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3- Estudo da caraterização de diferentes tipos de zircónia,

4.1 Introdução 89

4.1.1 Restaurações com zircónia 89

As restaurações sem metal têm tido uma grande aceitação por parte dos clínicos, mas ainda apresentam algumas limitações. A zircónia é um material com reduzida translucidez, o que obriga a que, na maior parte das situações clínicas, a infraestrutura em zircónia tenha de ser revestida por uma cerâmica, com melhores caraterísticas estéticas (Mosharraf et al. 2011 e Liu et al. 2012). Tem sido identificada, porém, uma maior percentagem de falha das

restaurações com infraestrutura em zircónia que a observada nas restaurações metalocerâmicas, fundamentalmente devido a um fenómeno conhecido como delaminação ou chipping.

Este fenómeno de chipping consiste na fratura da cerâmica feldspática de revestimento com exposição ou não da infraestrutura (Komine et al., 2010a). As causas deste fenómeno não são ainda perfeitamente claras mas têm sido apontados diversos fatores que poderão contribuir para o seu aparecimento (Al-Dohan et al. 2004; Aboushelib et al. 2005; Diniz et al., 2014; Nishigori et al., 2014). Entre os principais fatores estão: as diferenças de condutividade térmica da zircónia e da cerâmica de recobrimento que leva a tensões quando do arrefecimento após a queima da cerâmica de recobrimento (Conrad et al., 2007; Swain, 2009; Heintze et al., 2010; Tholey et al., 2011; Belli, Petschelt e Lohbauer, 2013); as propriedades mecânicas inadequadas da cerâmica de recobrimento (Çomlekoglu, Dündar, Özcan et al., 2008), o inapropriado desenho da infraestrutura de zircónia levando a espessuras muito díspares da cerâmica de recobrimento (Swain, 2009; Preis, Letsch e Handel, 2013; Ferrari

et al., 2014); as discrepâncias entre os respetivos coeficientes de expansão

térmica (CET) da zircónia e da cerâmica de recobrimento, levando a tensões indesejadas na interface (Swain, 2009; Benetti, 2010; Saito, 2010); o tipo de processo de sinterização da zircónia e defeitos estruturais (Piconi e Maccauro, 1999; Hjerppe, Vallittu e Fröberg, 2009; Scherrer, Cattani-Lorente e Yoon, 2013); os tipos de tratamentos de superfície da zircónia efetuados no laboratório e na clínica (Kosmac et al., 1999; Borges et al., 2003; Cassucci et

al., 2009; Demir, Subasi e Ozturk, 2012; Aboushelib e Wang, 2013; Belli et al.,

2013; Ozcan et al., 2013; Yoon, Yeo, Yi et al., 2014); a termociclagem em ambiente húmido (Guess, 2008; Fisher, Stawarzcyk, Trottmann et al., 2009; Nishigori et al, 2014); os diferentes parâmetros nos ciclos de queima e técnicas de aplicação da cerâmica de recobrimento (Komine et al., 2010b; Choi, Waddell, Swain, 2011b; Ishibe et al., 2011; Stawarczyk, Özcan, Roos et al., 2011; Preis et al., 2013); e o número de ciclos de queima da cerâmica de recobrimento (Queiroz, Benetti e Massi, et al 2012; Tang, Nakamura e Usami, 2012).

Existe na literatura um grande número de estudos longitudinais com pontes de zircónia revestidas com cerâmica de recobrimento que apresentam percentagens de fratura bastante díspares. Os valores percentuais para falhas da cerâmica de recobrimento em pontes de 3 a 5 elementos apresentam valores entre 13% e 25% em follow ups de 2 a 5 anos (Vult von Steyern, Carlson, Nilner, 2005; Raigrosdski, Chiche, Potiket et al., 2006; Sailer, Fehér, Filser et al., 2007; Sailer, Gottnerg, Kanelb et al., 2009; Guess et al., 2008, Molin, Karlsson, 2008; Roediger, Gerdorff, Huels et al., 2010). Contudo, existem também alguns estudos em que a percentagem de falhas na cerâmica de recobrimento são muito inferiores, entre 0% e 5% (Crisp, Cowan, Lambe et

al., 2008; Wolfart, Harder, Eschbach et al., 2009; Ortorp, Kihil, Carlsson, 2009;

Beuer, Edelhoff, Gernet, 2009). As causas para tamanha disparidade entre os resultados destes estudos poderão ser os distintos tipos de zircónia e de cerâmicas de revestimento empregues, bem como as diferentes técnicas de fabrico utilizadas. No entanto, de uma forma geral os valores de falhas obtidas para restaurações zircónia-cerâmicas são muito superiores aos obtidos em restaurações metalo-cerâmicas (Heintze e Rousson, 2010 e Komine et al., 2010a).

Apesar do elevado número de estudos realizados parece ser comum a opinião de que a interface entre a zircónia e a cerâmica de recobrimento é ainda duvidosa quanto à sua natureza (Aboushelib et al., 2005 e 2012; Denry et al., 2008; Fisher et al., 2008; Guess et al., 2008; Choi et al., 2011a; Kim et al., 2011; Mochales et al., 2011; Mousharraf et al., 2011; Harding et al., 2012; Durand et al., 2012; Teng et al., 2012; Elsaka, 2013; Miyazaki et al., 2013; Diniz

et al.; 2014; Monaco et al., 2014; Wang, Zhang, Bian et al., 2014; Yoon et al.,

2014).

Existe um grande risco de formação de tensão destrutiva por parte da cerâmica de recobrimento exigindo uma maior adesão mecânica das cerâmicas de recobrimento às infraestruturas de zircónia (Fisher, Stawarczyk e Hämmerle, 2008). Nas restaurações metalo-cerâmicas essa tensão pode ser reduzida pelas deformações elásticas e plásticas das ligas metálicas (Nieva et al., 2012). Pelo contrário, as estruturas de zircónia são rígidas, o que leva a um aumento

da tensão. Nas restaurações metalo-cerâmicas a força de resistência de adesão segundo a norma internacional ISO 9693:1999 é de 25 MPa, no entanto nunca foi estimado, efetivamente, qual o valor apropriado da resistência que deve existir na adesão da cerâmica de recobrimento à zircónia (Komine et al., 2010a).

Apesar de vários estudos dedicados à tentativa de compreensão deste aspeto (Al-Dohan et al., 2004; Guess et al., 2008; Choi et al., 2011a, 2011b; Mousharraf et al., 2011; Harding et al., 2012; Durand et al., 2012; Teng et al., 2012; Elsaka, 2013; Miyazaki et al., 2013; Diniz et al., 2014; Monaco et al., 2014; Nishigori et al., 2014; Wang et al., 2014 e Yoon et al., 2014) subsiste a necessidade de mais estudos sobre a adesão da cerâmica de recobrimento à zircónia na tentativa de conseguir perceber todos os fatores importantes para o sucesso deste tipo de restaurações. Existe também a necessidade de estudar diferentes técnicas de aplicação da cerâmica de recobrimento à zircónia. Dentre as técnicas recentes de aplicação da cerâmica de recobrimento à zircónia é de realçar a técnica por injeção que Stawarczyk et al. (2011) e Choi

et al. (2011) referem aumentar a adesão entre os dois materiais, devido

principalmente a uma maior homogeneidade da cerâmica, menor interferência do erro humano e menor porosidade na interface. De igual modo, é fundamental estudar a influência de diversos tratamentos de superfície da zircónia, na adesão, de forma a melhorar o sucesso da restauração zircónia- cerâmica.

O aumento da rugosidade, conseguida nas restaurações metalo-cerâmicas com o jateamento com óxido de alumínio das infraestruturas de metal nobre, é um meio de promover uma melhor adesão entre o metal e a cerâmica de recobrimento (Nieva et al., 2012). O condicionamento mecânico da superfície da zircónia contribui para aumentar a área de adesão e simultaneamente criar a possibilidade de um aumento da retenção mecânica, e dessa forma, assegurar uma melhor e mais durável adesão (Aboushelib et al., 2006; Mochales et al., 2011). No entanto, essa extrapolação não é linear pois existe

alguma controvérsia no efeito dos tratamentos de superfície na adesão da cerâmica de recobrimento à zircónia (Miyazaki et al., 2013).

4.1.2 Fatores que influenciam a adesão entre a zircónia e a cerâmica