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3- Estudo da caraterização de diferentes tipos de zircónia,

3.5 Discussão 74

3.5.1 Hidrofobicidade 76

Apesar de ser conhecido que, se os espécimes forem submersos em água destilada o ângulo de contacto dos espécimes mantêm-se inalterados por um elevado período de tempo (Noro et al., 2013), no presente estudo, a medição do ângulo de contacto foi efetuada até 2 horas após o tratamento de superfície e os espécimes ficaram expostos ao ar. Este procedimento pareceu-nos o que mais se coaduna com a prática clínica e laboratorial. O facto de o tempo que decorre entre o tratamento de superfície e a medição do ângulo ser importante deve-se à circunstância de, após um teste piloto, se ter verificado que o tempo que decorre entre o tratamento e a medição do ângulo de contacto tem influência na hidrofobicidade da zircónia. Assim, com o passar do tempo o ângulo de contacto vai aumentando devido a uma oxidação da camada superficial da zircónia que conduz à diminuição da energia de superfície (Noro et al., 2013).

A capacidade de molhamento de uma superfície por um líquido ou fluido poderá ser influenciada por diversos fatores. Tanto a tensão superficial do fluído como a energia e área de superfície do material a molhar poderão ter uma influência significativa nesta propriedade (Sakaguchi, 2012). No entanto, apesar das diferenças observadas na rugosidade das duas cerâmicas

estudadas tal não influenciou o ângulo de contacto determinado entra a água e a superfície dos dois sistemas cerâmicos. De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, não foram encontradas diferenças entre a hidrofobicidade dos dois tipos de zircónia avaliados, pelo que não foi possível rejeitar a primeira hipótese nula. Apesar das pequenas diferenças existentes no fabrico e na composição das duas zircónias, ambos apresentaram uma hidrofobicidade relativamente elevada. Nos espécimes não sujeitos a qualquer tipo de tratamento de superfície, o ângulo de contacto aproximou-se ou até superou os 90º. Tal facto, poderá condicionar a capacidade de molhamento da superfície das infraestruturas em zircónia pela cerâmica de recobrimento e pôr em risco o sucesso deste tipo de restaurações.

Na literatura analisada não foram encontrados estudos que comparem o ângulo de contacto entre diferentes marcas de zircónias. No entanto, os estudos de Tarumi et al. (2012) e Noro et al. (2012) revelaram valores de ângulo de contacto após tratamento com óxido de alumínio da superfície da zircónia muito semelhantes aos por nós obtidos. Em ambos os estudos a superfície após o tratamento com óxido tornou a superfície da zircónia hidrófila com valores de ângulo de contacto entre os 62º e 66º, enquanto no nosso estudo esse valor foi relativamente mais baixo, aproximadamente 50º. No entanto, nenhum dos estudos menciona o tempo decorrido entre o tratamento e a medição do ângulo de contacto. Ambos os estudos não avaliaram o ângulo de contacto da zircónia sem qualquer tratamento de superfície, não sendo possível a comparação com o nosso estudo.

Apesar de na literatura analisada a influência da pigmentação sobre a hidrofobicidade da zircónia não ter sido estudada, a pigmentação da zircónia não teve influência sobre o ângulo de contacto observado pelo que também a segunda hipótese nula em estudo não pôde ser rejeitada. Foi verificada uma pequena tendência para o aumento do ângulo de contacto nos espécimes pigmentados mas as diferenças não tiveram significado estatístico.

Quanto aos tratamentos de superfície, foi observada a influência deste sobre os valores de ângulo de contacto, que possibilitou rejeitar a terceira hipótese em estudo. O tratamento de superfície com óxido de alumínio ou com broca diamantada permitiu diminuir o ângulo de contacto observado relativamente aos restantes tratamentos de superfície em estudo. Estes resultados estão de acordo com o verificado em estudos anteriores, Noro et al. (2013) e Tarumi et

al. (2012) que também observaram que o jateamento com óxido de alumínio

diminuía o ângulo de contacto com a zircónia. Resultados semelhantes tiveram Aksoy et al., (2006) quando observaram uma menor hidrofobicidade nos espécimes condicionados com broca diamantada.

De acordo com o observado no estudo da rugosidade, o condicionamento da superfície com broca diamantada permitiu aumentar a rugosidade da zircónia. Esta maior rugosidade, aliada a um aumento da energia de superfície, poderá ser a responsável pelo aumento do molhamento da superfície. Apesar das diferenças encontradas quando à rugosidade resultantes dos dois tratamentos mecânicos aqui estudados, a hidrofobicidade dos espécimes condicionados com broca diamantada foi semelhante à hidrofobicidade observada nos espécimes jateados com partículas de óxido de alumínio, o que parece colocar em causa a relevância do aumento da rugosidade para a diminuição do ângulo de contacto. Talvez o aumento da energia de superfície após tratamento com jato de óxido de alumínio assuma um papel mais importante na promoção de capacidade de molhamento da superfície da zircónia do que a rugosidade.

Desta forma, qualquer um dos tratamentos mecânicos avaliados neste estudo parece contribuir para aumentar o molhamento da zircónia e, dessa forma, aumentar a capacidade de adesão da cerâmica de revestimento à infraestrutura em zircónia. No entanto, nem a utilização de ácido hidroflurídrico nem a utilização do ácido quente permitiu obter um ângulo de contacto inferior ao observado nos espécimes cuja superfície não foi sujeita a qualquer tipo de condicionamento.

Os estudos do ângulo de contacto encontrados na literatura não incluíram os tratamentos com ácidos por nós estudados; no entanto podemos realçar que no estudo de Noro et al. (2013) o tratamento que obteve um ângulo de contacto perto de zero (superfície super-hidrófilica) foi o tratamento com óxido de alumínio de 150 µm seguido de imersão durante 15 minutos em ácido hidrofluorídrico (47%).

Em resumo, tendo em conta os resultados obtidos da hidrofobicidade podemos conjecturar que a adesão entre as duas cerâmicas poderá ser aumentada utilizando um dos tratamentos mecânicos propostos.