• Nenhum resultado encontrado

Figura 21 ‐ Índios de várias tribos discutem com policiais que bloqueiam a entrada da Câmara dos 

Deputados onde congressistas debatem a autoridade para demarcação de terras indígenas no  Congresso, em Brasília (Foto: Eraldo Peres/AP – 16/12/14) 

 

Mesmo  quando  a  editora  entende  que  o  valor  a  ser  pago  pela  imagem  do  índio  “genuíno”  é  justificável  pela  sua  importância  no  conteúdo  abordado,  por  toda  essa  questão  legal  e  do  difícil  acesso  a  alguns  povos,  ainda  há  poucos  fornecedores  de  imagens  que  oferecem  em  seus  catálogos  imagens  das  tribos  indígenas  e,  as  que  oferecem, tem um catálogo ainda muito limitado. 

Em  relação  à  pluralidade  étnica  retratada  nos  livros  didáticos,  Oliveira  (2008),  por exemplo, afirma que 

Apesar de percebermos um grande avanço na preocupação de planejadores de  políticas  educacionais,  autores  e  professores  em  introduzir  indicadores  de  diversidade  sócio‐cultural,  nos  materiais  instrucionais,  continua  patente  a  presença  de  estereótipos,  com  uma  certa  tendência  a  favorecer  o  sexo  masculino,  a  cor  branca,  o  nível  sócio‐econômico  neo‐liberal.  Embora  já  se  registre  a  presença  de  personagens  de  cor  negra  ou  parda,  bem  como  a  presença  de  personagens  orientais,  em  alguns  livros  de  L2  (não  foram  registrados  personagens  com  traços  indígenas),  a  incidência  é  mínima  [...].  (OLIVEIRA, 2008, p. 112) 

A  autora  destaca  não  só  a  falta  de  personagens  indígenas,  mas  também  negros,  pardos e orientais nos livros didáticos. Em relação às imagens, é comum nos deparamos  com livros didáticos cheios de fotografias predominantemente de pessoas brancas, que  parecem  mais  retratar  uma  população  europeia  e  norte‐americana.  O  problema  é  que,  apesar  de  ser  um  livro  brasileiro,  boa  parte  dos  bancos  de  imagens  utilizados  são  estrangeiros, como a Getty Images (EUA), iStockphoto (EUA), Diomedia (Reino Unido),  Dreamstime (EUA), Shutterstock (EUA) e a Fotolia (EUA), por exemplo, não sendo difícil  de entender o porquê de retratarem as populações citadas. Simplesmente elas retratam  os  países  que  eles  estão  mais  presentes  e  onde  têm  o  maior  número  de  fotógrafos  colaboradores.  A  Getty  Images,  talvez  o  mais  famoso  banco  de  imagens,  tem  250.000  fotógrafos  colaboradores  em  todo  mundo,  sendo  apenas  cerca  de  1.700  no  Brasil.  A  Dreamstime, por exemplo, tem mais de 200.000 fotógrafos e ilustradores colaboradores  espalhados  pelo  mundo.  Desses,  apenas  pouco  mais  de  1.500  são  do  Brasil,  representando apenas 0,75% dos colaboradores 14. Até sabendo dessa falta de imagens 

que retratam a população brasileira e as nossas características culturais, vários desses  bancos  estão  fazendo  divulgações  para  que  mais  fotógrafos  brasileiros  tornem‐se  também  colaboradores  desses  bancos  internacionais,  buscando  uma  maior  diversificação no seu portifólio15

Para se ter uma ideia do que isso significa, fizemos algumas pesquisas simples de  imagens em um dos bancos royalty free mais populares do mundo, a Dreamstime. Como  é  um  banco  internacional  (no  caso,  americano),  as  buscas  geralmente  devem  ser  realizadas em inglês, que é a língua originalmente utilizada pelo fotógrafo para inserir as  informações no banco de dados.  Primeiro, utilizando a opção “most relevant” (mais relevante), fizemos uma busca  com as palavras “street car city”. Como resultado, tivemos 68.733 imagens (figura 22).    14 Informações obtidas diretamente com a central de atendimento ao cliente da Dreamstime.  15 Alguns dos eventos que ocorreram foram o ShutterTalk Live, da Shutterstock (Disponível em:  <http://www.shutterstock.com/pt/blog/shuttertalk‐live‐como‐fotografar‐para‐a‐shutterstock>. Acesso em 10 de maio de 2016) e o  iStockalypse Brasil, da iStockphoto (Disponível em: <http://www.mis‐ sp.org.br/icox/icox.php?mdl=mis&op=programacao_interna&id_event=1122>. Acesso em 10 de maio de 2016). 

    Figura 22 – Imagens obtidas pela busca “street car city” no banco de imagens Dreamstime. Acesso  em: 11 de maio de 2016.    Buscamos informações nas legendas e nos títulos da imagem para identificar os  locais (continente, país ou cidade) que estavam sendo retratados. Consideramos apenas  essas  duas  informações  textuais  para  conseguir  a  informação,  apesar  de  que  seria  possível  identificar  o  local  em  algumas  fotos,  por  elementos  arquitetônicos,  placas,  carros e outros elementos presentes na cena, mesmo sem nenhuma informação textual.  Analisamos, do total de imagens encontradas, apenas as 200 primeiras para se ter uma  amostra do que um pesquisador de imagens teria em um primeiro momento na busca. 

Com  o  critério  de  análise  resolvido,  conseguimos  verificar  informações  sobre  o  local que a fotografia foi tirada em 98 imagens (49%), como mostra a figura 23. 

 

Figura 23 – Porcentagem de imagens que apresentaram informações sobre o local da fotografia na  legenda ou no título. 

 

Dessas  98  (49%)  imagens  identificáveis,  nenhuma  apresentava  imagens  de  cidades  brasileiras,  refletindo  o  pequeno  número  de  colaboradores  brasileiros  do  site.  Cuba (21), Rússia (14), Itália (12), Estados Unidos (8) e Hong Kong (8) foram os locais  que mais retratados nas imagens selecionadas, como podemos ver na Figura 24.      Figura 24 – Gráfico que mostra a distribuição das fotografias em relação ao local retratado.  Além disso, vemos também que, dos países citados, apenas dois são da América  do Sul – Bolívia (2) e Chile (1) – e que 43 (cerca de 44% das imagens identificáveis) são  de países da Europa, evidenciando uma eurocentrização das imagens apresentadas pela  Não  identiŒicável  51%  IdentiŒicável  49% 

Informação do local na 

legenda ou no título da 

imagem 

0  5  10  15  20  25 

Fotograzias identizicáveis 

divididos por países 

busca no banco de imagens, mesmo sabendo‐se que o banco de imagens em questão é  americano e que tem o maior número de fotógrafos colaboradores dos Estados Unidos16

Realizamos, então, nova busca para comparar palavras‐chave em conjunto com o  nome  ou  sigla  do  país  (no  caso  dos  Estados  Unidos,  por  exemplo)  do  país.  Para  filtrar  melhor  a  busca,  colocamos  as  opções  “Photos”  (somente  fotografias)  e  “editorial”  (apenas imagens com licença editorial) e utilizamos, primeiramente, as palavras‐chave  “people walking city brazil” (Figura 25).      Figura 25 – Imagens obtidas pela busca “people walking city brazil” no banco de imagens  Dreamstime. Acesso em: 11 de maio de 2016.   

Com  essa  busca,  tivemos  um  total  de  165  imagens,  com  imagens  de  São  Paulo  (Avenida  Paulista,  Rua  25  de  Março  e  Ibirapuera),  Minas  Gerais  (Ouro  Preto),  Bahia  (Salvador), Rio de Janeiro (Ipanema), dentre outros resultados. Num segundo momento,  utilizamos  as  palavras‐chave  “people  walking  city  usa”  e  obtivemos  a  marca  de  1.095 

imagens  (figura  26),  que  retratavam,  por  exemplo,    os  estados  da  Califórnia  (Los  Angeles), Nevada (Las Vegas) e Nova Iorque (Manhattan, Brooklyn).       Figura 26 – Imagens obtidas pela busca “people walking city usa” no banco de imagens  Dreamstime. Acesso em: 11 de maio de 2016.   

Por  último,  fizemos  uma  busca  com  as  palavras‐chave  “people  city  walking  russia”  e  obtivemos  1.905  imagens,  que  foram  registradas  em  cidades  como  Moscou,  Omsk e São Petersburgo (Figura 27).