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TEXTUAIS QUESTIONÁRIOS 335

3.2 OS SABERES DOCENTES

Se “saber” é possuir o conhecimento de alguma coisa, o professor em sua prática diária de educar crianças, jovens e adultos lança mão de um grupo variado de saberes.

O saber docente envolve o conhecimento da matéria, o planejamento das aulas e sua organização, os princípios educacionais, o sistema

de ensino, os programas, os livros didáticos, as habilidades e atitudes de trabalhar com jovens. Envolve a sua capacidade de seduzir a turma, de ser criativo, sua capacidade de questionar a si mesmo, de ser capaz de identificar os conhecimentos prévios dos alunos, etc (TARDIF, 2002, p.58).

A discussão proposta por Tardif caracteriza os saberes dos professores como temporais, nos quais eles se transformam em um processo de construção, da identidade. Nesse processo, adquirem novas características, respondendo a demandas impostas pela sociedade e ao longo da história. Compartilhamos da premissa proposta pelo autor que ressalta a importância dos saberes adquiridos ao longo do tempo e que são construídos e dominados progressivamente, envoltos em sua experiência de vida, suas relações com os alunos, outros professores e sua história profissional.

Para Tardif o saber docente é entendido como a soma de conhecimentos, de competências, de habilidades e das atitudes dos docentes. O autor categoriza os saberes do professor em saberes da formação profissional, das disciplinas, os curriculares e os da experiência.

Os saberes da formação profissional subscrevem-se como das Ciências da Educação e da ideologia pedagógica. Esses conhecimentos, quando incorporados à prática docente, transformam-se em “saberes” destinados à formação científica e erudita dos professores. Os conhecimentos pedagógicos relacionados às técnicas e nos métodos de ensino, legitimados cientificamente, fazem parte do conjunto de saberes profissionais veiculados em cursos de formação inicial e continuada de professores. Os saberes pedagógicos são vistos por Tardif como:

[...] doutrinas ou concepções provenientes de reflexões sobre a prática educativa no sentido amplo do termo, reflexões racionais e normativas que conduzem a sistemas mais ou menos coerentes de representação e de orientação da atividade educativa”. Estes são incorporados à formação profissional do professor (TARDIF, 2002, p.37-38).

Entendemos que é durante a construção dos saberes profissionais, ao longo do processo de formação do professor, que deve ser incorporada a tecnologia educacional, seja pelo uso das TIC por seus

professores formadores (o que se espera) seja por propiciar ao futuro docente os conhecimentos necessários para o entendimento da TIC como uma ferramenta de mediação didático-pedagógica.

Os saberes disciplinares são incorporados aos saberes docentes por meio da formação inicial e continuada. Esses fazem parte dos mais diversos campos do conhecimento, incorporadas em disciplinas universitárias (Matemática, História, Geografia, etc.). Esses saberes, produzidos e acumulados pela sociedade ao longo da história da humanidade, são administrados pela comunidade científica e o acesso a eles é possibilitado por meio das instituições educacionais.

Os conhecimentos relacionados à forma de como as instituições educacionais fazem a gestão dos conhecimentos socialmente produzidos e como esses devem ser apresentados aos estudantes são definidos pelo autor como os saberes curriculares.

Os saberes curriculares são vistos na forma dos programas escolares, nos quais estão presentes os objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais os saberes sociais definidos pela instituição escolar são apresentados (TARDIF, 2002, p. 38). Já os saberes experienciais são formados a partir da atuação do professor no exercício de sua profissão. Esses saberes são produzidos no dia a dia de trabalho e no conhecimento do seu meio. Emergem da experiência e são validados em confronto com sua própria realidade no ambiente profissional em que atua. “A experiência individual e coletiva é incorporada na forma de habilidade do saber-fazer e do saber-ser” (TARDIF, 2002, p.39).

Para Tardif, nos “saberes experienciais” ocorre uma diferenciação, já que, se tem os saberes “de“ experiência e os saberes “da“ experiência. Assim, os saberes “de“ experiência são os saberes adquiridos no dia a dia do indivíduo, já os saberes “da“ experiência relacionam-se à prática docente. Esses saberes não são sistematizados em doutrinas ou teorias, são utilitários e integrados à prática envoltos nos problemas e situações peculiares do cotidiano docente.

O saber experiencial sugerido pelo autor é interativo, pois ocorre no âmbito de interações entre o professor e os outros atores docentes. É um saber sincrético, pois seus vários conhecimentos e o saber fazer se mobilizam de forma contextualizada, observando as diferentes variáveis e ocorrências que atingem a prática profissional. Os conhecimentos mobilizados são provenientes de diversas naturezas, diferentes fontes, em momentos diferentes e de lugares variados (TARDIF, 2002).

As condições da profissão, seu ambiente de trabalho, sua interlocução com colegas educadores e alunos refletem sobre a prática cotidiana do professor, validando ou desconstruindo conhecimentos, evidenciando-se em seu saber experiencial.

Ao assumirmos os saberes experienciais como: “um forte construtor da identidade profissional do professor e do seu desenlace na prática do futuro docente”, entendemos haver necessidade de expandirmos a definição proposta por Tardif, que sugere que esses saberes são advindos ou da prática docente ou do dia a dia do indivíduo. Somamos à contextualização dos saberes experienciais os estudos realizados por Pimenta (2002) que defende serem os saberes da experiência advindos da vivência pessoal como aluno, pela qual se adquire o saber sobre “o que é ser professor”.

Corroboramos Pimenta quando ele diz que o professor, ao ingressar na formação inicial, já possui saberes sobre o que é ser professor. Isto se dá porque, durante sua vida escolar, acumulou saberes de sua experiência como aluno, advindos de diferentes professores. De sua experiência, como aluno, sabe dizer quais foram bons professores, os que eram bons em apresentar o conteúdo, os que não sabiam ensinar ou mesmo os que foram importantes na sua formação humana. O saber sobre o ser professor vem de uma experiência socialmente acumulada (o que percebe na mídia sobre ser professor, em seu círculo familiar, em conversas com amigos sobre a profissão de ser professor, o que sabe sobre de como se encontram as escolas e de como está o processo de ensino-aprendizagem no país).

[...] o saber da experiência também é fruto do cotidiano docente em um processo permanente de reflexão sobre sua prática mediatizada por seus colegas de trabalho ou por textos produzidos por outros educadores (PIMENTA, 2002, p.20). Assim, nos saberes da experiência, o docente traz consigo os saberes construídos durante a vida escolar, os saberes de sua experiência socialmente acumulada e os saberes da experiência produzidos pelos professores no trabalho pedagógico realizado em seu dia a dia.

Pimenta traz uma contribuição importante para esta pesquisa, quando se debruça na discussão dos saberes do conhecimento, da formação específica, no contexto da contemporaneidade, quando ressalta:

tecnológica multimídia globalizada, é possibilitar que os alunos trabalhem os conhecimentos científicos e tecnológicos desenvolvendo habilidades para operá-los, revê-los e reconstruí- los com sabedoria (Pimenta, 2002, p.23).

O que implica analisá-los para, então, confrontá-los de forma contextualizada. O terceiro grupo de saberes propostos por Pimenta é o saber pedagógico. Para o autor, é necessário que se comece a tomar a prática dos formados como o ponto de partida e de se reinventar os saberes pedagógicos. Nessa visão, o professor estuda e investiga sua própria prática com a contribuição da teoria pedagógica. O saber pedagógico é entendido como o saber que viabiliza a ação do ‘ensinar’.

Os saberes indicados por Tardif e Pimenta apontam para o professor como sujeito ativo de sua própria prática, que a organiza a partir de sua vivência, de sua história de vida, de sua afetividade e de seus valores.Impregnado em experiências vividas, em um conhecimento histórico e cultural adquirido, o saber docente vai além de sua preparação formal na academia. Somado a sua realidade profissional, os aspectos inerentes a seu contexto de trabalho, o professor não define sozinho e em si mesmo o seu saber profissional. Seu saber é definido socialmente, formado a partir de uma negociação de grupos que garantem sua legitimidade. Desses grupos fazem parte as universidades, os sindicatos, o Ministério da Educação, a administração escolar, as associações profissionais, entre outros.

3.3 OS DISPOSITIVOS LEGAIS E SUAS RECOMENDAÇÕES