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2.9 AS ESTRUTURAS DE OBSERVAÇÃO: OS OBSERVATÓRIOS

2.9.4 Fatores disseminadores dos observatórios em nível internacional

Atualmente os observatórios de ênfase territorial e social estão presentes em muitos países. Apesar disso, a literatura específica pouco discute como eles foram implantados, assim como ela também não descreve detalhadamente os fatores que contribuíram para isso. Entre os poucos estudos que discutiram este tema, estão as pesquisas de Ortega e Del Valle (2010)sobre os Observatórios Culturais e Da Silva, et al. (2013) sobre os Observatórios de Informação e Conhecimento.

37 Entre elas se destaca a produção de estatísticas de turismo prevista na lei relativa à democracia de

Essas pesquisas, longe de apresentarem com precisão e de forma sistemática os fatores ou processos relacionados à implantação de observatórios nos diferentes países e/ou continentes, fazem apenas alusão ou comentário restritos sobre o assunto. Por sua vez, a consulta à lista de observatórios citados na literatura, bem como a avaliação de sites de observatórios identificados na Internet mostram que há um predomínio da ocorrência desse fenômeno nos continentes europeu e americano38, assim como Ortega e Dell Valle (2010) identificaram em sua pesquisa.

Nesse sentido, devem ser ressaltados alguns elementos que podem ter contribuído para a concentração dos observatórios nesses continentes. Esses fatores se agregam e se articulam individual e/ou conjuntamente a elementos mencionados durante a apresentação dos casos norteamericano e francês. Entre esses fatores podem ser citados, como exemplos: a disseminação do uso de recursos de informática e de comunicação; a formação profissional orientada para as questões territoriais; a disponibilização de financiamento para criação de estruturas de observação por autoridades locais e regionais; a demanda de informação por atores locais; a disponibilização de bases de dados de amplo acesso e as modificações nos quadros de ação territorial nos países (MURPHY, 1971; BARNES, 1974; LENORMAND, 2011; ROUX; FEYT, 2011; CHEBROUX,2015; DINER, 2017).

Além desses fatores, Da Silva et al. (2013) fazem uma das poucas menções a outros elementos que poderiam explicar a disseminação internacional dos observatórios. De acordo com eles, a implantação de observatórios orientados para temas socioeconômicos ocorreu principalmente ao final da década de 1980 e inicio da década seguinte em função das ajudas econômico-financeiras fornecidas pela União Européia aos seus países membros. É por isso, que de acordo com esses pesquisadores, a criação deles esteve atrelada à ideia de controle do cumprimento dos compromissos acordados(DA SILVA et al., 2013).

Da Silva et al. (2013) não descrevem quais foram as ações específicas da União Européia que teriam estimulado o surgimento dos observatórios. Por isso, considerando que é nesse território que se registra a maior concentração de observatórios do mundo, cabe discutir algumas iniciativas do bloco europeu que

38 Cabe ponderar aqui que isso não implica a inexistência de estruturas/dispositivos de observação

em outros continentes, pois isso pode ser uma consequência do uso de outra nomenclatura para situações como essa. Além disso, pode também ser um fator associado a dificuldade de localização de informações sobre essas estruturas a partir dos idiomas utilizados na pesquisa, concentrados em línguas de tronco latino (português, espanhol, francês e italiano) e anglo-saxão (inglês).

podem ter contribuído para isso. Entre elas estão a implantação da Nomenclatura Comum de Unidades Estatísticas Territoriais (NUTS39), durante a década de 1970; a execução de diversas fases do programa LEADER40, entre 1991 e 2006; a execução do programa ESPON41, a partir de 2006 e por fim, a implantação da diretiva europeia INSPIRE42 desde 2007.

Em relação as NUTS, deve ser registrado que elas dependem do quadro normativo das administrações territoriais dos países membros da União Européia e que, por isso, elas acompanham as oscilações desse processo. Nesse sentido, foi durante as décadas de 1980 e 1990 que elas apresentaram uma maior estabilidade (EUROSTAT, 2002), período coincidente com o indicado por Da Silva et al. (2013) como o de maior implantação de observatórios.

No caso do programa LEADER, merece ser ressaltado que ele estimulou a criação de mais de 1.000 Grupos de Ação Local (GAL) em territórios rurais e que estes grupos foram monitorados e apoiados pelo Observatório Europeu de Desenvolvimento Rural entre os anos de 1995 e 2001 (UNIÃO EUROPÉIA, 2018a43; AIEDL44, 2018). Disso é possível especular que este observatório possa ter servido como inspiração para que novos observatórios fossem estabelecidos com uma perspectiva local.

Tratando-se das iniciativas mais recentes da União Européia, o Programa ESPON (ESPON, 201845) também deve ser considerado, pois ele pode ter contribuído com a divulgação da ideia dos observatórios tanto por conta de sua nomenclatura como uma rede de observação, quanto por sua abordagem orientada para o desenvolvimento territorial. Além do Programa ESPON, uma outra ação que pode estar favorecendo a continuidade e a implantação de novas estruturas de observação locais no território do bloco é a normativa Inspire (INSPIRE, 201846) que está em vigor desde 2007. Esta normativa visa disponibilizar uma plataforma com dados de acesso público georeferenciados e padrão único para toda a comunidade europeia. Ela foi

39 Nomenclature of Territorial Units for Statistics, no original.

40 Acrônimo de Liaison Entre Actions de Développement de l’Economie Rurale (Conexão entre Ações

de Desenvolvimento da Economia Rural).

41 European Spatial Planning Observation Network (Rede Européia de Observação e Planejamento

Espacial). www.espon.eu

42 Infrastructure for Spatial Information in Europe (Infraestrutura para Informação Espacial na Europa).

https://inspire.ec.europa.eu/about-inspire/563

43 http://ec.europa.eu/agriculture/rur/leader2/rural-pt/euro/r1-2.htm

44 http://www.aeidl.eu/en/projects/territorial-development/leader.html

45 www.espon.eu

inclusive apontada por Roux e Feyt (2011) como um potencial fator de estímulo ao surgimento de novos observatórios.

Na tentativa de preencher as lacunas de uma literatura científica escassa no que tange aos processos de implantação dos observatórios nos diferentes países e dos responsáveis por isso no contexto internacional, buscou-se identificar documentos que apresentassem evidências da atuação de organismos internacionais com esse propósito. Nesse sentido, um dos poucos documentos localizados foi o relatório da conferência internacional denominada “Observatórios de Desenvolvimento e Meio Ambiente – Uma Ferramenta de Informação e de Tomada de Decisão”, promovida no ano de 1994 pela UNESCO47 e UNDP48 em Rabat, Marrocos, (UNESCO; UNDP, 1994).

Nesse documento, as conclusões da conferência citam, entre outros aspectos: uma intenção de articulação metodológica dos observatórios que haviam sido implantados recentemente na região do Mediterrâneo; a caracterização dos observatórios como uma ferramenta catalisadora, em torno da qual seria possível integrar o meio ambiente e o desenvolvimento ao conceito de desenvolvimento sustentável e a explicitação de elementos que deveriam ser considerados durante a criação dos observatórios, com destaque para a demanda pública por informações como consequência da implantação de políticas ambientais e de desenvolvimento locais vinculadas a adoção da Agenda 21 e ao cumprimento de outros compromissos internacionais da área ambiental e de desenvolvimento (UNESCO; UNDP, 1994).

Além desse documento, outras poucas referências foram identificadas sobre a atuação de organismos internacionais incentivando a criação de observatórios até a metade da década de 2000. Um deles, afirma que a UN-HABITAT49 estabeleceu Observatório Urbano Global50 em 1997 com a finalidade de ajudar a encontrar uma solução científica para a crise da informação urbana (LUO, 2010). Ali este observatório é descrito como responsável pela produção de melhor informação para a gestão urbana através da implantação de um sistema de articulação de dados urbanos locais

47 United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO), em português,

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

48 United Nations Development Programme (UNDP), em português, Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento.

49 United Nations Human Settlements Programme (UN-Habitat), em português, Programa das Nações

Unidas para os Assentamentos Humanos.

relevantes e conectados globalmente via parcerias entre organizações locais e autoridades nacionais (LUO, 2010).

Sobre a criação do Observatório Urbano Global, os pesquisadores Ferreira, Silva e Ramos (2012) comentam que ele decorre da evolução do Programa de Indicadores de Habitação implantado em 1991 e que em 1993 passou a incluir os indicadores específicos da Agenda Habitat51 para se tornar assim o Programa de Indicadores Urbanos. Em razão disso, o observatório foi criado em 1997 para monitorar esses indicadores e com essa finalidade começou a estimular a criação de observatórios urbanos locais, regionais e nacionais que pudessem alimentá-lo com informação sobre as questões urbanas.

Uma outra referência a proposição da implantação de observatórios em nível internacional foi identificada no documento Asia Pacific Action Plan, editado pelo Escritório Regional da UNESCO para a Ásia e o Pacifico. Este documento apresenta uma estratégia para implantação de Observatórios de Arte na Educação, seguindo as recomendações da conferência internacional sobre o impacto das artes na educação, ocorrida em Hong Kong em janeiro de 2004 (UNESCO, 2018).

Os casos relatados evidenciam a atuação de diferentes agências internacionais vinculadas a Organização das Nações Unidas (ONU) incentivando a criação de observatórios. No caso dos observatórios de turismo, foco deste estudo, este tipo de atuação também foi identificado, porém, este tema será discutido posteriormente com uma maior profundidade. Nesse momento, cabe discutir o que caracteriza e define essas estruturas de observação, denominadas observatórios, no contexto do Desenvolvimento Baseado em Conhecimento (DBC).