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14 Outros Fatores Relacionados às MAVs e Associados ao Risco de

14.1 Fatores Demográficos

Kim et al. (2014) realizaram estudo de meta-análise e confirmaram uma associação que poucos estudos menores foram capazes de detectar no passado, ou seja, de que a idade crescente é um fator de risco independente e significativo para HIC (HR = 1,3 por década; IC 95%: 1,2 - 1,5). Sexo feminino (HR = 1,5; IC 95%: 0,96 - 2,3) e drenagem venosa profunda exclusiva (HR = 1,6; IC 95%: 0,95 - 2,7) foram, no referido estudo, preditores de hemorragia com tamanhos de efeito clinicamente importantes, mas não alcançaram significância estatística. O conceito de que a hemorragia em MAVs cerebrais está relacionada a um acúmulo de processos degenerativos devido à hemodinâmica alterada é intuitivamente atraente e apóia a probabilidade da idade como um importante fator de risco para hemorragia subsequente (MORGAN et al., 2017).

Baseado na observação de que a hemorragia na apresentação é mais freqüente entre crianças com MAVs, alguns grupos afirmaram que idade jovem seria um fator de risco para hemorragia subsequente em MAVs (ABECASSIS et al., 2014). Estudo envolvendo mais de mil pacientes portadores de MAVs demonstrou

que, após contabilizar-se o aumento da frequência de hemorragia na apresentação inicial da lesão em crianças, o risco foi efetivamente menor entre os pacientes mais jovens (FULLERTON et al., 2005). Em estudos conduzidos por Crawford et al. (1986) e por Graf, Perret e Torner (1983), o aumento da idade foi identificado como um fator de risco para hemorragia subsequente em MAVs.

Entretanto, a idade crescente não foi considerada um fator de risco significativo para o aumento do risco de hemorragia em MAVs, na meta-análise realizada por Gross e Du (2013). Stapf et al. (2006a) relataram que idade jovem seria um fator de risco para hemorragia em MAVs na análise univariada, achado que não se confirmou na análise multivariada, provavelmente porque a idade mais jovem está associada à hemorragia na apresentação inicial. Um estudo finlandês avaliou pacientes com MAVs e concluiu que o aumento da idade não foi um fator de risco para hemorragia subsequente (HERNESNIEMI et al., 2008).

No estudo de Ma et al. (2015), que analisou várias características das MAVs cerebrais em crianças, os autores identificaram que idade e sexo não foram fatores estatisticamente considerados preditores de apresentação hemorrágica nessas lesões. O mesmo grupo de Ma et al. (2017a) comparou as características de pacientes pediátricos cujas MAVs tiveram uma apresentação hemorrágica com os pacientes cujas MAVs eram não rotas (sem hemorragia) na apresentação. O estudo demonstrou que a idade não foi um fator preditor de apresentação inicial com hemorragia, assim como a análise univariada sugeriu que idade mais jovem ao diagnóstico não foi associada a ocorrência de hemorragia subsequente precoce no seguimento (MA et al., 2017a).

Estudos mais recentes podem ser confundidos pelo viés de seleção do paciente, com tendência ao manejo conservador em pacientes mais velhos, independentemente dos fatores de risco associados que preveem futuras hemorragias, o que torna a ligação entre a idade e o risco de hemorragia difícil de estabelecer (MORGAN et al., 2017). Em estudo de revisão, Morgan et al. (2017) afirmaram que, com a maior probabilidade de se encontrar pacientes idosos portadores de MAVs e aneurismas associados, seria interessante entender se a idade, os aneurismas, ambos ou nenhum dos dois aumentam o risco de hemorragia subsequente em MAVs cerebrais.

Em resumo, Morgan et al. (2017), em revisão recente, afirmaram ser possível supor que o avanço da idade pode aumentar o risco de hemorragia devido às MAVs.

No entanto, esse fato pode não ser um efeito direto e independente da idade e livre da interferência do efeito dos aneurismas associados, já que existe a probabilidade de o risco de surgimento de aneurismas aumentar com o avançar da idade (MORGAN et al., 2017).

Em relação ao sexo, o estudo de Yamada et al. (2007) relatou um risco aumentado de hemorragia subsequente devido à MAV em mulheres. Tong et al. (2016) relataram em seu estudo que o sexo feminino foi associado a apresentação hemorrágica inicial em MAVs cerebrais. Derdeyn et al. (2017) reportaram que o sexo feminino pode aumentar o risco anual de HIC em MAVs rotas (hemorragia prévia). Avaliando MAVs pediátricas, Ding et al. (2017a) identificaram que o sexo feminino foi associado a apresentação hemorrágica em MAVs.

Entretanto, outros estudos não identificaram maior risco de hemorragia em MAVs relacionado ao sexo feminino (CRAWFORD et al., 1986; DA COSTA et al., 2009; HERNESNIEMI et al., 2008; STAPF et al., 2006a). Estudos conduzidos por Gross e Du (2013) e Kim et al. (2014) verificaram a tendência de as mulheres apresentarem maior risco de hemorragia subsequente em MAVs, mas esse risco não foi estatisticamente significativo. O trabalho de Padilla-Vazquez et al. (2017) analisou 639 pacientes portadores de MAVs rotas e não rotas, objetivando propor novo sistema de classificação que faça estimativa do risco de hemorragia em MAVs. Neste estudo, após análise estatística, a influência do sexo nas chances de sangramento foi descartada (PADILLA-VAZQUEZ et al., 2017).

Conforme Morgan et al. (2017), não há base hipotética para explicar como o sexo influenciaria o aumento do risco hemorrágico em MAVs. Segundo os autores, fatores de confusão, como maior risco de aneurisma em mulheres (a investigação de aneurisma identificaria a MAV simultânea) e a possível maior proporção de pacientes idosos investigados (com maior risco de hemorragia subsequente em suas MAVs) serem mulheres, podem ser uma explicação para tal associação. Assim, estes autores relataram que o sexo provavelmente não deve ser considerado quando se avalia o risco subsequente de ruptura em MAVs (MORGAN et al. (2017).

Dados sobre o papel da raça/etnia no risco de hemorragia das MAVs são limitados (YANG et al., 2015). Entretanto, o estudo de Kim et al. (2007) relatou a primeira descrição de diferenças raciais/étnicas em MAVs, tendo os pacientes hispânicos um risco aumentado de HIC subsequente em comparação com brancos. Este risco aumentado em etnia hispânica foi um fator independente de HIC no curso

natural não tratado de MAVs cerebrais, na ampla coorte multiétnica avaliada. Yang et al. (2015) realizaram estudo buscando avaliar a importância da raça/etnia como um fator clínico associado à apresentação hemorrágica das MAVs cerebrais, além das características angiográficas previamente relatadas. O estudo observou que a população não branca apresentou chance maior de se apresentar com hemorragia em comparação com a população branca (YANG et al., 2015).