda a adquirir um controle consciente dessa expressão. Essa será então, por exemplo, diferente de uma explosão histérica, já que esta ocorre à revelia da vontade do indivíduo e demonstra, por parte deste, uma falta de autoconhecimento Como afirmam os Lowen,

o autoconhecimento denota uma habilidade de responder apropriadamente a uma situação. [...] Quando agir e quando falar são tão críticos quanto o que se faz ou diz. Alguns reagem depressa demais; são impulsivos e têm falta de refreamentos conscientes que caracterizam uma pessoa com autoconhecimento. Outros reagem devagar demais, geralmente muito depois da situação ter passado. Estabilidade implica em perceber bem a oportunidade. [...] Estabilidade, pois, é sinônimo de autoconhecimento, a sutil coordenação entre sentir e agir, entre movimentos involuntários ou espontâneos e voluntários ou deliberados, entre o ego e o corpo (LOWEN; LOWEN, 1985, p. 58).

Assim, na Bioenergética, os exercícios expressivos “servem para ajudar as pessoas a expressar seus sentimentos, enquanto os exercícios-padrão concentram-se no contato com o corpo e no relaxamento de suas tensões, sem liberação emocional concomitante” (LOWEN; LOWEN, 1985, p. 131). Mas muitos dos exercícios-padrão podem funcionar como exercícios expressivos desde que a eles seja adicionada uma colocação verbal que esteja apropriada aos seus movimentos. Essa colocação verbal é chamada por Bezerra (2003) de consígnia.

De acordo com esse autor, o uso dessas colocações é um aspecto inovador da Bioenergética. Elas poderiam ser definidas como sentenças que estariam presentes em toda a execução de um exercício e

são propostas de acordo com a queixa, estrutura e a estratégia do caráter presente no momento psicoterapêutico, objetivando tornar conscientes sensações e percepções corporais que vieram à tona [...]. As consígnias ajudam os clientes a exercitarem suas potencialidades de auto-expressão, reconhecendo e expressando suas emoções, encorajando e facilitando a comunicação de suas opiniões e sentimentos de uma forma mais consciente e espontânea (BEZERRA, 2003, p. 59).

Alguns dos exercícios-padrão utilizados nesta pesquisa funcionaram como exercícios expressivos através do uso de colocações verbais a eles adicionadas. Como exemplos, posso citar a adaptação feita para o violino do exercício 5-B e o exercício 43. O uso prático dessas expressões verbais pode também ser exemplificado pelo exercício expressivo que descreverei logo a seguir.

Vários são os exercícios expressivos descritos pelo casal Lowen em seu livro. Eles realizam ações como socar, chutar, esticar lábios e braços para alcançar algo, bater com uma raquete em um colchão ou torcer uma toalha. Todos esses exercícios têm certo grau de agressividade, pois, para os Lowen, “toda ação expressiva é um ato agressivo, no sentido de ser um ‘mover-se para fora’, em direção ao mundo, apoiado nos sentimentos ou na energia pessoal” (LOWEN; LOWEN, 1985, p. 146).

Exercício 73 – Espernear no colchão

Nesse exercício, o indivíduo deve deitar-se em um colchão e esticar as duas pernas sem deixar os joelhos rígidos. Levantando cada perna alternadamente e batendo-a sobre o colchão, um movimento de esperneio deve ser iniciado, aumentando-se a sua força e a sua velocidade gradualmente, mas é necessário que o indivíduo tente fazer com que o movimento parta dos quadris e não apenas dos joelhos. Para aumentar ainda mais a intensidade do movimento, os lados do colchão podem ser segurados. Porém, o indivíduo também pode, simultaneamente ao movimento das pernas, utilizar os braços no esperneio em um movimento de socar o colchão. Se o corpo torna-se completamente envolvido nesse exercício, a cabeça irá se movimentar para cima e para baixo a cada chute dado no colchão.

Segundo Lowen (1984), embora esse movimento inicie-se conscientemente, pode se tornar involuntário se uma forte carga emocional dele emergir, impregnando-o. O ato de espernear evoca o sentimento de raiva, de protesto, ou outros a eles relacionados. Assim, o indivíduo, através desse movimento, deve procurar se expressar dizendo um “não” a cada batida ou um “não” prolongado enquanto esperneia várias vezes. A expressão “por quê?” também pode ser utilizada como consígnia desse exercício.

Dos vários exercícios expressivos da Bioenergética, esse foi o único utilizado pelos participantes da pesquisa em momentos em que esses precisavam entrar mais em contato consigo mesmos, deixando vir à tona os seus sentimentos110. Segundo Alexander e Leslie Lowen, esse exercício ajuda a pessoa “a avaliar seu grau de auto-expressão e autoconhecimento. [...] Além do mais, envolve a parte inferior do corpo, que em muitas pessoas é passiva.” (LOWEN; LOWEN, 1985, p. 59).