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Finalista (que atua sobre “a transformação dos homens”), que por sua vez também pode ser:

RELAÇÕES INTERNACIONAIS: GLOBALIZAÇÃO, DEMOCRACIA E

NORBERTO BOBBIO: DEMOCRACY AND PEACE

3) Finalista (que atua sobre “a transformação dos homens”), que por sua vez também pode ser:

a) Ético-religiosa: para os pacifistas desta orientação, o problema da paz (e da guerra) é um problema de conversão.

b) Terapêutico: os pacifistas desta orientação entendem a guerra como uma doença a ser curada. “Os primeiros confiam da pedagogia, isto é, numa obra de persuasão; os segundos, numa terapia, isto é, num tratamento.” (BOBBIO, 2003 a, p. 107).

Bobbio assume mais explicitamente, em vários artigos e momen- tos, a sua posição em favor do “pacifismo institucional-jurídico”, ou seja,

pela solução que prevê a instituição de um Terceiro acima das partes, bastante forte para poder prevenir os tradicionais conflitos entre Esta- dos e, caso um conflito estoure, para limitar suas conseqüências, e legi- timado ao mesmo tempo pelo consenso da grande maioria dos Estados que compõem o sistema internacional (2003 a, p. 08).

Na obra Il Terzo assente [O Terceiro Ausente] de 1989 e que foi, recentemente, traduzido e publicado no Brasil306 (com um primoroso tra-

306 Cfr. BOBBIO, N. O Terceiro Ausente: ensaios e discursos sobre a paz e a guer-

ra. Organização Pietro Polito; prefácio à edição brasileira: Celso Lafer; Trad. Daniela

Versiani. Barueri/SP: Manole, 2009. Ao prefaciar o livro em pauta, Celso Lafer assim o apresenta: “O Terceiro Ausente, livro que desenvolve e em parte atualiza os temas de O

Problema da Guerra e as vias da paz, tem como fio condutor discutir as lições do labi-

rinto e explorar as saídas que estas lições oferecem para a análise e a teoria das relações internacionais.” (LAFER, C. “Bobbio e as Relações Internacionais”. In: BOBBIO, N. Op. Cit. p. XXI).

tamento editorial e o apoio do Centro de Estudos Norberto Bobbio), o filósofo de Turim assim corrobora e explicita melhor sua posição:

Um sistema político duradouro e estavelmente pacífico é um sistema po- lítico no qual ocorreu a passagem do terceiro entre as partes para o tercei- ro acima das partes. Essa passagem ainda não ocorreu, ou ocorreu de for- ma ainda imperfeita no sistema internacional. Para ser eficaz em dirimir os conflitos entre as partes, o Terceiro deve dispor de um poder superior ao delas. Mas, ao mesmo tempo, um Terceiro superior às partes que seja eficaz sem ser opressivo deve dispor de um poder democrático [grifo

nosso], ou seja, fundado sobre o consenso e sobre o controle das mesmas partes das quais deve dirimir os conflitos (BOBBIO, 2009, p. LIII). No entanto, sem perder o “realismo político” que lhe é tão mar- cante, ao estabelecer uma relação entre a “exigüidade” versus a “eficá- cia” das três ações pacifistas acima descritas, Bobbio assim a descreve: a primeira [desarmamento] é a mais exeqüível e a menos eficaz; a terceira [ético-religioso] seria a mais eficaz e a menos exeqüível e, finalmente, a segunda [institucional] é menos exeqüível que a primeira e menos eficaz que a terceira; porém, para Bobbio, este é o mais crível, em parte, pois

No que tange às possíveis vias da paz, da observação de que os dois requisitos de exeqüibilidade e de eficácia estão em relação inversa de- corre uma conclusão: na situação presente da humanidade nenhuma das vias até agora cogitadas é, ao grau máximo, exeqüível e eficaz. O que significa que a meta, posto que possa ser atingida, ainda está longe. Mas será que temos tempo de esperar? (BOBBIO, 2003 a, p. 112).

Considerações finais

Encaminhando-nos para as conclusões de nosso trabalho, recorre- mos à metáfora do labirinto307, bastante utilizada por Bobbio:

A história é um labirinto. Acreditamos saber que existe uma saída, mas não sabemos onde está. Não havendo ninguém do lado de fora que nos possa indicá-la, devemos procurá-la nós mesmos. O que o labirinto en- sina não é onde está a saída, mas quais são os caminhos que não levam a lugar algum (Cfr. BOBBIO, 2003 a, pp.50-51)

Desta feita, podemos dizer que algumas das grandes lições que Bobbio quer nos transmitir no tocante ao problema da Democracia e da Paz é que:

1ª de fato, a guerra em nossa atual era atômica, é uma “via bloque- ada”, um caminho sem saída do qual devemos sempre mais nos afastar;

2ª não obstante o “pessimismo da razão” devemos alimentar o “otimismo da vontade”, ou seja, acreditarmos que “existe uma saída” e que ”devemos procurá-la nós mesmos”, pois como nos diz Lafer “a paz, como a democracia, não é um ‘dado’ mas um ‘construído’ possível da convivência humana;

3ª quem sabe a democracia não seja, de fato, um dos caminhos que nos levem a algum lugar mais seguro na busca de uma paz duradou- ra? Apostemos e, principalmente, engajemo-nos nesta possibilidade.

307 “A metáfora explicita a visão que Bobbio temo do papel da razão na História, que

é tanto de indicar a existência de caminhos bloqueados no labirinto da vida coletiva quanto o de buscar, em função das lições do labirinto, caminhos de saída, que nunca são uma saída definitiva.” LAFER, C. “Bobbio e as Relações Internacionais”. In: BOBBIO, 2009, p. XXXI.

Referências

BOBBIO, N.. O Problema da Guerra e da Paz. Trad. Álvaro Lorencini. São

Paulo: Editora UNESP, 2003 (a).

______. O Futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. Trad. Mar-

co Aurélio Nogueira. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

______. Norberto Bobbio: o filósofo e a política. Organização e apresentação

José Fernándes Santillán; prefácio Norberto Bobbio; Trad. César Benjamim e Vera Ribeiro (partes VI a IX). Rio de Janeiro: Contraponto, 2003 (b).

______. O Terceiro Ausente: ensaios e discursos sobre a paz e a guerra. Orga-

nização Pietro Polito; prefácio à edição brasileira: Celso Lafer; Trad. Daniela Versiani. Barueri/SP: Manole, 2009.

______. O Tempo da Memória: De Senectute e outros escritos autobiográfi-

cos. 4 ed. Trad. Daniela Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o Governo Civil e outros Escritos. Trad.

Magda Lopes e Marisa L. da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994. (Coleção Clássicos do Pensamento Político).

A IDEIA DE PROGRESSO DA HUMANIDADE.