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CAPÍTULO III: METODOLOGIA DO ESTUDO

3.3. O Processo de Recolha de Dados

3.3.3. Fase três: as sessões com os grupos focalizados de alunos

Decorreram de 20 de janeiro a 23 de março – as primeiras sessões realizaram-se quando ainda decorriam os ciclos de observação de aulas; as últimas sessões realizaram- se após o termo dos ciclos de observação de aulas.

Cada uma das sessões ocupou 45 minutos. Foram conduzidas como conversas em que o moderador (PI) procurou gerir os tempos, introduzindo os temas para reflexão, que constam em anexo a esta dissertação – tratando-se de um guião, constituiu uma orientação dos temas a abordar mas não se tratava de um questionário estruturado, nem mesmo semiestruturado. O moderador assumiu o papel de agente facilitador do grupo e teve, como uma das suas tarefas fundamentais, a de apresentar aos membros do grupo explicações claras e objetivas sobre o trabalho a ser desenvolvido. Todas as sessões foram gravadas e posteriormente transcritas, antes de serem analisadas.

73 A opção pela constituição de dois grupos focalizados de alunos enquanto instrumento de recolha de dados apresenta vantagens específicas para este estudo: em primeiro lugar, permite investigar as complexidades e as experiências individuais dos alunos das duas turmas de modo a aprofundar os dados recolhidos através de outros instrumentos, como a observação das aulas e as reflexões escrita pelos alunos; em segundo lugar, constitui uma estratégia que permite confrontar as perceções dos professores com as perceções dos alunos e indagar de que forma uns e outros podem promover a transformação mútua; por último, permite a triangulação de dados em função das três fontes: PI, PP e Alunos.

No caso específico dos grupos focalizados de alunos durante este estudo, houve algum cuidado com a seleção dos participantes e na forma como posteriormente se lidou com os dados recolhidos. Foram organizados dois grupos focais, representativos de cada uma das turmas participantes no estudo, de cinco alunos cada, obedecendo ao seguinte critério único:

 Os alunos são representativos dos níveis de proficiência da língua inglesa, esperados para o seu nível de aprendizagem (ver Tabela 3).

TABELA 3: Caraterização dos grupos focalizados

Grupo focal Alunos Sexo Idade Nível de proficiência da

língua inglesa (por

referência ao QECR) Nível (avaliação sumativa no sistema educativo nacional) A1 M 14 A2 2 1 A2 M 14 B1 3 (9º ano) A3 F 14 B2 4 A4 F 14 C2 5 A5 F 14 C2 5 A6 M 14 A1 2 2 A7 M 15 A1 2 (8º ano) A8 M 13 A2 3 A9 F 13 A2 4 A10 M 13 A2 4

Ainda assim, assume-se que um grupo focalizado apresenta limitações ao nível da representatividade, na medida em que as intervenções são muito na “primeira pessoa” e, frequentemente, evasivas – desta forma, as intervenções devem ser vistas como a

74 expressão de opiniões pessoais mas, enquanto derivadas da participação do indivíduo no grupo-turma e da consciência que o mesmo tem do seu papel no grupo, a participação de cada um dos alunos nos grupos focalizados pode ser considerada, no seu conjunto, como expressão de caráter subjetivo que agrega e representa a expressão coletiva da turma. A gestão do tempo de intervenção de cada um dos participantes nos grupos focalizados nem sempre é tarefa fácil, na medida em que nem todos têm a mesma facilidade de comunicação e o papel interventor do investigador, ora ao cortar a palavra ora ao dar a palavra, tem por vezes efeitos contraditórios: facilitando e integrando na conversa, ou dificultando a linha de pensamento e a articulação do discurso. As questões não foram articuladas antecipadamente mas constituiu-se antecipadamente uma lista de temas de interesse para a investigação cuja sequência era apenas indicativa. Desta forma, ao longo das sessões, o investigador pôde gerir com flexibilidade, introduzindo as questões e reformulando-as no momento, conforme a oportunidade proporcionada pelas intervenções dos alunos. Serviu, pois, para assegurar a não-dispersão em relação aos objetivos previamente estabelecidos e que algum dos participantes se sobrepusesse ao grupo, sendo o resultado amplamente descritivo.

TABELA 4: Planificação das sessões dos grupos focalizados Ciclos de observação de aulas Data Grupo 1 (9º ano) Grupo 2 (8º ano) Objetivos

1ª sessão 20/01/2012 X Como os alunos vêm a Língua Inglesa no contexto da

sua aprendizagem escolar.

2ª sessão 01/02/2012 X Como os alunos vêm a Língua Inglesa no contexto da

sua aprendizagem escolar

3ª sessão 08/02/2012 X As atividades desenvolvidas durante as aulas de

Inglês e o seu objetivo de aprendizagem

4ª sessão 14/02/2012 X O papel do professor e o papel do aluno

A comunicação pedagógica

5ª sessão 23/02/2012 X As atividades desenvolvidas durante as aulas de

Inglês e o seu objetivo de aprendizagem O papel do professor e o papel do aluno A comunicação pedagógica

Segundo Morgan (1996), o grupo focalizado (focus group) é uma técnica qualitativa que visa o controlo da discussão de um grupo de pessoas, inspirada em entrevistas não

75 diretivas. Privilegia a observação e o registo de experiências e reações dos indivíduos participantes do grupo, que não seriam possíveis de captar por outros métodos, como, por exemplo, a observação participante, as entrevistas individuais ou questionários. Apresenta as seguintes vantagens: permite compreender melhor a relação entre causa e efeito perguntando às pessoas coisas acerca desse relacionamento e constitui uma inter- pretação alternativa aos resultados da pesquisa, nomeadamente recorrendo aos dados recolhidos através desta técnica para aferir os resultados recolhidos através de outras técnicas consideradas mais tradicionais.

Este instrumento mostrou-se de elevado interesse para este estudo, na medida em que permitiu aferir o grau de familiaridade dos alunos com a terminologia das áreas da didática e da pedagogia (esta informação permitiu, por exemplo, orientar a comunicação do PI com os grupos-turma, no sentido de explicar alguma da gíria associada à Didática e à Pedagogia); mas sobretudo, permitiu numa fase posterior confrontar as declarações destes grupos restritos de alunos com as reflexões individuais, mostrando-se úteis para extrapolar e tirar conclusões. No entanto, deve registar-se que estes grupos focalizados apresentaram algumas limitações e dificuldades, tanto durante as sessões – em que a participação dos alunos não é equitativa, havendo alunos mais profícuos em termos de discurso e ideias e alunos menos participativos – como durante o processo de análise, em que por vezes a interpretação de segmentos do discurso não é fácil nem imediata, ou porque a terminologia é inadequada ou porque o sentido é ambíguo.