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Falências Bancárias e a Oferta Monetária na Década de

No documento Mankiw - 8 edição portugues (páginas 161-163)

Entre agosto de 1929 e março de 1933, a oferta monetária nos Estados Unidos diminuiu 28%. Conforme ressaltamos no Capítulo 12, alguns economistas acreditam que esse grande declínio na oferta monetária representou a principal causa da Grande Depressão da década de 1930, quando o desemprego alcançou níveis recorde, os preços caíram vertiginosamente e as dificuldades econômicas eram a norma. À luz dessa hipótese, somos naturalmente levados a perguntar por que a oferta monetária caiu de maneira tão drástica.

As três variáveis que determinam a oferta monetária — a base monetária, a proporção entre reserva e depósitos e a proporção entre moeda corrente e depósitos — referentes a 1929 e 1933 são apresentadas na Tabela 4-2. Você pode verificar que a queda na oferta monetária não pode ser atribuída a uma diminuição na base monetária: na realidade, a base monetária cresceu 18% ao longo desse período. Em vez disso, a oferta monetária diminuiu porque o multiplicador monetário diminuiu 38%. O multiplicador monetário diminuiu porque a proporção entre moeda corrente e depósitos e a proporção entre reserva e depósitos cresceram consideravelmente.

A maior parte dos economistas atribui a queda do multiplicador monetário ao grande número de falências bancárias no início da década de 1930. De 1930 a 1933, mais de 9.000 bancos suspenderam suas operações, muitas vezes deixando de honrar suas obrigações junto aos correntistas. As falências bancárias fizeram com que a oferta monetária diminuísse alterando o comportamento dos correntistas e dos banqueiros.

TABELA 4-2

A Oferta Monetária e Seus Determinantes: 1929 e 1933

Agosto de 1929 Março de 1933 Oferta Monetária 26,5 19,0 Moeda corrente 3,9 5,5 Depósitos à vista 22,6 13,5 Base Monetária 7,1 8,4 Moeda corrente 3,9 5,5 Reservas 3,2 2,9 Multiplicador Monetário 3,7 2,3

Proporção entre reserva e depósitos 0,14 0,21 Proporção entre moeda corrente e depósitos 0,17 0,41 Fonte: Adaptada de Milton Friedman e Anna Schwartz, A Monetary History of the United States, 1867-1960 (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1963), Apêndice A.

As falências bancárias fizeram com que crescesse a proporção entre moeda corrente e depósitos pelo fato de diminuírem a confiança do público em relação ao sistema bancário. As pessoas temiam que as falências bancárias pudessem continuar, e passaram a considerar a moeda em espécie uma forma mais desejável de moeda do que os depósitos em bancos sacáveis contra demanda. Quando sacavam

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depósitos de suas contas correntes, essas pessoas exauriam as reservas dos bancos. O processo de criação de moeda foi se revertendo, à medida que os bancos passaram a reagir a reservas mais baixas por meio da redução no saldo remanescente para a concessão de empréstimos.

Além disso, as falências bancárias fizeram com que crescesse a proporção entre reservas e depósitos ao tornarem os banqueiros mais criteriosos. Tendo acabado de observar inúmeras corridas a bancos, os banqueiros ficaram apreensivos quanto a operarem com um pequeno volume de reservas. Por essa razão, aumentaram seu volume de reservas muito além do mínimo estabelecido por lei. Do mesmo modo que as famílias reagiram à crise nos bancos mantendo em seu poder maior quantidade de moeda em espécie do que de depósitos em bancos, os banqueiros reagiram mantendo maior quantidade de reservas em comparação com a concessão de empréstimos. Conjuntamente, essas mudanças causaram uma grande queda no multiplicador monetário.

Embora seja fácil explicar por que a oferta monetária caiu, é mais difícil decidir se a culpa deve ser atribuída ao Federal Reserve. É possível argumentar que a base monetária não diminuiu, razão pela qual o Fed não deve ser culpado. Críticos opositores da política do Fed desse período apresentam dois contra-argumentos. Em primeiro lugar, eles alegam que o Fed deveria ter assumido um papel mais incisivo na prevenção das falências bancárias atuando como um emprestador de última instância no momento em que as instituições bancárias precisaram de dinheiro disponível em caixa durante as corridas aos bancos. Isso teria ajudado a manter a confiança no sistema bancário e evitado a grande queda no multiplicador monetário. Em segundo lugar, eles ressaltam que o Fed poderia ter reagido à queda no multiplicador monetário fazendo com que a base monetária crescesse ainda mais do que cresceu. Qualquer uma dessas ações provavelmente teria evitado uma queda tão grande na oferta monetária, o que, por sua vez, poderia ter reduzido a gravidade da Grande Depressão.

Desde a década de 1930, foram implementadas inúmeras políticas que tornaram menos provável, nos dias de hoje, uma queda tão significativa e tão repentina no multiplicador monetário. Mais importante ainda, o sistema federal de garantia para depósitos bancários protege os correntistas quando um banco declara insolvência. Essa política é projetada no intuito de manter a confiança do público no sistema bancário e, portanto, evita grandes oscilações na proporção entre moeda corrente e depósitos. A garantia para depósitos tem um custo: no final da década de 1980 e início da década de 1990, o governo federal dos EUA incorreu em grandes despesas para salvar da insolvência muitas instituições de poupança e empréstimos. De qualquer modo, a garantia para os depósitos ajuda a estabilizar o sistema bancário e a oferta monetária. Essa é a razão por que, durante a crise financeira de 2008-2009, a empresa concedente da garantia para depósitos nos EUA, a Federal Deposit Insurance Corporation, aumentou o montante garantido de US$100.000,00 para U$250.000,00 por depositante. ■

Conclusão

A essa altura, você já deve ter entendido o que é moeda e como o banco central afeta sua oferta. Entretanto, esse feito, por mais valioso que seja, é apenas o primeiro passo para a compreensão da política monetária. O próximo passo, e também o mais interessante, é ver como mudanças na oferta monetária influenciam a economia. Iniciamos nosso estudo dessa questão no próximo capítulo. Ao

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podem fazer. Cabe aqui, porém, uma advertência: é preciso esperar até chegarmos ao final do livro para que todas as peças do quebra-cabeça se encaixem.

Resumo

Moeda é o estoque de ativos utilizados para transações. Funciona como uma reserva de valor, uma unidade de conta e um meio de troca. Diferentes tipos de ativos são utilizados como moeda: os sistemas com moeda-mercadoria utilizam um ativo com valor intrínseco, enquanto os sistemas com moeda fiduciária utilizam um ativo cuja única função corresponde a servir como moeda. Nas economias modernas, um banco central, como é o caso do Federal Reserve nos Estados Unidos, é responsável por controlar a oferta monetária.

O sistema de reserva bancária fracionária cria moeda, uma vez que cada unidade de moeda a título de reserva gera muitas unidades de moeda a título de depósitos à vista.

Para abrir um banco, os proprietários precisam contribuir com parte de seus próprios recursos financeiros, que passa a constituir o capital do banco. No entanto, como os bancos são fortemente alavancados, um pequeno declínio no valor de seus ativos pode exercer um impacto significativo sobre o valor do capital do banco. Os reguladores do sistema bancário exigem que os bancos tenham capital suficiente para garantir que os depósitos dos correntistas sejam reembolsados.

A oferta monetária depende da base monetária, da proporção entre reserva e depósitos e da proporção entre moeda e depósitos. O aumento na base monetária leva ao aumento proporcional da oferta monetária. A diminuição da proporção entre reserva e depósitos ou da proporção entre moeda e depósitos estimula o aumento do multiplicador monetário e, consequentemente, a oferta monetária.

O banco central modifica a oferta monetária modificando a base monetária ou a proporção de reservas e, assim, o multiplicador monetário. Pode modificar a base monetária através da compra de títulos no mercado aberto (open-market) ou realizando empréstimos a outros bancos. Pode influenciar a proporção de reserva alterando as necessidades de reserva ou modificando a taxa de juros que paga aos outros bancos pelas reservas que eles mantêm.

No documento Mankiw - 8 edição portugues (páginas 161-163)