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Influência das técnicas de aplicação da cerâmica de

3- Estudo da caraterização de diferentes tipos de zircónia,

4.5. Discussão 126

4.5.2 Influência das técnicas de aplicação da cerâmica de

tem qualquer importância comparada com os danos causados pela broca de diamante ou pelo óxido de alumínio na superfície da zircónia.

No estudo de Mousharraf et al. (2011), o desgaste com broca, apesar do aumento de rugosidade, não foi efetivo no aumento da adesão. De facto, nesse estudo, o condicionamento com broca também não conduziu a uma variação dos valores de adesão em comparação ao grupo de controlo. Na mesma linha, no estudo de Guess et al. (2008) o jateamento com óxido de alumínio de 110 µm, à pressão de 2,4 bar, não teve influência na adesão comparativamente ao grupo de controlo. Também num trabalho mais recente realizado por Harding et al. (2012) em que infraestruturas de zircónia foram revestidas com cerâmica de recobrimento aplicada pelo método convencional, os valores de resistência adesiva com ensaios de microtração diminuíram significativamente quando empregue o tratamento da zircónia com óxido de zircónia de 50 µm em comparação ao grupo de controlo sem qualquer tratamento.

4.5.2 Influência das técnicas de aplicação da cerâmica de recobrimento

 

O segundo fator em estudo foi o método de aplicação da cerâmica de recobrimento. Dentro das técnicas disponíveis, optou-se por comparar a técnica convencional de estratificação com a técnica de injeção. A técnica mista não foi incluída neste estudo porque de acordo com esta técnica a interface de união entre a cerâmica de recobrimento e a zircónia obtida com esta técnica é semelhante à obtida com a técnica de injeção (Aboushelib et al., 2008c).

Se na técnica injetada a contração da cerâmica é desprezível, na cerâmica colocada pelo método convencional ela deve ser tida em conta. Com efeito devido à contração da cerâmica colocada pelo método convencional é comum a realização de mais de uma queima. No entanto, no presente estudo, a camada de wash colocada inicialmente funcionou como uma

primeira camada de cerâmica na zona de interface. A contração verificada na camada de wash foi compensada pela posterior aplicação de cerâmica, o que torna a alteração de volume na área de união, desprezível. Em relação à técnica por injeção, o peso e volume das amostras de zircónia eram talvez demasiadamente grandes em relação ao padrão de cera de 3mm de diâmetro. No entanto, principalmente nas restaurações sobre implantes, esses volumes e diâmetros da peça de zircónia são usuais.

A análise dos resultados permitiu verificar que os valores de resistência adesiva foram influenciados pelo método de aplicação da cerâmica de recobrimento. Desta forma, a terceira hipótese nula em estudo pôde ser rejeitada. A utilização da técnica convencional por estratificação permitiu obter valores de resistência mais elevados que os observados com a técnica de injeção.

Na revisão sistemática da literatura de Raigrodski et al. (2012), os estudos apresentados a cerâmica injetada obtiveram sempre melhores resultados que pelo método convencional. Na realidade, na grande maioria dos estudos encontrados na literatura a técnica de injeção da cerâmica de recobrimento permitiu obter valores de resistência adesiva superiores aos obtidos com a técnica convencional de estratificação (Beuer et al. 2009 e Wolfart et al. 2009).

No entanto, resultados diferentes foram encontrados em dois estudos (Stawarczyk et al., 2011; Ishibe et al., 2011). No estudo de Stawarczyk (2011), os valores de adesão obtidos pela técnica injetada foram superiores ao método convencional de colocação de cerâmica.

Nos estudos de Ishibe et al. (2011) e de Harding et al. (2012), em que foi avaliada a resistência adesiva a microtessões de corte, se observou um elevado número falhas prematuras em que a cerâmica de recobrimento se separou da estrutura em zircónia durante o processamento dos espécimes antes dos testes de adesão. No estudo de Ishibe et al. (2011) a falha ocorreu predominantemente no corte do palitos de teste, no de Harding et al. (2012) a falha ocorreu durante a termociclagem. Este facto não foi explicado pelos

autores mas supõem-se dever-se a tensões na interface zircónia/cerâmica de injeção. No nosso estudo este fenómeno não aconteceu nesta fase, talvez por não ter havido nenhum tipo de acondicionamento, mas obtivemos um número muito superior de falhas do tipo adesivo que os autores mencionados. Ainda assim, e apesar de Ishibe não ter tirado conclusões sobre a adesão devido à perda de 50% dos espécimes os valores obtidos com os espécimes que foram ainda submetidos ao teste foi de 47,18 MPa para a cerâmica pelo método convencional utilizando a mesma cerâmica que no nosso estudo (VM 9) de 47,18 MPa enquanto que a cerâmica de injeção também da mesma que utilizámos, (PM9) foi de 21,34 MPa. Isto é, tal como no nosso estudo os valores pela técnica convencional foram superiores à técnica de injeção.

A maioria dos estudos que encontrámos na literatura divide o tipo de falha em adesiva e coesiva não contendo o grupo de falha mista. A omissão deste grupo pode ser responsável pelo número mais elevado de falhas coesivas que são encontradas nesses estudos. De igual forma, o cinzel em meia lua utilizado por nós e uma força mais perto da interface pode distribuir as forças de tal forma que o tipo de falha é mais do tipo adesivo do que coesivo.

De qualquer forma, os estudos indicam que existe um menor chipping da cerâmica de recobrimento pela técnica de injeção devido principalmente a uma maior densidade da cerâmica, ser uma técnica mais controlado no processo de injeção e ao facto de algumas cerâmicas para injeção terem na sua constituição leucite aumentando a resistência adesiva à zircónia (Choi, Waddell e Torr et al., 2011 e Preis, Letsch e Handel et al., 2013).

A cerâmica VM9 que utilizámos para a técnica convencional de estratificação da cerâmica é uma cerâmica que em diversos estudos encontra valores de adesão superiores que outras cerâmicas existentes, devido primordialmente, segundo vários autores, à queima inicial de wash, a uma temperatura mais elevada e que permite uma melhor adesão à zircónia e simultaneamente uma menor incorporação de porosidade por à sua espessura ser muito fina.

Outro dos problemas possíveis pelos resultados inferiores de resistência adesiva dos espécimes que foram sujeitos à injeção da cerâmica de

recobrimento é o volume dos espécimes de zircónia e o arrefecimento após a injeção da cerâmica ter sido o indicado pelo fabricante. Dado ao grande volume de cerâmica deveria ter sido efetuado um arrefecimento mais lento dos espécimes, que terão provocado um elevado número de espécimes que sofreram falhas adesivas.

Em estudos comparativos dos dois métodos de colocação da cerâmica de recobrimento, ambas as técnicas, convencional e injetada, apresentaram valores de resistência à fratura e módulos de elasticidade idênticos (Stawarczyk et al., 2011 e Siavikis, Behr, Van der Zel et al., 2011).

Referir que a forma de pastilha dos espécimes não permite o abraçamento da cerâmica de recobrimento à zircónia, reduzindo a resistência adesiva quando comparada com a forma habitual das infraestruturas sobre dentes. Este abraçamento, graças à diferença de CET da cerâmica de recobrimento e da zircónia, é um dos fatores mais importantes na adesão entre estas duas cerâmicas, uma vez que a adesão química é desconhecida ou muito fraca (Aboushelib et al, 2006 e Fisher et al., 2008). Um dos problemas que poderemos encontrar é a forma plana das amostras, contrária à forma de infraestrutura e em que o abraçamento da cerâmica de recobrimento à zircónia pode ser um fator positivo. Kim et al. (2011) são peremtórios ao afirmar que o efeito de abraçamento, devido à discrepância entre CET dos materiais, é um fator muito mais importante que os tratamentos de superfície no aumento da resistência adesiva e simultaneamente mais importante que a possível e controversa adesão química entre os dois materiais.

Não foi possível rejeitar a segunda hipótese nula em estudo porque na análise dos resultados obtidos após a determinação do tipo de falha de união não se verificaram diferenças entre os tratamentos de superfície.

No entanto, o tipo de falha de união foi condicionado pelo método de aplicação da cerâmica de recobrimento, o que levou à rejeição da quarta hipótese nula. O tipo de falha observado encontra-se em consonância com os resultados de resistência adesiva. O aumento dos valores de resistência

adesiva conduziu a um aumento da percentagem de falhas mistas e coesivas.

Como todos os estudos laboratoriais, também este estudo apresenta algumas limitações.

Sendo um estudo in vitro, a extrapolação para situações clínicas deverá ser realizada com muito cuidado. Foram diversas as variáveis que poderão condicionar o sucesso clínico das restaurações em cerâmicas, com infraestrutura em zircónia revestida por outro tipo de cerâmica, que não foram aqui tidas em conta (Al-Dohan et al., 2004; Guess et al., 2008; Dündar et al., 2007; Fisher et al., 2008 e Diniz et al., 2014). Por outro lado, no presente estudo não foi tido em conta o envelhecimento da restauração, fator de extrema importância principalmente quando são feitos tratamentos de superfície.