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EXPERIÊNCIAS DA TIC EM SALAS DE AULA BRASILEIRAS Nos relatos de experiência que se seguem, são destacadas as

TEXTUAIS QUESTIONÁRIOS 335

2. O USO DA TIC NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO

2.4 EXPERIÊNCIAS DA TIC EM SALAS DE AULA BRASILEIRAS Nos relatos de experiência que se seguem, são destacadas as

considerações relacionadas ao tema de integração da TIC no ensino. Nesses, objetiva-se a identificação dos problemas inerentes ao seu uso no ambiente escolar.

Marco Machado desenvolveu em sua tese a meta-avaliação de projetos em educação com o uso da TIC, especificamente do projeto Gestão Escolar e Tecnologias do Programa Parceiros na Aprendizagem, no qual a preocupação foi a qualidade dos processos avaliativos. A análise foi executada entre julho de 2004 e dezembro de 2007, fazendo uso de entrevistas semiestruturadas e da análise documental.

Em seus resultados, Machado (2010) observa que os docentes perceberam que a inserção da TIC em sala de aula promoveu a melhoria na autoestima, o aperfeiçoamento profissional e a melhora na relação entre os pares, permitindo sua integração no planejamento, na preparação de atividades e no desenvolvimento de habilidades e competências para seu uso.

Acerca dos alunos, a análise dos dados relaciona mudanças atitudinais positivas, como o aumento da responsabilidade e da autonomia, a elevação da autoestima, interesse pelo aprendizado e o desenvolvimento de habilidades e competências.

Apesar de apontamentos elogiosos ao programa, foram apontados aspectos que o comprometeram, entre eles: a política institucional, os

recursos físicos e materiais, a falta de interesse de gestores com o Programa, falhas na comunicação, falta de infraestrutura técnica adequada, quantidade inadequada de computadores, necessidade de ajustar o tempo de formação e a necessidade de suporte adequado para os grupos em formação (MACHADO, 2010).

A pesquisa desenvolvida por Silma Moreira, defendida em dissertação no programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília, analisa as reações de professores face à introdução do computador na educação por meio do projeto UCA, na escola Estadual Dom Alano Marie Du'Noday no estado de Tocantins.

A investigação, realizada no período de junho a dezembro de 2009, dá se a partir do desafio de introduzir o Classmate PC8 como ferramenta pedagógica nas atividades educativas.

Segundo Moreira (2010), a escola atende uma comunidade com diversidade socioeconômica e cultural. A maioria dos alunos faz parte da classe média, a escola é da rede estadual de ensino, oferecendo Educação Básica para 940 alunos. O Projeto UCA foi incorporado ao Projeto Político Pedagógico – PPP – da escola e integrando-se às ações e projetos desenvolvidos como aporte tecnológico.

No início do projeto, foram promovidas oficinas de formação para os docentes que objetivaram o desenvolvimento das habilidades necessárias tais como, o manuseio de softwares, práticas pedagógicas e impactos do uso da tecnologia. Participaram das entrevistas 9 professores que faziam parte do projeto UCA desde o primeiro semestre de 2007 até o ano letivo de 2009 e 2 coordenadores pedagógicos (MOREIRA, 2010).

Nos resultados apontados nas entrevistas, a autora relaciona uma série de fatores que interferiram no bom uso dos Laptops em sala de aula. Esses fatores referem-se à infraestrutura física de implementação do projeto e a falta de um suporte técnico-pedagógico. Foi observada pelo pesquisador, como crítica, a falta de conhecimento técnico para uso do software e do próprio Laptop por parte dos professores. A ausência de manutenção dos Laptops e o mau dimensionamento físico dos equipamentos foram considerados inadequados para as atividades planejadas pelos professores.

O número maior de alunos do que o número de laptops também foi apontado como prejudicial ao bom andamento do projeto para os

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O Classmate PC é o notebook de baixo custo criado pela Intel destinado às crianças para o processo de inclusão digital.

professores. Os problemas de infraestrutura apresentados interferiram diretamente na motivação dos professores para o uso dos equipamentos nas aulas. Apesar de amplamente discutido em oficinas oferecidas antes e durante o projeto, percebeu-se a dificuldade de implementação do laptop como recurso pedagógico.

Moreira (2010, p. 99) conclui que “os professores entrevistados percebem a possibilidade de transformar as relações de ensino e aprendizagem na sala de aula por meio do Projeto UCA, mas as reações de resistência ao seu uso são visíveis”.

Na mesma escola Estadual Dom Alano Marie Du'Noday, as pesquisadoras Maximiliana Santos e Martha Borges exploram em sua pesquisa as alterações do cotidiano escolar decorrentes da implantação dos Laptops Educacionais. A investigação foi realizada no mês de agosto de 2009 e teve como tema de pesquisa as possíveis mudanças curriculares a partir da inserção da TIC no cotidiano escolar.

Segundo Santos e Borges (2009), a escola adotou na implantação do projeto UCA a metodologia de aprendizagem por projetos, sendo o currículo trabalhado de forma não linear e não particionado em disciplinas. Nesse processo, foram realizadas com os alunos atividades como:

• a produção e divulgação de projetos que poderiam ser coletivos ou individuais;

• a pesquisa de temas relacionados aos projetos que foram desenvolvidos;

• a participação em eventos científicos ou técnicos;

• a publicação de um livro com relatos da experiência dos projetos que foram desenvolvidos pelos alunos.

Foi disponibilizado para os alunos um ambiente virtual de aprendizagem em que foram feitos os registros de observações, de questionamentos e descobertas ocorridas no período de desenvolvimento do projeto de aprendizagem.

A proposta de implantação dos laptops respeitou possibilidades e ritmos de cada professor envolvido no projeto. Ainda, assim, observa-se no relato a grande dificuldade encontrada pelos professores na nova forma de desenvolvimento da prática docente, orientada por projetos de aprendizagem, tornando-se foco de resistência do uso da tecnologia (SANTOS; BORGES, 2009).

O relato demonstra a insegurança de pais, professores e alunos quanto à metodologia adotada e, principalmente, quanto à continuidade dos estudos dos alunos no ingresso do Ensino Médio. Essa preocupação

fez com que a estrutura curricular (metodologia por blocos) adotada em 2008, sugerida como mais adequada à proposta de uso da tecnologia fosse revista, voltando à estrutura curricular por disciplinas em 2009.

Na investigação, quanto ao uso dos Laptops, relatam-se atividades como pesquisa na Internet, a elaboração de slides, criação de vídeos e textos, uso do portal parceiro do projeto, bem como blogs, jogos pedagógicos e aplicativos oferecidos com o próprio equipamento. No relato, transparece a desmotivação de professores no uso de recursos como o portal parceiro do projeto. O uso do portal tornou-se inviável para professores e alunos pela inexistência de um suporte técnico e pedagógico.

O estudo realizado por Cysneiros e outros (2011) sobre o Programa UCA, implantado no estado de Pernambuco, foi realizado a partir de uma pesquisa feita com oito professores multiplicadores que participaram da formação de professores.

No artigo, são contabilizadas as experiências dos multiplicadores durante as formações dos professores envolvidos no projeto a partir de quatro categorias: o laptop, o ambiente virtual – eProinfo9 , o conteúdo da formação e a escola. Os pesquisadores constataram ser grande a motivação dos docentes com o projeto, por outro lado, observou-se o baixo nível de competência destes no uso de computadores.

A pesquisa apresenta em seus resultados o temor e a resistência de gestores no sentido de permitir que o aluno levasse o laptop para sua residência. Identificaram-se como comprometedoras as dificuldades de infraestrutura técnica já citadas na pesquisa de Santos e Borges (2009). O ambiente colaborativo de aprendizagem e-Proinfo foi fortemente criticado por ser considerado de difícil utilização.

A falta de tempo para familiarização da ferramenta virtual também foi indicada como parte dos problemas enfrentados. A falta de familiaridade com recursos tecnológicos e infraestrutura fora da escola parecem fatores que influenciam negativamente o uso nas aulas. O uso do computador em outros ambientes familiariza o docente com a tecnologia que passa a tratar com maior familiaridade o uso deste em sua prática escolar. “Muitos professores mostram-se reticentes e apresentam dificuldades visíveis na interação com o computador”

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eProinfo é o Ambiente Colaborativo de Aprendizagem que permite a concepção, administração e desenvolvimento de diversos tipos de ações, como cursos a distância e diversas outras formas de apoio a distância ao processo ensino-aprendizagem. Disponível em http://eproinfo.mec.gov.br/

(CYSNEIROS et al., 2011).

Apesar de considerarem o avanço na formação, observou-se que ainda não é visível a integração do Laptop e seu uso pedagógico com os conteúdos do currículo. Cysneiros e outros (2011) citam questões como a relação entre a cultura escolar e a cultura digital, a motivação do professor para mudar suas práticas devido a pressões externas e as expectativas dos alunos considerados como obstáculos para que esta integração se torne viável.

No relato de Molina e Schlemmer, são apresentados os impactos das políticas educacionais voltadas ao uso da TIC nas escolas de Ensino Fundamental de dois municípios no entorno de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul (MOLINA; SCHLEMMER, 2011). Na investigação, participaram professores com mais de 10 anos de docência na mesma unidade escolar e com experiência no uso da TIC. Na coleta de dados, foram realizadas análises de documentos, entrevistas, narrativas e grupo de discussão. Os autores expressam que ainda é inexpressivo o efeito do uso da TIC na qualidade da educação e, quando ocorre, é graças ao esforço individual de professores e alunos. “Os Projetos Políticos Pedagógicos das escolas investigadas não contemplam as experiências que fazem uso da TIC” (MOLINA; SCHLEMMER, 2011, p. 97). A ideia de que o uso da TIC, especificamente do computador, como um recurso que, por si só, irá agregar qualidade à Educação é no mínimo inocente. Molina e Schlemmer ressaltam que a visão de uma educação com aspectos futuristas na qual a dinâmica do processo de ensino-aprendizagem fazendo uso da TIC seria uma transposição simples e completamente dependente da vontade de professores e alunos começam a apresentar suas primeiras fissuras.

Quando são discutidas as ações para formação dos professores, observa-se que estas são limitadas aos professores que atuam nos laboratórios, desenvolvendo-se principalmente competências técnicas. Os professores consideram frustrante a falta de tempo, pois se encontram sobrecarregados com a rotina escolar, para compartilhar experiências e práticas de uso com seus colegas professores (MOLINA; SCHLEMMER, 2011).

Finalizando esta sessão, pode-se afirmar que as situações que dificultam o uso da TIC pelo docente no Brasil, a luz dos autores acima, são diversas, multifacetadas e, por vezes, o uso da TIC é obstruído por situações que o impedem de fazer seu uso na prática docente, por exemplo, o mau dimensionamento do hardware dos equipamentos. Mas há situações em que a forte resistência do professor, que considera a TIC um modismo que deve ser ignorado, o impede de ser um docente ativo

que se engaja em projetos que pretendem essa integração. Mas será essa uma realidade apenas nossa, isto é, brasileira? Cabe, neste momento, a pergunta: como se apresenta a realidade quanto à disponibilidade de computadores por aluno, formação de professores e apoio para o uso da TIC na prática docente em outros países? Como está acontecendo a inserção curricular da TIC em outros países? O professor está promovendo a inserção da TIC em sua prática docente?

Para responder a essas perguntas alguns relatos do processo de inserção da TIC no Ensino em outros países são apresentados na próxima sessão.

2.5 EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS NO USO DA TIC EM