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CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.2. Discussão dos Dados

4.2.3. Mudanças ao nível da forma como os alunos observam e avaliam o

A partir da análise dos dados, verifica-se que foram detetados indícios de transformação nos professores ao longo do estudo, ao nível da comunicação pedagógica, ao nível afetivo-relacional e ao nível da forma como trabalham na preparação das aulas. Estas transformações são referidas pelos professores participantes de forma mais vincada nas reflexões individuais, mas encontram-se também indícios suficientemente fortes nos Registos Colaborativos das aulas observadas, sendo igualmente referidas de forma significativa pelos alunos, tanto nas sessões com os grupos focalizados como nas reflexões individuais. De facto, entre os alunos encontram-se indícios que nos levam a pensar que o conceito de Mudança (e das perceções individuais e sociais acerca do mesmo) está associado a evolução: “Acho que o stôr deve continuar assim e a evoluir para melhor e não voltar ao passado” (Aluno 3, RI dos alunos do 9º ano).

Os dados revelam, pois, que as mudanças detetadas em cada uma destas áreas se encontram tanto ao nível das práticas como ao nível das perceções, e podem ser sintetizadas na Tabela 16.

TABELA 16: Principais transformações nos professores e nos alunos, ao nível da ação e ao nível das perceções.

Locus de

Transformação Transformações ao nível da ação Transformações ao nível das perceções

No professor  Do papel diretivo à observação

construtivista da turma.

 Da supremacia do ensino (sobre a aprendizagem) à supremacia da aprendizagem (sobre o ensino).  Da primazia do currículo ao

ajustamento do currículo às necessidades dos alunos.  Da reflexão isolada à reflexão

partilhada.

 Da autoridade assumida à autoridade reconhecida.

 A turma deixa de ser um campo de análise de problemas e passa a ser um campo de análise de interações.

 O ensino passa a ser baseado

preferencialmente nas necessidades de aprendizagem dos alunos.

 A turma passa a ser vista como um contexto diversificado de aprendizagem.

 O aluno passa a ser um parceiro na reflexão sobre e durante a ação.

 A autoridade passa a ser um meio e não um fim em si.

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Locus de

Transformação Transformações ao nível da ação Transformações ao nível das perceções

Nos alunos  Da passividade à interatividade.

 Do ensino à aprendizagem.  Da aula com um número reduzido

de atividades à aula com diversidade de atividades e recursos.

 Do embaraço ao desejo de participar.

 De um papel passivo ao papel interventivo.

 O professor deixa de ter um papel diretivo e passa ater um papel mediador.

 Alunos e professor aprendem em conjunto.  As aulas passam a ser percecionadas como

dinâmicas, interessantes e motivadoras.

 O professor percecionado como aquele que ouve e incentiva a participação.

 O aluno toma parte nas decisões da aula.

Podem, pois, ser identificadas mudanças ao nível do conhecimento e da consciência dos alunos acerca da dimensão e âmbito do papel do professor e, desta forma, vislumbram-se mudanças na forma como os alunos percecionam o seu próprio papel. Estas mudanças resultam de um conjunto de indícios que nos permitem dar uma resposta positiva à terceira questão deste estudo.

Em primeiro lugar, a análise dos dados recolhidos evidencia que os alunos conseguem elaborar um quadro global do desempenho do seu professor (avaliação), estruturado sobre um conjunto de conhecimentos, crenças e valores. Neste ponto convém estabelecer diferenças entre alunos, pois a forma como estes avaliam o desempenho dos seus professores está relacionada com fatores, como:

i) O desenvolvimento psicossocial – quanto mais consciência tem acerca da realidade social e do sistema educativo em particular, maior será a capacidade do aluno para avaliar o desempenho do professor.

ii) O desenvolvimento académico – os alunos com melhores resultados académicos tendem a emitir opiniões mais facilmente, parecendo existir uma relação entre desenvolvimento académico e reflexão sobre a escola e o processo de ensino- aprendizagem.

120 iii) O desenvolvimento linguístico e discursivo – a facilidade ou dificuldade em usar a palavra e estruturar as ideias num discurso coerente com o próprio pensamento refletido.

iv) A qualidade e a fonte da informação – em certas áreas, como por exemplo a avaliação, os alunos tendem a emitir opiniões coincidentes com a comunicação social ou a opinião pública generalizada; noutras áreas, como as relações interpessoais, os alunos tendem a emitir opiniões baseadas em conhecimento de causa, isto é, experiências vividas. Por outras palavras, nuns casos os alunos falam na primeira pessoa enquanto noutros casos tendem a dar exemplos vividos por terceiros, normalmente de “outras escolas” (primos, amigos, etc.).

Em segundo lugar, a análise dos dados permite concluir que os alunos têm uma perspetiva positiva da influência que os professores exercem sobre o clima educativo. De facto, os alunos consideram que os professores e a escola, em geral, se preocupam com as suas aprendizagens e com as suas competências socio-afetivas. Têm uma imagem positiva dos professores, considerando que estes explicam com clareza, esclarecem as suas dúvidas, gostam dos seus alunos e transmitem-lhes o valor da escolarização. Estes resultados confirmam os resultados apresentados por Friedel, Marachi e Midgley (2002) num estudo desenvolvido no sul dos E.U.A. em que concluíram que existem correlações que indicam que quando os professores dão mais apoio, são entusiastas, e menos inclinados a “embarassá-los”, os alunos dizem-se mais à vontade para pedir ajuda, perturbam menos as aulas e usam estratégias colaborativas de aprendizagem. Parece, pois, existir uma correlação entre a perceção positiva que os alunos têm acerca dos seus professores e a sua predisposição para a aprendizagem.

Em terceiro lugar, a análise dos dados, particularmente no que respeita às sessões com os grupos focalizados, leva-nos a concluir que quando o professor não comunica abertamente com os alunos nem lhes transmite toda a informação necessária, corre o risco de ser julgado pela generalização e pelo preconceito. É o caso do campo da avaliação e das questões ligadas à profissionalidade:

121  A perceção de alguns alunos sobre a competência avaliativa dos professores é extremamente negativa, chegando a considerar que os professores não querem dar boas notas porque são invejosos ou porque “tomam os alunos de ponta”.  Também prevalece a ideia entre alguns alunos de que os professores não gostam

do que fazem, só o fazem por dinheiro. Tal como refere um aluno do 9º ano, “há professores que marcam a vida dos alunos por certas atitudes e eles (esses alunos) não gostam da disciplina por causa disso” (Transcrição da sessão 3 do grupo focalizado 1).

 No que diz respeito à perceção que os alunos têm do papel do professor, os dados apontam ora para uma visão tradicionalista do professor-mestre “Professor, ensinar; aluno, aprender” (A2, Sessão 3, grupo focalizado 1), uma visão castradora do professor-autoridade “em geral o papel do professor é encarado como um inimigo” porque “nós temos o dever de estar na escola e aprender” (A4, Sessão 3 grupo focalizado 1) e uma visão afetiva do papel do professor, tal como ilustra a transcrição seguinte:

“O nosso papel está um bocado misturado com amizade, porque nós temos uma relação

de mais familiaridade com os nossos professores porque é com quem passamos a maior parte do tempo, porque a escola não é grande e conhecemo-nos todos. Eu acho que é um papel de amizade.”

(Transcrição da sessão 3, grupo focalizado 1)

4.2.4. Mudanças ao nível da forma como os alunos percecionam e se