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Segundo De Masi (2014), o conhecimento é fruto da capacidade cognitiva humana e, por isso, cada ser humano representa uma fonte única para sua criação. Por isso, a consideração da existência de múltiplas realidades pessoais no mundo permite vislumbrar um amplo potencial para a geração de novos conhecimentos, originados do encontro de formas distintas de percepção da realidade (DE MASI, 2014.)

O conhecimento é um recurso infinito, simultaneamente produzido e consumido, cuja concepção e produção são interconectadas e inseparáveis e que tem o seu valor criado durante a recategorização que surge de novos tipos e combinações de conhecimentos (NONAKA; TOYAMA; HIRATA, 2011).

Isso faz com que o conhecimento produzido por um indivíduo tenha caráter único, pois na base do processo de criação do conhecimento está o encontro entre pontos de vistas diferentes (NONAKA; TOYAMA; HIRATA, 2011). Deste fato se depreende que as subjetividades e os contextos que envolvem os seres humanos são elementos fundamentais desse processo, pois esses pesquisadores afirmam a verdade varia de acordo com quem somos e a partir de que ponto enxergamos.

A capacidade de avaliar o seu entorno, de ressignificá-lo e de desenvolver novos conhecimentos a partir dele é uma característica inerentemente humana. Como diz Eco (1994, p. 135) “considera-se anthropos (homem) uma corruptela de um sintagma mais antigo que significava aquele que é capaz de reconsiderar o que viu”. Nesse sentido, as experiências individuais dos seres humanos e, portanto, as suas reconsiderações se mostram como fontes únicas para a criação do conhecimento.

Como defendido por Nonaka, Toyama e Hirata (2011), o conhecimento é criado socialmente na síntese de diferentes visões, sustentadas por várias pessoas. Ele surge da subjetividade humana como uma justificação pessoal de uma crença que explica uma determinada realidade, processo que foi denominado por Polanyi (1966) como o conhecimento tácito. Para esse estudioso, cada um tem uma crença interna e

o conhecimento emerge quando essa crença se torna consciente por meio da ligação dela com aspectos particulares da realidade.

A crença individual parece ter um papel extremamente importante no processo de integração entre as subjetividades individuais e as informações dos contextos em que o indivíduo está envolvido durante a criação do conhecimento. Como afirma De Masi (2014), o nosso relacionamento perceptual com o mundo funciona porque confiamos em histórias anteriores, ou seja, nos amparamos numa memória pessoal e coletiva para entendermos o mundo à nossa volta. Disso se pode concluir que a criação do conhecimento está associada em grande parte às crenças sustentadas por memórias pessoais e coletivas e que, por isso, outros elementos, além da contribuição pessoal baseada nas subjetividades também são importantes para a geração de novos conhecimentos (DE MASI, 2014).

Entre os elementos que possibilitam a criação do conhecimento está a interação humana e os contextos que a favorecem. Considerada a fonte da criação do conhecimento por Nonaka, Toyama e Hirata (2011), a interação humana apresenta perspectivas múltiplas que permitem que alguém seja capaz de enxergar aspectos diversos de um fenômeno em contextos diferentes, os quais observados em conjunto conduzem a uma compreensão da essência ou da verdade de todo o fenômeno, dentro de cada um (NONAKA; TOYAMA; HIRATA, 2011).

Para explicar esse processo de criação do conhecimento, Nonaka e Takeuchi (1997) propuseram o Modelo SECI, no qual o conhecimento surge por meio de um fluxo que inicia no compartilhamento de informações e de experiências entre os indivíduos e prossegue até que novos conhecimentos sejam gerados nas interações entre indivíduos, nos grupos e entre grupos. A Figura 3 apresenta esse modelo, conhecido também como a espiral do conhecimento. Como pode ser visto na figura, o ciclo envolve quatro fases: a socialização, a externalização, a combinação e a internalização.

Figura 3 – Modelo SECI de Criação do Conhecimento

Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997).

Segundo o Modelo SECI, o conhecimento se origina na interação entre as subjetividades humanas dos indivíduos durante a fase de socialização. Depois disso, o processo avança para a fase da externalização, momento no qual é criado um consenso sobre determinado aspecto da realidade por um grupo de indíviduos que faz uso de linguagem simbólica. Na fase seguinte, da combinação, ocorre a interação entre grupos que permite o desenvolvimento de novos conhecimentos e que, além da linguagem simbólica, conta com a sistematização dos conhecimentos em ordens ou categorias. Por fim, esse novo conhecimento é internalizado pelos indivíduos, pelos grupos e organizações durante a fase de internalização, a qual será base para o começo de um novo ciclo de criação do conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

O modelo SECI explica a criação do conhecimento na sociedade, articulando os níveis individual, grupal e organizacional (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Esse fluxo sequencial de interações faz com que, a cada ciclo, novos conhecimentos sejam criados e incorporados pelos indivíduos, possibilitando assim o surgimento de novos

Esse processo é potencializado em tempos como os atuais em que as novas tecnologias ampliam a capacidade de registro, de acesso e de compartilhamento de informações ao redor do mundo por meio de redes de interação virtual que instantaneamente alcançam bilhões de pessoas e aceleram a produção de novos conhecimentos (DE MASI, 2014).

A alta conectividade viabilizada pela evolução dos meios de transportes e de comunicação tem propiciado que bilhões de pessoas tenham contato com realidades de outras partes do mundo e, diante disso, elas tenham condições de refletir sobre seus próprios contextos com base em novas perspectivas (DE MASI, 2014). Dessa reflexão comparativa, surgem novos insights que lideram o processo de criação de conhecimentos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Esse espaço físico (ou virtual) de interação e que serve de contexto para a criação do conhecimento foi chamado por Nonaka, Toyama e Hirata (2011) de Ba. Para eles, quando os contextos são compartilhados no movimento que há dentro de um Ba, os participantes não enxergam a partir de um ponto de vista autocentrado, mas reposicionam a si mesmos em termos do seu relacionamento com os outros (NONAKA; TOYAMA; HIRATA, 2011). Nesse caso, a tecnologia atual abre a possibilidade para a constituição de diversos Ba´s que podem integrar diferentes contextos que serão contrastados e reconsiderados (na acepção da afirmação de Eco) e sobre os quais os indivíduos desenvolverão novos conhecimentos.

2.5 GESTÃO DO CONHECIMENTO (GC) E DESENVOLVIMENTO BASEADO EM