• Nenhum resultado encontrado

Fatores que influenciam a adesão entre a zircónia e a cerâmica

3- Estudo da caraterização de diferentes tipos de zircónia,

4.1 Introdução 89

4.1.2 Fatores que influenciam a adesão entre a zircónia e a cerâmica

O tipo de zircónia no que respeita à sua composição e técnicas de fabrico e a pigmentação ou não da estrutura são fatores que podem influenciar a resistência adesiva da cerâmica de recobrimento à zircónia (Kler et al., 2007 e Aboushelib, De Jager, Kleverlaan et al., 2012). Para além disso existe um vasto leque de tratamentos propostos na literatura para aumentar a adesão entre os dois materiais estudados, mas que apresentam resultados díspares (Ashkanani, Raigrodski, Flinn et al., 2008; Kim et al., 2011; Mousharraf et al. 2011; Harding et al., 2012; Teng, Wang, Liao et al., 2012; Elsaka, 2013; Nishigori et al., 2014; Yoon, Yeo, Kim et al., 2014). Por outro lado, a técnica de colocação da cerâmica de recobrimento, convencional e por injeção, pode ser também responsável por alterações na adesão entre os dois materiais (Preis et

al., 2013).

4.1.2.1 Influência do tipo de zircónia na adesão da cerâmica de recobrimento

As diferentes zircónias existentes no mercado são constituídas por grãos de tamanhos e formas diferentes e a sua estrutura química pode ser diferente em relação ao seu agente estabilizador (De Kler et al., 2007).

Estudos através de Espectroscopia por energia dispersiva de Raio X (Energy

Dispersive X-ray Spectroscopy / EDS) para identificação da composição

química detectaram em duas zircónias de marcas diferentes [Vita In-Ceram YZ (Vita Zahnfabrik) e IPS e.max ZirCAD (Ivoclar-Vivadent)], composições

consideravelmente diferentes em alguns constituintes. Assim, em relação ao alumínio foi detectado 1,7% para a zircónia da Vita e 0,4% para a zircónia da Ivoclar. Da mesma forma o háfnio apresentava uma percentagem de 0,7% para a zircónia da Vita enquanto a zircónia da Ivoclar tinha 1,8%. Em relação ao ítrio, enquanto a Vita apresenta 4% a Ivoclar tinha apenas 3,4 (Elsaka, 2013). Estas pequenas variações em concentrações de determinados elementos podem ser importantes no comportamento da zircónia durante o processo de fabricação das restaurações de zircónia/cerâmica de recobrimento.

4.1.2.2 Influência da pigmentação da zircónia na adesão da cerâmica de recobrimento

Devido ao facto de a cor branca da zircónia trazer alguns problemas do ponto de vista da estética, houve, logo após a introdução da zircónia no campo da Medicina Dentária, a necessidade de encontrar mecanismos para obter uma cor mais próxima à do dente.

A coloração da zircónia pode ser conseguida de três formas: adicionando pequenas concentrações de óxidos metálicos ao pó de zircónia antes da transformação em blocos, imersão das estruturas nos líquidos de pigmentação antes da sinterização e a aplicação de liners após a estrutura estar sinterizada

(Aboushelib et al., 2005, Denry et al., 2008).

Inicialmente foi através de liners (cerâmicas feldspáticas altamente cromáticas) e com espessuras maiores da cerâmica de recobrimento que se conseguiu mascarar o branco da zircónia mas com a grande desvantagem da necessidade de grandes desgastes dentários de modo a compensar a necessidade do aumento da espessura da cerâmica de recobrimento (Aboushelib, 2006).

Os estudos de adesão à cerâmica após aplicação de liners não são consensuais. Com efeito, enquanto alguns estudos referem que a zircónia com

zircónia sem liner, outros estudos mostram uma diminuição significativa da adesão da cerâmica de recobrimento após aplicação do liner (Aboushelib, 2006, Fisher, 2010 e Kim et al., 2011).

Uma vez que a aplicação do liner sobre a zircónia parece poder diminuir a adesão da cerâmica de recobrimento, têm vindo a ser consideradas novas técnicas para ocultar a cor branca da zircónia (Sedda et al., 2015). Assim, com o intuito de melhorar a adesão da cerâmica e recobrimento, têm sido preconizadas técnicas de pigmentação da zircónia que dispensa a aplicação do

liner e aumenta o espaço para a cerâmica de recobrimento (Sedda et al.,

2015). No entanto, a influência da pigmentação na adesão zircónia/cerâmica de recobrimento não é bem conhecida, havendo poucos estudos neste âmbito. A imersão das estruturas de zircónia em soluções de sais de metal tais como cério, bismuto, ferro ou a combinação destes metais é realizada antes da sinterização de forma a que a zircónia ganhe a cor pretendida. Esta coloração antes da sinterização pode ser influenciada pela concentração da solução e pelo tempo em imersão mas estes fatores não parecem afetar a fase cristalina da zircónia nem as propriedades mecânicas (Shah et al. 2008 e Pittayachawan, 2009).

No entanto, foram encontradas diferenças significativas na resistência à fratura entre a zircónia branca e a colorida quando submetidos a testes de tensão (Aboushelib et al., 2012). Esta diferença é justificada pela presença dos pigmentos nas ligações entre os grãos de zircónia não permitindo a transformação de endurecimento e, consequentemente, possibilitando a progressão das fissuras.

O facto de os óxidos metálicos utilizados na pigmentação da estrutura, principalmente o óxido de ferro, terem temperaturas de fusão muito mais baixas do que os elementos estabilizadores da zircónia, ítrio e háfnio, pode contribuir para uma competição entre os óxidos metálicos e os elementos estabilizadores durante a sinterização da zircónia (Aboushelib, 2008 b).

Para além disso, a pigmentação da zircónia pode ter algumas desvantagens. Primeiro, porque cada marca tem a sua solução com diferentes tipos e proporções de pigmentos (Aboushelib, 2008b). Segundo, porque a porosidade existente nos blocos de zircónia pré-sinterizada pode ser diferente e, sendo assim, a pigmentação afeta a cor da estrutura de forma diferente. Terceiro, porque a solução de pigmentação tem um prazo de validade relativamente curto e, finalmente, porque a pigmentação é um processo difícil e de pouca precisão (Kaya, 2012).

Em ambos os casos de pigmentação da zircónia, quer antes ou depois dos blocos pré-sinterizados serem fabricados, a microdureza e a densidade aumentam após pigmentação. Tal facto parece compreensível uma vez que os óxidos metálicos irão ocupar os poros existentes na zircónia pré-sinterizada (Kaya, 2012). No entanto, essa microdureza e densidade não são alteradas quando a pigmentação é realizada nas estruturas após a sinterização da zircónia. Já no que diz respeito à resistência à flexão, não parece haver diferenças entre a zircónia branca e a zircónia pigmentada (Pittayachawan, 2007).

Existem estudos que não revelaram diferenças no valor da adesão da cerâmica de recobrimento à zircónia quando comparadas estruturas pigmentadas e não pigmentadas (Mousharraf et al., 2011), mas existem outros estudos em que a adesão da cerâmica de recobrimento à zircónia branca é superior à adesão com a cerâmica pigmentada (Aboushelib et al., 2008b).

A infiltração do pigmento na estrutura de zircónia resulta em alterações estruturais que podem requerer diferentes tratamentos de superfície antes da colocação da cerâmica de recobrimento (Aboushelib et al., 2007a). A concentração da solução para pigmentação influencia a cor final da zircónia sendo que concentrações tão baixas como 0,01 mol% são suficientes para alterar a cor e, assim, torna-se importante seguir as instruções do fabricante (Denry et al., 2008).

A cor final depende muito do tipo de óxido utilizado, da sua concentração e do lote do pigmento preparado e, assim, a utilização de zircónia pigmentada com óxidos metálicos nos blocos antes da fresagem proporciona uma cor mais

precisa do que a imersão das estruturas já fresadas no banho de óxido de metal (Denry et al., 2008; Kaya, 2012).

4.1.2.3 Influência do tratamento de superfície na adesão da cerâmica de recobrimento

A maioria dos fabricantes de blocos de zircónia para aplicação na área da Medicina Dentária não recomenda (mas também não contraindica) tratamentos de superfície com broca de diamante ou jateamento com óxido de alumínio. Tais procedimentos poderiam conduzir à transformação da fase da zircónia de tetragonal para monoclínica e a formação de falhas que podem pôr em causa o desempenho do material a longo prazo (Denry et al., 2008). No entanto, quase todos os fabricantes propõem um ciclo de tratamento térmico após o condicionamento da superfície e antes da aplicação da cerâmica de revestimento, com o objetivo de reverter essa transformação de fase. Para conseguir uma melhor adesão entre a zircónia e a cerâmica de recobrimento, existem vários estudos que propõem diferentes tratamentos de superfície, tais como: jateamento com óxido de alumínio; desgaste com broca de diamante; diferentes tipos de ácidos; e raios laser.

Estes tipos de tratamentos, por poderem aumentar a energia de superfície, criar irregularidade e aumentar a área de superfície da zircónia, poderão contribuir para o aumento da força de adesão da cerâmica de recobrimento às estruturas de zircónia.

A maioria dos estudos disponíveis, tem como objeto o estudo da resistência adesiva de cimentos/compósitos à zircónia e não o estudo da resistência adesiva entre a cerâmica de recobrimento e a infraestrutura de zircónia (Kern, Wegner, 1998; Aboushelib et al., 2007b e 2008a; Oyagüe et al.; 2009, Kim et

al.; 2011, Koizumi et al., 2012; Miyasaki et al., 2013; Saker et al., 2013,

Barragan, Chasqueira, Arantes-Oliveira et al. 2014; Seabra, Arantes-Oliveira, Portugal, 2014) Os estudos realizados com o objectivo de determinar a resistência adesiva da cerâmica de recobrimento à zircónia apresentam

resultados que não são unânimes quanto ao efeito dos tratamentos de superfície na resistência adesiva destes dois materiais. Enquanto alguns estudos apontam para que esse tratamento de superfície aumente a adesão da cerâmica de recobrimento à zircónia, noutros os tratamentos de superfície diminuem ou não alteram os valores de adesão conseguidos sem qualquer tratamento de superfície (Kosmac, 1999, Guazzato 2005, Guess, 2008, Mousharraf 2011).

A adesão da cerâmica de recobrimento à zircónia após alguns tratamentos de superfície também apresenta variações conforme se trata de zircónia pigmentada ou não pigmentada (Mousharraf et al., 2011). No entanto, como hoje a prática laboratorial é praticamente exclusiva com zircónia pigmentada, o estudo deve recair apenas na zircónia pigmentada.