Deputados onde congressistas debatem a autoridade para demarcação de terras indígenas no Congresso, em Brasília (Foto: Eraldo Peres/AP – 16/12/14)
Mesmo quando a editora entende que o valor a ser pago pela imagem do índio “genuíno” é justificável pela sua importância no conteúdo abordado, por toda essa questão legal e do difícil acesso a alguns povos, ainda há poucos fornecedores de imagens que oferecem em seus catálogos imagens das tribos indígenas e, as que oferecem, tem um catálogo ainda muito limitado.
Em relação à pluralidade étnica retratada nos livros didáticos, Oliveira (2008), por exemplo, afirma que
Apesar de percebermos um grande avanço na preocupação de planejadores de políticas educacionais, autores e professores em introduzir indicadores de diversidade sócio‐cultural, nos materiais instrucionais, continua patente a presença de estereótipos, com uma certa tendência a favorecer o sexo masculino, a cor branca, o nível sócio‐econômico neo‐liberal. Embora já se registre a presença de personagens de cor negra ou parda, bem como a presença de personagens orientais, em alguns livros de L2 (não foram registrados personagens com traços indígenas), a incidência é mínima [...]. (OLIVEIRA, 2008, p. 112)
A autora destaca não só a falta de personagens indígenas, mas também negros, pardos e orientais nos livros didáticos. Em relação às imagens, é comum nos deparamos com livros didáticos cheios de fotografias predominantemente de pessoas brancas, que parecem mais retratar uma população europeia e norte‐americana. O problema é que, apesar de ser um livro brasileiro, boa parte dos bancos de imagens utilizados são estrangeiros, como a Getty Images (EUA), iStockphoto (EUA), Diomedia (Reino Unido), Dreamstime (EUA), Shutterstock (EUA) e a Fotolia (EUA), por exemplo, não sendo difícil de entender o porquê de retratarem as populações citadas. Simplesmente elas retratam os países que eles estão mais presentes e onde têm o maior número de fotógrafos colaboradores. A Getty Images, talvez o mais famoso banco de imagens, tem 250.000 fotógrafos colaboradores em todo mundo, sendo apenas cerca de 1.700 no Brasil. A Dreamstime, por exemplo, tem mais de 200.000 fotógrafos e ilustradores colaboradores espalhados pelo mundo. Desses, apenas pouco mais de 1.500 são do Brasil, representando apenas 0,75% dos colaboradores 14. Até sabendo dessa falta de imagens
que retratam a população brasileira e as nossas características culturais, vários desses bancos estão fazendo divulgações para que mais fotógrafos brasileiros tornem‐se também colaboradores desses bancos internacionais, buscando uma maior diversificação no seu portifólio15.
Para se ter uma ideia do que isso significa, fizemos algumas pesquisas simples de imagens em um dos bancos royalty free mais populares do mundo, a Dreamstime. Como é um banco internacional (no caso, americano), as buscas geralmente devem ser realizadas em inglês, que é a língua originalmente utilizada pelo fotógrafo para inserir as informações no banco de dados. Primeiro, utilizando a opção “most relevant” (mais relevante), fizemos uma busca com as palavras “street car city”. Como resultado, tivemos 68.733 imagens (figura 22). 14 Informações obtidas diretamente com a central de atendimento ao cliente da Dreamstime. 15 Alguns dos eventos que ocorreram foram o ShutterTalk Live, da Shutterstock (Disponível em: <http://www.shutterstock.com/pt/blog/shuttertalk‐live‐como‐fotografar‐para‐a‐shutterstock>. Acesso em 10 de maio de 2016) e o iStockalypse Brasil, da iStockphoto (Disponível em: <http://www.mis‐ sp.org.br/icox/icox.php?mdl=mis&op=programacao_interna&id_event=1122>. Acesso em 10 de maio de 2016).
Figura 22 – Imagens obtidas pela busca “street car city” no banco de imagens Dreamstime. Acesso em: 11 de maio de 2016. Buscamos informações nas legendas e nos títulos da imagem para identificar os locais (continente, país ou cidade) que estavam sendo retratados. Consideramos apenas essas duas informações textuais para conseguir a informação, apesar de que seria possível identificar o local em algumas fotos, por elementos arquitetônicos, placas, carros e outros elementos presentes na cena, mesmo sem nenhuma informação textual. Analisamos, do total de imagens encontradas, apenas as 200 primeiras para se ter uma amostra do que um pesquisador de imagens teria em um primeiro momento na busca.
Com o critério de análise resolvido, conseguimos verificar informações sobre o local que a fotografia foi tirada em 98 imagens (49%), como mostra a figura 23.
Figura 23 – Porcentagem de imagens que apresentaram informações sobre o local da fotografia na legenda ou no título.
Dessas 98 (49%) imagens identificáveis, nenhuma apresentava imagens de cidades brasileiras, refletindo o pequeno número de colaboradores brasileiros do site. Cuba (21), Rússia (14), Itália (12), Estados Unidos (8) e Hong Kong (8) foram os locais que mais retratados nas imagens selecionadas, como podemos ver na Figura 24. Figura 24 – Gráfico que mostra a distribuição das fotografias em relação ao local retratado. Além disso, vemos também que, dos países citados, apenas dois são da América do Sul – Bolívia (2) e Chile (1) – e que 43 (cerca de 44% das imagens identificáveis) são de países da Europa, evidenciando uma eurocentrização das imagens apresentadas pela Não identiŒicável 51% IdentiŒicável 49%
Informação do local na
legenda ou no título da
imagem
0 5 10 15 20 25Fotograzias identizicáveis
divididos por países
busca no banco de imagens, mesmo sabendo‐se que o banco de imagens em questão é americano e que tem o maior número de fotógrafos colaboradores dos Estados Unidos16.
Realizamos, então, nova busca para comparar palavras‐chave em conjunto com o nome ou sigla do país (no caso dos Estados Unidos, por exemplo) do país. Para filtrar melhor a busca, colocamos as opções “Photos” (somente fotografias) e “editorial” (apenas imagens com licença editorial) e utilizamos, primeiramente, as palavras‐chave “people walking city brazil” (Figura 25). Figura 25 – Imagens obtidas pela busca “people walking city brazil” no banco de imagens Dreamstime. Acesso em: 11 de maio de 2016.
Com essa busca, tivemos um total de 165 imagens, com imagens de São Paulo (Avenida Paulista, Rua 25 de Março e Ibirapuera), Minas Gerais (Ouro Preto), Bahia (Salvador), Rio de Janeiro (Ipanema), dentre outros resultados. Num segundo momento, utilizamos as palavras‐chave “people walking city usa” e obtivemos a marca de 1.095
imagens (figura 26), que retratavam, por exemplo, os estados da Califórnia (Los Angeles), Nevada (Las Vegas) e Nova Iorque (Manhattan, Brooklyn). Figura 26 – Imagens obtidas pela busca “people walking city usa” no banco de imagens Dreamstime. Acesso em: 11 de maio de 2016.
Por último, fizemos uma busca com as palavras‐chave “people city walking russia” e obtivemos 1.905 imagens, que foram registradas em cidades como Moscou, Omsk e São Petersburgo (Figura 27).