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Famílias LGBT+ e as potencialidades de transformação cultural e simbólica do conceito de família

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IMPLICAÇÕES POLÍTICO-JURÍDICO-RELIGIOSAS NA PERPETUAÇÃO DA VERDADE SOBRE A FAMÍLIA

CONCEITO DE FAMÍLIA

3.3.2 Famílias LGBT+ e as potencialidades de transformação cultural e simbólica do conceito de família

As conquistas recentes da população LGBT+ no Brasil, através de intervenção do poder judiciário e diante da apatia do poder legislativo, que por conta do conservadorismo de seus membros, continua a seguir na contramão dos preceitos laicos e democráticos, tem mostrado sua potencialidade política de transformação da ordem social em vistas a uma sociedade mais igualitária.

Com isso não estamos, de forma alguma, negando a existência e continuidade de relações de poder nas chamadas famílias LGBT+. Devemos reconhecer que os indivíduos que compõem essas famílias são criados dentro das mesmas relações de poder que as pessoas heterossexuais e cisgêneras. Justamente por isso, o reconhecimento de suas uniões não deve ser considerado o ponto final das discussões acerca dos direitos sexuais, nem no Brasil, nem em qualquer outro lugar do globo. Arrisco dizer que o reconhecimento de tais uniões, embora muitos considerem como o debate fundamental hoje – e não negamos tal asserção – é apenas o início de um projeto político realmente democrático e igualitário. Afinal, se considerarmos que o ordenamento jurídico dos estados democráticos, incluso o brasileiro, prezam pela igualdade indiscriminada entre os cidadãos, cabe aqui a pergunta feita por Richards, ao refletir sobre a situação do casamento entre pessoas do mesmo sexo no contexto europeu: “Por que motivo deveriam casais gays e lésbicos serem proibidos de se casarem por razões que seriam razoavelmente rejeitadas como convincentes para proibir casais heterossexuais de se casarem?” (RICHARDS, 2004, p. 28-29)98.

Já salientamos aqui a importância das políticas do reconhecimento em estados democráticos, mas é necessário pormenorizar que, além da superação dos estigmas jurídicos, tal reconhecimento possui papel transformador na vida dos indivíduos que não seguem a moralidade sexual corrente e legitimada pela ordem social. Deve-se entender que o reconhecimento das uniões que fogem à norma heterossexual e cisgênera

enquanto famílias – protegidas pela ordem jurídica dos direitos de família que aqui já

foram mencionados – está além de questões meramente patrimoniais. Como salienta Roger Raupp Rios (2011),

98 Why should any gay or lesbian couple be forbbiden marriage on grounds that would rasonably be rejected as compelling reasons for forbidding straight couples from marrying? (RICHARDS, 2004, p. 28- 29).

O tipo de medida que se almeja quando se discutem as uniões civis é de outra ordem e muito mais amplo. Cuida-se do reconhecimento, por parte da sociedade e do Estado, que se expressa no direito, não só da existência de uniões homossexuais, mas da proteção e do respeito que tais relações merecem, em face dos diversos aspectos envolvidos (patrimoniais, afetivos, sexuais, existenciais, políticos), bem como da necessidade de se garantir esse espaço de vida em comum, dada sua importância para o desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos (RIOS, 2011, p. 80).

Quando tratamos, neste rol, especificamente das questões concernentes à família, a afirmação da impossibilidade da existência de famílias que diferem do normal esperado da sexualidade humana é o mesmo que dizer que estes não são humanos o suficiente para estabelecerem laços íntimos de afetividade ou parentalidade, se assim o desejarem. A este respeito, Richards (2004) reforça que:

A exclusão de parcerias do mesmo sexo do completo reconhecimento legal constrói a desumanização dos homossexuais, como se eles não pudessem mais ter vidas íntimas, amorosas e humanas mais do que poderiam os animais. Se o preço estratégico que estamos pagando para algumas formas de reconhecimento legal de parcerias do mesmo sexo implica em tal cumplicidade continuada com os próprios termos da nossa desumanização, podemos estar pagando um preço em termos da nossa dignidade humana, que não podemos e não deveríamos, como questão de princípio fundamental, justificar ou supor ser justificável (RICHARDS, 2004, p. 126, tradução livre)99.

No sentido proposto pelo autor, podemos inferir que mesmo que pessoas homossexuais e transexuais alcançassem o reconhecimento de suas uniões enquanto casamentos ou uniões estáveis, a negação do reconhecimento de suas uniões enquanto famílias, assim como a garantia de todos os direitos abarcados no campo dos direitos de família constituiria, ainda assim, a negação da humanidade, e portanto, a perpetuação do estigma e a desumanização de pessoas homossexuais e transexuais que desejam o título de família para suas relações afetivas.

Como já demonstramos, família é um conceito central na sociedade brasileira, que faz parte do próprio ordenamento jurídico que, por sua vez, regula as relações afetivo-sexuais dando legitimidade a estas. Neste sentido, sua negação às pessoas que não se conformam à sexualidade tradicional e que, hoje, almejam para si tais direitos, reforça a perpetuação do estigma que recai sobre as pessoas homossexuais e transexuais

99 The exclusion of same-sex partnerships from full legal recognition constructs the dehumanization of homosexuals, as if they could no more have loving and human intimate lives than could animals. If the strategic price we are paying for some forms of legal recognition of same-sex partnerships implicates such continuing complicity with the very terms of our dehumanization, we may be paying a price in the terms of our human dignity that we cannot and should not, as a matter of fundamental principle, justify or suppose be justifiable (RICHARDS, 2004, p. 29).

e as desigualdades e hierarquias presentes na sociedade, inclusive aquelas referentes à posição subordinada da mulher.

É neste ponto da presente discussão que consideramos ser necessário dar atenção às potencialidades transformadoras das relações afetivo-sexuais que tais indivíduos promovem, ao conclamarem para si uma categoria intrinsecamente correlacionadas à estruturas de poder heteronormativas, estruturas estas que tais indivíduos questionam por si mesmos, na medida em que “saem do armário” por assumirem sua sexualidade e seu lugar no mundo como “pontos fora da curva”. Rogam, portanto, importante papel simbólico por inserirem nas regras do jogo a possibilidade de performances antes deste excluídas. Como salienta Willian Eskridge Jr. (2004):

[…] o simbolismo de duas mulheres casando-se uma com a outra é potencialmente significante, em todos os dias em uma visão pública, ao menos uma das mulheres estará performando de maneiras que todos sabem não se encaixar nos papeis tradicionais femininos. Apesar de a cerimônia do casamento por si mesma ser um pedaço poderoso da coreografia ocidental, é na coreografia do dia-a-dia que faz do casamento entre pessoas do mesmo sexo mais potencialmente desestabilizador dos papeis de gênero (ESKRIDGE JR, 2004, p. 128, tradução livre)100.

Embora devamos considerar criticamente o argumento de Eskridge Jr., assumindo o caráter binário homem-mulher que o autor considera ao analisar as relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo, devemos considerar sua relevância na medida em que aponta ao menos para a potencialidade de questionamento e desestabilização dos binarismos naturalmente associados aos sexos biológicos nas sociedades Ocidentais.

Considerar a necessidade de o Estado reconhecer tais famílias não é o mesmo que negar outras possibilidades de vivência da sexualidade, ou tratá-las como menos legítimas. O que estamos fazendo aqui é considerar um momento e um problema específicos da sociedade brasileira hoje, e que não deve ser considerado como ponto final a ser alcançado pela população LGBT+ na luta por sua cidadania.

Mesmo considerando as possíveis armadilhas e a domesticação do movimento LGBT+ identificadas pelos teóricos queer como parte de um processo de normalização das relações não heterossexuais e cisgêneras (BUTLER, 2003; MISKOLCI, 2007), pensamos aqui não ser possível, simplesmente, negar o papel do Estado e dos discursos

100 […] the symbolism of two women married to one another is potentially significant, for every day and in a public view as least one of the women will be performing in ways that everyone knows do not fit with women’s traditional roles. Although the marriage ceremony itself is a powerful bit of western choreography, it is the day-by-day choreography that makes same-sex marriage potentially most destabilizing of gender roles” (ESKRIDGE JR, 2004, p. 128).

que circulam no espaço político-jurídico como deveras impactantes na vida privada e no dia-a-dia dos indivíduos. Há, aqui, a necessidade de se considerar as condições concretas de luta pela cidadania na sociedade brasileira hoje. Concordamos que o Estado seja um agente importante no processo de normalização de comportamentos sociais, entretanto, consideramos também a necessidade de se apelar para o Estado em sociedades nas quais lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais sofrem profunda marginalização. Como considera Eskridge Jr., o primeiro passo para a própria desestabilização da ordem social no qual se fundamentam as hierarquias, pode ocorrer a partir de apelos à mudança do discurso público sobre a legitimidade das relações não heterossexuais. Em suas palavras:

A desestabilização pode mesmo ocorrer uma vez que o casamento entre pessoas do mesmo sexo se torna parte do discurso público, sem qualquer ação legal. Às pessoas Queer de todos os tipos tem sido dada a possibilidade de serem ouvidas e “vistas” de formas não possíveis antes do impacto do debate sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo no mundo ocidental (ESKRIDGE JR., 2004, p. 128, tradução livre)101.

Este é também o entendimento de Catherine Hull (2006), quando ressalta a possibilidade de casais gays e lésbicos (e aqui sempre incluindo também as pessoas transexuais) estarem apenas reproduzindo os padrões de comportamento sexual considerados “adequados” em nossas sociedades contemporâneas. Segundo a autora, embora essa seja uma hipótese a ser considerada, e que está em relação, também, com as possíveis armadilhas no qual o movimento LGBT+ contemporâneo pode cair, de estar novamente apenas criando uma nova espécie de normatização no qual apenas aqueles que desejam se casar e manter relações amorosas estáveis e asseguradas pela lei seriam sujeitos legítimos, enquanto aqueles que vivenciam a sexualidade de forma diferente continuariam sendo marginalizados pela cultura normativa do casamento e da família. A autora não desconsidera as potencialidades que o casamento entre pessoas do mesmo sexo pode fazer ao reformular a ideia de casamento, assim como a ideia de família e as performances de gênero legalmente legitimadas. Em sua asserção, a autora diz que:

De certa forma, a promulgação cultural do casamento entre pessoas do mesmo sexo através de rituais e outras práticas claramente reflete e reproduz sistemas culturais de significado existentes, particularmente crenças e ideias sobre casamento e compromisso. Mas essas práticas culturais de casamento

101 The destabilisation can even occur once same-sex marriage become part of public discourse, without any legal action. Queer people of all kinds have been given opportunities to be heard and “seen” in ways not possible before the same-sex marriage debate hit the western world (ESKRIDGE JR., 2004, p. 128).

entre pessoas do mesmo sexo têm também potencial para reformular os significados e símbolos existentes (HULL, 2006, p. 14, tradução livre)102.

Neste sentido, vale até mesmo rememorar a ideia de parentalidade, intimamente associada às ideias de família e casamento, e que se influenciam e modificam mutuamente.

Já apontamos aqui que o discurso religioso conservador propagado pelos parlamentares da Frente Parlamentar Evangélica dá primazia à reprodução biológica como legítima, em detrimento das tecnologias reprodutivas ou mesmo de processos de adoção. Em análise realizada por George Chauncey (2004) acerca dos debates sobre casamento e família nos Estados Unidos da América, o autor identifica o mesmo apelo à procriação, e conclui que:

[…] quando religiosos conservadores referiram à “procriação”, eles geralmente utilizavam isso como um reducionismo para um largo conjunto de premissas sobre papéis de maridos e esposas, incluindo a necessidade das mulheres em aceitar que seu dever principal nas suas vidas é serem mães (CHAUNCEY, 2004, p. 149, tradução livre)103.

Assim, a impossibilidade lógica de reprodução biológica que marca a rejeição político-religiosa ao reconhecimento destas uniões como entidades familiares tem papel transformador nas concepções de família e em sua automática associação com a parentalidade e, mesmo, com as relações sexuais. A partir de tal questionamento da suposta ordem natural e da vocação feminina à maternidade, se reformulam as questões dos laços legítimos que determinam o que deveria ser considerado uma família. Em discussão a este respeito, até mesmo Judith Butler (2003) e todas as suas críticas ao casamento entre pessoas do mesmo sexo como armadilha normalizadora por parte do Estado, admite tal possibilidade de reformulação. Nas palavras dessa autora:

[...] existem também conseqüências claramente salutares de ruptura da ordem simbólica, dado que os laços de parentesco que vinculam as pessoas umas às outras podem ser nada mais nada menos que a intensificação de laços comunitários, que podem, ou não, ser baseados em relações sexuais exclusivas ou duradouras, e bem podem consistir em relações de ex-amantes, não-amantes, amigos, membros da comunidade. Nesse sentido, as relações de parentesco atingem fronteiras que põem em questão a distinção entre parentesco e comunidade, ou que clamam por uma concepção diferente de amizade. Isso se constitui numa "ruptura" do parentesco tradicional que não

102 In some ways the cultural enactment of same-sex marriage through rituals and other practices clearly reflects and reproduces existing cultural meaning systems, particulary beliefs and ideas about marriage and commitment. But these cultural practices of same-sex commitment also have the potential to reshape existing meanings and symbols (HULL, 2006, p. 14).

103 […] when religious conservatives referred to “procreation”, they often used it as a short-hand for a larger set of assumptions about the roles of husbands and wives, including women’s need to accept that their primary duty in life is to be mothers (CHAUNCEY, 2004, p. 149).

somente desloca o lugar central das relações biológicas e sexuais de sua definição, mas confere à sexualidade um domínio separado daquele do parentesco, permitindo também que um laço durável seja pensado fora da moldura conjugal e abrindo o parentesco a um conjunto de laços comunitários que são irredutíveis à família (BUTLER, 2003, p. 255-256).

A despeito de todas as normalizações que devem ser criticadas neste processo, no caso do movimento LGBT+ e dos movimentos feministas, essas mudanças de concepção são projetos de longo prazo e de mudanças paulatinas na continuidade da luta política na tentativa de desnaturalização e da ruptura com conceitos fortemente cristalizados e intrincados na ordem simbólica da sociedade brasileira. E, até mesmo quando consideramos as reivindicações da população LGBT+, tanto para o reconhecimento de suas uniões quanto para o reconhecimento de suas famílias, devemos considerar que estes indivíduos não escapam à ordem simbólica, mas, ao contrário, são influenciados por esta em suas escolhas de vida. Por isso, acreditamos ser importante, mais do que criticar a instituição do casamento e o conceito de família como meramente reprodutor de hierarquias sociais, considerar o impacto de tais conceitos na vida dessas pessoas e na possibilidade de sua integral realização enquanto indivíduos. É disso que se trata quando falamos da necessidade de reconhecimento. Como reconhece Miguel Almeida:

Os casais de homens existem; os casais de mulheres existem; os casais de homens e os casais de mulheres com filhos – de relações anteriores, adoptados, ou resultantes de novas técnicas reprodutivas – existem. E agora existem também Estados-nação onde estas realidades, além de corresponderem a práticas e além de terem significado para os seus actores e actrizes, gozam de reconhecimento pelo poder legitimado. É justamente este reconhecimento pelo Estado que dá importância ao tema, por transportá-lo do campo das práticas dispersas para o espaço público e para o contrato social (ALMEIDA, 2007, p. 160).

Desta forma, o que queremos afirmar é que, para grande parte das pessoas LGBT+, o reconhecimento estatal de suas uniões, sua legitimidade perante Estado e sociedade e as investidas públicas na superação dos estigmas associados constantemente a essa população são importantes para a concreta efetivação de seus direitos e aspirações enquanto sujeitos portadores de dignidade. As críticas, sem dúvida, são necessárias. Mas, o importante aqui é considerar as aspirações de milhares de pessoas que compõem as letras expressas na sigla LGBT+, e que almejam, sim, reconhecimento estatal de suas relações por perceberem-se excluídos quando a lei lhes nega não somente o direito de chamar suas uniões de famílias, mas também justifica os transtornos impostos e os esforços necessários ao seu reconhecimento legal e social. Legal na

medida em que exige dessas pessoas maiores esforços psicológicos, emocionais, financeiros e temporais que não são necessários às famílias heterossexuais e cisgêneras no pleno reconhecimento dos direitos relativos à família. Social na medida em que a legislação, conforme já discutido anteriormente, tem papel dialético com construção do real e das percepções culturais legitimadas. É nesta mesma perspectiva que Catherine Hull salienta a importância de reconhecimento estatal por ele mesmo. Em suas palavras:

Quando membros de casais do mesmo sexo expressam o desejo de que seus relacionamentos sejam vistos ‘aos olhos do Estado’, eles estão almejando um remédio para as injustiças culturais do não reconhecimento. Quando gays e lésbicas [e transexuais] expressam o desejam sem conectá-lo a qualquer história causal sobre o reconhecimento do Estado impactando atitudes sociais e comportamentos, isso reflete suas percepções sobre o Estado como poderoso [...] agente cultural. Para muitos, o reconhecimento do Estado tem valor e significado intrínsecos (HULL, 2006, p. 148, tradução livre)104.

À guisa de conclusão deste capítulo, consideramos que na medida em que grande parte da população LGBT+ apela para o próprio reconhecimento de suas identidades e para o reconhecimento das suas uniões e famílias, evidenciam a construção política da vida íntima, denunciando a necessidade de entender público e privado como indivisíveis e perpassados. Sobre a distinção de indivíduos, Flávia Biroli (2014) argumenta:

A autonomia dos indivíduos na construção das relações afetivas e no direito a ter ou não ter filhos é um valor democrático fundamental. A distinção dos indivíduos (por gênero, opção sexual, classe ou raça), privilegiando alguns e negando a outros o acesso a definir autonomamente seus projetos de vida, e a controlar seu próprio corpo, compromete a democracia (BIROLI, 2014, p. 58-59).

A negação do reconhecimento dessas famílias passa pela tentativa de manutenção do poder político de parlamentares evangélicos e de sua moral sexual, que representa também o poder político da religião em sociedades em que se percebe menor ingerência das instituições religiosas na vida dos indivíduos. Entretanto, tal investida caracteriza-se como excludente e perpetuadora de injustiças quando consideramos os princípios democráticos.

104 When a member of same-sex couples express a desire for their relationship to be seen ‘in the eyes of the state’, they are seeking a remedy for the cultural injustice of non-recognition. When gays and lesbians [and transgenders] express this desire without connecting it to any casual story about state recognition impacting social attitudes and behaviors, it reflects their perception of the state as a powerful […] cultural actor. For some, recognition of the state has intrinsic value and meaning (HULL, 2006, p. 148).

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