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Expressividade do vídeo: comercialização e lazer na interatividade dos usuários

1.1 A LINGUAGEM AUDIOVISUAL DE ARLINDO MACHADO A PARTIR DA

1.1.3 Expressividade do vídeo: comercialização e lazer na interatividade dos usuários

O vídeo é uma forma diferente de diálogo, mediação cibernética que aproxima as pessoas em suas atitudes e valores. Regras inseridas em uma cultura de consumo, em que na troca de experiência realizada depois de assistir a algo no vídeo de sua residência, indivíduos discutem o valor de um filme que acabaram de lançar ou da facilidade de não pegar trânsito e estar ilhado em casa com conforto e privacidade. Uma relação da lógica de sinais comunicativos entre a indução prática ou mesmo a coerência indutiva de novas formas de manifestos de interação entre indivíduos consumidores. As pessoas interagem na compra e trocam experiências sobre o consumo de diferentes filmes, vídeos e canais de TV a cabo, mas na hora de assistir a algo preferem o individualismo, a influência recíproca ocorre somente em

parte do processo. O aparelho de vídeo não proporciona interatividade no momento do seu uso, diferente do que ocorre na sala de cinema.

Canais de comunicação são usados pelas mais diversas áreas, vivemos em um mundo bombardeado pela informação com intuito de encantar ou mesmo persuadir ao público. O vídeo trouxe facilidade no manuseio do que assiste aos receptores, seja para adiantar ou repetir o audiovisual. Machado (1988) explica sobre a teoria do vídeo, que em linhas consecutivas de retículas luminosas é como imagem codificada. Na forma simbólica da imagem eletrônica deixam-se estruturar. A televisão, para o autor, não designa apenas uma qualidade das mensagens, mas sim mais uma forma de difusão. Ela é um meio, um veículo que transmite a mensagem. Conforme Machado (1988), “o que chamamos de “real” sempre foi uma imagem: as mídias apenas tornam evidentes que a constituição da realidade é uma produção simbólica de homens históricos” (p. 09).

A imagem eletrônica exige a reformulação de conceitos estéticos. A partir desta colocação, surge uma nova postura crítica para o novo universo da vídeoarte em relação à prática convencional da TV. Tratamento digital da imagem em computadores e a introdução do sistema numérico, que produziu uma revolução decisiva na história da representação plástica mundial, fazem parte dessas inovações. Machado (1988) ainda garante que o vídeo chamado de cultura pós-moderna trouxe conhecimento dos seus recursos simbólicos de forma exata e específica; a mídia eletrônica é um fato cultural. O conceito sobre a TV atual é mais amplo do que o enxergávamos nos anos 20. A televisão era vista como um rádio de imagem sincronizada, como cinema mudo, e na mesma época ganha som sincronizado.

Machado (1988) afirma que por meio de cabos coaxiais ou fibra ótica o sinal, diretamente da fonte produtora, é transmitido pela televisão a cabo para os receptores “caseiros”. Depende da fiação do cabo para poder oferecer o número de canais (fig.24-30). A princípio essa nova televisão visava romper com a dependência do grande capital americano e contrapor-se ao poder das autoridades controladoras das redes de emissão. O telespectador paga para receber informação em TV a cabo; não tem suporte comercial. A seguir temos uma série de imagens que demonstram a evolução nos métodos de exposição de imagem.

Figura 23 – sensoriamento remoto, através do satélite Landsat 5-TM 22

Figura 24 – Luxo Jr. (1986) de John Lasseter e Eben Ostby (Pixar) 23

Figura 25 – Malha que permite obter uma superfície spline

Figura 26 – A trama em mosaico da tevê ampliada em S.A.M.

22 Imagem obtida por sensoriamento remoto, através do satélite Landsat 5-TM, para triologia cósmica SKY: Life, Body and Mind (1989) de José Wagner Garcia. À medida que a imagem se modifica na terra, o hexagrama também vai se transformando. Fotográfico de Harold E. Edgerton (1938); abaixo, versão sintetizada em computador por Yoichiro Kawaguchi (1982).

24 (1982)25

Fonte: Machado (2001a/2007).

Figura 27 – Chott-el-Djerid (1979), de Bill Viola 26

Figura 28 – A mais prototípica talking head da televisão 27

Figura 29 – Uma homenagem à música no

Global Groove (1974), de

Nam June Paik. 28

Figura 30 – Gota de leite espatifando-se sobre uma superfície sólida 29

Fonte: Machado (2001a/2007).

De acordo com Machado (2001a), ao assistir à televisão o espectador fica muito mais dispersivo e distraído do que quando ele assiste a um filme no cinema. A sala escura e a tela grande provocam hipnose com fascínio. A programação da televisão não tem efeitos amarrados e contínuos como os do cinema que são de caráter progressivo, não linear e de caráter narrativo. A ausência desses efeitos é o que faz com que o espectador perca a atenção ao assistir à televisão. O espaço simbólico do vídeo suplica, às vezes, aos limites de desfiguração e mal tem a imagem figurativa.

Não é por acaso que na televisão a maioria das obras converte-se em sua própria paródia ao ser comprimida na tela reticulada do vídeo. As proporções relativas do quadro

23 Luxo Jr. (1986) de John Lasseter e Eben Ostby (Pixar): a base do abajurzinho é borrada, para simular um efeito fotográfico de velocidade (motion blur).

24 A malha que permite obter uma superfície spline é definida por uma série de pontos de controle. Aqui, um exemplo de Beta-splile: à esquerda, a arquitetura do wire frame; à direita, a superfície curva em modelação sólida.

25 A trama em mosaico da tevê ampliada em S.A.M. (1982), do grupo Olhar Eletrônico. Nesse vídeo, a indagação sobre os átomos que constituem os seres é comentada com a exibição dos “átomos” que constituem a imagem eletrônica: os pixels.

26 Chott-el-Djerid (1979), de Bill Viola. Munido de uma câmera eletrônica e de uma poderosa teleobjetiva, Viola desmaterializa a paisagem desértica do Marrocos em quadros extraordinariamente abertos.

27 A mais prototípica talking head da televisão: Max Headroom (Matt Frewer), apresentador de um programa de videoclipes do Channel Four britânico, que simula uma cabeça gerada em computador gráfico.

28 Toda a concisão, limpeza e estilização exigidas pela baixa definição do videotexto aparecem resgatadas nessa imagem exemplar de Alex Flemming (Arte e Videotexto, 17ª Bienal de São Paulo, 1983). Uma homenagem à música no Global Groove (1974), de Nam June Paik.

televisual estão sendo colocadas em discussão com a moderna alta definição do aparelho, que diferente da TV convencional adota um padrão de tela mais largo. Para Machado (2001a), o avanço tecnológico pode ser um retrocesso em direção ao cinema, já que a televisão de alta definição é uma espécie de cinema eletrônico. Podemos pensar, então, que a produção real com pouca modificação na maioria dos filmes realizados com Carmen Miranda ajudou na identificação da imagem. O seu modo de vestir ditou comportamentos e influências socioculturais, políticas e econômicas. As vestes e gestos da figura artista e cinematográfica de Carmen Miranda sendo usada por cantores contemporâneos em shows exibidos em diversos meios eletrônicos seja pelo DVD em sua casa ou em ambientes de entretenimento, TV aberta e a cabo ou pela internet. O “cinema eletrônico” não está apenas na TV e sim em diversas formas de transmissão de um mesmo filme. Sua imagem definiu costumes, além de ser a primeira atriz brasileira de sucesso mundial. Os recursos simbólicos contribuíram para que a linguagem trabalhada em seus filmes fosse compreendida por diversas culturas.

A imagem da atriz no Brasil, até o término de sua carreira, foi praticamente transmitida pelo cinema, já que a TV chegou ao Brasil no final da década de 1940. O cinema nesse período era um meio de relacionamento e distinção de determinadas classes sociais – um teatro filmado – e criou estilos de vida com o emprego de sons, linguagens visuais, signos, cores e um processo de comunicação com interação de diversas pessoas, iniciando com os shows que passaram a ser exibidos no cinema. Em seguida, um show intercalado com histórias fictícias contadas e interpretadas por artistas. Já nos Estados Unidos desde a década de 1920 já existia televisão, porém foi um processo lento para que as pessoas tivessem acesso ao aparelho. Somente nos anos 1950 que surgiu a TV em cores entre os norte-americanos. O cinema de Hollywood ainda era um grande atrativo, período – anos 40 e 50 – em que Carmen fez sucesso com filmes musicais. Seus filmes ainda não eram transmitidos na TV.

Esse também é o período que existe forte influência na linguagem cinematográfica, que em seguida a linguagem do vídeo passa a exercer interferência pública no cinema. Buscando as ideias de Arlindo Machado, podemos perceber que na linguagem do cinema existe aproximação entre o cinema e o videoclipe. Os filmes com Carmen não chegaram a ter esse encontro do cinema com o videoclipe, não existindo ainda grandes manipulações e correções de cenas depois de filmado. O mínimo era modificado, em geral, as alterações eram realizadas no momento da filmagem. Simbolicamente houve valorização do visual e da linguagem da atriz, mesmo com cenas longas, onde cantava músicas inteiras. Quando seus filmes foram reeditados com modificações de cenas e melhoria de imagem e de som Carmen já havia falecido (1955).

A TV e o vídeo passam a interferir no cinema de modo que surgem novos elementos e diversas características são modificadas nos filmes. A linguagem usada no vídeo influencia a linguagem utilizada no cinema. Machado (1997) exemplifica que a “linguagem” no cinema é “um tipo de construção narrativa baseada na linearização do significante icônico, na hierarquização dos recortes de câmera e no papel modelador das regras de continuidade – é o resultado de opções estéticas e de pressões econômicas que se deram na primeira década do século” (p.191). O discurso cinematográfico passa a ser estabelecido por cineastas durante a história e se consolida com a indústria. Logo, cineastas passam a romper com o clássico discurso estabelecendo uma linguagem moderna no cinema.

O período dos filmes com Carmen era mais um aparato tecnológico dentro do sistema industrial, diferente com a chegada do vídeo e da TV que criaram diversas possibilidades expressivas e interferiram na linguagem do cinema. Modificaram aspectos de produção e a forma narrativa. Os filmes com a atriz eram shows musicais com mistura de trechos teatrais. Um teatro filmado ao vivo. A influência comercial foi enorme na produção de seus filmes, pois a TV ainda era um mercado novo e poucas pessoas tinham acesso, ainda existia pouca interferência da TV nos filmes desse período.

O vídeoarte desenvolveu-se nas artes plásticas e depois foi para o cinema influenciando na linguagem e na estética, além de servir como suporte. Surgiu nos anos 1960, por isso não chegou a influenciar nos longa-metragem em que Carmen atuou (ela participou de filmes até as décadas de 50). O vídeo, sim, surgiu na década de 50, mas também não chegou a interferir em seus filmes por ser um meio ainda recente. Machado (1997:190) afirma que esses novos valores do discurso videográfico reprocessam formas de expressão, impuras por natureza, o que permite circulação em outros meios. Uma solução. Contribuição ao problema da síntese no cinema. O que podemos considerar é que se tivesse sido usado nas filmagens de Carmen, naquela época, poderia evitar os ruídos das gravações que interferiram na voz da cantora que tinha o timbre baixo, de acordo com Castro (2006). Hoje encontramos seus DVD’s reeditados com som e imagem aprimorados e complementados sendo vendidos em lojas e na internet.

Além de o cinema ter forte influência na forma de agir entre os sujeitos de vários países, como no gosto pelo samba ou estilo de vestir, o conhecimento dos brasileiros referente à figura artística de Carmen Miranda tinha mais um fator local que representava o Estado da Bahia através de suas vestes de baiana. Buscando novamente Machado (2001a) podemos perceber que nas imagens de anos atrás, antes do videoarte e videográfico, havia ocupação da topografia de um quadro muito usado naquele momento e não temporal, sem ser necessária

uma narrativa, além de passar a ocorrer mutação das formas. Tanto que para os americanos a figura latino-americana de Carmen nos filmes era algo real e vista no modo tropical de ser brasileiro, o que também ajudou no manuseio de técnicas e expressões para sua imagem na época. Assistiam a vida real vivida naquele período. O cinema proporcionava uma relação espacial, o enquadramento não era articulado por outros princípios.

1.1.4 Arte e estética audiovisual nos filmes com Carmen Miranda X tecnologia com Arlindo