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CAPÍTULO 2. UM CENTRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS PARA UMA REGIÃO

2.3 Pesquisas para uma ciência

2.3.1 O Sistema Educacional de Pernambuco

O Levantamento195 do Sistema Educacional de Pernambuco196 foi um estudo realizado durante os anos de 1960-1961 por Antônio Gonçalves e Itamar Vasconcelos. Essa pesquisa anunciou que:

O Estado de Pernambuco ainda não conta com um levantamento das suas condições, no que se refere à educação pública e privada. A realização de pesquisas amplas, com a finalidade de colher dados gerais sobre os diversos aspectos do sistema de ensino pernambucano, torna-se, portanto, uma necessidade imperiosa para estabelecer em bases seguras um boa política educacional (GONÇALVES; VASCONCELOS, CADERNOS REGIÃO E EDUCAÇÃO, nº 3, jun/1962, p. 36).

Condensando o relatório apresentado, as considerações, especificadas diante da zona da mata, do agreste e do sertão, foram em torno do “ensino primário geral (escolas do Estado)”: Prédios escolares com problemas na água encanada, instalações sanitárias, condições higiênicas, deficiência e indisponibilidade de salas de aulas etc; Escolas “efetivamente pobres” em relação a “bibliotecas, museus, laboratórios e gabinetes”; Identificação da “ausência de colaboração dos pais”; Grande identificador de “evasão” escolar; Dificuldades para garantir a “formação mínima” dos educandos (ler, escrecer e contar).

Evidenciou-se, também, o “ensino primário municipal”, ou seja, o “sistema municipal de ensino”. Fez-se um estudo com 66 municípios, chegando-se a identificar um sistema com problemas na formação do professor e na sua “reduzida remuneração”; falta de “prédios próprios” e com boa parte oferecendo apenas uma sala de aula; conjuntura adversa quanto “às intalações d’água e sanitárias”; pouca oferta de bancas, quadros e mapas aos alunos; etc.

Em se tratando da “formação do professor primário”, em 1952, foi aprovado por Decreto Lei197 nº 172, “Regulamento do Ensino Normal de Pernambuco”. A partir deste decreto a Secretaria de Educação e Cultura emitiu alguns atos aprovando programas para “Curso de Formação de professores Primários”, enviando instruções

195 O levantamento foi realizado “diretamente junto aos estabelecimentos administrativos e, indiretamente, através de órgãos administrativos especializados”, foi “uma sondagem geral e preliminar”.

196 Foi feito também o levantamento do “sistema educacional” de vários Estados. 197

para “registro dos professores do ensino normal”. Esses regulamentos estabeleceram por sua vez algumas regras para docência: só com idade mínima de 13 anos e aprovação no “exame de admissão” se pode ingressar no “Curso de Regentes do Ensino Prirmário”; só concluindo este curso ou o “ginásio” é permitido o ingresso no “Curso de Formação de Professores Primários”. Esses cursos só podem ser oferecidos no Instituto de Educação. Este relatório sobre o Sistema Educacional de Pernambuco acentua queixas sobre os currículos dos cursos de formação, especialização e administração cuja intenção é “de informar e não, propriamente, a de formar mestres primários”; indica ainda que existem, no ano de 1959, 53 escolas normais, bem como facilidades de “improvisar professores para as escolas normais”. O salário não compensa o trabalho realizado, os “procedimentos didáticos” utilizados são baseados na “escola tradicional” (“aulas meramente expositivas”, divórcio entre o que o professor diz e faz, etc), instalações precárias do Instituto de Educação, apesar da presença de “conceituados mestres do ensino normal”.

O relatório ainda apresentou dados do “ensino médio”: escolas secundárias, escolas comerciais, industriais e agrícolas. As escolas secundárias possuem problemas nas instalações dos ginásios, colégios estaduais, colégios municipais e colégios religiosos. Em se tratando do ensino comercial e industrial as maiores dificuldades estavam em torno dos equipamentos inadequados e da falta de professores “especializados”. Já o ensino agrícola tem pouco desenvolvimento, a matrícula aparece em menor número diante dos outros.

Finalizando198 o Levantamento do Sistema Educacional de Pernambuco, os pesquisadores retratam que as maiores dificuldades encontradas foram o reduzido número de “escolas especializadas em formar professores do ensino secundário”. Na época da pesquisa, 1961, as matrículas eram oferecidas na Faculdade de

198

É importante salientar que para o trabalho de 1961 o CRR contratou comissões para realização de um Plano de Educação para Pernambuco. Neste plano encarregado por relatores e correlatores os “documentos bases” a serem elaborados eram: “Uma filosofia para educação brasileira” (Newton Sucupira, Maria Antônia McDowell, etc); “Diretrizes e bases para uma política educacional” (Carlos Maciel, Paulo Freire, Merval Jurema, etc); “Aspectos ecológicos, sociológicos e culturais a serem tomados [...]”(Levy Cruz, Manuel Correia de Andrade, etc); “Aspectos econômicos a serem levados em consideração[...]” (Fernando Mota, Antônio Baltar, etc). Os “documentos de informações e sugestões” a serem feitos eram: “Educação pré-primária”(Ivone Mota, Anita Paes Barreto, etc); “Educação primária: organização de classes, sistema de promoção, currículo, etc”(Anita Paes Barreto, Lucila Jordão, Isnar de Moura, etc); “formação do professor pirmário”(Maria José Baltar, Noêmia Varela, etc); “Serviços: atividades auxiliares da educação”(Jônia Sales, Merval Jurema, etc); “Educação de base: promoção e difusão da cultura popular”(Graziela Peregrino, Paulo Rosas, etc); “Promoção da mão-de-obra em nível primário [...]”(Lourival Novaes, Potiguar Matos, etc). Ver em: Plano de Educação para Pernambuco. Cadernos Região e Educação, v.1, nº 1, jun/1961. (noticiário)

Filosofia do Recife da Universidade do Recife, na Faculdade de Filosofia de Pernambuco também da Universidade do Recife e na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Pernambuco199.

2.3.2

“Professoras emocionalmente desajustadas no interior de

Pernambuco”

200

.

A pesquisa Ajustamento emocional das professoras primárias do interior de Pernambuco, desenvolvida pelo professor Paulo Rosas201 foi resultado dos debates e palestras do curso de Problemas de Política e Administração Escolares no Nordeste Brasileiro, da “oportuna ideia do Drº Gilberto Freyre, quando se debatia conferência do Professor Gilberto Osório de Andrade”, das afirmações do Professor Gilberto Osório de que a “professora primária” seria uma “desajustada permanente”, estudos sobre a “Rurbana (Freyre, 1956)202” e convite de Gilberto Freyre para

elaborar pesquisa sobre “ajustamento emocional das professoras primárias do interior, em Pernambuco” (ROSAS, CADERNOS REGIÃO E EDUCAÇÃO, 1961, nº 1, jun/1961)

199

Foi importante também o estudo sobre os recursos financeiros para educação de Pernambuco. Através de inúmeros gráficos, tabelas e quadros sobre gastos previstos para educação (1958, 1960 e 1962), a pesquisa tratou de fazer um Levantamento dos Recursos Financeiros para Educação em Pernambuco. Esta análise dos “gastos educacionais” foi de suma importância para se elaborar uma política educacional, a grande “falha” do estudo, para pesquisadora, foi que a análise realizada se deteve nos gastos previstos e não os gastos realizados. Ver mais em: MORAES, Myriam B. Levantamento dos Recursos Finaceiros para Educação em Pernambuco. Cadernos Região e

Educação, v.3, nº 3, jun/1963. 200

Frase retirada da apresentação do relatório de pesquisa Ajustamento Emocional das Professoras Primárias no Intrerior de Pernambuco, escrito por Paulo Rosas (CADERNOS REGIÃO E EDUCAÇÃO, v.1, nº 1, jun/1961 p. 39).

201

Paulo Rosas também desenvolveu a pesquisa: Interpretação da Literatura Infantil no Nordeste, que inscrita em 1958, teve como propósito “investigar o problema da literatura infanto-juvenil, do ponto de vista psicológico, e sociológico”. Outra pesquisa de Rosas foi Meios Informais de Educação em Pernambuco, de 1960. Esta pesquisa tratou “de um levantamento de meios informais de Educação (jornais, revistas, teatros, cinema, emissoras, serviços de auto-falante, etc) observando suas características, critérios e conteúdos de seus programas e o seu papel na formação da opinião popular; verificar as preferências dominantes no público e receptividade às suas instituições”. Resenha Histórica do CRR. In.: Cadernos Região e Educação. Vol. 3, nº 6, dez/1963. Também houve a pesquisa: A educação da mulher em Pernambuco (que teve o título alterado e não consta como concluído). O pesquisador incluiu no campo desta pesquisa todas as capitais do nordeste oriental. Pede aprovação de 4 questionários que serão aplicados às professoras e ex-alunas. Ofício nº 799/59. 24 de julho de 1959. Relatório das atividades desenvolvidas durante o primeiro semestre do corrente ano. Do CRR para o INEP.

202 Rosas continuou sobre o estudo de Freyre: “em nosso entender uma das sugestões mais inteligentes do Drº Gilberto Freyre: trabalho ao qual nos reportaremos quando oportuno”.

O estudo foi testado através de “processos psicotécnicos” aplicados a 267 professoras. Para Rosas, do “ponto de vista científico”, um número insuficiente. Após justificar alguns limites diante da realização do estudo de campo, Rosas pontuou a escolha dos “testes para formação da bateria” (ROSAS, CADERNOS REGIÃO E EDUCAÇÃO, 1961, nº 1, jun/1961, p. 41, 42):

a) Teste de Inteligência Não Verbal (INV), de Pierre Weil; b) Teste de Apercepção Temática (TAT), de Murray; c) Teste do Desenho da Figura Humana, de K. Machover; d) “Cornell-Index”;

e) Teste do Catálogo de Livros (Katalogest) de Tramer, modificado pelo autor;

f) Entrevista, em cujo roteiro incluíamos alguns itens do “Questionário Íntimo, de Mira (Mira y Lopes, 1947, pp. 73-77)203

O pesquisador, a partir dos dados obtidos, através dos testes com as professoras, organização de gráficos, tabelas, percentuais, comparação com pesquisas realizadas em outros grupos, pôde identificar os “problemas gerais de ajustamento”. De acordo com pesquisador em relação à “inteligência” as professoras do “magistério primário do interior” possuem “nível mental satisfatório”(ROSAS, CADERNOS REGIÃO E EDUCAÇÃO, 1961, nº 1, jun/1961, p. 49). Já os “interesses” das “professoras primárias” estão em torno das áreas de “educação”, “criança” e “problemas sócio-culturais da comunidade”. Além desses três “estímulos204”,

preferidos pelas professoras surgiu também “em face do processo de pontuação irregular”, o tema “Nordeste”. Sobre isso Rosas afirmou:

Não obstante, é claro o interesse por valores nordestinos o que nos alegra pessoalmente. Tal interesse é confirmado pelas entrevistas e pela temática das histórias do TAT. Numerosas convinham sobre as limitações e dificuldades da Vida Rural; menos embora também ponderável, era o número das que pensavam em se transferir para a Capital; nenhuma pensava em trabalhar no Sul (ROSAS, CADERNOS REGIÃO E EDUCAÇÃO, 1961, nº 1, jun/1961, p. 51, 52).

203

Rosas explicou os detalhes de cada teste, justificando sua escolha para utilização dos mesmos 204

Outros estímulos aparecem com menor frequência: mundanismo, sexo, História, Ciência, religião, vida rural, ficção. Já política, liderança e economia “não conseguem interessar à maioria das

Em se tratando da “Dinâmica afetivo-social” opera em boa parte de forma negativa, sendo fator de “desajustamentos de matizes e intensidades” entre as professoras. Esses desajustamentos têm provocado grande falta de motivação, necessárias para que a professora possa entender sua atividade como missionária, no sentido usado por “Drº Gilberto Freyre (1956)” no programa da “Rurbana”. Mas, principalmente os resultados demonstram grande índice de “traços neuróticos” nas professoras primárias: [...] Litoral e Mata, Agreste e Sertão, o assustador índice de 42,9 a 56,3% em qua há suspeitas acentuadas de comportamento neurótico”.(ROSAS, CADERNOS REGIÃO E EDUCAÇÃO, 1961, nº 1, jun/1961, p. 54, 55). Esse comportamento está relacionado a questões da “remuneração insuficiente”, “condições” precárias das escolas, “condições instáveis” do município devido às questões políticas.

A conclusão de Rosas (CADERNOS REGIÃO E EDUCAÇÃO, nº 1, jun/1961, p. 63, 64) foi:

Quando estudamos as “Sugestões para uma nova política no Brasil: a rurbana” do Drº Gilberto Freyre, tivemos um momento de entusiasmo. É evidente o acerto da descrição do fenômeno que o autor chama de “rapto social” – mobilidade em que as únicas vantagens são para o indivíduo com prejuízo para o real crescimento da comunidade origem. Concordamos com todas as linhas mestras do pensamento do Gilberto Freyre no referido ensaio. Com a ideia dos “Centros transmunicipais de cultura”. De trazer, com planejamento inteligente, até as populações rurais um Manuel Bandeira, um Péricles, um Vão Gôgo, um Anísio Teixeira, os demais de sua lista e outros que poderíamos acrescentar. Concordamos com a conveniência para o Nordeste de uma “terceira situação” formada harmonicamente, pelo rural e o urbano – situação “dinâmicamente rurbana”. E ainda com a missão social da professora primária, a que o Drº Gilberto Freyre dá tanto ênfase.

Chegamos, pois, a uma conclusão melancólica. Tinha razão o professor Gilberto Osório. Mas continuamos impenitente entusiasta do programa da “Rurbana”. Apenas acrescentamos uma primeira parte; aliás, de tão evidente quase acaciana, de tão audaz quase quixotesca: dar aos políticos educação política.

2.4 Cursos, seminários, palestras e conferências: debates sobre