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4.1. O questionário: um diagnóstico do grupo

4.1.4. Nível de energia vital e percepção corporal

Em relação ao nível de energia vital, as respostas dos participantes nos questionários indicaram que, mesmo tendo entre 18 e 24 anos e, portanto, estando em plena juventude, em sua maioria eles já se sentiam cansados com o grande número de atividades imposto por sua vida121. Dos 08 (oito) participantes, apenas 01 (hum) não sentia esse cansaço, mesmo afirmando viver em grande atividade. Do restante dos participantes, 04 (quatro) já se sentiam cansados desde o início de seu dia e os outros 03 (três) percebiam esse cansaço geralmente com o passar das horas, dependendo da quantidade de suas atividades. Apenas 01 (hum) dos participantes não tinha momentos de lazer e entre o restante deles, nesses momentos, 04 (quatro) cultivavam o hábito de sair para dançar.

Todos os participantes afirmaram se sentir sobrecarregados e continuamente pressionados, mas também, todos disseram sentir prazer em atividades do seu cotidiano: 05 (cinco) em algumas e 03 (três) em todas. Apenas 01 (hum) dos participantes não citou, entre as atividades que lhe causavam prazer, alguma que estivesse relacionada ao violino. Talvez em conseqüência da sensação de sobrecarga, 03 (três) dos participantes tinham dificuldades de relaxamento ou de ficar quietos e outros 03 (três) tinham insônia. Em relação ao seu tipo de movimentação, 04 (quatro) afirmaram ter movimentos lentos e calmos, 03 (três) rápidos e apressados e 01 (hum) não soube responder. E no que diz respeito à qualidade da alimentação, 05 (cinco) participantes responderam comer bem, mas não necessariamente em horários regulares. Essa regularidade foi apontada por apenas 04 (quatro) dos participantes. Já em relação ao tempo para comer, 05 (cinco) participantes relataram comer tranquilamente, 02 (dois) apressadamente e 01 (hum) afirmou que esse tempo dependia da quantidade de suas atividades durante o dia. De todos os participantes, apenas 01 (hum) conservava o hábito de beber e de fumar.

Tudo isso quer dizer que, mesmo todos os participantes tendo afirmado se sentirem mal e deprimidos em algumas ocasiões e que, no início desta pesquisa, sentimentos de solidão, angústia, medo, preocupação, saudade, dúvida, reflexão, ansiedade, raiva e desânimo122 estivessem presentes em alguns deles, o nível de energia vital da maioria desses indivíduos não se encontrava baixo. O prazer natural da juventude os sustentava, mesmo nas adversidades da vida.

O nível de percepção corporal também foi investigado neste questionário. As perguntas relacionadas a ele não só expunham a capacidade de percepção dos participantes sobre si mesmos, como também estavam relacionadas a alguns dos distúrbios emocionais refletidos no corpo do indivíduo e analisados pela Bioenergética123. Assim, as questões sobre a flexibilidade do corpo e das costas; sobre a posição e movimentação tanto do tórax e do abdômen durante a respiração, como da bacia no ato de andar; e sobre a percepção dos pés em contato com o chão e das nádegas em contato com o assento, fizeram parte desta investigação. Essas informações serviram mais para que eu pudesse ter uma pequena noção dos problemas emocionais que eu poderia encontrar em cada um dos participantes. Elas foram analisadas pela minha terapeuta de Bioenergética, Indayá Machado, que me orientou durante todo o trabalho com os alunos de violino através dessas informações e de todas as reações aos

122Esses sentimentos foram colocados em ordem de freqüência de seu aparecimento nas respostas dos participantes.

123Aqui me refiro a todo o trabalho realizado por Lowen de análise dos tipos de caráter e do reflexo de seus distúrbios emocionais no corpo de cada indivíduo.

exercícios narradas por mim nos relatórios entregues a ela a cada semana. Sem essas orientações profissionais de minha terapeuta, eu não teria como manter o cuidado necessário no trabalho com os diversos tipos de caráter presentes na pesquisa.

Como o objetivo deste trabalho não é fazer uma análise da personalidade dos participantes através de seus problemas corporais, considero desnecessário transcrever aqui todas as suas respostas, partindo diretamente para o nível de percepção corporal deles nos seus momentos de performance124. Em relação a esta percepção, foi interessante notar que nenhum dos participantes tinha consciência de seu corpo como um todo nos seus momentos de execução ao instrumento. Cada um deles só percebia algumas áreas corporais, estando elas relacionadas ou às regiões que eles tensionavam ou às mais diretamente utilizadas no ato de tocar o violino. Nesse sentido, todos os participantes relataram sentir os braços nos seus momentos de performance. As próximas áreas mais sentidas foram o pescoço, a cabeça e os ombros. Pernas, pés e mãos também estiveram presentes nas respostas dos participantes, com duas indicações cada. Mas, em sua grande maioria, os participantes percebiam mais apenas a região superior de seus corpos durante a execução musical. Já a percepção da respiração só foi apontada por 03 (três) participantes.

É importante ressaltar que quando me refiro a uma consciência do corpo como um todo no ato da performance, não estou querendo afirmar que podemos estar concentrados em todas as regiões corporais enquanto tocamos. Nesses momentos, é natural que voltemos uma maior atenção para os locais que mais especificamente estão ligados ao ato da performance. A questão que coloco diz respeito à perda da sensação de regiões e movimentos que se tornam fundamentais para um equilíbrio e relaxamento durante o ato de tocar um instrumento como, por exemplo, a respiração e a parte inferior do corpo, nossa base. Da mesma forma que os exercícios da Bioenergética feitos com a região superior do corpo devem ser realizados se mantendo a sensação de estar grounded, para que todo o corpo possa ser envolvido em todos os movimentos, acredito que no ato da performance deva acontecer a mesma coisa. Mesmo que estejamos mais voltados para a região superior do nosso corpo, devemos nos manter minimamente conectados com nossa respiração e com nossa base, para que todo o corpo possa ser envolvido não só em relação ao equilíbrio dos movimentos como também na sensação e transmissão da própria música.

124As respostas dessa parte do questionário estarão todas inseridas nos históricos dos participantes. Mas é importante ressaltar que, também neles, não está incluída uma análise de sua personalidade ou de seus tipos de caráter.

Em relação às partes mais difíceis de relaxar durante a performance, os ombros foram novamente o maior índice de indicações. Todos os participantes afirmaram achar essa região do corpo bastante difícil de relaxar. Em seguida vieram os braços e o pescoço, com 05 (cinco) indicações cada. Tórax e cabeça tiveram a indicação de 02 (dois) participantes e pernas, pelve, mão esquerda e maxilar, 01 (huma) indicação cada. Além disso, em relação à movimentação ao violino, o grupo ficou dividido pela metade: 04 (quatro) afirmaram possuir movimentos mais livres e 04 (quatro) relataram serem mais estáticos no instrumento.

Essas respostas estavam, portanto, condizentes com as da terceira sessão deste questionário. Os participantes desta pesquisa possuíam várias áreas de tensão presentes em seus corpos e o seu nível de desconforto, relatado por eles como sendo mediano, não indicava o uso anterior de medidas de prevenção do seu agravamento. A quinta e última sessão deste questionário buscou, portanto, saber como esses participantes lidavam com suas tensões, procurando conhecer as técnicas utilizadas por eles para sua prevenção ou diminuição.