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2.9 AS ESTRUTURAS DE OBSERVAÇÃO: OS OBSERVATÓRIOS

2.9.1 Origens do termo Observatório

De acordo com Capobianco et al. (2013) em sua retrospectiva sobre o termo Observatório, essa palavra indica um lugar ou posição para se fazerem observações, ou seja, ela é associada a ideia de um mirante. Para os pesquisadores, isso tem origem na expressão latina observatio cujo significado remete ao poder da observação. Ela também estaria ligada à noção filosófica de observação, que implica,

31 O uso do termo observatório se refere de agora em diante as estruturas/dispositivos de observação

com natureza territorial e social, mesmo que voltados para uma temática ou setor específico, como por exemplo, os Observatórios de Turismo. Se faz esta ressalva para destacar que é esse tipo de Observatório que se aborda, diferentemente dos Observatórios Astronômicos que não são contemplados neste estudo.

desde Aristóteles, na ideia de controle e de direção. Isso decorreria do próprio termo grego para observação que significa vigiar32, uma ação que deve ser feita atentamente e com vistas a certos fins.

Em sua análise Capobianco et al. (2013) comentam que o termo observatio foi pouco utilizado na Idade Média e no Renascimento e que a palavra observação se tornou mais evidente nos textos a partir do século XVI. Eles registram ainda que essa palavra teve uma mudança em seu significado, passando da ideia de observância (no sentido de seguir a lei) para uma palavra reconhecida como uma categoria epistemológica citada por acadêmicos europeus a partir do século XVII. Os pesquisadores também informam que os dicionários vinculam os observatórios à compreensão de um laboratório que realiza observações e ponderam que apesar de eles serem associados em muitos países quase que exclusivamente às observações astronômicas, em outros países eles teriam focos de observação diferentes, mas sempre com o sentido latino de observar, de monitorar e de centrar a atenção (CAPOBIANCO et al., 2013).

Durante a revisão da literatura não foram identificadas publicações que abordassem de maneira definitiva e detalhada como ocorreu a evolução histórica do termo “observatório”, sua disseminação como prática internacional e suas diferentes compreensões33 nos contextos geográficos em que foram implantados. Apesar disso, porém, e mesmo perante uma ampla diversidade de focos de observação e de abordagens, esses observatórios podem ser compreendidos segundo Da Silva et al. (2013) como observatórios de informação34 e de conhecimento pois eles têm como característica em comum o fato de que seus processos objetivam transformar informação no produto conhecimento.

Como já foi referido, a França é o país onde atualmente se identifica a maior

32 Lembra-se aqui que o Rapport Martre destaca o uso corrente na França da expressão francesa

veille (vigília) com um propósito de observação relacionada a inteligência. Este talvez possa ser um dos motivos pelo qual se identificam mais facilmente naquele país estruturas/dispositivos de observação variadas que adotem o termo Observatório.

33 Situação que dificultou bastante a identificação dos observatórios em nível internacional, pois em

alguns países o significado desse termo era diferente e expressava outra coisa. Por isso, a partir da execução da pesquisa qualitativa foi necessário incorporar a pesquisa outros elementos que tinham as mesmas características, mas que eram denominados, por exemplo, como Sistema de Informações ou ainda Sistemas de Inteligência. Essas questões serão abordadas com maiores detalhes no

capítulo referente a metodologia.

34 Aqui foi mantido conforme os autores tratam dos observatórios, mas de acordo com outros

referenciais aqui já apresentados, esse processo começa com a captura de dados e não com as informações, as quais seriam dados que já possuíram uma agregação de valor semântico (PEÑA, 2013).

presença de observatórios. É ali também que uma maior quantidade de publicações sobre o assunto esta disponível. Entretanto, mesmo nesse país, são poucas as menções à origem do uso do termo “observatório” com orientação social ou territorial. Segundo Bardet (1998) esse termo apareceu pela primeira vez com este sentido na França no ano de 1964 em um texto do órgão francês DATAR35. Já Chebroux (2015) víncula ele a uma estrutura implantada naquele país ao final dadécada de 1960.

Apesar da relevância da França nesse campo e mesmo frente as poucas evidências de observatórios operando com essa nomenclatura atualmente, foi nos Estados Unidos que se identificaram as primeiras menções ao uso desse termo com sentido próximo de uma orientação territorial e social. Esse fato remonta ao ano de 1962 e está vinculado ao Programa de Observatórios Urbanos desenvolvido entre 1969 e 1974 (MURPHY, 1971; BARNES, 1974; DINER, 2017).

A literatura não apresenta informações sobre a possibilidade do termo “observatório” ter sido transposto dos Estados Unidos para a França, mas um conjunto de fatos ocorridos ao longo da década de 1960 aponta para essa possibilidade. Entre esses elementos estão a influência do movimento de indicadores sociais americano e de outros países sobre a administração governamental francesa (CHEBROUX, 2015); a criação da DATAR e sua atuação como incentivadora do estabelecimento dos primeiros observatórios franceses; a proximidade entre o conceito central de metrópoles de equilíbrio adotado pela DATAR (BARDET, 1998) e o objeto do programa americano de desenvolvimento urbano, com ênfase em metrópoles. De qualquer maneira, como as situações dos dois países se mostram relevantes para a compreensão dos observatórios na atualidade, elas são descritas a seguir, iniciando com o Programa Norte-americano de Observatórios Urbanos.