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3.1 O IMAGINÁRIO COM SARTRE, BAZIN E CAUQUELIN NA LITERATURA E NO

3.1.3 Sonho de Estrela com André Bazin

A imagem de Carmen Miranda foi analisada no filme Sonhos de Estrela (Doll Face), de 1945, buscando as ideias do teórico André Bazin. Para Bazin (1991), foi a repressão dos discursos e da própria história do cinema reprimidos pela própria sociedade que não permitiu a imaginação unista que apenas queria fazer um bom negócio, ou mesmo ilusionistas profissionais e curiosos. Há pouca compreensão do nascimento e do desenvolvimento na história técnica do cinema, há pouco a oferecer sobre sua produtividade industrial. Bazin (1991) considera que a capital cinematográfica do erotismo ainda está em Hollywood pelas proibições que nela vigoram. Consegue, ainda, refinar a imaginação do espectador e tem influência cultural.

A partir dessas ideias podemos considerar que a imagem (fig.119-120) de Carmen Miranda foi o negócio do cinema hollywoodiano a favor dos EUA, que também teve interesse neste comércio.

Figuras 119-120 – fotos do filme Sonhos de estrela (Doll Face) de 194594

Fonte: Cinema Clássico (2010).

O profissionalismo foi de Carmen Miranda que de forma ilusória e curiosa buscou o “estrelato” no poderoso norte-americano. Existiam poucos filmes produzidos na época em que Carmen Miranda fez sucesso no cinema – entre as décadas de 1940 a 1950. O filme Sonhos de estrela está entre o desenvolvimento de história técnica do cinema naquele período. A influência cultural de Hollywood facilitou o despertar imaginário do espectador à imagem cinematográfica de Carmen Miranda.

As proibições e o erotismo (baiana latino-americana dançando) fazem parte do fazer cinema norte-americano. Mesmo que Carmen Miranda não fosse sex ou erótica existia uma aura sobre sua imagem que despertava no espectador a imaginação de uma mulher latina de

94 P & B. 20TH Ce4ntury-Fox. Direção de Lewis Seiler. Com Vivian Blaine, Dennis O’ Keefe e Perry Como. Estreia: julho de 1945.

um mundo tropical, onde países subdesenvolvidos estavam representados na cor branca da atriz, embora os países latinos sejam constituídos de muitas raças.

Tratando as críticas de André Bazin sobre o gênero, tanto na narrativa (literário, permanência e transgressões, modelos) como na cinematografia (contexto, abordagem, repertório) o autor considera existir suas adaptações. Vamos tratar do ensaio “O western ou o cinema americano por excelência” do teórico para analisarmos a imagem de Carmen Miranda. Bazin (1991) trata do gênero americano western, que surge com o nascimento das lendas norte-americanas. Para o autor, foram várias as décadas em que esse tipo de gênero tornou-se atraente para os mais variados públicos no mundo.

Bazin (1991) faz reflexões sobre o fenômeno nos anos 50, que ainda o wester estava no auge, mesmo que tenha surgido respectivamente ao nascimento do cinema. Para o crítico francês, o gênero tem vários fatores relacionados – não apenas brigas, confusões, ação e cavalgada – ao mito de uma nação estadunidense. Para Bazin (1991), a conquista e luta pelo oeste contra selvagens está diretamente relacionada ao imaginário, e para que este imaginário ocorra é preciso fidelidade histórica, isso é o que constitui as características do western. Gênero esse que, para André Bazin, não poderia ser produzido por outro país a não ser pela produção “autêntica” (fig.121-122) dos EUA, pois questões como paisagem e aspectos visuais estão ligadas à cultura e ao imaginário do país.

Figuras 121-122 – Fotos propagando atores e o Filme Trouble in Texas (EUA)95

Fonte: Cinema Clássico (2010).

Essa questão pode, atualmente, ser levantada como contrária ao teórico já que existem produções de outros países – cineastas Sérgio Leone na Itália (Once Upon a Time in the West) e Glauber Rocha (O dragão da maldade contra o santo guerreiro) – que são exemplo de produção com qualidade e não apenas cópias do western norte-americanas. O

cinema novo (final da década de 50 e início dos anos 60), ao se tornar autorreferencial, é referência de filmes clássicos de wester com coerência, reflexão e realidade. Consideramos que os filmes podem adaptar a sua realidade e se apropriarem, ao mesmo tempo, das características do gênero western.

Assim, podemos pensar que western é um gênero que nasceu nos filmes norte- americanos, mas pode ser produzido por outros países. O que Bazin realmente tenta mostrar é que o gênero western dos EUA é algo “puro”, pois não existiam combinações em voga nesse período com outros gêneros (policial e musical). Caso ocorresse, perderia sua força original. Bazin (1991) garante que o wester clássico coloca a mulher pura e rara (fig.121), em sua minoria, como mito, afastada das crueldades e imperfeições que rodeiam a grande quantidade de personagens masculinos que sempre protegiam a mulher. Ainda existia respeito pelas convenções do gênero, as regras eram respeitadas.

O realismo cinematográfico e a escola italiana da libertação são combinados por Bazin (1991) ao tratar de Orson Welles, que considera que o realismo no cinema tem sua continuidade, que “restitui à ilusão cinematográfica uma qualidade fundamental do real” (p.288). Referente ao neorrealismo, as soluções estéticas são resultantes de cenários naturais.

Voltando à imagem de Carmen Miranda, podemos comparar com a imagem da mulher norte-americana que é visivelmente diferenciada. A primeira refere-se à mulher brasileira (fig.114-115) fortemente marcada pela música e dança em seu estilo espalhafatoso de se vestir, a mulher latino-tropical. Sempre colocada nos momentos de diversão. Como exemplo de mulher norte-americana (fig. 119-120), nos pareceu interessante buscar as dançarinas dos faroestes, já que elas são sempre mais ousadas e cantam e dançam, como Carmen Miranda. A diferença está no status, ambas conquistam os homens com a dança e a música, mas a norte-americana é independente e não faz papel de engraçada, mesmo quando os filmes são de comédia as mulheres norte-americanas são sempre tratadas com cavalheirismo pelos caubóis, mesmo quando são garotas de programa.

A proteção à mulher permanece. Buscam lendas e trabalham a modernidade nas atitudes de alguns personagens. O gênero de faroeste fez sucesso mundial como o gênero musical com Carmen Miranda. O oeste contra selvagens tem relação direta com o imaginário nos filmes western dos EUA, buscam toda a história popular da literatura para tratar no cinema. Quanto aos filmes de Carmen Miranda realizados em Hollywood, há uma mistura histórica dos países latino e norte-americanos.

Percebemos que André Bazin (1976) considera o cinema quase que uma revelação, compartilha da mesma ideia do cineasta Glauber Rocha (1981): as pessoas vão ao cinema e

agem induzidas pela realidade; há uma espécie de compromisso em mostrar a realidade. Existe uma diferença entre André Bazin e Siegfried Kracauer. Para o primeiro autor, filme é revelação e para o segundo, filme é um documento. Ambos concordam que o cinema deve trabalhar o real, são autores da atualidade.

Existem alguns críticos contemporâneos que consideram que André Bazin despreza as técnicas, mas pelo contrário, notamos que ele trabalha as técnicas. Ocorre que tanto Bazin quanto Kracauer propõem que a técnica não pode sobrepor-se à realidade do filme, mas deve inspirar-se no real. O cinema valorizado tecnicamente busca trabalhar o real. Mesmo em diversas décadas atrás, os filmes já eram atrelados ao realismo e ao mesmo tempo à técnica, sobretudo, André Bazin sempre considerou a necessidade de mostrar as diferentes valorações do formal, porém com conteúdo. Realmente André Bazin opunha-se aos filmes que somente se preocupavam com a forma. A técnica e o conteúdo formam o cinema como razão da realidade. O autor também considera a técnica importante.