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CAPÍTULO 2. UM CENTRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS PARA UMA REGIÃO

2.4 Cursos, seminários, palestras e conferências: debates sobre educação

2.4.1 Problemas de política e administração no Nordeste Brasileiro

2.4.1.1 CIÊNCIA E EXPERIÊNCIA PARA CONSTITUIR A EDUCAÇÃO

2.4.1.1.3 a experiência como prova

Duas conferências anunciam suas experiências no ensino: Uma experiência primária no domínio da instrução primária em Pernambuco e Minha experiência na

228 Para resolver o problema de “rendimento escolar” e aplicar as “provas psicológicas”, a professora Myriam Didier, pediu auxilio a várias instituições: “serviço-médico-social da Escola Ulisse/s Pernambucano”, ao “Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental do Estado”, ao “Instituto de Psicologia da Assistência a Psicopatas” e a “Clínica Psicológica da Faculdade de Filosofia do Recife”. Outra professora, “responsável pelas Escolas Reunidas Sagrado Coração em Olinda, também fez uso dos testes de QQ.II. entre os alunos.

Administração do Ensino Público de Alagoas, respectivamente, de Aníbal Fernandes (1958, EDUCAÇÃO E REGIÃO, 1958), ex-secretário da Justiça e da Instrução Pública de Pernambuco do governo de Sergio Loreto (1922-1926) e de Ib Gatto Falcão, ex-secretário da Educação em Alagoas (provavelmente em inícios dos anos 50). Mas outros conferencistas também indicam suas experiências fazendo valer como prova sobre uma realidade regional.

Aníbal Fernandes (1958, p. 24) trouxe sua experiência de dois anos diante da realidade educacional de Pernambuco, que chama como fase “construtiva e renovadora”, principalmente diante dos recursos disponíveis. A experiência, diante de um “espírito de renovação no interior” auxiliado pelo “novo Regulamento de Ensino”, traz algumas novidades: “reparação de todos os prédios escolares da capital”, “construção” do Grupo Amaury de Medeiros, num bairro “operário” com crianças pobres; de uma escola na “Estrada de Boa Viagem”; melhorias na “Escola Normal”; ampliação do prédio do Grupo João Barbalho e renovação também em Olinda, Serinhaém, Gravatá, Água Preta, Bonito, Barrreiros, Pesqueira e Águas Belas. Fernandes se volta para o passado, para o conhecimento de causa, para suas vivências a fim de retratar as modificações significativas do tempo que passou na Secretaria da Justiça e Instrução Pública de Pernambuco.

Suas palavras finais são: “Não vim aqui fazer elogio do que realizamos. Vim apenas contar uma experiência, já que esse é o espírito dessas conferências, que me coube a honra inaugurar, a convite de meu velho amigo, de todos os tempos, Gilberto Freyre, a quem conheci ainda, simples colegial.” (FERNANDES, EDUCAÇÃO E REGIÃO, 1960, p. 38)

Em 24 de abril de 1958, foi o dia que Gilberto Osório de Andrade (EDUCAÇÃO E REGIÃO, 1960, p. 43 a 53), ex-secretário de educação do Estado de Pernambuco229, falou diante de Gilberto Freyre, Zulmira Almeida, Merval Jurema, Maria José Baltar, Cândida Maciel, Eneida Rabelo, Isnar de Moura, Eglantine do Rego Barros, Nilo Pereira, Paulo Rosas, Verpertina Machado sobre Alguns Problemas Administrativos do Ensino Público Primário em Pernambuco. Convidado por Gilberto Freyre, seu objetivo foi testemunhar sua experiência de menos de dois

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Então Secretaria de Estado dos Negócios de Educação e Cultura durante o ano de 1953. De 12.12.52 até 09.09.54. Ver mais em: Galeria dos Secretários. Disponível em: < http://www.educacao.pe.gov.br>. Acesso em: jun. 2011.

anos na administração da educação estadual. Sobre sua presença e sobre o que trará ele anuncia:

Nossa presença neste círculo de estudos quase não se justifica, mas explica-se. Explica-se pelo convite irrecusável de Gilberto Freyre, cujaas amáveis palavras há pouco proferidas a nosso respeito constituem por si só um motivo bastante para nos arriscarmos.

Falta-nos qualidade. Não somos um especialista em assuntos pedagógicos, ou sequer administração escolar. Deporemos, portanto, como testemunha. Daremos contas de uma experiência apenas, não duma discussão técnico-pedagógica. Experiência de menos de 2 anos, embora intensa, muito esclarecedora e inquietante (OSÓRIO, EDUCAÇÃO E REGIÃO, 1960, p. 45).

Porém, para dar suporte a sua experiência sobre a educação, o ex-secretário usou dados censitários de 1950, para provar “o déficit escolar em Pernambuco”, bem como relatórios.

Falando sobre Situação atual do Ensino Primário em Pernambuco, debatendo com Maria Antônia Macdowell, Eneida Rabelo e Paulo Freire, Aderbal Jurema (EDUCAÇÃO E REGIÃO, 1960) anunciou:

Se o Secretário de Educação não pudesse atender ao honrosíssimo convite de Gilberto Freyre, o professor de Administração Escolar teria de estar aqui presente, como na realidade se encontra para dar o seu depoimento sobre a situação atual do ensino primário em Pernambuco. As botas de sete léguas, se lhe permitiram, nesses quatro anos, uma visão extensiva da paisagem educacional em nosso Estado, nem sempre deixaram vagares ao Professor de Administração Escolar para fixar no papel as suas observações. Por isso, após a exposição que ora faço, fico completamente à disposição de todos os que desejarem indagar por venturas esquecidas sobre o tema por mim escolhido.

Mas na sua conferência, Aderbal Jurema (1960, 67-77), além de enfatizar sua experiência na Educação se respaldou: em dados do “Anuário Estatístico do Brasil – 1957”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); em filmes sobre o “pioneirismo” da merenda pelo interior de Pernambuco; em uma série de conferências230 de Gilberto Freyre realizadas na Universidade Rural; em “inquéritos” aplicados pelo “Departamento de Assistência Escolar da SENEC” aos alunos das escolas para determinarem o “nível econômico” em que estão inseridos; na

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O autor cita Sugestões para uma nova política para o Brasil: a rurbana. (Cadernos de Pernambuco. nº 4. Recife: SENEC, 1956). Trata-se da mesma conferência de Freyre publicada na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, do INEP em 1957a.

regulamentação de uma rede de “Ensino Artesanal no Estado” “criada no Governo do General Oswaldo Cordeiro de Farias”. Através de dados do IBGE e outras instituições, o ex-secretário vai informar como encontrou a situação do ensino primário em Pernambuco em 1954 e como através de um “plano quadrienal para Secretaria de Educação e Cultura” esta situação pôde mudar nos três primeiros anos: aumento do número dos docentes em regência, aumento do número de matrículas. Jurema se volta para o passado recente para evidenciar suas experiências, suas soluções para amenizar o problema.

O ex-secretário de Educação da Paraíba, José Rafael de Menezes, também enfatizou sua experiência: “o depoimento que aqui trazemos, possuindo como em todo testemunho e em toda experiência impregnações muito pessoais que devem ser ponderadas, situa-se por outro lado em circunstâncias bastante específicas do Estado da Paraíba.” É válido salientar que esta “experiência” foi recortada por uma realidade específica, a da Paraíba, bem como dos fatos históricos que lá acontecem, mesmo que tenham esses fatos, como diz o ex-secretário, “traços comuns ao Nordeste” (MENEZES, EDUCAÇÃO E REGIÃO, 1960, p. 104, 106).

Moreira de Sousa, em agosto de 1959, então diretor da Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais deu seu “depoimento” sobre o período em que esteve encarregado da instrução pública do Ceará: Tentativa Expressa de Escola Regional:

Uma comunicação, à guisa de depoimento, do que foi minha administração, à frente da instrução pública do Ceará, há 25 anos passados, e até um pouco mais, é o que pretendo fazer, nesta oportunidade, contribuindo, assim, para o desenvolvimento deste Curso, em hora feliz idealizado e projetado por Gilberto Freyre, diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Recife.

Mais adiante Moreira de Sousa continuou seu depoimento, depoimento entrecortado pelo tempo e espaço, “fatos” do “concreto”, que se validam diante dos que assistem a seu depoimento:

Um depoimento tem que se ajustar a fatos, cingir-se ao real, no espaço e no tempo, fugir a divagações, evitar conjecturas, ater-se, exclusivamente, ao que foi, sem nunca se inclinar para o que podia ter sido.

Vou falar do concreto, que existiu, em realidade, daquilo que plantei e germinou, embora, depois, por falta de assitência, muito do que plantei e germinou viesse a fenecer; dando frutos pecos, quando subsistiram, graças aos esforços e carinhos de continuadores mais compreensivos e idealistas.

Para isso Moreira de Sousa reporta-se ao Ceará do passado (1922), ao encontro das ações de Lourenço Filho quando “reorganizou” o ensino neste Estado. Afirma Moreira de Sousa que sua administração foi pautada “à maneira de Lourenço Filho”, já que até o “Regulamento Geral da Instrução” criada por Lourenço Filho, ainda perdurava.

Foi com tática de alternar entre as ações de Lourenço Filho e as suas que, Moreira de Sousa proferiu sua conferência sobre a educação no Ceará. Por exemplo, na direção de Lourenço Filho houve “semana pedagógica” com significativos debates e palestras com o intuito de despertar atenção da população. Já na administração de Sousa, para relacionar a escola e a família, foram formados “Círculos de Pais e Professores”; concursos para “inspetores regionais”; a criação de conselhos escolares no Estado e nos municípios, que tinham o comando das “nomeações de professores e inspetores”, entre outras atribuições. Mas bom mesmo foi a recepção dos professores diante do livro de Lourenço Filho: Introdução ao Estudo da Escola Nova, ele teve larga aceitação.