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Final de Expediente

No documento VÁRIOS AUTORES 1 (páginas 26-36)

Por:

Diogo Toledo

Bio:

Diogo Toledo nasceu em São Paulo, capital. É apaixonado por livros desde que se conhece por gente. Costumava ouvir a mãe dizer que ele empurrava a média de livros lidos por pessoa pra cima e sempre se orgulhou muito disso.

Já no ramo da escrita, precisou ser empurrado por sua esposa e alguns amigos. Funcionou! Já participa de algumas antologias e vem muito mais por aí. Seus gêneros de leitura favoritos são ficção, fantasia, romance, porém ultimamente tem debandado para distopias e terror, algo que você poderá acompanhar muito bem representado em suas escritas.

Contato: E-mail Conto:

Ah, o prazer de terminar mais um dia de trabalho. Especialmente hoje, que você está tão absurdamente cansado que mal consegue manter os olhos abertos. Mas ainda não é hora de ir para casa. Você tem um happy hour, marcado com uns amigos, próximo à estação República do conturbado metrô paulistano. Enquanto você caminha distraído, olhando seu celular, lendo este texto ou qualquer outra coisa que a internet tenha lhe oferecido, o mundo ao redor lhe parece o mesmo de sempre. Está um típico dia de outono, começa a esfriar, então você decide tirar aquela blusa reserva da mochila, para eventualidades.

O céu crepuscular acompanha sua jornada enquanto você finalmente vira à direita e começa a descer a Rua Tuiutí. Uma das mais conhecidas do Tatuapé, certamente a mais movimentada da região dada a quantidade de comércio no local.

Aqui, de tudo se encontra, no caminho até o metrô. Na Praça Silvio Romero, que neste momento está a sua direita, você vê aquelas barraquinhas de feiras artesanais. O cheiro de pastel lembra seu cérebro que a última coisa que você colocou pra dentro foi um café morno doce demais, estava na garrafa térmica da empresa desde a manhã. Você ignora solenemente o seu estômago e segue sua jornada.

A melhor parte de sair mais cedo é o metrô não estar tão cheio assim para o retorno a casa. Mesmo você estando no contrafluxo, faz sentido não enrolar e você está indo para um happy hour, não é como se fosse passar fome.

A praça fica para trás enquanto você desce agradavelmente a rua, admirando as tranqueiras a 2,99, mas só olhando mesmo. Volta então, mais uma vez, sua atenção para o celular enquanto caminha. Não é exatamente o último modelo, então você consegue se enganar dizendo que ninguém vai querer um celular velho e continua a passear pelo Facebook.

Um pouco mais a frente você esbarra na máquina de churros, onde o vendedor, já seu amigo de longa data, o cumprimenta amigavelmente. Ele não tem fila pela primeira vez na semana e seu estômago lhe recorda que ele ainda está vazio, algo doce e quente neste dia de crepúsculo frio parece uma excelente ideia.

Dois minutos depois, você continua descendo a rua, apreciando o doce com seu recheio favorito. Passando pelo ponto de ônibus, você relembra que está mais que na hora de trocar de tênis, puxa o celular do bolso e marca um lembrete na agenda para passar na loja de calçados na semana que vem, só pra dar uma olhada mesmo...

O celular volta pro bolso, afinal doce e celulares não fazem uma boa combinação. Você continua caminhando, levemente arrastado, em parte pela apreciação ao doce, em parte pelo cansaço que já se acumula na mochila pesada e no sono de noites pouco dormidas. À parte do mundo, você admira a beleza do pouco céu que a rua permite ver, o outono faz mesmo maravilhas às cores celestes. De um laranja levemente avermelhado aos tons azuis que escurecem, uma verdadeira obra de arte vista entre fios e cabos dos postes de luz. Ok, sejamos justos, a Tuiutí ainda mantém meia dúzia de árvores...

Não demora muito, você chega no Shopping Tatuapé, que é basicamente o capitalismo trabalhando para que a sua estação de metrô mais próxima arranque o máximo de dinheiro de você. Passar por dentro do shopping faz mais sentido, uma vez que ao lado do shopping, pela rua, os camelôs tomam conta de metade da passagem e a outra metade é preenchida por pedestres. Ali, não importa o horário, tá sempre cheio de gente. Pelo Shopping então, você atravessa a rua com cuidado, uma vez que a faixa de pedestres em São Paulo não é sinalização de trânsito, é apenas uma pintura no chão, tipo enfeite de copa do mundo, e neste local não existe ainda um semáforo de pedestres decente.

Chegando ao Shopping, o cheiro da rede de lanches rápidos mais famosa do mundo lembra seu estômago que você não

comeu nada salgado ainda. Você ignora mais uma vez o aviso, uma vez que a fila deste lugar vai ocasionar em outra fila, ainda maior, na catraca do metro.

Subindo as escadas rolantes, virando à direita e agora ainda mais focado no seu celular, uma vez que a ideia é apenas passar pelo shopping, não ficar caroçando nas vitrines, outro cheiro capta sua atenção. Você xinga seu olfato mentalmente e leva um pão de queijo.

Atravessa a passarela e chega finalmente à catraca do metrô. Não está exatamente vazia, mas você não demora entrar, desce a escada rolante imediatamente à sua direita. E aguarda. A plataforma tem poucas pessoas e o trem não tarda a chegar. O horário está tão tranquilo que você comemora internamente ter conseguido negociar com seu chefe este horário de saída para hoje. Não é todo dia que o velho tá de bom humor.

Você consegue lugar sentado, na janela, para o lado certo do trem, ou seja, você vai no lugar mais confortável e para frente. Andar de costas em transporte público é algo pavoroso...

Ao seu lado, senta uma moça loira, cabelo curto, rosto cheio, óculos redondo e cara de poucos amigos.

— Com licença – ela murmura pra você.

— Toda! – É a sua resposta, e você não consegue deixar de pensar o quanto ela foi educada, atributo raro no transporte público.

Você apoia seu braço na janela do vagão, a mão apoia a cabeça e quando o trem sai, você já está com a atenção de volta ao celular. Entre os grupos de RPG do seu WhatsApp, alguém comenta sobre uma mesa de Chamado de Cthulhu que você não lembra exatamente o que é. Uma busca rápida no Google e você encontra o nome Lovecraft. Horror cósmico é a informação seguinte, o que deixa você mais interessado.

Enquanto busca por novas informações à cerca do tema, da mesa de jogo, do autor, você sente um respingo na sua mão.

Provavelmente um perdigoto ou o respiro do ar condicionado, mas por algum motivo, aquilo o incomoda. Você olha pra cima e não tem ninguém em pé próximo a você e a garota. Vira pra ela que está tão entretida com o próprio celular quanto você estava no seu. Olha pro teto do vagão, nada. O ar está distante da sua localização.

Então uma sensação estranha volta a chamar sua atenção, do ponto onde o respingo tocou a sua pele, um frio desce em linha reta pela sua mão, você ouve um barulho de queda e quando volta a sua atenção para o celular, ele não está mais ali. No lugar, está sua mão sem os dedos, cortada pela metade. Apenas o polegar ainda se mantém na posição correta. Aquilo o deixa em choque. Você não compreende aquela realidade que o cerca. Seu olhar caminha da mão decepada para seu colo e lá estão seus dedos, ainda ligados a metade dos metacarpos que compunham a sua mão, caídos por sobre a sua coxa, que também recebe a sensação de frio, a mesma de antes, toma conta de todo o membro a partir do ponto de toque. "Que porra é essa?" sua mente grita, mas você está atônito, sem reação. Olha para a mão decepada, para os dedos caídos, de volta ao coto e move o polegar. No tempo deste movimento visual, seus ouvidos captam um novo barulho de queda, desta vez ele não vem sozinho. A garota ao seu lado berra num tom absurdamente agudo e todos os olhos do vagão se voltam para você. Sua coxa foi cordada no ponto mais acima onde estão seus dedos e a perna inteira caiu para o lado da garota batendo joelho contra joelho. Ela olha pra você aterrorizada e o grito somado ao terror no olhar dela parecem despertar você da passividade, não há qualquer ponto de dor, mas ao soar o primeiro grito vindo de suas cordas vocais, seu sangue também parece despertar, ele jorra, tanto da mão quanto da coxa decepadas. Você tenta se mover, pedir ajuda, mas percebe que nada além da cabeça consegue se movimentar, sua meia mão, com sangue jorrando na pessoa a frente está parada no ar a frente dos seus olhos, enquanto sua coxa lava o chão com um litro do líquido carmim que já escorre pelo vagão.

O trem para, as pessoas na porta do vagão olham pra você em choque, ninguém consegue se mexer, nenhum ruído se faz presente, nem dentro nem fora do ambiente. A garota ao seu lado consegue vencer o choque e correr trem afora, lavada em sangue. Ela sai do vagão no momento que as porta se fecham e as pessoas despertadas pelo movimento dela, tentam sair também, mas já é tarde demais. Todos se afastam instintivamente da sua situação, ninguém oferece ajuda.

Tudo parecia fazer nenhum sentido, quando você vislumbra, no alto dos olhos, acima de você, uma criatura que não estava ali, você olha pra cima e não existe nada. Apenas o teto do trem. Porém você percebe algo fosco, esbranquiçado, grosso, uma nova gota, cai no seu braço que estava levemente levantado. O corte agora é acompanhado, por você e todas as pessoas do vagão, diagonal, limpo, sem sangue. O frio toma conta da região do coto, subindo pelo pulso, antebraço e cotovelo até o ponto do corte. Seu braço cai. O sangue leva alguns instantes para jorrar e o desespero, que esteve ali o tempo todo agora se expressa fortemente. Você tenta mexer tanto o braço quanto a perna decepados, em movimentos fantasmas, os cotos não entendem as ordens do cérebro. Você tenta se levantar e o trem faz o movimento de parada, jogando você de frente sobre a poça do seu próprio sangue. Você rola, olhando para o teto e finalmente consegue ver o que antes se encontrava em ângulos estranhos da existência. E você congela, ali, estatelado no chão do vagão do trem, banhado pelo seu próprio sangue.

Um ser asqueroso, uma massa desforme, com olhos em vários locais daquilo que deveria ser a pele, mas você não consegue fazer o menor sentido daquilo. Tentáculos saem de todos os pontos da coisa, não existe nenhuma lógica na criatura, nem mesmo sua cor é possível discernir. Uma massa de órgãos em contínua mutação e movimento, com olhos para todos os lados. A criatura conseguia encarar todos os presentes, mas em você está focado o maior dos seus olhos. Dois tentáculos com

bocas em seus términos avançam sobre os seus cotos, cobrindo totalmente tanto o braço até ombro quanto a coxa até a virilha.

Finalmente, dor. Uma dor que você ansiava, uma vez que nada daquilo fazia sentido, ainda assim uma dor forte demais. Você sente o gosto de pão de queijo misturado ao doce que estavam no seu estômago e percebe que vomitou.

O olho da entidade se aproxima ainda mais de você e uma bocarra se abre com dentes longos e afiados vindo em direção a sua cabeça, enquanto você é sacudido pelo trem e uma pressão forte no ombro mordido, como se a criatura quisesse te levantar por ali.

O movimento do ombro se torna estranho e contínuo, quando você abre os olhos novamente e vê a garota loira de rosto redondo balançando você pelo ombro. Você se assusta com a imagem dela e não entende o que ela disse. Olha em volta e percebe que o vagão está exatamente como deveria ser, antes de toda aquela confusão mental.

Você olha para a garota, ainda com terror nos olhos loucos, ela se afasta de você levemente, estendendo o seu celular com uma das mãos.

— Você deixou cair, - ela diz – e é melhor descer, chegamos ao Terminal Barra Funda.

Instintivamente você estende a mão para apanhar o celular e percebe que seu braço está no mesmo lugar que deveria.

Você move seus dedos enquanto olha para eles, ainda sem entender. A garota lhe dá as costas e você se levanta indo atrás dela.

Sua perna, que não estava ali instantes atrás, falha no ponto de apoio, tirando levemente o seu equilíbrio, porém você consegue se equilibrar sem cair e segue a garota trem afora. Você olha ao redor e começa a entender o que aconteceu. Que pesadelo terrível. E você estava mesmo cansado para não ter acordado antes.

Olha para a mão, movimenta os dedos. Mexe a perna. Tudo parece no seu devido lugar. Uma única sensação ainda lhe incomoda disso tudo, tanto o braço, quanto a perna estão gelados e levemente dormentes, como se nenhum calor pudesse vir deles novamente. A temperatura claramente diferente do resto do corpo.

Você sabe que isso não faz o menor sentido e resolve ignorar a situação. Corre para o outro lado da plataforma para pegar o trem de retorno, uma vez que está três estações a frente da que deveria.

Hatzemberger

Por:

Davi M Gonzales

Bio:

Davi M Gonzales é residente em São Caetano do Sul, SP. Vem publicando seus contos regularmente, como resultado de concursos literários ou na submissão a editoras. Possui inclinação para o fantástico, em especial a Ficção Científica e seus subgêneros.

Contato: E-mail Conto:

Domingo, 14 de agosto de 1906. Mais uma vez, Hatzemberger daria início ao culto. O procedimento era sempre o mesmo:

conferia todos os adornos do altar e das laterais da igreja, depois retirava de dentro da gaveta seu exemplar, já surrado pelos anos, da Bíblia Sagrada, Edição do Celebrante, e só então se vestia, o que fazia sem muito custo, já que as roupas para celebração haviam sido meticulosamente separadas na noite anterior.

A última parte dos paramentos a ser ajeitada era sempre o solidéu: uma curiosa e incomum peça, herdada por ocasião da morte de seu grande amigo, o Cônego Helmer Kratzer.

Passados três anos, Hatzemberger ainda ponderava sobre a forma peculiar como Helmer havia deixado este mundo.

Formados pela mesma ordem, tornaram-se amigos inseparáveis, na verdade confidentes, fato que transparecia claramente nas correspondências que entre eles eram trocadas com considerável frequência. Ainda assim, Hatzemberger fora tomado de total surpresa com as notícias sobre o repentino abandono da fé por parte do amigo. Apenas em sua última carta, fazia menção a estar passando por problemas. Coisas estranhas que remetiam a desvios de ordem nervosa e nenhum tratamento tentado conseguira reverter.

O religioso tomou em suas mãos o antigo acessório – uma espécie de chapéu pequeno destinado a cobrir a calva – e passou a recordar trechos da última correspondência recebida do amigo Helmer, datada de 13 de abril de 1903:

...durante o dia todo, e como em todos os dias mais recentes, fui acometido por terríveis dores de cabeça. E sei que a noite não me trará melhor conforto. São 20:30h, hora de me recolher, e posso literalmente sentir que “aquilo” virá novamente.

Como um animal destinado ao abate, caminho para a certeza do fim. Vislumbro apenas um tênue fio a separar sanidade e loucura, fé inabalável e medo do desconhecido.

Os horrores que tenho suportado fazem-me querer livrar-me da tortura, mesmo que pelo caminho da morte. Que poderei mais fazer? Foram seguidas todas as recomendações que ensina a nossa moderna ciência médica e, ainda assim, nada conseguiram que viesse minorar este verdadeiro flagelo em que se transformaram minhas noites.

Ontem, esse temido algoz veio sob a forma de um homem claro, de feições delicadas e olhar aguçado. Suas roupas negras eram estranhas, coladas ao corpo, de forma a marcar o perfil esbelto. Ordenava com veemência que renunciasse à fé no Senhor e, sem trégua, bradava sobre as atrocidades cometidas pelos homens, em nome de Deus.

Suas palavras cometiam blasfêmias indizíveis contra o Salvador. E por todas as vezes que tentei dizer qualquer coisa, fui tomado por um insuportável sufocamento, um estrangulamento que me desencorajava a qualquer resposta. Então, como em todas as vezes, ele retirava do bolso de sua estranha vestimenta um pequeno objeto, na forma de uma minúscula adaga árabe, e esculpia em minha fronte uma cruz.

O pesadelo sempre terminava com a criatura mostrando meu reflexo, onde, horrorizado, eu podia ver uma cruz invertida, da qual escorriam grossos filetes de sangue.

Meu querido amigo, não posso suspeitar o porquê dessas dores e pesadelos aterrorizantes. Com toda a certeza necessito de ajuda, pois meus nervos não mais suportam tamanha aberração. Muito tenho orado ao Senhor para que me livre desta maldição e não tendo obtido qualquer melhora, resolvi pelo afastamento de minhas funções religiosas, já que me sinto completamente dominado por este medo inominável...

Decorridas algumas semanas, depois de recebida a carta, Hatzemberger soube que o amigo se encontrava em um sanatório e, quando conseguiu visitá-lo, constatou-o realmente perturbado. Apenas uma palavra resumia seu estado: apatia. Helmer olhava

para o vazio por longas horas e, quando dizia algo, suas palavras não faziam qualquer sentido. Faleceu em 12 de junho do mesmo ano, após uma crise, seguida de terríveis convulsões espasmódicas.

Todas essas reflexões não se passaram sem motivo: durante seu último serviço, no dia anterior, o religioso havia sentido coisas estranhas, e foram estas que o fizeram recordar-se do que havia acontecido ao amigo Helmer. De fato, logo após o início do culto, já nas primeiras alocuções, ele sentiu uma tênue coceira no couro cabeludo, uma leve dormência, o que foi imediatamente seguido de uma dor lancinante – impiedosas fisgadas, intensas dores na cabeça que o fizeram soltar um gemido abafado. Enquanto os fiéis despediam-se, ele sentia as têmporas inundadas pelo suor e experimentou uma vertigem, que não demorou a melhorar assim que se despiu das vestes pesadas e tomou uma beberagem de efeito analgésico. No domingo, aquela estranha dor voltou a repetir-se, com a agravante de que durante a noite dormira muito mal, por conta de um hediondo pesadelo.

No dia seguinte visitou o médico, que lhe recomendou novas beberagens e pelo menos três dias de descanso. Temeroso de que sua situação pudesse seguir os mesmos rumos do problema de Helmer, resolveu que adotaria à risca as recomendações médicas e, por isso, cancelou todos os cultos e as demais atividades agendadas para aquela semana.

Os dias passaram-se leves, com a característica sensação de alívio por ter resolvido um problema que já se estendia por mais tempo que o recomendável. Não voltou a ter sonhos ou as terríveis dores de cabeça que tanto o incomodavam. Como em um passe de mágica, o médico conseguira suprimir completamente as dores, os pesadelos e também seus receios.

Munido de novo ânimo, voltou à sua rotina de serviços religiosos. Mas logo na primeira vez, após os primeiros cânticos entoados em latim, tudo voltou: dormência, dores agudas e pesadelos noturnos. Notou então que se tratava de um ciclo: bastava voltar ao serviço religioso e tudo recomeçava, e quando estava fora da igreja, como em um passe de mágica, seus problemas desapareciam... que estranha moléstia seria aquela, que tudo fazia para afastá-lo dos desígnios do Senhor? Lembrou-se novamente de seu amigo e de quando o vira pela última vez: que estado deplorável o havia tomado, transformando aquele servo de Deus em nada mais que uma sombra da personalidade enérgica e cativante, que tanto tinha feito pelos homens e pela fé. Teria ele o mesmo destino? Que faria agora de sua vida se não mais pudesse subir ao púlpito? Helmer resistiu tanto quanto pôde e acabou pagando com a própria vida. E parecia que agora ele, o dedicado Hatzemberger, estava fadado ao mesmo fim...

Tendo seus pensamentos povoados por essas questões, subiu os degraus de sua residência paroquial, onde os móveis escuros entristeciam o ambiente. De dentro da cômoda retirou uma caixa. Um pequeno estojo de madeira, com tampa trabalhada, que havia sido deixado para ele por seu querido amigo Helmer Kratzer. Poucos objetos: um exemplar da Bíblia e um

Tendo seus pensamentos povoados por essas questões, subiu os degraus de sua residência paroquial, onde os móveis escuros entristeciam o ambiente. De dentro da cômoda retirou uma caixa. Um pequeno estojo de madeira, com tampa trabalhada, que havia sido deixado para ele por seu querido amigo Helmer Kratzer. Poucos objetos: um exemplar da Bíblia e um

No documento VÁRIOS AUTORES 1 (páginas 26-36)

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