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NORBERTO BOBBIO: ETHICS AND POLITICAL REALISM

Carlos Nunes GUIMARÃES67

Resumo

Este ensaio trata da relação entre ética e política no pensamento de Nor- berto Bobbio. O filósofo italiano, - que foi influenciado tanto pelo idea- lismo kantiano quanto pelo realismo hobbesiano -, enfrenta o complexo problema da relação entre ética e política, apresentando as teorias sobre as possíveis relações entre as duas esferas que foram elaboradas pela filo- sofia política: desde o realismo político do “fim que justifica os meios” de Maquiavel e da razão de Estado, até as duas éticas, da responsabilidade e dos princípios, de Weber, passando por posições intermediárias. Após esta exposição histórico-conceitual da questão, Bobbio reconhece que o tema não admite uma solução definitiva, como todas as questões morais, mas aponta para a democracia como aquele sistema que, apesar de todas as suas limitações, mais permite aproximação entre as exigências da moral e da política, entre o interesse particular e o coletivo. Reconhece, porém, que para alcançar este objetivo não são suficientes somente as boas leis, mas também bons cidadãos, que precisam ser educados para as virtudes cívicas.

67 Doutorando pelo Programa Integrado de Doutorado em Filosofia UFPB-UFPE-U-

Palavras-chave: Ética. Política. Realismo. Poder. Razão de Estado.

Abstract

This paper deals with the relationship between ethics and politics in the thought of Norberto Bobbio. The Italian philosopher, - who was influen- ced by both the Kantian idealism as the Hobbesian realism - faces the complex problem of the relationship between ethics and politics, presen- ting theories about the possible relations between the two spheres that have been produced by political philosophy: from the political realism of “the end justifies the means” of Machiavelli and the Reason of State, until the two ethics, of responsibility and of principles, proposed by We- ber, passing through intermediate positions. After this exhibition of the conceptual history of the question, Bobbio recognizes that the subject does not admit a definitive solution, like happen with all moral issues; but points to democracy as that system which, despite all its limitations, allo- ws more convergence between the requirements of morality and politics, between private interest and the collective. Bobbio recognizes, however, that achieving this goal are not only sufficient good laws, but also good citizens, who must be educated to the civic virtues.

Keywords: Ethics. Politics. Realism. Power. Reason of State.

Ética e política

Os homens inevitavelmente estão envolvidos pela política. Esta atividade é inerente à própria condição humana de convivência em socie-

dade. Muitos são os fatores que contribuem para a incompreensão da po- lítica enquanto uma atividade imprescindível para resolução de conflitos e um caminho para a realização do homem enquanto ser social; destaca- -se entre estes, os questionamentos acerca da conduta ética dos homens no universo da política.

De acordo com Norberto Bobbio a relação entre ética e política é um “tema velho e sempre novo, porque não existe questão moral, em qualquer campo que seja proposto, que tenha encontrado uma solução definitiva” (BOBBIO, 2000, p. 177). Com efeito, em busca de respostas a esta intrigante questão, Bobbio analisa as origens desta relação confli- tuosa e aponta que o dualismo entre ética e política é um dos aspectos da grande oposição entre Igreja e Estado:

Um dualismo que não poderia nascer senão da oposição entre uma ins- tituição cuja missão é ensinar, pregar e recomendar leis universais da conduta, que foram reveladas por Deus, e uma instituição terrena cuja tarefa é assegurar a ordem temporal nas relações dos homens entre si (BOBBIO, 2000, 182).

A contradição que insiste em envolver esta relação (ética e políti- ca) não era preocupação do homem Greco-romano, forjado por condutas, padrões e valores a partir do que emanava do Estado. Os conceitos de homem e de cidadão fundiam-se. Era da polis que brotavam os códigos de comportamentos. Em Aristóteles, vamos observar que é objetivo da ética conseguir a felicidade para o homem por meio de funcionamento adequado de suas potencialidades. Todavia ressaltemos que o estagirita não defende um ideal individualista.

Por auto-suficiente não entendemos aquilo que é suficiente para um ho- mem isolado, para alguém que leva uma vida solitária, mas também

para seus pais, filhos, a esposa, em geral para os seus amigos e conci- dadãos, pois o homem é por natureza um animal político. (ARISTÓTE- LES, 1992, p.23, 1097b-10)

Desta forma, Aristóteles compreende a polis como o coroamento natural de um processo que principiando na família, depois nas aldeias, encontrava na cidade-estado a via de desenvolvimento humano, ou o di- reito de os homens viverem suas vidas de modo mais desejável. Ora, se a ética é a ciência do bem para o indivíduo, de maneira semelhante a política o é para a coletividade, assim, ética e política estão conjugadas.

Há, pois, uma estreita ligação entre o indivíduo e a comunidade, tendo a conseqüência, conforme Aristóteles, da conjugação entre ética e política. Para o Filósofo, este elo é de maneira tão sólido que o leva a enxergar a política como portadora de valores éticos: “a finalidade da ci- ência política é a finalidade suprema, e o principal empenho dessa ciência é infundir um certo caráter nos cidadãos, para torná-los bons e capazes de praaticar boas ações” (ARISTÓTELES, 1992, p. 27, 1099b – 30). Ou ainda, afirma o estagirita: “O homem verdadeiramente político é aquele que estu- dou especialmente a virtude da excelência, já que ele quer tornar os cidadãos homens bons e obedientes às leis”. (ARISTÓTELES, 1992, p. 32, 1102 a-10).

Mas, o cristianismo inaugurou uma nova visão de mundo e intro- duziu o conflito na relação entre ética e política do qual o homem moder- no não consegue se afastar. Por isto, Norberto Bobbio afirma que, apesar dos fundamentos estarem em Aristóteles, a relação entre ética e política que se estabeleceu hodiernamente é portadora da oposição teórica e prá- tica entre a ação política e a moral cristã.

O pensador italiano apresenta outro fenômeno a alimentar a polê- mica que nos tempos modernos se aprofunda:

É verdade que a grande filosofia política nasceu na Grécia, mas a discus- são da relação entre ética e política torna-se particularmente mais aguda com a formação do Estado moderno, e recebe pela primeira vez um termo que nunca mais a abandonou: “razão de Estado”. (BOBBIO: 2000: 182). No período histórico identificado como renascentista e da transi- ção para a chamada Idade Moderna vão se ampliando os espaços de um pensamento que seculariza as consciências. Este processo tem um deci- sivo reflexo na formação dos Estados soberanos e temporais. A formação dos Estados trouxe intrínseca a necessidade de sua defesa. No conflituoso cenário onde se formaram, os defensores de sua soberania afirmavam não poder prescindir os Estados de métodos e instrumentos capazes de evitar sua ruína. Surge o conceito de “razão de Estado”, ao qual Norberto Bo- bbio alude acima.

Embora a expressão Ragione di Stato tenha sido forjada pelo pen- sador italiano renascentista, o jesuíta Giovanni Botero em 1589 (SKINNER: 1996, p. 267), todavia, é no diplomata da república florentina, Nicolau Ma- quiavel que o conceito havia sido estabelecido com maior profundidade.

O autor de O Príncipe é contundente quanto expressa sua filosofia política, convencido da necessidade de preservar o Estado, mesmo a des- peito de quaisquer julgamentos morais. Para Maquiavel, a manutenção da liberdade e do bem coletivo, somente serão garantidos pelo Estado que utilizar todas as medidas necessárias para sua preservação.

Quando é necessário deliberar sobre uma decisão da qual depende a sal- vação do Estado, não se deve deixar de agir por consideração de justiça ou injustiça, humanidade ou crueldade, glória ou ignomínia. Deve-se seguir o caminho que leva à salvação do Estado e à manutenção de sua liberdade, rejeitando-se tudo mais. (MAQUIAVEL: 2007, p. 443).

Para Bobbio, a razão de Estado é a exigência de segurança do Estado, que impõe aos governantes determinados modos de atuar. A dou- trina respectiva pode ser formulada, em seu núcleo essencial, quer como uma norma prescritiva de caráter técnico (como: “se queres alcançar esta meta, emprega estes meios”), quer como uma teoria empírica, que com- prova e explica a conduta efetiva dos homens de Estado em determinadas condições (BOBBIO: 2000, p. 1066). Bobbio vê assim, como insepará- veis a discussão sobre ética, política e a razão de Estado.

Para nosso autor somente no século XVI a oposição é assumida como problema prático, e somente a partir daí surge a necessidade de oferecer a esta questão alguma explicação. E aponta o que considera nes- te debate, o “texto canônico”: O Príncipe, de Maquiavel, chamando a atenção em particular para o Capítulo XVII desta obra, que impactou de forma extraordinária a noção de uma política idealizada que possa produ- zir o bem somente pelos caminhos do bem. No continente da política, a partir do florentino, ou seja, a política como a busca de resultados, a ética ganhou nova noção.

Quanto mais seja louvável em um príncipe, manter a fé, vivendo com inte- gridade e não com astúcia, qualquer um compreende: não obstante. a expe- riência mostra que, em nossos tempos, fizeram grandes coisas aqueles prín- cipes que a fé tiveram em pouca conta. (MAQUIAVEL, 1999, cap. XVII).

Analisando a assertiva do diplomata de Florença, Bobbio vê que a chave da questão está na expressão “grandes coisas”:

Se começarmos a discutir acerca dos problemas da ação humana, não do ponto de vista dos princípios, mas do ponto de vista das “grandes coisas”, isto é, dos resultados, então o problema moral muda completa- mente de aspecto, invertendo-se radicalmente. (BOBBIO: 2000, 183).

Nesta perspectiva, a política como o resultado da ação dos ho- mens na busca de “grandes coisas” conduz o debate a um conceito sobre o qual se apóia a razão de Estado: o realismo político.

O realismo político

Compreender o que traduz o realismo político é um caminho indispensável para encontrar as chaves dos debates entre ética e polí- tica. E mais uma vez, Norberto Bobbio nos aponta o pensamento de Nicolau Maquiavel.

Certamente que o florentino não fundou este pensamento; bem antes dele o historiador grego Tucídides já o expôs quando relata na His-

tória da Guerra do Peloponeso, as origens, motivações e dinâmicas da

conflituosa relação entre Esparta e Atenas. Assim como há registros das posições antagônicas entre idealistas e realistas, desde a Atenas clássica, nos debates entre Sócrates e os sofistas Trasímaco e Cálicles, expostas por Platão em seus Diálogos Górgias e na República.

Todavia, é mesmo a partir do autor de O Príncipe, com “La verità

effettuale della cosa” que o realismo ganha maior dimensão. Maquiavel

critica aqueles que “conceberam repúblicas e monarquias jamais vistas e que nunca existiram na realidade”. (MAQUIAVEL, 1999, cap. XV).

Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria viver. Que quem se preocupar com o que deveria fazer em vez do que se faz, aprende antes sua própria ruína, do que o modo de se preservar; e um homem que quiser fazer profissão de bondade, é natural que se arruíne entre tantos que são maus (...) se os homens fossem melhores não precisareis da força, nem da fraude.

Esta expressão do realismo declarada de forma contundente pelo secretário florentino é um ataque à tradição que debatia a política como deveria ser, enquanto que o secretário diz tratar a política como ela é. Nesta perspectiva, a lógica a conduzir as ações políticas ou dos Estados, já não fica submetida a julgamentos morais, ou sobre noções do bem e do mal. Mais adequado é dizer que no realismo a ação po- lítica é julgada pelos resultados que pode produzir. Em outras palavras é na compreensão de Norberto Bobbio (2000, p. 178) a afirmativa que Maquiavel atribui a Cosimo de Medici (e parece aprovar) de que os Estados não se governam com o pater noster. Maquiavel, prossegue Bobbio, “demonstra considerar, e dá por admitido, que o homem políti- co não pode desenvolver a própria ação seguindo os preceitos da moral dominante, que em uma sociedade cristã coincide com a moral evangé- lica”. (BOBBIO, 2000, p. 178).

Mas, apesar da sua capital influencia nos debates políticos, con- forme afirma TOSI (2007), o realismo não é propriamente uma doutrina política ou um sistema político, como o liberalismo ou o socialismo, uma vez que não há uma unidade de pensamento. O realismo do “Maquiavel republicano” dos Discursos e de Espinosa do Tratado Político assume uma perspectiva ex parte populi, ao contrário do realismo do Leviatã ho- bbesiano, do Maquiavel de O Príncipe, posicionados ex parte príncipe; o realismo de Hobbes e Espinosa é jusnaturalista, já o hegeliano é histo- ricista. Mas, apesar dessas diferenças pode-se falar de realismo político, porque existem elementos em comum.

Prossegue TOSI (2007) acerca do realismo

Mais do que uma filosofia o realismo pode ser visto como um método, um “olhar”, uma maneira de ver o homem e a sociedade: o olhar céptico e pessimista sobre a natureza humana e suas possibilidades de transfor-

mação radical; um olhar “amoral” sobre a política, que estabelece uma diferença profunda entre a moral individual e as razões da política que são irredutíveis uma a outra; um olhar objetivo, neutro, científico que se limita a observar o existente, a descrever, mais do que prescrever, ou prescrever a partir de uma descrição do homem e da sociedade assim como ela é e não como deveria ser. (IDEM, 2007, p. 3).

Sobre conceitos do realismo político, Hans Morgenthau, em sua obra Política Entre as Nações (apud NOGUEIRA & MESSARI, 2005, p. 29) defende que o Estado define o interesse nacional e isto se traduz como poder, o que impõe ao governante a adoção da ética da responsabi- lidade, onde se abriga a tese de que o interesse relevante é a salvação do Estado. Esta é a afirmação da tese maquiaveliana, e desta forma a política pode visar três objetivos: manter o poder, aumentar o poder e demonstrar o poder. Pode-se desta forma afirmar que para os realistas o poder é o elemento central de suas análises.

Hans Morgenthau, (apud NOGUEIRA & MESSARI: 2005, p. 33-34), teórico que organizou e deu consistência ao realismo político como abordagem teórica nas relações internacionais, estabeleceu seis princípios que definem e diferenciam o realismo em relação a outras “disciplinas”, a saber:

1. A política assim como a sociedade é governa- da por leis objetivas que refletem a natureza humana. A ênfase aqui é no conceito de lei e no conceito de objetividade. Por lei, entende-se uma repetição consistente dos eventos, enquanto pela objetividade, entende-se o caráter imutável dos fenômenos da po- lítica. Portanto, para entender, analisar e lidar com a política é necessário referir-se à natureza humana, isto é, ao que há de mais profundo e mais imutável no ser humano.

2. Morgenthau define os interesses em termos de po- der, propondo, assim, fazer a teoria na perspectiva do estadista. Segundo ele, este princípio protege o realismo de duas falácias, a preocupação com as motivações e com as preferências ideoló- gicas, já que bons motivos não levam necessariamente ao suces- so das políticas. Para contornar tais falácias, afirmou que todos os Estados têm o mesmo objetivo: o poder. Com este princípio afirma-se a autonomia da política em relação às demais esferas sociais, e elevou a racionalidade ao instrumento central do pro- cesso político. O uso da razão caracteriza a esfera política.

3. O terceiro princípio destaca o poder como um con- ceito universalmente definido, mas cuja expressão varia no tempo e no espaço. Isto é, a expressão do poder varia com o contexto e o lugar nos quais este poder é exercido.

4. O quarto princípio estabelece a importância dos princípios morais como guia das ações políticas, mas afirma que os princípios morais devem ser subordinados aos interesses da ação política. Em outros termos, e para utilizar um conceito usado por Morgenthau, o limite dos princípios morais é a pru- dência: ao observar os princípios morais, o estadista tem de ter claro que a segurança e os interesses do Estado que governa não estão ameaçados.

5. No quinto princípio, é afirmado que os princípios morais não são universais, ma sim particulares. As aspirações morais de uma nação não se aplicam ao resto do universo. Para ele, os princípios morais de um Estado não devem nem podem ser considerados princípios morais universais, expansivos para o resto da humanidade. Neste princípio o autor estava claramente

lidando com uma tendência nos Estados Unidos de se considerar os princípios morais americanos superiores aos demais e, portan- to, que é dever dos Estados Unidos “exportar” tais princípios ao resto do mundo.

6. No sexto e último princípio, é afirmada a autono- mia da esfera política em relação as demais esferas, a jurídica, a religiosa, etc. Ao afirmar tal princípio, Morgenthau reconhece a legitimidade de se pensar os fenômenos sociais de várias maneiras, mas afirma que a política estuda fenômenos específicos e que a tor- nam total e legitimamente autônoma em relação as demais esferas. Pier Paolo Portinaro, em El Realismo Político (1999, p. 32) citan- do Norberto Bobbio, afirma que:

En su dimensión descriptiva, es un paradigma epistemológico al que se aten una concepción de la política como lucha por el poder – una lucha que se vale de la violencia hasta el extremo del asesinato físico-y una concepción del Estado como “puro fenómeno de fuerza o como instru- mento de imposición de un orden. En su articulación, prescritiva, por realismo debe entenderse en cambio una orientación, una sensibilidad, podríamos decir casi un instinto, al servicio de La auto conservación del sujeto colectivo que es el Estado, una especie de tecnología del poder que opera sobre los móviles de La acción humana, un arte de gobierno que se apoya en un conjunto más o menos sistemático de máximas pru- dentes y constantemente orientado a La búsqueda de un precario equi- librio en una situación caracterizada por la desigualdad, actores hostiles e recursos escasos.

Portanto, o realismo político que ganha visibilidade, sobretudo através da razão de Estado, vai provocar uma ruptura na compreensão tradicional da relação entre ética e política. Este conflito emerge quando

os objetivos políticos necessitam, pela via da razão de Estado, da imple- mentação de medidas que a consciência moral do homem - privado - de- saprova por ter como parâmetro de conduta valores que transcendem a compreensão do poder temporal.

Bobbio e a relação entre ética e política

Enfrentando esta polêmica Norberto Bobbio em sua obra Teoria

Geral da Política (2000) reconhece que o problema das relações entre

ética e política é mais grave:

Porque a experiência histórica mostrou (...) e o senso comum parece ter pacificamente aceito, que o homem político pode comportar-se de modo disforme da moral comum, que um ato ilícito na moral pode ser considerado e apreciado como lícito na política – em suma, que a po- lítica obedece a um código de regras, ou sistema normativo, diferente de, e em parte incompatível com, o código, ou sistema normativo, da conduta moral. (BOBBIO: 2000, p. 177).

Para responder se a política pode ser submetida ao juízo moral, Bobbio articula um elenco com cinco teorias que chama de “justificações”:

Teoria da derrogação: Não há lei moral que não preveja exceções em circunstâncias particulares. A regra “não matarás” falha no caso da legíti- ma defesa – vale dizer no caso em que a violência é o único remédio possível para a violência, naquela particular circunstância (BOBBIO, 2000, p. 186).

Nesta perspectiva, a ética na política não foge a este preceito. Não há lei moral que não comporte a excepcionalidade. É justamente sobre esta justificação que se apóia a razão de Estado. Ou seja, assim como o exemplo de “não matar” falha no caso da legítima defesa, a razão de Es- tado é compreendida como a legítima defesa do Estado.

A teoria da ética especial: Nesta “justificação” Bobbio invoca a categoria do jus singulare, que em relação ao jus commune “concerne particularidade aos sujeitos, ou seja, ao status de certos sujeitos que exa-