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Espiando a caixa-preta: os fatores intra e extra-editoriais na produção de conteúdos de imagens para livros didáticos

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Academic year: 2017

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ADRIANO AGUINA 

   

 

 

 

ESPIANDO A CAIXA‐PRETA:  

os fatores intra e extra‐editoriais na produção de conteúdos   de imagens para livros didáticos 

 

 

 

 

 

 

  São Paulo 

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ADRIANO AGUINA 

   

 

 

ESPIANDO A CAIXA‐PRETA:  

os fatores intra e extra‐editoriais na produção de conteúdos   de imagens para livros didáticos 

Dissertação  apresentada  ao  programa  de  Pós‐ Graduação  em  Educação,  Arte  e  História  da  Cultura  da  Universidade  Presbiteriana  Mackenzie, como  requisito parcial à obtenção de  título de Mestre em Educação, Arte e História da  Cultura. 

 

Orientadora: Profa. Dra. Claudia Coelho Hardagh 

 

 

 

 

 

  São Paulo 

2016 

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A282e Aguina, Adriano

Espiando a caixa-preta: os fatores intra e extra-editoriais na produção de conteúdos de imagens para livros didáticos. / Adriano Aguina. – 2016.

95 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016.

Orientadora: Claudia Coelho Hardagh Bibliografia: f. 92-95

1. Produção Editorial. 2. Livro didático. 3. Imagem. 4. Processos editoriais. 5. Direito Autoral. 6. Edição de arte. 7. Educação. 8. Cultura. I. Título

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    Agradecimentos   

À Profa. Dra. Claudia Coelho Hardagh, pela sua orientação e  por todo incentivo para a conclusão dessa dissertação. 

A todos os professores que contribuíram de alguma maneira  para essa pesquisa nas aulas, nas bancas ou em conversas informais pela universidade. 

À Universidade Presbiteriana Mackenzie por me dar   essa oportunidade de formação. 

À minha família, pelo apoio e carinho. 

À minha esposa, pelo cumplicidade e apoio   que tanto precisei durante esse percurso. 

 

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A  presente  pesquisa  tem  como  problema  norteador  identificar  os  principais  fatores que influenciam na produção do livro didático e como estes fatores, internos e  externos  ao  aparelho  editorial,  interferem  na  produção  e  seleção  de  conteúdo  de  imagens  que  serão  publicadas  e  trabalhadas  pelos  alunos  e  professores  de  todo  país.  Como referencial teórico central foram utilizados os principais conceitos da filosofia da  caixa‐preta de Vilém Flusser, além de diversas bibliografias específicas de áreas variadas  do  conhecimento  –  como  Editoração,  Educação  e  Direito  –,  caracterizando‐se,  dessa  maneira,  como  uma  pesquisa  interdisciplinar.  O  pesquisador,  também  um  profissional  da área editorial, analisou de forma sistêmica o processo editorial, mais especificamente  os processos de edição de arte e de iconografia, identificando e classificando os fatores  intra e extra‐editoriais que influenciam ou determinam o output do processo, o conteúdo  final  do  livro  didático.  Dentre  os  fatores  intra‐editoriais,  temos  os  pedagógicos,  organizacional,  financeiros,  além  dos  fatores  estilísticos  e  estéticos.  Já  entre  os  fatores  extra‐editoriais  temos  os  logísticos,  legais  e  governamentais.  A  pesquisa  revelou  como  esses  fatores,  escondidos  sob  a  caixa‐preta  do  processo  editorial,  influenciam  diretamente no conteúdo final de imagens apresentado pelo livro didático e que devem  ser  sempre  considerados  para  qualquer  tipo  de  análise  desse  objeto  editorial  e  educacional complexo. 

Palavras‐chave:  Produção  Editorial.  Livro  didático.  Imagem.  Processos 

editoriais. Direito Autoral. Edição de arte. Educação. Cultura. 

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The aim of this work is to identify the main factors that influence the production  of  textbooks  and  how  these  factors,  internal  and  external  to  the  publishing  industry,  interfere  with  the  production  and  selection  of  image  content  that  will  be  published  in  the  textbooks  used  by  students  and  teachers  from  all  over  the  country.  We  based  our  work  on  the  main  concepts  of  Flusser’s  philosophy  of  black  box,  as  well  as  several  specific references in different areas of knowledge – such as Publishing, Education and  Law –, what caracterizes this research as an interdisciplinary research. The researcher is  a publishing professional and analyzed in a systematic way the publishing process, more  specifically,  the  processes  assigned  to  the  art  editor  and  iconographic  process,  identifying  and  classifying  the  internal  and  external  factors  to  the  publishing  process  that influence or determine the output of the process, the final content of the textbook.  The  internal  factors  identified  are  the  pedagogical,  organizational,  financial  and  the  stylistic/aesthetic  ones.  The  external  factors  are  the  logistical,  legal  and  government  ones. The survey showed how such factors, hidden inside the black box of the  publish  process, influence the final content of images inside the textbook and suggests that such  issues  should  be  always  considered  in  any  analysis  of  this  publishing  and  educational  complex object. 

Keywords:  Publishing.  Textbook.  Image.  Publishing  house  process.  Copyright.  Art editor. Education. Culture. 

 

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1. INTRODUÇÃO ... 8 

2. METODOLOGIA ... 14 

3. O LIVRO DIDÁTICO ... 16 

4. O APARELHO EDITORIAL: UMA CAIXA‐PRETA INVISÍVEL ... 22 

5. ETAPAS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO LIVRO ... 30 

6. EDIÇÃO DE ARTE: A PROGRAMAÇÃO VISUAL DO LIVRO ... 34 

7. A IMAGEM NO PROCESSO EDITORIAL ... 42 

8. FATORES INTRA E EXTRA‐EDITORIAIS ... 57 

9. CONCLUSÃO ... 89 

10.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 92 

 

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INTRODUÇÃO  

Desenvolver  materiais  didáticos  é  um  processo  complexo  que,  muitas  vezes,  é  realizado por equipes multidisciplinares. Editoras, por exemplo, além dos autores, têm  uma  enorme  equipe  de  revisores,  editores,  designers,  iconógrafos,  dentre  outros  profissionais  que  são  mobilizados  para  a  produção  de  livros  e  outros  materiais  utilizados em sala de aula. Mesmo assim, vemos que com todo esse processo, ainda há  muitos  problemas  e  falhas  nos  materiais  que  são  desenvolvidos,  no  entanto  isso  não  desmerece os vários pontos positivos que ele possa ter. 

É comum encontrarmos pesquisas que analisem os livros didáticos em diversos  aspectos,  fazendo  comparações  do  uso  de  imagens,  textos,  organização  de  elementos,  conteúdos  trabalhados,  características  técnicas  e  culturais  de  certas  épocas,  design,  redação, dentre tantos outros aspectos. Porém, há poucas pesquisas sobre como todos  esses  aspectos  que  são  estudados  exaustivamente  no  livro  didático  são  escolhidos  e  criados, podendo, dessa maneira, revelar muitas informações que somente com o estudo  de  seu  produto  final,  o  livro  didático,  –  o output  do  processo  –  seria  impossível  de  se  identificar. 

Assim, há uma necessidade de se entender melhor esses processos envolvidos na  criação dos livros didáticos, identificando os seus sujeitos e as suas estruturas. É o que  chamaremos nesta pesquisa – fazendo relações com a obra de Vilém Flusser em Filosofia  da Caixa Preta (1983)  – de espiar a caixa‐preta do aparelho editorial, buscando elucidar  o que ocorre neste processo e “clarear” aos sujeitos que são diretamente ligados ao uso  do livro didático, como professores e pesquisadores, sobre algumas características que  muitas  vezes  são  ignoradas  neste  processo  e  são  determinantes  para  o  resultado  que  pode ser encontrado em quase todas as escolas do país. 

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Assim, apresentamos, dentro de um processo editorial de construção de um livro  didático, os principais fatores que são determinantes para a escolha dos conteúdos que  serão inseridos e oferecidos a seus leitores, procuramos mostrar que as escolhas não são  apenas  por  critérios  de  adequação  didática,  e  podem  ser  determinadas  por  outros  fatores externos e internos do processo de edição de um material didático. 

Por  se  tratar  de  um  tema  multidisciplinar  e  o  programa  de  Pós‐Graduação  Educação,  Arte  e  História  da  Cultura  ser  interdisciplinar,  a  pesquisa  apresenta  referências  bibliográficas  de  diversas  áreas  do  conhecimento,  como  Design,  Produção  Editorial, Fotografia, Direito e Educação, dialogando entre os conhecimentos propostos  por Edgar Morin (2005), por via do pensamento complexo, resultando em um trabalho   interdisciplinar,  com  análise  sistêmica  da  estrutura  do  aparelho  editorial,  o  que  nos  proporcionaria uma pequena visão, uma “espiada”, por dentro dessa caixa‐preta. 

Além  da  pesquisa  bibliográfica  multidisciplinar,  utilizamos  o  conhecimento  do  pesquisador  como  sujeito  interno  do  aparelho  editorial,  que  apresenta  informações  adquiridas por meio da trajetória acadêmica e profissional desde 2002, ano de início da  graduação  em  Comunicação  Social  com  habilitação  em  Editoração  na  Escola  de  Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. 

Durante  essa  trajetória  particular  –  e  passo  a  usar  a  primeira  pessoa  para  expressar melhor a minha relação com a educação e a pesquisa apresentada – estive em  contato  com  a  área  de  Comunicação  e  Design,  pois,  desde  o  início  de  minha  carreira  profissional o trabalho foi marcado pelo envolvimento com o processo gráfico dos meios  editoriais (livros e revistas), além de buscar formação mais específica da área. Porém, no  ano de 2009, iniciei alguns projetos de criação de vídeos‐aulas para formação técnica em  programas relacionados à área de Design Gráfico, como o Adobe InDesign®, e ministrei  algumas  aulas  presenciais  sobre  esses  programas.  Nesse  momento,  comecei  a  me  interessar pelos processos de produção relativos ao ensino, mesmo que técnico, e iniciei  algumas  reflexões  acerca  de  melhoria  de  processos  gráficos  e  editoriais  para  a  construção de novos conteúdos didáticos e técnicas para utilização em sala de aula. 

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conhecimentos  sobre  a  inter‐relação  da  Comunicação‐Design‐Educação,  já  que  atuava  diretamente com livros didáticos em um projeto que ainda estava sendo desenvolvido  do  zero,  ou  seja,  participando  da  elaboração  e  desenvolvimento  das  primeiras  edições  do ensino fundamental e médio dos livros do SME. 

Até  para  tentar  melhorar  esse  diálogo  entre  a  área  do  Design  e  da  Educação,  busquei  mais  formação  específica  dessa  área,  fazendo  uma  especialização  na  Universidade Presbiteriana Mackenzie de Docência na Educação Superior, finalizada em  2013,  o  que  culminou  com  um  trabalho  de  conclusão  de  curso  sobre  a  utilização  de  projetores em sala de aula, onde mostrava ao professor alguns parâmetros – noções de  Design e Comunicação – para a construção de slides em palestras e em sala de aula.  

Neste  mesmo  ano  de  2013,  iniciei  o  presente  mestrado  em  Educação,  Arte  e  História  da  Cultura  na  Universidade  Presbiteriana  Mackenzie,  onde  tive  contato  maior  com  grande  bibliografia  relacionada  à  Educação  e,  mais  especificamente,  com  algumas  problemáticas relacionadas com o meu objeto de trabalho: o livro didático. 

Tanto  em  conversas  informais  com  professores  e  pesquisadores  da  área  de  Educação,  quanto  em  pesquisas  acadêmicas  e  livros  que  analisavam  o  livro  didático,  notei que somente algumas pessoas tinham essa clareza de que há um processo quase  invisível  entre  o  desenvolvedor  do  original  do  livro  (o  autor)  e  a  gráfica,  e  dessas,  um  número  menor  ainda  sabia  de  algumas  das  principais  questões  que  influenciavam  o  processo  de  edição  do  livro,  mesmo  considerando  que  alguns  também  já  atuavam  na  área editorial, como autores e revisores, por exemplo. 

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São  alguns  desses  pontos  que  apresentamos  nessa  pesquisa,  ao  mostrar  as  relações  do  processo  de  produção  do  livro  didático  e  apontar  como  cada  uma  dessas  etapas influencia diretamente o conteúdo final publicado nesse produto editorial.  

Para  tanto,  no  primeiro  capítulo  após  a  apresentação  da  metodologia,  apresentamos  alguns  dados  que  mostram  a  importância  do  livro  didático  no  Brasil,  sendo a principal fonte de material de uso didático em sala de aula. Também discutimos  a superestimação do papel do livro didático em sala de aula, mostrando que, apesar de  ser um tema de fundamental importância por sua ampla adoção nas escolas do país, não  pode  ser  visto  como  solução  única  para  resolver  o  problema  da  Educação  no  país  e,  muito menos, como o principal culpado desses mesmos problemas.  

Em  seguida,  estabelecemos  relações  com  a  obra  Filosofia  da  Caixa  Preta,  discutimos a importância da análise, não só os outputs do processo editorial, no caso, o  livro  didático  –  para  entendermos  melhor  o  “aparelho”  e  compreender  os  seus  resultados. O entendimento desse processo é a base fundamental para conseguir, como  diria Flusser, “jogar contra o aparelho”, no caso, o aparelho editorial e, dessa maneira,  buscar  “viver  livremente  num  mundo  programado  por  aparelhos”  (FLUSSER,  2011).  Para  tanto,  utilizamos  as  ideias  do  pensamento  complexo  defendida  por  Edgar  Morin  (2011) para que seja possível a visualização desse processo que é invisível para muitas  pessoas. 

Ao  imergir  na  análise  tendo  como  fundamento  a  metáfora  flusseriana  da  caixa‐ preta,  o  processo  editorial  tomou  outro  sentido  tanto  para  o  editor  como  para  o  pesquisador.  Elaboração da escrita passou a ser o aporte para a criação do livro que eu  mesmo escrevia e mergulhava na caixa‐preta. 

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A seleção de imagens para análise não precisariam estar ligadas diretamente ao  livro didático, pois o que nos interessava era trazer imagens que evidenciavam a caixa‐ preta  editorial  e  suas  consequências,  trazendo  reflexões  que  poderiam  iluminar  o  inconsciente  coletivo  na  valorização  da  cultura  brasileira  e  entendimento  da  história  real do Brasil. 

Novamente essa etapa de pesquisa e da escrita aguçava o desejo de trazer uma  contribuição  estética  para  a  esta  obra  na  qual  me  debruçava  e  o  editor  queria  marcar  sua impressão no trabalho. 

No sexto capítulo, apresentamos os fatores internos e externos que determinam a  edição  dos  conteúdos  de  imagem.  Dentre  os  fatores  intra‐editoriais,  temos  os  pedagógicos,  organizacionais,  financeiros,  além  dos  fatores  estilísticos  e  estéticos.  Já  entre  os  fatores  extra‐editoriais  temos  os  logísticos,  legais  e  governamentais.  É  importante já termos a ideia de que, apesar do fator pedagógico ser o principal aspecto a  ser  considerado,  todos  esses  fatores  tem  grande  relevância  no  resultado  final,  influenciando de alguma maneira no conteúdo do produto final. 

O  produto  final  não  poderia  estar  centrado  somente  na  escrita,  a  metáfora  da   caixa‐preta, teria que se concretizar. Foi a partir dessa tentativa de torná‐la concreta que  passo a ser o editor de arte, produtor da mensagem não‐textual e estética, concomitante  com a conclusão a pesquisa, construí a minha caixa‐preta, na qual a dissertação estaria  envolvida, conforme imagens abaixo (Figura 1). 

 

 

Figura 1 – Imagens do processo de montagem da “caixa‐preta” que foi construída   para envolver a dissertação. 

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As imagens como parte da conclusão, revelam a reflexão do pesquisador e editor  sobre  como  esses  fatores  influenciam  na  qualidade  do  conteúdo  de  imagens  a  ser  publicado pelo livro, apresentando algumas ideias de como isso poderia ser melhorado,  discutindo como podemos jogar contra o aparelho editorial sem que sejamos excluídos  desse jogo. Abrindo a “caixa‐preta” do mecanismo de edição de livros, acreditamos que  será  possível  abrir  novas  e  mais  construtivas  discussões  sobre  o  seu  produto  final,  o  livro didático. 

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METODOLOGIA 

A  investigação  de  base  qualitativa  de  caráter  científico,  foi  desenvolvida  pela  análise  dos  processos  de  produção  dos  livros  didáticos  nas  editoras,  especificamente,  produzidos  para  a  educação  básica.  O  estudo  partiu  da  análise  documental  e,  principalmente, do processo de produção, em uma abordagem qualitativa. 

O  foco  da  pesquisa  é  a  análise  do  processo  de  produção  do  livro  didático,  incluindo principalmente os processos relativos aos elementos iconográficos (imagens,  fotografias, ilustrações, mapas e gráficos). Consideramos como fontes primárias pois o  pesquisador está envolvido na produção dos processos analisados. 

A pesquisa dos processos exige do pesquisador cuidados como levar em conta e  analisar contextos históricos, econômicos, políticos e sociais no qual os livros didáticos  são produzidos. 

A  inserção  do  pesquisador  no  mercado  editorial  exige  a  visão  sistêmica  da  produção  do  livro  de  caráter  didático,  pois  este  material  passa  pelo  crivo  oficial  da  legislação  de  Educação,  de  Direitos  Autorais,  de  organizações  detentoras  dos  bens  de  produção,  de  uma  ideologia  pedagógica,  dentre  outros  mais  que  identificamos  na  pesquisa. 

O  caminho  percorrido  no  processo  investigativo  foi,  primeiramente,  fazer  uma  pesquisa  bibliográfica  sobre  o  tema  livro  didático,  além  de  temas  relacionados  com  o  processo de produção do livro como a Editoração, Educação, Direito Autoral, Direito de  Imagem  e  Design  do  livro.  Além  disso,  realizou‐se  uma  pesquisa  na  Internet  sobre  assuntos relacionados com o livro didático, uso e produção, buscando dados de mercado  e  reportagens  que  mostravam  algumas  características  de  suas  relações.  Como  base  conceitual  da  pesquisa,  buscou‐se  as  relações  entre  os  pensamentos  de  Vilém  Flusser  (conceito de caixa‐preta) e Edgar Morin (pensamento complexo) com o livro didático e a  sua estrutura de produção. 

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Após  analisar  o  processo  e  entender  o  seu  funcionamento  básico,  buscou‐se  identificar  os  fatores  internos  e  externos  que  determinavam  a  escolha  e  produção  da  iconografia  em  questão,  classificando‐os  didaticamente  para  compreender  as  suas  conexões  e  os  seus  impactos  no  conteúdo  iconográfico  do  seu  produto  final,  o  livro  didático.   

 

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O LIVRO DIDÁTICO 

Apesar  do  grande  número  de  críticas1 em  seu  uso  na  sala  de  aula  sob  vários 

aspectos, o livro didático no Brasil é a principal fonte de material didático nas escolas de  educação básica. Segundo a pesquisa de produção e vendas do setor editorial brasileiro  da  Fundação  Instituto  de  Pesquisas  Econômicas  (FIPE),  Câmara  Brasileira  do  Livro  (CBL)  e  Sindicado  Nacional  dos  Editores  de  Livro  (SNEL)2,  em  2014  foram  vendidos 

mais  de  184  milhões  de  livros  didáticos  no  Brasil,  representando  mais  de  42%  do  mercado de livros no país. A mesma pesquisa aponta que o governo foi responsável por  69%  da  compra  livros  didáticos  em  número  de  exemplares  (sendo,  a  maior  parte,  via  PNLD3),  totalizando  um  número  de  126.939.731  exemplares,  o  que  torna  o  governo 

brasileiro  o  maior  comprador  de  livros  do  país  e,  além  disso,  um  dos  maiores  compradores de livro do mundo. 

Esses  números  apenas  reforçam  a  ideia  de  que  o  livro  didático  é  ainda  amplamente utilizado no Brasil e que, por esse motivo, ainda será objeto de estudo em  pesquisas na Educação, na Comunicação, no Design, na Economia, no Direito, na História  da  Educação  e  Cultura,  dentre  muitas  outras  áreas  do  conhecimento,  por  ser  considerado  um  elemento  de  grande  importância  na  formação  dos  sujeitos  escolares  (professores  e  alunos),  impactando  diretamente,  mas  não  exclusivamente,  em  vários  aspectos na sociedade. 

A extrema relevância do livro didático na Educação, no mercado editorial e nas  políticas  públicas  gera  a  necessidade  de  pesquisas  sobre  esse  tema,  sendo  exaustivamente reforçada na academia como por Souza (1999a e 2002): 

Não  parece  haver  dúvida  quanto  à  autoridade  que  o  senso  comum  tradicionalmente confere ao livro didático em contexto escolar. O livro didático  é um elemento constitutivo do processo educacional brasileiro. (SOUZA, 1999a,  p. 28) 

Discutir o papel do livro didático parece‐nos de extrema relevância por tratar‐ se  tradicionalmente  do  principal  mediador  no  ensino  promovido  pela  instituição‐escola.  O  livro  didático  costuma  ser,  quase  que  exclusivamente,  a 

1 Essas críticas podem ser encontradas em simples pesquisas na Internet. Como exemplo, temos o texto jornalístico “Pesquisa aponta 

que livros didáticos não condizem com provas de Física do Enem“, publicado no site da UFAL em 2013 (disponível em: 

http://www.ufal.edu.br/noticias/2013/07/pesquisa‐aponta‐que‐livros‐didaticos‐nao‐condizem‐com‐provas‐de‐fisica‐do‐enem) e  artigos como o publicado na revista História e Ensino, “Uma análise sobre o ensino de História e o livro didático” de Sonia Maria  Gazola Pastro e Diná Teresa Contiero (disponível em: 

http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/viewFile/12156/10675, acesso em: 14 de junho de 2016). 

2 Produção e vendas do setor editorial brasileiro. Disponível em: <http://www.snel.org.br/wp‐

content/themes/snel/docs/pesquisa_fipe_2015_ano_base_2014.pdf>. Acesso em: 1 de maio de 2016.  

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principal  fonte  de  material  didático  utilizado  por  professores  de  língua  estrangeira  e  materna  nas  escolas  da  rede  oficial  de  ensino.  (SOUZA,  2002,  p.  114) 

Silva  (2012),  da  mesma  maneira,  reforça  igualmente  o  discurso  em  relação  à  dominância da utilização do material didático na escola: 

Além de consagrado em nossa cultura escolar, o livro didático tem assumido a  primazia entre os recursos didáticos utilizados na grande maioria das salas de  aula do Ensino Básico. Impulsionados por inúmeras situações adversas, grande  parte dos professores brasileiros o transformaram no principal ou, até mesmo,  único instrumento a auxiliar o trabalho nas salas de aula. (SILVA, 2012, p. 806) 

Veja  que  Silva  (2012)  não  apenas  aponta  que  material  didático  é  o  principal  recurso  didático  utilizado  pelo  professor,  como  também,  muitas  vezes,  é  o  único  instrumento utilizado pelo docente em sala de aula, devido à inúmeros fatores como, por  exemplo,  a  falta  de  estruturas  básicas  na  escola  (como  bibliotecas  ou  acesso  à  computadores) ou, até, pelas más condições de trabalho do docente. 

Não é surpresa, dessa maneira, que o livro didático seja vendido e adotado como  um livro fechado, ou seja, que contém todo o conhecimento necessário para a formação  do  aluno,  além  de  ser  encarado  como  único  dono  da  verdade.  Vemos  que,  como  apontado por Souza (1999a): 

O caráter de autoridade do livro didático encontra sua legitimidade na crença  de que ele é depositário de um saber a ser decifrado, pois supõe‐se que o livro  didático  contenha  uma  verdade  sacramentada  a  ser  transmitida  e  compartilhada.  Verdade  já  dada  que  o  professor,  legitimando  e  institucionalmente  autorizado  a  manejar  o  livro  didático,  deve  apenas  reproduzir, cabendo ao aluno assimilá‐la. (SOUZA, 1999a, p. 27) 

Além  de  ser  a  principal  fonte  de  material  didático  utilizado  pelos  professores,  como  apontado  por  Souza  (1999  e  2002)  e  Silva  (2012),  o  livro  didático  também  é  utilizado  como  único  material  de  informação  e  formação  de  parte  dos  docentes,  como  constatou Coracini (1999): 

[...] tem sido constatado, em reuniões com professores do ensino fundamental e  médio  da  escola  pública  do  Estado  de  São  Paulo,  que  o  único  material  de  consulta e leitura do professor, na disciplina que ministra, é (são) o(s) livro(s)  didático(s). (CORACINI, 1999, p. 34) 

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mera  apresentação  de  respostas  prontas,  apresentando  também  os  pressupostos  metodológicos e teóricos do livro a ser utilizado (SILVA, 2012). 

Isso  é  preocupante  pois,  apesar  de  poder  contribuir  na  formação  do  professor,  como o próprio MEC reconhece, o livro didático não pode ser o único ou principal meio  para  formação  e  informação  do  docente.  Dessa  maneira,  como  seria  possível  que  o  professor  faça  uma  análise  crítica  desse  material  didático  e,  ainda,  utilize  outros  instrumentos didáticos para complementar a sua aula e a sua formação? Em geral, até  por  uma  questão  de  marketing,  as  editoras  dos  livros  didáticos  reforçam  em  seu  discurso  a  completude  do  seu  conteúdo  (e,  consequentemente,  a  ausência  da  necessidade de se buscar outras referências) pois, ao contrário, poderiam ser apontados  como  materiais  incompletos  e  de  menor  qualidade,  diminuindo  as  suas  chances  no  mercado.  

As exigências do MEC quanto ao manual do professor para o PNLD revela a falha  na  formação  do  professor,  pois  traz  projetos  e  planos  de  trabalhos  prontos,  didáticas  que não dão conta das especificidades da escola, comunidade e concepção pedagógica. 

Essa visão crítica em relação ao conteúdo do livro didático é importante para que  haja  melhor  entendimento  das  escolhas  dos  conteúdos  apresentados,  das  suas  formas  textuais,  das  suas  formas  gráficas,  da  hierarquização  dos  elementos,  dentre  outros  aspectos  fundamentais  na  significação  da  informação  apresentada.  O  problema  é  que,  como já apontado por Souza (1999), o livro, e não só o livro didático, é visto como um  depositário  dos  conteúdos  verdadeiros  a  serem  seguidos,  aumentando  ainda  mais  as  discussões em relação a aplicação dos livros didáticos e, assim, desviando das discussões  mais pertinentes, como o papel do livro didático no ensino, sua utilização pelo docente, a  formação de professores e suas condições de trabalho.  Silva (2012) destaca que: 

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O autor aponta em sua pesquisa a superestimação do papel do livro didático na  formação da sociedade. Isso pode ser constatado quando identificamos na mídia alguns  exageros  sobre  problemas  encontrados  nos  livros  didáticos  distribuídos  pelo  governo  por meio do PNLD, como erros de digitação, de processo de seleção e edição de imagens  ou na escolha de conteúdos de textos de nossa literatura. Silva (2012) descreve em sua  pesquisa  algumas  situações  que  ilustram  como  esses  problemas  são  abordados  por  alguns  meios  de  comunicação  e  por  parte  da  sociedade,  onde  o  professor,  da  maneira  que a situação é apresentada, não é visto como o principal agente na formação do aluno.  Em  um  dos  casos,  ocorrido  em  2010  na  cidade  de  Jundiaí  (SP),  um  dos  pais  chegou  a  pedir  a  intervenção  do  Ministério  Público  “para  garantir  uma  educação  saudável  aos  adolescentes”.  O  livro  em  questão  continha  o  texto  de  Ignácio  de  Loyola  Brandão,  Obscenidades  para  uma  Dona  de  Casa,  o  que,  para  os  pais  de  alguns  alunos,  era  considerado  inadequado  para  a  faixa  etária  (Ensino  Médio)  e  que  o  problema  seria  resolvido com o recolhimento do livro e sua “correção”, provavelmente.  

Outra  situação  que  pode  ilustrar  a  mesma  visão  do  professor  como  apenas  um  dos agentes de formação, e não o principal, ocorreu no caso do livro que fazia parte do  Programa  Nacional  Biblioteca  na  Escola  (PNBE), Caçadas  de  Pedrinho,  de  Monteiro  Lobato,  em  20144.  Neste  caso,  uma  ação  foi  apresentada  pelo  Instituto  de  Advocacia 

Racial  no  Supremo  Tribunal  Federal  (STF)  e  buscava  o  recolhimento  do  livro  e  a  inserção de notas sobre o racismo, o que foi negado. Apesar de realmente conter frases  que  podem  ser  consideradas  de  teor  racista,  a  obra  deve  ser  analisada  de  forma  contextualizada  historicamente,  cabendo  ao  professor,  neste  caso,  orientar  o  aluno  na  prática  de  análise  do  texto  em  questão.  Afinal,  se  isso  não  ocorrer,  qual  é  o  papel  do  professor em sala de aula? Será apenas de reproduzir os discursos que estão nos livros?  Não  seria  esta  uma  boa  oportunidade  para  o  professor  introduzir  discussões  sobre  a  diferença  entre  as  sociedades  de  épocas  diferentes  reforçando  a  interdisciplinaridade  dos conteúdos, desenvolvendo também o espírito crítico do aluno? 

Vemos que não é tão óbvio que o livro didático não pode ser superestimado como  único herói ou vilão da Educação no país. Um exemplo positivo de como o seu poder não 

4 Ministro do STF rejeita incluir nota sobre racismo em livro de Lobato. Disponível em: 

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é absoluto sobre uma sociedade, ocorreu no Canadá, mais precisamente, na província de  Quebec, 

[…] onde o ensino de História, durante mais de 50 anos, foi ministrado com o  objetivo  de  ensinar  aos  canadenses  de  língua  francesa  a  necessidade  de  sobrevier enquanto povo, proteger a língua, a fé além de continuarem fazendo  parte  do  grande  Canadá.  Entretanto,  por  volta  de  1950,  os  quebequenses  começaram  a  dizer  que  queriam  se  separar  daquele  grande  Canadá  que  lhes  haviam ensinado a amar negando todo o processo de ensino de mais de cinco  décadas. (SILVA, 2012, p. 816) 

Vemos, assim, que os livros didáticos têm sim a sua importância nas relações de  poder, de cultura e econômicas e, até por essa razão, são utilizados pelos governos como  instrumentos de doutrinamento ideológico, porém, eles não têm poderes ilimitados. Há  outros agentes importantes nessa relação, como a família, as comunidades, a igreja e o  professor, por exemplo. Mesmo assim: 

Parece‐nos  que  o  contexto  escolar  não  conseguiu,  ainda,  abrir  mão  do  paradigma  “transmissão  de  conhecimentos  via  livro  didático”  e  a  questão,  talvez,  não  esteja  em  “abandoná‐lo”  simplesmente,  mas,  sim,  em  questionar  essa  ordem  paradigmática  que  coloca  o  livro  didático  enquanto  fonte  única,  universal de referencia para a sala de aula. (SOUZA, 2002, p. 117) 

Souza (1999c), em outra pesquisa, adiciona que 

Cabe  ao  professor  promover  entre  seus  alunos  momentos  que  contemplem  questionamentos  do  papel  do  livro  didático,  não  enquanto  a  principal  “arma”  para  sua  atividade  pedagógica,  mas  como  um  dos  recursos  a  ser  abordado  de  forma crítica. O livro didático é, geralmente, um dentre os componentes de uma  situação de aprendizagem. É difícil avaliar o grau de eficácia e eficiência de um  livro  didático  se  não  levarmos  em  conta  as  contradições  de  produção  de  sua  elaboração e de seu uso. (SOUZA, 1999c, p. 102) 

A autora destaca, além da questão do livro didático não ser o único componente  para a relação ensino/aprendizagem e a própria condição de seu uso, mas também “as  contradições  de  produção  de  sua  elaboração”,  alertando  para  outros  fatores  decisivos  que  se  relacionam  diretamente  aos  conteúdos  finais  apresentados  pelo  livro  didático,  fatores  que  estão  presentes  ainda  na  fase  editorial  do  livro  e  que,  muitas  vezes,  são  ignorados por professores e, até mesmo, por pesquisadores da área, o que causa certas  lacunas que, sem esta análise mais detalhada, não são possíveis nem de se identificar. 

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Para tentar responder esta pergunta, no capítulo seguinte, mostraremos como o  conhecimento  do  que  chamaremos  aqui  de  “aparelho  editorial”  pode  nos  ajudar  a  compreender  os  problemas  encontrados  nos  livros  didáticos  e  também  propiciar  a  indicação de soluções mais adequadas para a sua produção como instrumento de apoio  ao docente na escola. 

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O APARELHO EDITORIAL: UMA CAIXA‐PRETA INVISÍVEL 

Como  vimos  anteriormente,  o  tema  livro  didático  apresenta  grande  relevância  para pesquisas em várias as áreas do conhecimento. Isso ocorre, dentre outros fatores,  devido a sua significante importância na relação ensino/aprendizagem, aos percentuais  de vendas e produção representativos para a indústria gráfica e editorial e na difusão de  dados  e  informações  consequentemente  possibilitados  pela  sua  popularização  e  distribuição nacional. 

Porém, ainda é usual encontrarmos críticas nos meios de comunicação e até nas  pesquisas acadêmicas que ainda colocam o livro didático como o principal elemento em  sala de aula, superestimado o seu valor dentro de uma formação educacional de forma  positiva (como é disseminado no marketing editorial) ou negativa (ao aponta‐lo como o  maior responsável pelo problema da Educação). 

Bittencourt (2006), diferentemente, conclui que: 

[...] para entender o papel que o livro didático desempenha na vida escolar, não  basta analisar a ideologia e as defasagens dos conteúdos em relação à produção  acadêmica  ou  descobrir  se  o  material  é  fiel  ou  não  às  propostas  curriculares.  Para entender um livro didático é preciso analisá‐lo em todos os seus aspectos  e contradições. (BITTENCOURT, 2006, p.73) 

Analisar  o  material  didático  em  outros  aspectos  pode  significar  estudá‐lo  utilizando também conhecimentos de outras áreas que abordam o tema “livro didático”  por  outros  aspectos,  como  os  sociais,  financeiros  e  políticos.  É  não  aceitar  que  um  conhecimento pode realmente ser dividido, e que ele realmente pode existir sem as suas  ligações com outras partes do mundo real. 

Morin  (2011)  afirma  que  a  disciplinaridade  é  sim  um  meio  eficiente  para  se  chegar  ao  conhecimento.  Porém,  isso  só  ocorre  quando  entende‐se  as  suas  limitações  considerando que esta divisão é apenas construída e não reflete a realidade. 

A fecundidade da disciplina na história da ciência já foi demonstrada; por um  lado,  ela  realiza  a  circunscrição  de  uma  área  de  competência,  sem  a  qual  o  conhecimento  tornar‐se‐ia  intangível  [...].  Entretanto,  a  instituição  disciplinar  acarreta, ao mesmo tempo, um perigo de hiperespecialização do pesquisador e  um  risco  de  “coisificação”  do  objeto  estudado,  do  qual  se  corre  o  risco  de  esquecer que é destacado ou construído. (MORIN, 2005, p. 106) 

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objeto estudado, tornando‐o mais aberto e, ao mesmo tempo, inacabado, possibilitando  assim a inserção de novos aspectos para que se tenha uma mínima visão de toda a sua  complexidade  e  de  suas  ligações.  Por  isso,  Morin  (2011),  complementa  o  raciocínio,  afirmando que  

A consciência da multidimensionalidade nos conduz à ideia de que toda visão  unidimensional, toda visão especializada, parcelada, é pobre. É preciso que seja  ligada a outras dimensões [...]. 

Mas  [...]  a  consciência  da  complexidade  nos  faz  compreender  que  jamais  poderemos escapar da incerteza e que jamais poderemos ter um saber total: “A  totalidade é a não verdade”. (MORIN, 2011, p. 69) 

Assim, já neste primeiro momento, ficaria claro que todo discurso afirmativo com  o  sentido  de  supervalorização  do  livro  didático  (positiva  ou  negativamente)  seria  um  exagero e descabido. Assim como o objeto não pode ser “coisificado”, logicamente, suas  origens  e  consequências  não  poderão  ser  entendidas  sem  a  compreensão  da 

multidimensionalidade  citada  por  Morin.  Nesse  mesmo  sentido  da 

multidimensionalidade dos objetos, Choppin (2004) afirma também que 

O  livro  didático  não  é,  no  entanto,  o  único  instrumento  que  faz  parte  da  educação  da  juventude:  a  coexistência  (e  utilização  efetiva)  no  interior  do  universo  escolar  de  instrumentos  de  ensino‐aprendizagem  que  estabelecem  com  o  livro  relações  de  concorrência  ou  de  complementaridade  influi  necessariamente em suas funções e usos. (CHOPPIN, 2004, p.554) 

Com  essa  afirmação,  o  autor  destaca  a  necessidade  do  conhecimento  de  outros  fatores em relação ao livro didático como o próprio ambiente escolar e a vida cotidiana  de seus leitores/alunos, não apenas analisando a sua configuração e conteúdos. 

O  discurso  unidimensional,  posso  assim  chamar,  onde  o  livro  didático  é  visto  como o único ou grande responsável por algum fator da nossa sociedade, também ignora  como é o processo de produção de um livro didático e quais são alguns dos principais  fatores envolvidos no desenvolvimento desse produto editorial.  

Por  isso,  nos  utilizaremos  das  ideias  de  Flusser  (2008)  de  colocar  a  metáfora  caixa‐preta para elucidar a respeito da ignorância com relação ao processo de produção  cultural, e ponderando que 

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apertarem  as  teclas  e  por  minha  própria  experiência  ao  receber  as  imagens.  (FLUSSER, 2008, p. 56) 

E  isso  é  o  que  ocorre  nesse  discurso  unidimensional,  onde  a  caixa‐preta  do  processo  editorial  do  livro  é,  por  muitas  vezes,  desprezado  ou  simplificado.  O  mesmo  autor complementa também que 

[...]  O  que  caracteriza  a  revolução  cultural  atual  é  precisamente  o  fato  que  os  participantes  da  cultura  ignoram  o  interior  das  “caixas  pretas”  que  manejam.  (FLUSSER, 2008, p. 113) 

Por  outro  lado,  se  lembrarmos  de  algumas  das  principais  características  da  revolução  industrial,  como  o  desenvolvimento  da  divisão  do  trabalho  e  da  linha  de  montagem, o problema não era o mesmo? O funcionário, assim como o personagem de  Charles  Chaplin  no  filme Tempos  Modernos  (1936),  também,  apesar  de  fazer  parte  de  uma “caixa‐preta” (do aparelho industrial, no caso), continua a desconhecê‐la a tal ponto  de desconhecer o seu output? A tirinha de Frank e Ernest, publicada no Jornal do Brasil  no dia 19 de fevereiro de 1997, da mesma maneira, ilustra essa mesma situação, como  podemos ver na figura 2. 

 

 

Figura 2 – Tirinha sobre a linha de montagem (Frank e Ernest). 

 

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tornam  as  caixas‐pretas  funcionais  e  controladoras,  não  a  sua  forma  física.  É  o  que  Flusser (2008) chama de software ou suas virtualidades. 

O aparelho fotográfico é, por certo, objeto duro feito de plástico e aço. Mas não  é isso que o torna brinquedo5. Não é a madeira do tabuleiro e das pedras que  torna  o  xadrez  jogo.  São  as  virtualidades  contidas  nas  regras:  o software.  O  aspecto  duro  dos  aparelhos  [hardware]  não  é  o  que  lhes  confere  valor.  (FLUSSER, 2011, p.47) 

Essa mesma complexidade do objeto também foi reconhecida em outras áreas do  conhecimento,  como  na  Cibernética.  Porém,  descreve  Morin  (2011)  que,  em  vez  de  entrar e explorar esse objeto complexo, a Cibernética apenas a contornou, sem negá‐la. 

Quando  a  cibernética  reconheceu  a  complexidade,  foi  para  contorná‐la,  pô‐la  entre  parêntese,  mas  sem  negá‐la:    é  o  princípio  da  caixa‐preta  (black‐box);  considera‐se  as  entradas  no  sistema  (inputs)  e  as  saídas  (outputs),  o  que  permite estudar os resultados do funcionamento do sistema, a alimentação que  ele necessita, de relacionar inputs e outputs, sem entrar entretanto no mistério  da caixa‐preta. 

Ora,  o  problema  teórico  da  complexidade  é  o  da  possibilidade  de  entrar  nas  caixas‐pretas.  É  considerar  a  complexidade  organizacional  e  a  complexidade  lógica. [...] Ora, é preciso aceitar certa imprecisão e uma imprecisão certa, não  apenas nos fenômenos, mas também nos conceitos [...]. (MORIN 2011, p. 35‐36) 

Como  vimos  acima,  o  princípio  da  caixa‐preta,  onde  a  impossibilidade  de  se  entender o interior de um aparelho obriga o indivíduo apenas a considerar os inputs e os  outputs para a compreeder um problema, é um conceito trabalhado por Flusser (2008).  Morin  (2011),  por  sua  vez,  propõe  que  o  pensamento  complexo  é  a  possibilidade  de  entrar na caixa‐preta e entender parte desse mistério escondido e, até então, inacessível.  Dessa maneira, assim como a filosofia da fotografia, o pensamento complexo é também  necessário  para,  como  dizia  Flusser  (2011,  p.  107),  “se  viver  num  mundo  programado  por aparelhos”. 

Apesar  disso,  o  pensamento  complexo  não  é  a  solução  para  conhecer  todas  as  respostas. É, pelo contrário, também um meio de se levantar mais perguntas. Por isso,  Morin (2011) afirma que 

A  complexidade  não  é  uma  receita  para  conhecer  o  inesperado.  Mas  ela  nos  torna  prudentes,  atentos,  não  nos  deixa  dormir  na  aparente  mecânica  e  na  aparente trivialidade dos determinismos. (MORIN, 2011, p. 82‐83) 

5 FLUSSER define o aparelho fotográfico como brinquedo pois o homem vira um jogador do aparelho fotográfico, buscando o 

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No  caso,  quando  estamos  analisando  o  livro  didático  devemos  não  só  apenas  analisar  o  seu  output  (o  livro  impresso  finalizado),  mas  também  considerar  as  virtualidades  e  características  do  aparelho  editorial.  Ou  seja,  considerar  o  próprio  processo de produção do livro didático e suas relações. Tirar conclusões sem considerar  essas  virtualidades  afasta  o  pesquisador  do  conhecimento  complexo  e  o  aproxima  dos  determinismos  verificados  em  seus outputs,  não  revelando  os  reais  problemas  ainda  escondidos na caixa‐preta editorial. 

Apesar  disso,  devemos  novamente  alertar  que  o  pensamento  complexo  não  propõe chegar no conhecimento real de fato. Até porque a complexidade dos aparelhos  impediria  o  seu  entendimento  total.  Como  dito  anteriormente,  “a  totalidade  é  a  não  verdade”. Flusser (2008), complementa que  

[...]  com  o  aperfeiçoamento  progressivo  dos  aparelhos,  surgiu  um  problema  imprevisto,  embora  previsível.  Os  aparelhos  vão  rolando  sempre  mais  rapidamente, de modo que se torna humanamente impossível acompanhar seu  curso.  [...]  Perdeu‐se  o  controle  sobre  os  aparelhos.  Os  aparelhos  se  autonomizaram das decisões humanas, mas não pelo programa humano inicial  ter  se  apagado.  [...]  Exemplos  de  tais  aparelhos  que  escapam  ao  controle  e  continuam  funcionando  automaticamente  podem  ser  observados  em  toda  parte:  aparelhos  administrativos,  aparelhos  políticos,  aparelhos  econômicos,  aparelhos  culturais  e,  sobretudo,  obviamente,  os  aparelhos  termo‐nucleares.  (FLUSSER, 2008, p. 105) 

Dessa  maneira,  além  do  autor  destacar  a  falta  da  necessidade  do hardware  (materialidade) do aparelho ao citar exemplos de aparelhos de nossa sociedade como o  administrativo e o político, ele também destaca, como ideia principal do excerto, a perda  do  controle  do  aparelho  pelo  aumento  da  sua  complexidade,  impossibilitando  o  seu  conhecimento  total,  o  que  não  significa  que  o  programa  humano  inicial  básico  foi  apagado. 

Note que, neste caso, quem tem poder não é mais quem possui o aparelho, mas  quem detém o programa. É uma nova relação de poder emergida nessa atual revolução  do conhecimento. 

[...] O fotógrafo exerce poder sobre quem vê suas fotografias, programando os  receptores. O aparelho fotográfico exerce poder sobre o fotógrafo. A indústria  fotográfica  exerce  poder  sobre  o  aparelho.  E  assim ad  infinitum.  (FLUSSER,  2011, p.47) 

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[...] O input de cada um deles é alimentado por outro aparelho; o output de todo  aparelho  alimenta  outro.  Os  aparelhos  se  programam  mutuamente  em  hierarquia envelopante. (FLUSSER, 2011, p.94) 

Sobre  o  livro  didático  podemos  dizer,  por  exemplo,  que  é  programado  pelo  aparelho  editorial  responsável  por  sua  produção.  Este  aparelho  editorial  é  alimentado  por bancos de imagens que distribuem imagens programadas por seus fotógrafos. Estes,  foram  programados  pelo  aparelho  de  distribuição  de  mídia  (o  próprio  banco  de  imagens,  por  exemplo)  onde  há  regras  de  como  a  fotografia  deve  ser  produzida  para  serem  aceitas.  Todos  eles  estão  programados  pelo  governo  brasileiro,  seguindo  a  sua  legislação para que seus respectivos aparelhos continuem a funcionar. E assim continua  esse sistema definido como envelopante e aberto por cima, como define Flusser. 

Procuramos mostrar o quanto é fundamental o conhecimento do funcionamento  do aparelho editorial para se entender melhor as características finais do seu output, o  livro didático. Um dos fatores a ser destacado no interior do aparelho editorial é o que  chamaremos  de  fator  estilístico  e  estético,  contemplando  o  design  do  livro.  Sobre  esse  assunto, Hendel (2003), em um dos mais clássicos livros sobre o design do livro, faz uma  comparação entre a arte da impressão e do design:  

Se  a  impressão  é  a  arte  negra,  o  design  de  livro  pode  ser  a  arte  invisível.  [...]  Quando  aceitamos  a  ideia  de  que  o  importante  no  livro  é  o  significado  das  palavras  e  não  o  modo  de  como  se  apresentam,  isso  se  deve  a  própria  invisibilidade do design.  (HENDEL, 2003, p. 1) 

Parafraseando  Hendel,  não  diríamos  que  a  arte  invisível  é  apenas  o  design  do  livro, mas todo o processo do aparelho editorial. Assim, por isso, para a maior parte dos  leitores  e  boa  parte  dos  pesquisadores,  o  livro  é  escrito  pelo  autor.  Porém,  Souza  (1999a) alerta que: 

 O  autor  do  livro  didático  é  destituído  de  autonomia,  pois,  para  existir  no  interior  do  aparato  [aparelho]  editorial,  precisa  estar  em  conformidade  com  seus padrões, além de ter de ocupar o “lugar” que lhe cabe, ou seja, o de fazer  concessões. (SOUZA, 1999a, p.31) 

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O  estudo  sistemático  do  contexto  legislativo  e  regulador,  que  condiciona  não  somente a existência e a estrutura, mas também a produção do livro didático, é  condição  preliminar  indispensável  a  qualquer  estudo  sobre  a  edição  escolar.   Escrever a história dos livros escolares — ou simplesmente analisar o conteúdo  de uma obra — sem levar em conta as regras que o poder político, ou religioso,  impõe aos diversos agentes do sistema educativo, quer seja no domínio político,  econômico,  linguístico,  editorial,  pedagógico  ou  financeiro,  não  faz  qualquer  sentido. (CHOPPIN, 2004, p. 561) 

Esse  pensamento  complexo  também  não  pode  ser  considerado  apenas  como  a  junção dessas dimensões. “Um todo é mais do que a soma das partes que o constituem”,  segundo  Morin  (2011,  p.  85).  Ou  seja,  devemos  sempre  considerar  também  as  novas  conexões  que  são  descobertas  nessa  sobreposição  de  diferentes  ideias.  Para  exemplificar isso, Morin (2011) se utiliza de uma simples alegoria, o tapete. 

Para todos é óbvio que a soma de dois novelos de linha não é igual a um tapete,  mesmo  que  este  seja  o  total  de  material  a  ser  utilizado.  A  diferença  básica  entre  os  novelos  de  linha  e  o  tapete  é  a  sua  organização,  ou  seja,  o  trabalho  que  o  tecelão  teve  para fazer o trançado das linhas. 

Além disso, “O todo é então menor do que a soma das partes” (MORIN, 2011, p.  85),  ou  seja,  na  junção  das  partes,  sempre  há  uma  diferença.  O  autor  explica  que  no  trançar nas linhas há partes em que, quando vemos o tapete, não conseguiremos mais  enxergar. Ou seja, a soma das linhas é menos do que o que o tapete apresenta. 

Concluindo, o autor diz então que “O todo é ao mesmo tempo mais e menos do  que  a  soma  das  partes.”  (MORIN,  2011,  p.  86).  Ou  seja,  ao  mesmo  tempo  que  ele  apresenta  uma  forma  que  não  é  igual  a  apenas  a  junção  dos  dois  novelos  de  linha  ele  também é “esconde” algumas partes com o trançado. Utilizando a mesma alegoria para o  aparelho editorial, poderíamos dizer que o tecelão poderia ser o processo editorial, que  trabalha  para  que  os  dois  novelos  (conteúdo  +  didática),  com  os  trançados  que  serão  necessários  vire  um  tapete  (o  livro  didático).  O  que  queremos  então  neste  processo  é  mostrar  o  “verso”  do  tapete,  onde  poderemos  identificar  os  seus  pormenores,  suas  regras, suas conexões, para entenderemos melhor o seu output, ou seja, a sua aparência  final.  Ver  o  verso  do  tapete  é  tentar  clarear  o  interior  da  caixa‐preta  do  processo  editorial, pois 

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Lembremos  novamente  que,  como  já  foi  dito,  o  aparelho  (no  caso,  o  aparelho  editorial) 

[...]  trata‐se  de  brinquedo  complexo;  tão  complexo  que  não  poderá  jamais  ser  inteiramente esclarecido. (FLUSSER, 2011, p.47) 

Não  é  intenção  deste  trabalho  em  esgotar  todas  as  complexidades  do  aparelho  editorial  e,  assim,  clarear  toda  a  caixa‐preta,  o  que  seria  impossível.  O  recorte  desta  pesquisa é a busca pelo branqueamento dessa caixa, que é possível e será trabalhada nas  próximas  páginas,  apresentando  a  configuração  básica  de  um  processo  editorial  e,  depois,  aprofundando  no  processo  de  Edição  de  Arte  e,  mais  especificamente,  no  processo  de  Iconografia,  apresentando  alguns  fatores  internos  e  externos  que  são  determinantes  na  configuração  final  do  livro  didático  em  relação  ao  conteúdo  de  imagens.  O  que  pretendemos  é  dar  uma  espiada  por  dentro  da  caixa‐preta  e  revelar  algumas de suas principais virtualidades. 

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ETAPAS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO LIVRO 

O processo de produção do livro, que também classificamos como “arte invisível”,  diferentemente de Hendel que delimitou esta arte como o design do livro, é um processo  de gestão e produção de conteúdos com o objetivo de sua publicação final em formato de  livro,  digital  ou  impresso.  Segundo  Araújo  (2008),  este  processo,  também  chamado  de  editoração é 

 [...] o conjunto de teorias, técnicas e aptidões artísticas e industriais destinadas  ao  planejamento,  feitura  e  distribuição  de  um  produto  editorial.  Em  outras  palavras, editoração é o gerenciamento da produção de uma publicação – livros,  revistas, jornais, boletins, álbuns, cadernos, almanaques etc. (ARAÚJO, 2008, p.  38) 

O  processo  editorial  pode  ser  dividido  e  sucintamente  descrito  nas  seguintes  fases: 

1. Criação  do  projeto  editorial: é quando se define o projeto para o livro que  será produzido pela editora. Nele se definirá os conteúdos textuais e visuais  do  projeto,  incluindo  o  projeto  gráfico.  Este  processo  pode  ocorrer  antes  do  recebimento dos originais do autor (com no caso dos livros didáticos) como  também  após  o  recebimento  (como  no  caso  de  alguns  livros  literários  e  técnicos que são diariamente enviados para as editoras para avaliação). 

2. Seleção  de  originais:  neste  caso,  é  quando  a  editora  seleciona  algum  texto  enviado por autores que estão interessados em publicar seus conteúdos. Em  alguns  casos,  não  há  esse  processo  pois  o  original  pode  ser  feito  por  encomenda, como é o caso da maioria dos livros didáticos. 

3. Escrita  e  entrega  do  original: é onde o autor do livro se encontra. Ele será  responsável  pela  entrega  do  texto  original  (ou  seja,  ainda  sem  revisão,  formatação e edição) para a Editora.  

4. Preparação do texto: momento em que o texto é formatado e adequado aos 

padrões mínimos do projeto editorial. Visa facilitar o processo e organizá‐lo  desde o seu início. Esta preparação também pode ser realizada pelo revisor. 

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revisor  também  pode  ser  técnico,  onde  ele  será  responsável  por  avaliar  os  conteúdos que estão sendo apresentados no original. 

6. Edição/Direção de arte: é o processo de gerenciamento dos aspectos visuais  do processo, incluindo a diagramação, ilustração e a iconografia. 

7. Diagramação: este é o processo em que o conteúdo é formatado e adequado 

ao  projeto  gráfico  definido  no  projeto  editorial.  É  o  processo  onde  entra  o  design do livro. 

8. Ilustração: criação de ilustrações personalizadas para o projeto. 

9. Iconografia:  processo  onde  se  busca  e  se  define  todas  as  imagens  (fotografias,  símbolos,  ilustrações)  que  estarão  no  livro.  É  onde  se  analisa  a  informação visual da imagem e sua contextualização no conteúdo. Também é  onde  se  verifica  a  disponibilidade  da  imagem  que  é  necessária  para  o  conteúdo e sua qualidade técnica. 

10.Direito  autorais:  processo  responsável  pela  legalização  da  publicação  de  textos e imagens, fazendo o trâmite legal para a utilização desses conteúdos. 

11.Impressão:  processo  de  transformação  do  conteúdo  digital  em  material  impresso. É a produção industrial do livro. 

12.Distribuição/publicação: pode ser digital ou físico, necessitado, nos casos de  impressos, de uma logística para que o livro chegue ao cliente (leitor). 

 

A seguir, temos um exemplo simplificado de um fluxograma com os elementos do  processo  editorial  (Figura  3).  Note  que,  além  de  passar  por  todas  as  etapas  anteriormente  descritas,  vemos  que  ainda  há  um  feedback  que  deve  ser  considerado  para a produção da nova edição do material ou, até mesmo, um novo material. 

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Figura 3 – Fluxograma com exemplo de processo editorial. 

 

Todos  os  livros  didáticos  passam  por  processos  similares  aos  destacados  na  imagem. Em cada processo haverá, em geral, um profissional especializado na área que  fará  a  adequação  e  alteração  no  original  quando  necessário.  Por  ser  um  material  complexo, e depender de muitos fatores internos e externos, o processo de produção de  um  livro  didático  resulta  em  um output (produto  final)  bem  diferente  do  original  do  autor (input), tudo isso para se adequar às regras do aparelho editorial. Não entraremos  na  discussão  se  esses  processos  melhoram  ou  pioram  a  qualidade  do  conteúdo,  mas,  inevitavelmente,  eles  serão  responsáveis  pelo  conteúdo  final  que  será  publicado  em  formato de livro didático. 

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didáticos, no próximo capítulo veremos mais sobre as principais atividades do editor de  arte no processo de produção do livro. 

(36)

EDIÇÃO DE ARTE: A PROGRAMAÇÃO VISUAL DO LIVRO 

O  editor  de  arte  é  o  profissional  responsável  pela  avaliação,  organização  e  gerenciamento  dos  elementos  visuais  de  uma  página.  Como  explicado  por  Araújo  (2008), 

[...]  No  Brasil  já  se  tornou  corrente,  por  exemplo,  designar  profissionais  de  certos  setores  da  editoração  como  “editor  de  arte”  (responsável  pela  programação  visual  de  uma  publicação),  “editor  de  texto”  (encarregado  do  preparo e revisão literária dos originais) e assim por diante. (ARAÚJO, 2008, p.  50)  

E  é  esse  profissional,  o  editor  de  arte,  muitas  vezes  um  designer,  produtor  editorial ou comunicador, que fará a verificação da adequação do conteúdo diagramado  e das imagens, considerando o projeto gráfico, o conteúdo textual e a adequação didática  desses elementos no caso dos livros didáticos. Logicamente, há casos em que o editor de  arte será auxiliado pelo revisor técnico (ou o editor da área de conhecimento) para que a  adequação  do  conteúdo  à  didática  se  efetive.  Além  disso,  ele  também  deverá  fazer  a  verificação  técnica  do  arquivo,  quanto  à  qualidade  e  definição  de  imagem,  para  se  certificar da legibilidade da imagem no produto final. 

Quando está fazendo a verificação da adequação dos elementos (textos, imagens  e até os “vazios”) na página em relação ao projeto gráfico, o editor de arte deve verificar  as  relações  que  cada  um  desses  elementos,  desde  uma  letra  isolada  até  o  caderno  completo com todas as páginas, mantém as suas relações de modo coerente e de acordo  com o projeto editorial e gráfico definido anteriormente. Samara (2007) descreve que 

O espaço tipográfico é governado por uma série de relações das partes com o  todo. A letra isolada é um grão, e faz parte de uma palavra. As palavras juntas  formam  uma  linha  [...].  Ao  se  colocar  uma  linha  de  tipos  na  paisagem  nua  da  página,  cria‐se  instantaneamente  uma  estrutura.  [...]  Uma  linha  após  a  outra  cria  um  parágrafo.  [...]  O  limite  sólido  cria  uma  referência  à  página,  e  o  parágrafo, conforme se alonga no comprimento, se converte numa coluna [...].  Os  vazios  entre  os  parágrafos,  as  colunas  e  as  imagens  ajudam  a  orientar  o  movimento dos olhos pelo conteúdo, tanto quanto a massa densa das palavras  cercadas por esses vazios. (SAMARA, 2007, p. 23) 

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Dentro  dessa  multidimensionalidade,  há  um  conceito  importante  chamado  de  hierarquia  dos  elementos.  Esta  forma  de  organização  visual  é  fundamental  na  significação  da  página  e  ela  pode,  se  realizada  de  forma  adequada,  ajudar  ao  leitor  a  captar  de  forma  mais  eficaz  o  conteúdo  da  página.  Na  figura  4  podemos  ver  um  bom  exemplo  de  como  a  hierarquia  dos  elementos  pode  ajudar  na  compreensão  de  um  conteúdo e na melhor organização das ideias para o leitor da página. 

 

 

Figura 4 – Comparação de duas páginas em relação à hierarquia visual. Na página da direita vemos 

uma organização hierárquica mais clara, utilizando cores, pesos e espaçamentos de linha de forma  planejada, facilitando a leitura do conteúdo. 

 

Lupton (2008), explica que 

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É importante dizer que não há o “certo” e o “errado” neste caso. A hierarquia deve  ser realizada de forma que seja a mais adequada ao seu leitor, adaptando‐se o projeto  conforme  as  suas  necessidades.  Conversando  com  as  ideias  de  Morin,  a  página  e  a  publicação  editorial  são  objetos  que  têm  relações  complexas  entre  seus  elementos  e  o  leitor e, como afirma o autor, neste caso, “é necessário aceitar uma certa imprecisão e  uma imprecisão certa”. 

Também  é  importante  ressaltar  que  a  hierarquia  não  é  neutra,  pois  a  sua  importância estética e ética revela que ela é uma condutora da leitura, direcionando a  observação  dos  destaques  na  página.  Seria  o  metadado  do  texto,  uma  “etiquetagem”,  ordenando  e  hierarquizando  realmente  a  importância  e  relevância  de  cada  uma  das  informações  apresentadas,  mudando  as  suas  conexões  e  influenciando  diretamente  na  sua compreensão final. 

Uma  das  teorias  utilizadas  para  análise,  distribuição  e  inter‐relação  entre  os  elementos é a Gestalt. Gomes Filho (2003), apresenta os sete fundamentos básicos dessa  teoria:  a  segregação,  a  semelhança,  a  unidade  (ou  unificação),  a  proximidade,  a  continuidade, o fechamento e a pregnância.  

Para  entender  um  pouco  sobre  o  funcionamento  dessa  teoria,  podemos  buscar  alguns exemplos de como essas forças podem influenciar na informação e interpretação  em um material gráfico. Não é raro encontrarmos materiais disponíveis na internet ou  em  qualquer  meio  impresso  que  mostram  como  a  inobservância  em  relação  a  esses  conceitos básicos do Design podem aumentar a dissonância na comunicação e, por isso,  baixar a sua pregnância, definido por Gomes Filho (2003) como um princípio em que 

[...]  as  forças  de  organização  da  forma  tendem  a  se  dirigir  tanto  quanto  o  permitem as condições dadas no sentido de clareza, da unidade, do equilíbrio,  da Boa Gestalt, enfim. (GOMES FILHO, p. 24, 2003) 

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seguir.  Isso,  para  um  livro  didático,  quando,  em  geral,  estamos  lidando  com  um  leitor  aprendiz e com pouca experiência, as consequências podem ser ainda mais desastrosas. 

 

Figura 5 – Imagem de um exemplo de página dupla de revista. O elemento no meio do texto da  segunda página dificulta a leitura pois o leitor fica em dúvida em relação a ordem de leitura. 

 

Há  casos  em  que  o  leitor,  mesmo  lendo  o  texto  pelas  duas  opções  de  ordem  de  leitura,  não  saberá  ao  certo  qual  foi  a  opção  do  designer,  podendo  causar  erros  de  interpretação do texto. Essa confusão se explica, pois em cada uma das ordens de leitura  há, pelo menos, um fundamento da Gestalt influenciando o olhar e a interpretação desse  leitor. Um deles, a proximidade, que direciona o nosso olhar para a coluna da direita, por  ser  a  mais  próxima  visualmente  do  primeiro  trecho.  O  outro,  a  continuidade,  nos  direciona  para  o  módulo  inferior  primeiro  seguindo  a  lógica  de  leitura  da  página  anterior.  Com  isso,  a  página  diminuiu  a  sua  pregnância  seguindo  a  sua  organização  visual e facilidade de leitura. 

Além  de  se  ater  a  essas  ligações  entre  os  elemento,  sua  hierarquização  e  pregnância,  o  editor  de  arte  é  responsável  por  analisar  as  linguagens  não‐verbais  que  estarão contidas no livro didático e sua coerência com as linguagens verbais presentes.   

Imagem

Figura 23 – Porcentagem de imagens que apresentaram informações sobre o local da fotografia na  legenda ou no título. 
Figura 29 – Reprodução da tabela presente no edital do PNLD 2015 (Ensino Médio) com o número  de páginas limite de cada disciplina. 

Referências

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