• Nenhum resultado encontrado

O Sistema de Capitais (CARRILLO, 2002; 2014) pode ser compreendido como uma ferramenta de categorização que visa identificar as relações entre o conjunto de elementos que criam valor ao atuarem conjuntamente em um sistema. No Sistema de Capitais o termo capital é usado para se referir as categorias de valor, pois um capital é aquilo que pode criar distintas formas de valor na medida em que trata do universo das ordens de preferência coletiva dentro de um sistema de atividade humana. Em outras palavras, ele identifica o conjunto do que é percebido como valioso nos níveis individual, organizacional e social (CARRILLO, 2014).

O objetivo geral do Sistema de Capitais (CARRILLO, 2014) é o de propiciar uma forma integrada e de visualização facilitada do grau de equilíbrio entre os capitais

(materiais e simbólicos) de um individuo, de uma organização ou de uma comunidade. Esta abordagem tem como base uma perspectiva contábil em que cada capital apresenta ativos (fatores agregadores, positivos) e passivos (fatores desagregadores, negativos) que influenciam a performance em relação ao potencial máximo de desenvolvimento existente. O alinhamento desses valores, ou seja, o seu equilíbrio dinâmico entre ativos e passivos, surge então como uma meta para a gestão baseada em conhecimento.

O Sistema de Capitais (CARRILLO, 2002; 2014) é composto por seis capitais: Capital de Identidade, Capital de Inteligência, Capital Financeiro, Capital Relacional, Capital Humano e Capital Instrumental. Estes capitais são agrupados, por sua vez, no Metacapital Referencial, constituído pelos Capitais de Identidade e de Inteligência; no Metacapital Articulador, composto pelos Capitais Financeiros e Relacional e pelo Capital Produtivo, o qual é integrado pelos Capitais Humano e Instrumental. O Quadro 3 apresenta a estrutura deste sistema.

Quadro 3 – Sistema de Capitais: Principais Ordens de Valor

Capital Universo de ordens de preferência coletiva. Metacapital Multiplicativo (Divisivo) Referêncial Estrutura: Regras de Pertencimento Identidade (Auto- significância) Capacidade de discernir os elementos de valor que contribuem ao sistema e de orientar ação consequente. Inteligência (Alo- significâcia) Capacidade de identificar os agentes e os eventos significativos do sistema. Articulador Função: Regras de Relação Financeiro (Intercâmbio) Capacidade de representar e permitir o intercâmbio dos elementos de valor. Relacional (Vinculação) Capacidade de estabelecer e desenvolver vínculos com outros agentes significativos. Produtivo Aditivo (Subtrativo) Humano (Ação) Capacidade de executar as ações que agregam valor. Instrumental (Medição) Capacidade de alavancar as ações agregadoras de valor. Fonte: Carrillo (2014).

Como um sistema, o SC busca dar conta da totalidade de elementos a serem considerados na gestão do conhecimento. Dentro dele o Metacapital Referencial é o responsável por identificar o lugar que ocupa, quer e deve ocupar a entidade de acordo com um contexto determinado; o Metacapital Articulador é o responsável por oferecer e atrair os recursos e ativos que a entidade necessita e, por fim, o Capital Produtivo tem a responsabilidade de gerar a oferta final de valor da entidade (CARRILLO, 2014).

No tocante ao Metacapital Referencial, segundo Carrillo (2002; 2014) ele é composto pelos Capitais de Identidade e de Inteligência. O Capital de Identidade é visto como de valor endógeno e pode ser analisado tanto de uma perspectiva interna quanto externa. Internamente, o Capital de Identidade representa a principal fonte de motivação e o principal orientador ao longo do processo de tomada de decisões. Já externamente ele representa o quanto é atrativa aquela entidade.

Em relação ao Capital de Inteligência (CARRILLO, 2014), ele é um referente de valor exógeno que se baseia na capacidade da entidade de diagnosticar oportunidades e riscos do contexto. Durante sua administração deve contar com uma perspectiva externa para desenvolver adaptabilidade ao entorno, ao mesmo tempo em que internamente deve manter consciência sobre a capacidade de reação perante os eventos externos (CARRILLO, 2014).

No caso do Metacapital Articulador, este se constitui dos Capitais Financeiro e Relacional (CARRILLO, 2014). O Capital Financeiro é a representação monetária dos elementos de valor da entidade e é indispensável para atrair e manter recursos e ativos para a organização quando ela não consegue obtê-los por meio dos Capitais de Identidade ou Relacional. Já este capital, por sua vez, corresponde ao estado atual da interação com agentes significativos, ou seja, o estabelecimento de vínculos fortes com outras entidades que aportem valor agregado (CARRILLO, 2014).

Por fim, o Capital Produtivo é composto, segundo Carrillo (2014), pelos Capitais Humano e Instrumental. O Capital Humano é definido no Sistema de Capitais como o agrupamento das capacidades dos seres humanos que permitem gerar valor para melhorar o desempenho da entidade. Já o Capital Instrumental é o responsável pela potencialização da capacidade geradora dos outros capitais, pois dele dependem as relações e os tipos de intercâmbio entre os demais elementos do sistema.

No caso da atuação dos Observatórios de Turismo, tema central desse estudo, uma análise preliminar baseada no Sistema de Capitais indica que eles

parecem possuir relação principalmente com os capitais de Identidade, de Inteligência, Relacional e Instrumental dos destinos turísticos e que, destes capitais, o Capital de Inteligência seria o mais associado a sua atuação na medida em que os observatórios podem se apresentrem como importantes mediadores da percepção ambiental efetivada pelos atores dos destinos.

Nesse sentido, o Capital de Inteligência passa a ser discutido com uma maior profundidade a seguir, pois ao se considerarem os destinos como sistemas territoriais, é aberta a possibilidade de aplicação a eles das técnicas de Inteligência Territorial. Antes disso, porém, cabe ressaltar, consoante com a perspectiva sistêmica de abordagem do Sistema de Capitais, que isto ocorre no nível de análise social, pois em nível organizacional dos observatórios, eles devem apresentar um equilíbrio de capitais para poderem cumprir melhor o seu apoio à gestão dos destinos turísticos.

2.6.1 Capital de Inteligência

No Sistema de Capitais o Capital de Inteligência integra o Metacapital Referencial (CARRILLO, 2014), como pode ser observado na Figura 4.

Figura 4 – Modelo do Capital de Inteligência

Este metacapital pode ser definido como “o conjunto de capitais que tem a função da definição de valor e a identificação de objetos valiosos, bem como de geração de estratégias e formas para maximizar este valor” (OLAVARRIETA; RODRIGUEZ, 2014). O Capital de Inteligência integra o Metacapital Referencial pois ele estabelece referenciais sobre o que acontece fora da entidade enquanto indíviduo, organização ou comunidade.

Conforme Olavarrieta e Rodriguez (2014) comentam, o Capital de Inteligência possibilita a identificação de elementos considerados significativos para o sistema durante suas operações de captação de informações do ambiente externo e de mediação da interação da entidade com outros atores. Dessa maneira ele cumpre a função de identificação de valor baseada nas definições estabelecidas pelo Capital de Identidade. A Figura 5 apresenta essas interrelações.

Figura 5 – Interrelações do Metacapital Referencial

Fonte: Olavarrieta e Rodriguez (2014), tradução nossa.

De acordo com Olavarrieta e Carrillo (2014), o conceito de inteligência tem sido abordado com pontos de vistas variados; em diferentes disciplinas e com enfoques cognitivos e associados à coleta de informações. Para os pesquisadores a palavra inteligência se relaciona etimologicamente com a capacidade de escolher a melhor opção, tendo por sinônimos usuais as ideias associadas à capacidade de compreender; à capacidade de resolver problemas; ao conhecimento ou compreensão; à habilidade, destreza ou experiência.

Ainda conforme Olavarrieta e Carrillo (2014), o Capital de Inteligência do Sistema de Capitais representa a identificação e o equilibrio dos outros elementos de valor que possibilitam identificar a forma como a inteligência humana pode ser aplicada para desenvolver inteligência organizacional e social em um enfoque

sistêmico que considera como premissa que as organizações são redes de indivíduos e que as sociedades são redes de organizações e de indivíduos. Por isso, segundo os pesquisadores, o Capital de Inteligência seria a integração de enfoques multidisciplinares nesses três domínios sociais (OLAVARRIETA; CARRILLO, 2014).

Olavarrieta e Carrillo (2014) consideram o Capital de Inteligência como um modelo integrador de inteligências individuais, organizacionais e sociais que podem contribuir para a concepção de coletividades inteligentes, ou seja, de redes de indivíduos que podem se identificar na coletividade e atuar de forma inteligente como uma unidade ou, ainda, de redes de coletividades que podem se identificar em nível social e atuar unitariamente com inteligência. Esses autores afirmam ainda, respaldados na Teoria Triárquica de Sternberg, que a inteligência é contextual, ou seja, que ela exige do individuo a contextualização do conhecimento para além do uso de um conjunto de capacidades cognitivas (OLAVARRIETA; CARRILLO, 2014).

Essa perspectiva de compreensão do Capital de Inteligência envolvendo a integração de inteligências por meio de uma ação coordenada de indivíduos e organizações associada a uma dimensão contextual específica se mostra promissora quando é considerada como uma abordagem passível de ser empregada na análise de situações de inteligências territoriais e turísticas, as quais são discutidas com maior profundidade no tópico seguinte.