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Um Último Beijo Frio

No documento VÁRIOS AUTORES 1 (páginas 66-73)

Por:

Fernando Varga

Bio:

Fernando Varga (1985) é de São Paulo/SP. Estudante de Letras e Redator Web, tem contos publicados nas coletâneas Universo Fantástico (Ed. PerSe), Vampiros, Lobisomens e Outros Entes Monstruosos (Free Books Ed. Virtual) e Irreversível (Ed. Oito e Meio), e nas revistas Zzzumbido e Vacatussa.

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— Mas, afinal, você TENTOU se matar ou QUIS se matar?

João Otávio deslizou as costas para cima do travesseiro. Contorceu-se para pegar o cigarro na cabeceira e franziu a testa. Um cheiro de suor misturado ao de mofo e cloro permeava o quarto.

— Esse assunto agora?

— É. Por que não?

Ele abanou o fósforo enquanto tragava. Soltou a fumaça:

— E faz diferença?

— Toda!

O ar-condicionado tremelicou e ronronou mais forte. Ela se levantou e rasgou o pacote plástico de um robe.

Vestiu-o. João Otávio deu o que pensou ser uma última olhada naquelas curvas atraentes e se lamentou. Não estava confortável e já pensava em qual seria a desculpa para sumir no dia seguinte. Ela encheu a taça com a champanhe, deu um gole e continuou:

— As pessoas tentam se matar por vários motivos. Nem sempre elas realmente querem…

— Tipo? – João também começou a ficar com frio, mas homens de verdade, para ele, deveriam ser mais resistentes a mudanças de temperatura do que garotas.

— Ah, “coisas” – ela apoiou a taça na cabeceira e se deitou —, tipo: chamar a atenção de outra pessoa.

— Ora! Muita gente se mata de verdade “pra chamar a atenção de outra pessoa” ou coisa parecida. Isso é importante, também. Você não pode menosprezar o sofrimento de ninguém…

Ela deu de ombros, segurando a cabeça com a mão direita.

— Às vezes, a merda acontece. Mas é diferente. E então? Como foi com você?

João Otávio ouviu a pergunta. No entanto, estava mais atento ao seio esquerdo que escapava marotamente do robe.

— Eu não sei. Pode ser que, na época…

— Eu acho que sei. – Ela se virou para o teto e se espreguiçou. – Acho, não. Nem precisa dizer. Dá pra ver nos seus olhos.

— Como assim? – João apertou a bituca no cinzeiro e fungou o nariz gelado.

— A pessoa que realmente quis… que realmente QUER se matar, ela muda, entende?

O rapaz curvou as sobrancelhas. Ela olhou para seu rosto desorientado e achou graça. Rolou o corpo na direção do dele e subiu-lhe na cintura. Sorrindo, resolveu aprofundar-se. Seu hálito tinha um frescor de eucalipto alcoólico.

— QUERER se matar é como fazer um pacto com a Morte. É eterno. A alma fica marcada.

Recostou a cabeça no ombro de João. Podia ouvir o coração dele acelerado enquanto falava.

— É como ferro em brasa no couro de um novilho assustado. – disse, desenhando-lhe algo no peito.

João se ajeitou. Aquele dedo frio e o fez tremer. Queria desligar o ar-condicionado. O calor do sexo já havia se

dissipado.

— Eu não sei. Não me lembro. Isso já faz tanto tempo…

Ele a deslizou para o lado e se levantou. Foi até o frigobar e pegou a garrafinha de uísque. Olhou no cardápio o preço e chacoalhou a cabeça.

— Ah, mas o tempo não consegue curar tudo, como dizem por aí – ela rebateu —. Isso é uma mentira. O que foi feito na alma, fica na alma.

Sem se virar para ela, João abriu o minúsculo frasco. Enquanto despejava a bebida à garganta, pegou o controle remoto do ar-condicionado e reduziu a potência. Voltou para a cama.

— Como você pode saber disso? – perguntou, sentando-se ao lado dela.

— João… – ela ficou de joelhos na cama. – Você não se lembra?

O frio era insuportável. Ele olhou para o aparelho de ar condicionado. Os olhos lacrimejaram.

— Maldito. Deve estar quebrado.

— João, olhe nos meus olhos.

Delicadamente, pôs-lhe os dedos gélidos na bochecha e virou-lhe rosto. As lágrimas escorriam.

— Ah! Você se lembra! – ela sorriu, espremendo as pálpebras. – Então, vim aqui pra terminarmos o que começamos há tanto tempo.

Ele a olhava incrédulo. No rosto branco à frente, cenas do passado irromperam como slides de uma palestra desordenada.

— Mas… Mas e todo mundo? Eu não quero que sofram…

— Ora, João – ela gargalhou. —. “Todo mundo” quem? Você tem andado comigo pra cima e pra baixo há anos e ninguém nunca se importou. Estou mentindo?

A garganta de João Otávio pulsava. Parecia fechar-se. Virou-se de costas e segurou o choro, que ardia de não se caber no peito. Ela ficou de pé e apanhou-lhe o rosto com as mãos.

— Eu sou a única que sempre estive com você, meu querido. Que sempre lhe deu esperanças. Que sempre o amou! Só eu me preocupo com seu bem-estar.

João suspirou e balançou a cabeça. Concordou, olhando para o chão. Libertou-se das mãos esguias e tornou ao frigobar, arrastando os pés. O rosto da criatura transluzia lascívia hipnotizante. O rapaz abriu outro uísque e o tragou.

Satisfeita, ela deu a volta à cama como se valsasse, pegou a garrafa de champanhe vazia do chão e saltitou até o banheiro. Abriu a água quente do chuveiro. Uma névoa se ergueu do piso gelado.

João fumava enquanto a observava. Ela veio até a porta e recostou-se. Uma bailarina alva e reluzente, de olhos profundos, enquadrada pelo batente do banheiro.

— Vamos? Está na hora.

Ele deixou o cigarro se decompondo apoiado no cinzeiro. Foi até ela e recebeu um beijo frio nos lábios. Apanhou o casco, enrolou-o na toalha de mão e o bateu contra o granito da pia. Ficou somente com o gargalo, terminado em uma ponta que lembrava a barbatana de um tubarão faminto.

O ar estava úmido e denso. O suor escorria junto às lágrimas. João olhou para a indesejada amante, que assentiu.

Ele entrou no box e se sentou. Deixou a água quente escorrer no corpo por um tempo, lavando o sangue do retalho no pescoço, até que o frio e a dor se dissiparam em luz.

Wisteria

Por:

Alison Silveira Morais

Bio:

Alison Silveira Morais é escritor, tradutor e ilustrador; graduado em Letras – Inglês pela Universidade Federal de Santa Catarina, atualmente mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução também na UFSC. Seus interesses transitam entre os gêneros de terror e horror nos contos, a literatura brasileira, inglesa e a teologia. Tem contos e poesias publicados desde 2016 e suas obras já foram expostas em workshops e palestras.

Contato: E-mail Conto:

— Senhorita Rosa, Rosa, abra a porta – dizia apressado Uziel, o recém-chegado empregado da pensão.

Rosamund abriu a porta e perguntou o motivo de tantas batidas desesperadas, e ele, quase gaguejando, disse:

— A mada... a madame Wessington, ela mandou seu filho trazer alguns grandes vasos, ele está lá em baixo.

— O filho dela? Geralmente ela que faz questão de vir pessoalmente pedir-me os arranjos florais, mas de qualquer forma, peça-o que suba, o receberei imediatamente.

Elizabeth Wessington, era uma das mulheres mais poderosas de Londres, dona de terras e grandes fábricas de peças para trens, esposa de Sir John Baxter Wessington, braço direito econômico da Rainha Vitória, era uma senhora que gozava de uma vida tranquila e cheia de luxos, e seu preferido, era a decoração de seu palacete com os mais diversos e esplendorosos arranjos florais jamais vistos em toda Londres Vitoriana.

Costumava ir, pelo menos uma vez por semana, à casa de Rosamund Gaskell, uma mulher simples, sorridente e perita em arranjos florais. Ela conhecia as cores, formas e perfumes dos mais diversos, nunca tinha se decepcionado com seus arranjos, então Senhora Wessington resolvera tornar-se cliente fixa. Naquela semana, porém, sentia-se indisposta e com dores de cabeça, e pediu para que seu filho Emett fosse levar seus novos vasos venezianos até Rosa para um arranjo de Wisterias roxas, flores recém-chegadas na Inglaterra.

Totalmente a contragosto, Emmet dirigiu-se a casa da tal mulher floristas, virou a cara para o cocheiro, resmungou e se meteu emburrado na charrete. Sentia-se aborrecido por ter que cancelar seus planos de fumar ópio e gastar dinheiro da família em farras e prostitutas. Mas obedecia a sua mãe, justamente para não perder essas regalias.

Saiu da Arlington Street, próximo ao Green Garden, local frequentado pela elite de Londres, passou por Westminster, e quando viu o Big Ben, revirou os olhos, porque sabia que depois da ponte teria que observar a pobreza, os trabalhadores sujos e os mendigos leprosos zanzando de um lado para o outro. Ele fez questão de não prestar atenção nos nomes das ruas e bairros daquela parte de Londres, dependia totalmente de seu cocheiro, que depois de quase uma hora de viagem, parou na frente de um prédio antigo, uma espécie de pensão, ao leste de Southwark.

Emett Wessington era um jovem de dezenove anos, mimado, energético e alheio aos problemas da sociedade, esperava entrar logo naquele cubículo imundo que acreditava ser o apartamento de Rosa, entregar-lhe os vasos e partir correndo, não queria correr o perigo de pegar alguma doença horrível “daquelas que deixam as pessoas deformadas. ”

Foi recebido na porta por Uziel, e subiu as escadas apreensivo. Quando entrou no apartamento de Rosa, sentiu um forte aroma de flores que parecia invadir cada poro do seu corpo, era penetrante e suave. Adentrou e observou a sala do apartamento, de fato era muito pequeno, porém limpo e muito organizado, havia um sofá marrom de três lugares desbotado, papel de parede amarelo com ilustrações de flores, duas poltronas, uma cristaleira torta, tapetes persas falsificados e uma enorme janela branca que dava para a aterradora vista de um beco sem saída e uma parede de tijolos enegrecidos.

Quando se virou da janela, viu Rosamund saindo do outro cômodo, sentiu um baque em seu peito e perdeu o fôlego por uma fração de segundo, Rosa era uma das mulheres mais linda que já vira.

— Seja bem-vindo, sinta-se à vontade senhor Wessington, é uma honra enorme lhe conhecer – adiantando-se em pegar os vasos e leva-los para seu ateliê no outro cômodo, Rosa foi falando:

— Já resolvi a questão dos valores com a Senhora Wessington, estará tudo pronto em três dias! Certamente o senhor tem tantas coisas mais importantes para fazer, não quero amofina-lo.

Enquanto Rosa falava, Emmet a acompanhava com os olhos. Ela era uma mulher de 36 anos, olhos verdes, lábios delineados, cabelos castanhos que naquele dia estava preso em um coque no topo da cabeça e uma postura perfeita em um vestido de cor grafite com detalhes brancos, uma imagem que não imaginava encontrar naquele lugar, e sim em um baile real.

Mesmo ainda atônito, não se demorou e logo partiu para casa. No entanto, nem a imagem de Rosa e nem seu perfume abandonaram sua memória, e aquilo o fez sonhar com ela aquela noite.

Três dias depois, Emmet se ofereceu para buscar os arranjos na casa de Rosamund, logo que a madame Wessington ainda estava com a saúde frágil.

Nesta segunda visita à casa de Rosa, Emmet havia se transformado, abriu um sorriso quando a viu, e imediatamente tentou se mostrar galanteador da forma mais medíocre possível, jogando seu charme juvenil e esbanjando status e poder, falando de seus excessos e círculo social. Sentaram-se na sala e Rosamund resolveu se abrir para conversar e trazer até aquele garoto um pouco da realidade da vida e daquela cidade:

— Quero ser franca com o senhor, não acredito que perceba o que está fazendo, mas sou uma viúva, que pretende trabalhar e viver confortavelmente enquanto faço o que gosto e nada mais que isso, não me excita o status e nem as riquezas materiais que enches a boca para falar, o senhor desrespeita a mim, minha memória e meu passado. Nasci em uma família muito pobre, com 7 anos de idade eu trabalhava em uma fábrica de tecidos, 18 horas por dia, você sabe o que é isso? Minha mãe morreu jovem com problemas respiratórios de tanto trabalhar com cola, meu pai desapareceu quando completei 15 anos, e me casei para fugir da pobreza, e quase 20 anos depois meu marido também morreu enquanto trabalhava. Lutei desde muito cedo para realizar meu sonho, deixe-me vive-lo agora, e por favor, não entre mais por essa porta munido de arrogância e pedantismo.

Aquilo foi como colocar a última pá de terra sobre uma cova. Paralisado com o baque daquela afirmação tão direta e honesta, Emmet ficara pasmo. Deixou o apartamento sem proferir uma só palavra a mais, levando os vasos, raiva e aquele perfume de Wisteria de Rosa.

Rosamund ficou temerosa de perder uma de suas clientes mais ilustres, mas não pôde evitar naquele momento.

No entanto, ao contrário do que poderíamos imaginar, Emmet não esqueceu Rosa, e talvez, justamente por ter sido rejeitado pela primeira vez em sua vida, queria conquistar a confiança da mulher a qualquer custo. Aquela noite ele teve um sonho erótico, carregado de volúpia e excessos, sua mente manipulava seus sentidos, e acordou aquele dia sentindo o aroma das Wisterias.

Alguns dias depois, Emmet apareceu novamente à pensão onde Rosamund vivia, subiu e bateu na porta, ela atendeu e sem pestanejar ele lhe disse que trazia quatro novas encomendas, de futuras clientes. Ele havia indicado Rosa a elas, pagou-a com antecedência e partiu. Disse que buscaria os novos arranjos dentro de uma semana.

Todos os dias daquela longa semana, ele sonhou com Rosa, sonhos luxuriosos e depravados, e amanhecia com a lembrança do tal perfume. Uma semana depois voltou para buscar as encomendas, forçou ser respeitoso e cordial. Disse que trouxera novas encomendas, dessa vez da própria Rainha Vitória, e que talvez fosse o trabalho mais importante que ela faria.

Deu a ela um mês para fazer arranjos suspensos em mais de cinquenta novos vasos chineses adquiridos pela Rainha. Rosamund não cabia em si de tanta felicidade. Nunca ficara tão excitada com algo em sua vida, agarrou o garoto pelos braços e o levou para seu ateliê, para mostrar seu lugar preferido no mundo inteiro. Tomaram um chá em silêncio e se despediram mais tarde.

O perfume de Rosa, de Wisterias, era doce e delicado, invadia todos os pensamentos de Emmet. Pretendia voltar lá o quanto antes, não suportava mais ter aqueles sonhos libidinosos e não tê-la em seus braços.

Algum tempo se passou, e na janta do aniversário de 20 anos de Emmet, seu pai Sir John Baxter avisou que dentro de três meses ele iria envia-lo para França, para estudar direito na universidade de Toulose. Queria também que seu filho se casasse com Emelline na volta da viagem, um acordo a muito tempo consolidado com a família Nightingdale, a segunda família mais poderosa do reino. Tendo dito isso, nenhuma palavra a mais foi proclamada no jantar, e o ambiente ficou desconfortável.

No dia em que Emmet foi buscar os arranjos da Rainha na casa de Rosa, percebeu que ela estava muito alegre, parecia que as estrelas tinham se alinhado, e ela disse estar vivendo a melhor fase da vida, recebeu Emmet com um abraço. Ele a segurou alguns segundos à mais no abraço apertado e lhe roubou um beijo, que inesperadamente foi correspondido.

Seus beijos inicialmente desajeitados foram se adequando aos poucos, o perfume dela era inebriante e quase um elixir afrodisíaco. Seguiram até o ateliê, Emmet a deitou no chão com delicadeza e começou a despi-la, porém Rosa percebeu ter algo errado, ele resfolegava-se afoito em seu pescoço, e cada vez mais bruto puxava suas meias e abria suas ceroulas, a beijava com violência e puxava seus cabelos, quando ela gemeu e pediu que parasse. Ele não parou.

Forçou-a, jogou o peso de seu corpo contra o dela e prendeu suas pernas com as dele, Rosa sentiu um desespero crescente e falta de ar, pois não conseguiu acreditar naquele cenário aterrador. Aquilo durou minutos que pareciam horas inteiras, Emmet havia estuprado, e usado Rosa como havia feito muitas vezes antes com as prostitutas dos bordéis chiques que frequentava. Rosa

estava atônita, sentia nojo de si mesma, e um ódio avassalador em seu peito.

Emmet com expressão preocupada, enquanto se vestia e observava o corpo de Rosa desnudo, disse:

— Estes últimos momentos em Londres serão difíceis de esquecer, seu perfume faz-me perder em sonhos maravilhosos, você é uma mulher magnífica, não queria perde-la.

— Últimos momentos em Londres? Me perder?

— Passarei quatro anos em Toulose, frequentarei a universidade por lá e depois voltarei para me casar conforme os planos de meu pai. Não queria ir, adoro minha vida do jeito que está, ainda mais com você para me distrair, nunca pensei tanto em alguém antes.

Rosamund tomou um choque de realidade que pareceu mais um forte soco em seu estômago. Ficou com raiva, e sentiu-se desprezível, ela não passava de uma distração? E indagou:

— Distração?

— Não foi o que quis dizer, me perdoe, não leve por esse lado, não quis ofender, você é formidável, ainda tenho tempo por aqui, quem sabe poderíamos fugir juntos. Vamos para Genebra! Ou Berlim! Eu e você, parar de viver sobre as rédeas de meu pai, não quero saber de Emmeline Carr Nightingdale, quero você agora. Juro que vou organizar tudo para nossa fuga.

Rosa não sabia por que ficara tão irada de ouvir aquilo, era fora da realidade, era idiota e fantasioso, e afinal de contas, sabia desde o início que essa loucura não poderia gerar frutos, ela era uma viúva pobre, marcada pelas cicatrizes de uma vida que exigiu demais dela em muito pouco tempo, e ele era o filho ilustre de uma das famílias mais ricas do país, um jovem palerma, egocêntrico e principalmente inconsequente, e que Rosa naquele momento se arrependera profundamente de ter conhecido melhor.

John Baxter viu quando Emmet saiu de casa aquele dia, ele já o observava a um bom tempo com desconfiança, algo o incomodava profundamente. John tinha planos muito bem estabelecidos para seu filho, e nada podia ficar em seu caminho. No início acreditou que o interesse do filho pela tal florista era apenas um impulso como os que tinha com qualquer nova prostituta, mas uma faísca de preocupação se acendeu quando o viu falando daquela mulher e arranjando clientes para ela em festas e bailes de gala. Só a ideia iminente de que ele pudesse fazer alguma besteira era inaceitável, teria que colocar um pouco de juízo naquela cabeça oca e adiantar a viagem dele.

Uma noite, entrou no quarto de Emmet sem bater, com um tom muito sério, tez retesada e punhos cerrados:

— Garoto! Exijo uma explicação para seu comportamento mais recente. Por dias o vi falando com senhoras respeitáveis de nossa sociedade, parecendo um propagandista idiota falando de arranjos florais, o que você tem com aquela mulher golpista de Southwark?

O garoto estava deitado, entre sono, tomou um susto e respondeu gaguejando:

— Rosa? O que, o que que tem? Golpista?

— Você tem muito o que aprender com a vida, quero saber o que você tem com aquela meretriz. Você não pode se expor dessa maneira, você é um Wessington! Você tem um mundo em suas mãos e vai desperdiçar seu tempo com aquela miserável?

— Com Rosamund, não tenho nada, fui a sua residência alguns meses atrás, fizemos sexo, sonhava com isso todos os dias, matei minha vontade e nunca mais voltei, percebi que aquela imbecil não me queria, quem ela acha que é para me rejeitar?

Prometi que voltaria e fugiríamos para outro país e ela deve ter acreditado – Concluiu Emmet com tom debochado.

John sentiu-se enormemente aliviado, mudou seu tom de voz, e o avisou que adiantara sua viagem para o dia seguinte.

Emmet foi acordado às 03:30 da manhã no dia seguinte, interrompido de mais um de seus sonhos “indecentes”, pelos empregados da família Wessington e quando percebeu já estava caminhando para a carruagem. Suas malas estavam no veículo, que antes mesmo das 04:00 da manhã rumava para o Porto de Dover, em Kent, dali para Bruxelas, e depois uma longa viagem até a França. John observava da janela do quarto, indiferente. Faltava somente mais uma peça para ter a segurança que queria...

Pela manhã, John seguiu pessoalmente até onde Rosa morava. Foi recebido por ela, e se adiantou em suas acusações, chamou-a de meretriz interesseira, de viciada, impudica desavergonhada, uma miserável que acreditava em contos de fadas, tentando seduzir seu filho por dinheiro. Cuspiu em seu tapete e ameaçou-a, se algum dia ela chegasse perto de seu filho de novo,

Pela manhã, John seguiu pessoalmente até onde Rosa morava. Foi recebido por ela, e se adiantou em suas acusações, chamou-a de meretriz interesseira, de viciada, impudica desavergonhada, uma miserável que acreditava em contos de fadas, tentando seduzir seu filho por dinheiro. Cuspiu em seu tapete e ameaçou-a, se algum dia ela chegasse perto de seu filho de novo,

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