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CAPÍTULO 2. UM CENTRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS PARA UMA REGIÃO

2.6 Gilberto Freyre e Anísio Teixeira: partícipes no CRR

Em boa hora, implantou-se aqui um Centro de Estudos e um Instituto de Pesquisas com o fim de corrigir o defeito acadêmico e professoral da teoria sem pesquisa, da generalização sem a consulta empírica aos fatos. Irrecusavelmente deve-se aqui, a Gilberto Freyre, esse basta de generalização sociológica sem a necessária provisão de conhecimento especializado dos fatos sociais concretos, ele que fez da sociologia não uma peripécia intelectual de gabinete, mas síntese de teoria e pesquisa, de saber puro e técnica de investigação. O que levou a termo no campo da sociologia, conseguiu outro mestre no domínio da educação. Coube, certamente, a Anísio Teixeira, liquidar a inflação verbal dominante no trato com os problemas educacionais, chamando atenção para os fatos, controlando a generalização pedagógica com o levantamento sociológico da relação aprender- ensinar (VILANOVA, EDUCAÇÃO E REGIÃO, 1960, p. 119). [destaques da pesquisadora].

No ano de 1959, precisamente em 02/05, o então Secretário de Educação de Pernambuco256, Lourival Vilanova, proferiu estas palavras quando conferenciou

253

Ofício nº01/59. 05/jan/59. De Gilberto para Anísio. 254

Ofício nº 760/62. 23/03/62. De Gilberto para Anísio. 255

Ofício nº 1927/62. 27/11/62. De Gilberto para Anísio. 256

Lourival Vilanova foi Secretário de Educação do Estado de Pernambuco no período de 02.02.59 - 31.01.63. Ver mais em GALERIA DOS SECRETÁRIOS, 2011.

sobre O Ideal do Homem Culto como Ideal da Burguesia na Educação, no Curso Problemas de Política e administração no Nordeste Brasileiro.

Lourival Vilanova construiu seu discurso a partir de uma crítica filosófica à proposta de uma tradição educacional enciclopédica, ilustrada, que não atende as perspectivas da educação, pois é contemplativa. Vilanova (REGIÃO E EDUCAÇÃO, 1960) fez uma avaliação dos níveis de ensino primário, médio e universitário, afirmando que o que se faz de uma etapa a outra é sempre prolongar este processo de ilustração. O então secretário de educação de Pernambuco disse em tom de discordância: [...] “se busca, como tipo ideal, o homem erudito; nem sempre se pretende correlacionar o ensino com o ambiente nacional ou local, porque a concepção do homem que reside na base da pedagogia é o homem universal.” Para ele (VILANOVA, EDUCAÇÃO E REGIÃO, 1960, p. 119, 120) as intenções de Gilberto Freyre e Anísio Teixeira são válidas, pois desmistificam esta tradição de educação “ilustrada” e almejam uma educação com conhecimentos mais específicos dos fatos, com um “levantamento” mais “sociológico da relação aprender-ensinar.”

Além da temática escolhida pelo, na época, Secretário de Educação do Estado de Pernambuco, ter sido uma estratégia de evidenciar de outra forma as discussões sobre as problemáticas que ocorrem cotidianamente na educação do Estado, seu discurso também concebe o que foi comum em muitas conferências do Centro: a evidência aos autores já instituídos Anísio Teixeira e Gilberto Freyre. Eles são saudados, comentados, referenciados. Era recorrente entre os pesquisadores participantes do CRR, através dos projetos de pesquisa, conferências e cursos proferidos, reportarem-se aos mesmos.

Gilberto Freyre, sempre presente nos debates, abria conferências, fazia comentários, elogios e dava sugestões. Os pesquisadores articulados ao CRR sempre saudavam, recordavam, lembravam, comentavam, citavam e agradeciam suas ideias, seus textos, suas investidas na sociologia, em especial seu texto que orientava uma educação de caráter regional através de uma “sociologia aplicada”, com sugestões para organização dos “Centros Transmunicipais de Cultura e recreação”. Já Anísio Teixeira, apesar de não estar ‘presente’ no CRR, suas práticas circulavam através de recordações dos seus textos, das suas ações, dos seus livros (Educação não é privilégio), de possibilitar um centro de “estudos e pesquisas,

enraizado na região”, como disse Anísio257. De fomentar estas pesquisas, de “cuidar”

também para as publicações das mesmas258.

O público participante evidenciou nesta conjuntura esta educação regional. Eles foram pra memória259, para suas experiências e para as pesquisas cunhar uma região Nordeste (Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Ceará, etc) que sofre com a seca, com o êxodo, com a pobreza; que sofre com as condições da educacão: prédio e instalações péssimas, professores sem formação, sistema educacional precário, orçamentos que não priorizam a educação. Eles demonstram também os fatos históricos, “argumentos históricos260” no tecer desta região: as ações de Ulisses

Pernambucano, de Carneiro Leão, de Lourenço Filho, mostrando que esta região sofredora na composição educacional também teve experiências significativas. E que com certeza o professor pode “resgatar” os valores culturais tão autênticos e originais, como anunciou Gilberto Freyre (RBEP, 1957a, p. 72) na sua conferência para as professoras em 1955: Sugestões para uma nova política no Brasil: A rurbana:

Talvez reflita a propósito destas sugestões algumas das jovens professoras ora em missão no interior, e aqui reunidas para o curso que hoje se inaugura: mas que tenho eu a ver com isso? Com quitutes, com refrescos, com restaurantes, com mamulengo, cerâmica, jardins, hortas? Minha função é ensinar menino. Nada tenho que ver com essas outras atividades.

A verdade é que tem a ver e muito. Sua missão de professora no interior não é apenas acadêmica ou simplesmente intelectual, mas social. Ela é tanto quanto o padre ou o médico ou o magistrado, que também se encontram em missão social e não somente técnica no interior, um agente não do imperialismo pan-urbano ou pan-industrial como se empenhado em explorar populações nativas e sudsenvolvidas das áreas rurais e em conservá-las rústicas e inertes, para o industrialismo melhor explorar, mas um agente da cultura

brasileira e sociologicamente cristã todo seu afã e toda sua

capacidade de ação e irradiação missionária devendo transbordar do esforço de ensinar menino no de orientar adultos no sentido do

desenvolvimento dos melhores valores rurais em articulação com os urbanos. [grifos da pesquisadora]

257

Caixa 255. Boletim. ano 1. Nº 1. Novembro de 1957. 258

Existiram várias publicações do INEP/CRR sobre as pesquisas, estudos e conferências. 259

Para Albuquerque Júnior (2009, p. 109) a sociologia freyreana tratava-se também de um “alargamento” de uma “experiência pessoal” ou da experiência de “um dado grupo”.

260 Para Albuquerque Júnior (2009) a “identidade do Nordeste”, para Freyre também foi traçada diante da colocação de argumentos históricos; os aspectos naturais como a seca só surgem como problemas sociais.

CAPÍTULO 3. A EDUCAÇÃO NA UNIVERSIDADE DO RECIFE: