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4.2 RESULTADOS DA PESQUISA QUALITATIVA

4.2.2 Resultado das entrevistas e da aplicação de questionários

4.2.2.2 Portugal

Em Portugal, foram localizados sete observatórios de turismo territoriais de escala subnacional ativos e um observatório em fase de projeto para implantação96. O Quadro 18 apresenta a distribuição deles por escala de vinculação.

Quadro 18 – Observatórios de Turismo Portugueses ESCALA

ADMINISTRATIVA SEM

CORRÊSPONDÊNCIA ADMINISTRATIVA

TOTAL 1º Nível 2º Nível 3º Nível

ATIVOS 3 1 2 1 7

Fonte: Elaboração do autor (2018).

95 Nesta unidade atuam 2 profissionais em tempo integral e um terceiro de forma parcial. Em relação aos colaboradores com dedicação integral, o primeiro foi o responsável pela criação, em 1992, do Observatório de Turismo. Já a segunda colaboradora integral possui 15 anos de atuação na unidade.

No que diz respeito aos observatórios de turismo portugueses, foi constatada uma vinculação principal às escalas político-administrativas nacionais, porém sem um modelo padrão de observatório. Em razão disso são encontrados no país observatórios criados pelo setor público, por associações privadas sem fins lucrativos, por universidades e por meio de parcerias governo-empresa-universidade.

Neste país foram realizadas entrevistas com os Observatórios de Turismo do Alentejo (Subnacional 1º Nivel) e do Observatório do Turismo de Lisboa (Subnacional 2º Nível); além de coletados dados por meio de e-mail com o Observatório do Turismo de Melgaço (Subnacional 3º Nìvel) e o Observatório de Turismo da Serra da Estrela (Destino sem correspondência administrativa-territorial).

O Observatório de Turismo do Alentejo foi criado em maio de 2010 e operou até outubro de 2013 quando encerrou o projeto que financiou suas atividades com origem em fundos comunitários europeus. Ele retomou suas atividades sob uma nova configuração em maio de 2017 visando sua integração à Rede de Observatórios da Organização Mundial do Turismo.

A inclusão do Observatório do Turismo do Alentejo na pesquisa ocorreu por conta das particularidades do seu modelo de organização, o qual foi certamente um dos mais complexos implantado em Portugal até o momento. Isso se deve ao fato de que sua constituição envolveu uma ampla rede de cooperação com participação de organizações públicas (Escritório de Turismo do Alentejo), associações empresariais de diferentes municípios e instituições de ensino superior (Institutos Politécnicos de Portalegre e Beja, Universidade de Évora).

Todas as atividades do observatório foram desenvolvidas de forma consorciada, sendo cada um dos parceiros responsável por determinados projetos e atividades. Mesmo tendo operado por um curto espaço de tempo, o Observatório do Turismo do Alentejo conseguiu desenvolver diversos produtos diversos, se destacando aqui a realização de um estudo piloto visando a execução de uma Conta Satélite do Turismo de nível regional97.

Para compreender melhor como o Observatório de Turismo do Alentejo funcionou, foi realizada uma entrevista com a senhora Ana Seixas Palma que atuou

97 Publicado com o título “Quadro Metodológico para a Elaboração da Conta Satélite do Turismo para

na coordenação do observatório desde o seu inicio. Durante a entrevista, realizada na sede do Turismo do Alentejo, em 3 de maio de 2017, foi verificado que um dos motivos para a criação do observatório foi a ausência de dados sobre o setor, especialmente em segmentos importantes para o turismo do Alentejo, como o turismo rural.

A entrevistada explicou também que os recursos para desenvolvimento das atividades foram provenientes do Fundo de Desenvolvimento Regional da União Européia (FEDER) e que o modelo de observatório foi concebido com o apoio de consultores externos provenientes da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE). A implantação do observatório foi estabelecida sobre a atuação de uma ampla rede de cooperação que envolviam os atores regionais públicos, acadêmicos e de representação empresarial. Além disso, o observatório teve também o acompanhamento de especialistas provenientes de várias instituições do país que constituíram uma espécie de conselho consultivo do observatório.

Ao comentar sobre o processo de concepção do observatório, a entrevistada destacou uma missão realizada com os atores regionais na região da Toscana na Itália. De acordo com ela, naquele momento foi possível conhecer os Observatórios de Turismo de Destinos que estavam sendo implantados como projeto experimental da rede NECSTOUR, bem como se constatou uma ênfase na promoção territorial integrada e não somente turistica. Outro fator mencionado pela entrevistada que influenciou na forma de organização e operação do observatório foi a participação em eventos relacionados ao tema, a partir dos quais algumas ideias foram sendo identificadas e adaptadas para incorporação ao observatório.

Em relação as mudanças previstas para a sua retomada em 201798, a Sra. Palma informou que nesta nova configuração o observatório contaria com uma equipe fixa, tendo pessoas dedicadas exclusivamente para as suas atividades. Desta maneira, a expectativa era superar algumas dificuldades ocorridas durante a operação entre 2010 e 2013. Outra mudança prevista era a alteração do foco de observação, pois agora alguns dos dados que anteriormente não estavam disponíveis e haviam motivado a criação do observatório já eram disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Com isso, o observatório continuaria evoluindo em direção a

98 Nesta retomada ocorrida no inicio de Junho de 2017 o observatório foi constituido por meio de uma

cooperação entre a Turismo de Portugal, a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, a Universidade de Évora, o Instituto Politécnico de Portalegre e o Instituto Politécnico de Santarém. Com isso sua nomenclatura também mudou para Observatório de Turismo Sustentável do Alentejo, com ele passando a integrar a Rede da Organização Mundial do Turismo (UNWTO-INSTO).

questões relacionadas a sustentabilidade, processo que havia iniciado anteriormente. Por fim, a entrevistada mencionou inexistir comunicação com outras estruturas ou dispositivos de observação ou de inteligência territorial daquele destino.

Além dos dados sobre o Observatório do Turismo do Alentejo obtidos com a Sra. Palma, alguns outros foram obtidos previamente com a pesquisadora Eva Maria Marques Milheiro, da área de Turismo do Instituto Politécnico de Portalegre, durante entrevista realizada no dia 2 de maio de 2017. Na ocasião, a pesquisadora Milheiros, que participou das ações do observatório e possui publicações sobre esta experiência, esclareu aspectos sobre aquele observatório e outros que operavam em Portugal.

Sobre o Observatório de Turismo do Alentejo, além dos aspectos mencionados pela Sra. Palma, a pesquisadora relatou as dificuldades existentes para a obtenção de dados junto ao empresariado do turismo em função do seu perfil, composto principalmente por pequenas empresas que recebiam a solicitação de dados com desconfiança e que nem sempre os tinham pelo fato da gestão não ser profissionalizada e nem contar com o suporte tecnológico de softwares como o Excel. Além disso, ela relatou que as parcerias e as metodologias implantadas pelo observatório funcionaram bem, mas que a questão crucial foi o financiamento. Sobre o papel do observatório em relação ao destino, destacou que ele produzia informação para a tomada de decisão pelos atores por meio da execução de estudos.

Em relação a retomada do observatório, ela comentou que a vinculação a Rede UNWTO-INSTO poderia ser uma ação importante, pois daria maior visibilidade ao observatório e melhoraria a sua condição para pleitear recursos financeiros. Ela também entendia como importante que nessa retomada fossem realizados estudos sobre a percepção da comunidade sobre o turismo. No que diz respeito aos observatórios portugueses como um todo, a pesquisadora comentou não haver um padrão de organização. Também disse que entendia que eles somente teriam sucesso no futuro se tivessem uma estrutura dedicada, bem como financiamento específico para suas atividades.

Outro observatório parcipante desta etapa da pesquisa foi o Observatório de Turismo de Lisboa, o primeiro estabelecido naquele país. Criado em 1999, ele foi definido pelo seu coordenador99,o Economista André Lisboa Barata Moura, como um gabinete de estudos e de estatísticas que tem por objetivo manter a disponibilidade

de dados atualizados sobre o turismo da Grande Lisboa. O observatório é mantido pela Associação Turismo de Lisboa – Visitor & Convention Bureau, associação privada sem fins lucrativos declarada de interesse público em 2004 e que é responsável pela promoção do turismo na capital portuguesa e na região.

O foco da sua produção são estudos mercadológicos (ocupação hoteleira, fluxo de visitantes, perfis de visitantes, destinos concorrentes) com a finalidade de subsidiar as decisões referentes ao marketing e a promoção do destino Lisboa. Outros aspectos importantes citados pelo senhor Moura foram que o observatório contou com o apoio de recursos financeiros da União Européia por volta do ano de 2001 e que ele havia sido criado a partir de uma demanda do empresarial local. Em relação a sua definição, o coordenador o definiu como um gabinete de estudos fornecedor de dados para apoio a tomada de decisão. Neste observatório não foi identificada a atuação em parceria com entidades de ensino superior.

Além das entrevistas realizadas com os observatórios anteriormente citados, foram coletados dados por meio de questionários por e-mail com dois outros observatórios portugueses: o Observatório Turístico de Melgaço e o Observatório de Turismo da Serra da Estrela. Os dados do Observatório Turístico de Melgaço foram fornecidos pela sua coordenadora, a senhora Diana de Fátima Fernandes Silva100, Mestre em Sociologia e que atua junto dele desde seu inicio.

De acordo com a senhora Silva, este observatório de escala territorial subnacional de 3º nível foi criado ao final de 2011 pela Câmara Municipal daquele município com o apoio da Universidade do Minho e do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Mantido e operado atualmente pela administração local, produz informações estatísticas sobre os serviços de apoio ao turismo, hospedagem, alimentação e entretenimento por meio de coletas on line abrangendo o Concelho101 de Melgaço. Sendo o único observatório constituído formalmente neste território, conta com o apoio de empresários locais que lhe fornecem dados, assim como brindes para serem sorteados aos visitantes que participam das suas pesquisas.

De acordo com ela, o Observatório Turístico de Melgaço pode ser definido como um sistema completo composto por recursos humanos, técnicos e tecnológicos interdisciplinares o qual procura desenvolver e aplicar metodologias de busca de

100 Dados recebidos por email entre os dias 20 e 21 de junho de 2017.

101 Faz referência a unidade administrativa territorial portuguesa, sobre a qual se manteve a grafia

informações com o objetivo de elaborar estatísticas sobre variáveis do setor. Também procura agregar informação capaz de fundamentar a otimização de recursos e contribuir decisivamente para uma gestão consolidada e informada do setor.

A coordenadora ressaltou ainda que ele foi criado para combater a ausência de informações estatísticas que existia anteriormente e que um aspecto evolutivo importante na sua trajetória foi a migração das pesquisas de suporte baseado em papel para uma plataforma on line que lhe permite um maior rigor e dados mais fidedignos. Por fim ela caracteriza o observatório com as seguintes ideias: dados estatísticos, rigor, objetivos, decisões informadas, transparência.

Em relação a observação de destinos não vinculados as escalas da administração político-administrativa daquele país o único caso constatado foi o do Observatório de Turismo da Serra da Estrela (OTSE). Estabelecido em novembro de 2011 por docentes do Instituto Politécnico de Guarda (IPG), o OTSE tem por objetivo disponibilizar uma ferramenta de acompanhamento da evolução turística no território de abrangência do Maciço Central da Serra da Estrela, em um total de 9 Concelhos (Belmonte, Celorico da Beira, Covilhã, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Oliveira do Hospital e Seia). O OTSE teve uma operação mais intensa no inicio do seu funcionamento, mas reduziu suas atividades nos últimos anos pois sofreu restrições orçamentárias em função das limitações financeiras para aplicação no projeto por parte do IPG.

Os dados sobre o OTSE foram informados102 pelo seu coordenador, Dr. em Ciências Matemáticas José Alexandre dos Santos Vaz Martins, o qual atua nele desde seu inicio e desempenha a função de coordenador desde janeiro de 2016. Segundo o Dr. Martins, o OTSE pretende ser parte do processo de observação do turismo na Serra da Estrela como uma instituição que visa a coleta de informação turística para posterior divulgação, tratamento e análise com o propósito de produzir informações, conhecimento e sugestões para a gestão do destino turístico.

Atualmente o OTSE tem um coordenador e responsáveis por vários projetos por meio dos quais busca cumprir sua missão. Em 2017, havia 9 responsáveis e 10 colaboradores atuando em projetos associados ao OTSE. No que diz respeito às relações do OTSE com outros atores, o Dr. Martins citou Câmaras Municipais, instituições locais e empresas da área de turismo da região. Entre as principais

atividades desenvolvidas em parceria, ele destacou a colaboração efetiva com a Associação para a Candidatura da Região OTSE a Geoparque Estrela da UNESCO e à Carta Turística dessa região que tiveram suas origens no âmbito do Observatório.

No que diz respeito a percepção de etapas distintas na trajetória histórica do observatório, o Dr. Martins, destacou uma primeira fase de definição da área de atuação, criação e constituição formal; uma segunda fase de afirmação, divulgação e consolidação por meio dos primeiros estudos e uma terceira fase de ampliação na quantidade de participantes e na variedade de estudos, trabalhos e projetos. Ao definir o observatório em cinco ideias, o Dr. Martins, citou as seguintes: coleta de dados, divulgação, turismo, planejamento e desenvolvimento.

Em relação ao papel exercido pelo Observatório na gestão do destino, o coordenador informou que a a ideia é ir contribuindo para um melhor conhecimento do turismo naquela região, continuando a dar suporte no conhecimento indispensável à tomada de decisões institucionais e empresariais para melhorar a competitividade do tecido produtivo e a gestão do destino de forma holística, em um setor que tem um efeito multiplicador na economia como nenhum outro, devido aos seus efeitos positivos indiretos e induzidos na base econômica.

Em relação aos observatórios de turismo, o Dr. Martins, comentou que eles têm um papel importante a desempenhar desde que não sejam instrumentalizados e que nesse sentido a participação da academia agrega valor e garante maior rigor. Ele também registrou que os observatórios existentes são muito localizados, regionais, e cada um tem especificidades muito próprias.

Em relação ao futuro do observatório e dos demais observatórios do país, o Dr. Martins afirmou que parece haver uma tendência em Portugal para a criação de estruturas mais abrangentes baseadas em grandes regiões, o que poderá resultar em situações de sobreposição. Desta forma ele ressaltou que deverá se pensar na criação de uma rede que permita complementaridade, a fim de propiciar um crescimento harmonioso dos observatórios de turismo. Além disso, ressaltou que com a maior extensão e complexidade das atividades poderá ser necessário repensar o papel do observatório de acordo com a disponibilidade dos recursos disponíveis para investimento.

Além dos observatórios aqui citados, foram identificados outros três observatórios em Portugal. O Observatório de Turismo dos Açores, constituído em 2006 como uma associação privada de interesse público com participação da

Universidade dos Açores, do governo da Região Autônoma dos Açores e das associações empresariais locais; o Observatório de Turismo da Madeira, constituído em 2011 pela Universidade da Madeira como um projeto de pesquisa voltado ao monitoramento das condições da oferta e da demanda turística da Ilha da Madeira e o Observatório do Turismo do Concelho de Maia, município do Distrito do Porto, o qual segundo seu site é um centro especializado em estudos dedicado a monitorar os resultados das operações do turismo no Concelho103.

Considerados os dados coletados nesta etapa qualitativa, os observatórios de turismo portugueses apresentam em linhas gerais as seguintes características:

a) diversidade nas formas de constituição e operação;

b) participação de instituições de ensino superior na maioria dos observatórios de turismo com diferentes configurações: única responsável por sua criação, manutenção e operação; líder ou apoiadora de observatórios constituídos em cooperação com atores;

c) participação ativa da iniciativa privada na manutenção e operação dos observatórios por meio de entidades empresariais;

d) observação voltada quase que exclusivamente para aspectos mercadológicos/promocionais e de mensuração de impactos econômicos e de geração de empregos;

e) na maioria dos casos associação dos observatórios à imagem de um departamento/instituição responsável por dados estatísticos e que atua como repositório de dados de interesse;

f) inexistência de relações de cooperação entre os observatórios de turismo do país, bem como entre esses observatórios e outros dispositivos de observação territorial nacionais, quando existentes nas localidades.