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THE IDEIA OF PROGRESS OF HUMANITY AN ANALYSIS OF THE PHILOSOPHY OF HISTORY IN KANT AND BOBBIO

RELAÇÕES INTERNACIONAIS: GLOBALIZAÇÃO, DEMOCRACIA E

THE IDEIA OF PROGRESS OF HUMANITY AN ANALYSIS OF THE PHILOSOPHY OF HISTORY IN KANT AND BOBBIO

Luciano da SILVA308

Resumo

A doutrina do progresso não somente técnico-científico, mas moral e po- lítico da humanidade vêm sendo construída ao longo da história, sobre- tudo na Modernidade. Entre os seus forjadores encontram-se dois pen- sadores distantes no tempo, mas próximos nas ideias: Immanuel Kant, que pensou o Progresso não como necessário, mas possível, e Norberto Bobbio, que identifica seus indícios no ininterrupto movimento de ex- pansão da democracia na nossa época. Esse trabalho objetiva analisar a atualidade da idéia de Progresso e com isso “propor o problema do sentido da história”.

Palavras-chave: Ideia. Filosofia da História. Progresso. Democracia.

308 Doutorando do Programa Integrado de Doutorado em Filosofia: UFRN – UFPB –

UFPE. Membro do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB. E-mail: lucia- nojpb@gmail.com

Abstract

The doctrine of progress of humanity, not only technical and scientific, but moral and political, has been built throughout history, especially in Modernity. Among his forgers there are two thinkers distant in time, but close in ideas: Immanuel Kant, who thought the Progress not as a neces- sity, but as a possibility, and Norberto Bobbio, who identifies his signs in the uninterrupted movement of expansion of democracy in our time. This work aims to analyze the actuality of the idea of progress and thus, “to propose the problem of the meaning of history”.

Keywords: Idea. Philosophy of History. Progress. Democracy

Introdução

A idéia de progresso pode ser compreendida como uma teoria que sintetiza uma visão do passado e uma profecia do futuro, tornando possí- vel pensar a humanidade a partir de um lento, mas constante, desenvolvi- mento sem apresentar sinais de retrocesso. A doutrina do progresso é um caminho traçado pela humanidade do “primitivismo” em direção a um futuro “glorioso”. Nesta visão, mesmo diante dos problemas ocorridos nos dois últimos séculos, a história caminharia para frente.

Uma das origens do conceito de progresso remonta à Modernida- de com o surgimento do método científico-tecnológico que promove um inegável progresso técnico-científico, a partir do qual vários pensadores se perguntaram se era possível também um progresso moral e político. Embora seja possível encontrar no mundo clássico concepções próximas a essa ideia de progresso, como o sentido de marcha do universo e o

sentido de gradualidade desse processo, essa é uma ideia originariamente moderna, porque exige não só um fluxo constante, como também uma finalidade, elementos não encontrados nos clássicos.

Seu surgimento, segundo as exigências das interpretações con- temporâneas, a exemplo de Bobbio, se encontra melhor definido na Re- nascença, em Jean Bodin, na Methodus ad facilem historiarum cognitio-

nem (1566), ao considerar que a história da humanidade reúne elementos

os quais podem levá-la a um gradual aperfeiçoamento; como também em Bacon e Descartes: o primeiro ao afirmar que a Idade Moderna é mais avançada que as Idades passadas, consequentemente encontra-se mais próxima da verdade; o segundo ao descobrir leis naturais invariá- veis e com isso excluir a ideia de um guia providencial. Na querelle des

anciens e des modernes, estes últimos se afirmavam superiores aos pri-

meiros, uma vez que seu conhecimento era mais rico, porque havia sido adquirido ao longo dos séculos e estava alicerçado sob a experiência dos antepassados (BINETTI, 2003). Essa interpretação da história humana reúne os elementos necessários à ideia de Progresso, porque apresenta gradualidade do processo histórico, e sentido de um longo futuro para a humanidade e a indicação de uma meta (SAINT-PIERRE, 2003).

Propomos-nos, no trabalho que segue, pensar a ideia de progres- so da humanidade a partir de um recorte entre dois pensadores distantes no tempo, mas próximos nas idéias: Immanuel Kant (1724-1804), para quem o progresso moral é uma possibilidade e não uma necessidade; e Norberto Bobbio (1909-2004), o qual questiona se a ideia “iluminista” de progresso possa ainda ter sentido no advento do último século. O ob- jetivo maior do artigo é analisar a Filosofia da História pensada por Kant à luz da questão levantada por Bobbio (2004, p. 121): “tem ainda algum sentido propor o sentido da história?”

Kant e a noção de progresso a partir da filosofia da história Progresso como superação da menoridade

A concepção kantiana de progresso pode ser encontrada ao longo de sua vasta obra, mas é nos textos considerados ocasionais que essa noção se torna mais explícita: Resposta à pergunta: que é o iluminismo? (1784); a Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmo-

polita (1784); Início presumível de uma história humana (1786); Á paz

perpétua (1795); e O conflito das faculdades (1798). Nesse sentido, a afirmação de Gérard Lebrun (1986, p. 75) em relação “a oposição entre a

Historie, disciplina do entendimento, e a Weltgeschichte, discurso sobre

o sentido necessário da história”, de que ela remonta a Kant e não a Hegel se mostra bastante oportuna.

No curso da história humana a natureza (natura daedala

rerum)309 é a garantia da paz perpétua. Seu movimento deixa trans-

parecer uma finalidade ao possibilitar o surgimento da paz entre os homens a partir da “insociável sociabilidade” humana. Isto pode cha- mar-se destino ou mesmo providência, em referência ao objetivo para o qual caminha o gênero humano. Contudo, cabe ao próprio homem a construção da história.

O iluminismo é um dos caminhos para essa construção porque não significa uma época já iluminada, mas um processo de iluminação, a saída da menoridade, da qual o homem é o único responsável. Tarefa ainda mais difícil se esta menoridade já fizer parte de sua natureza. A superação dessa condição cabe ao esforço próprio e, nesse processo, a liberdade se mostra quase imperceptível nesse processo, porque ocorre de forma bastante lenta.

309 “A natureza è artífice de todas as coisas”, Lucrécio: De Rerum Naturae, V, 234.

Pode-se ainda pensar a liberdade por meio de uma “revolução”, pela derrubada de um império ou de uma ditadura, mas Kant se refere a uma liberdade no âmbito do pensamento, única capaz de trazer a maiorida- de. Nessa forma de revolução o Estado não pode exercer controle, porque não pode intervir no âmbito do pensamento: “Semelhante contrato, que decidiria excluir para sempre toda a ulterior ilustração do gênero humano, é absolutamente nulo e sem validade, mesmo que fosse confirmado pela autoridade suprema por parlamentos e pelos mais solenes tratados de paz” (KANT, 1992, p. 15). Não aceitar uma tal forma de contrato, significa não deixar às gerações futuras os erros cometidos no presente, pois isso seria contrário ao iluminismo. A maioridade também compreende uma emanci- pação religiosa, porque essa tutela “além de ser mais prejudicial, é também a mais desonrosa de todas” (KANT, 1992, p. 18). O progresso ocorre pela liberdade no âmbito do pensamento, por isso, se trata de um progresso mo- ral da humanidade, no qual a vontade deve ser autônoma310.

Antagonismo como “condição” do progresso moral da humanidade A liberdade da vontade é determinada por leis naturais universais. Dessa forma, o que se mostra confuso no indivíduo pode ser reconhecido

310 A autonomia é o princípio supremo da moralidade. Fundamentalmente ela representa

duas coisas: a vontade de uma legislação universal e o respeito à pessoa humana. Dessa forma, Kant pode afirmar a boa vontade como aquela que não pode ser má, isto é, quan- do transformada em lei universal não pode contradizer-se. A autonomia se explica pela liberdade, a qual constitui a propriedade da vontade de cada ser vivo. Enquanto racional, não é determinada por nenhuma causa estranha. Isso é possível pela razão (Vernunft), ao permitir distinguir entre mundo sensível e mundo inteligível, definindo assim, os limites do nosso entendimento. Essa distinção é importante porque o indivíduo precisa conside- rar-se como pertencente ao mundo sensível, sob leis naturais (heteronomia); enquanto pertencente ao mundo inteligível, sob leis independentes da natureza (mas fundadas na razão) (KANT, 1974).

como um desenvolvimento progressivo da espécie. A natureza humana não está sujeita ao controle humano311. Os homens podem controlar suas

próprias ações, mas quando se trata do gênero humano, o controle cabe à própria natureza. Evidencia-se aí um fio condutor que exerce um controle sobre os conflitos, orientando a espécie humana num constante progresso moral, “um propósito da natureza que possibilite, todavia uma história segundo um determinado plano da natureza para criaturas que procedem sem um plano próprio” (KANT, 1986, p. 10). Não é possível pensar as disposições naturais da natureza humana sem propósito algum, por isso é preciso “encontrar um fio condutor para tal história e deixar ao encar- go da natureza gerar o homem que esteja em condições de escrevê-la segundo este fio condutor” (KANT, 1986, p. 10). A natureza tem uma necessidade que está inscrita no conflito, aparentemente inconsciente, entre as pessoas. A realização desse fim da natureza é quase mecânico, porque o homem é naturalmente levado ao conflito. Não se trata de um resquício de determinismo na história. Kant relaciona natureza e história, mas mantém a distinção entre os dois conceitos312. A realização de um

311 Em O futuro da natureza humana (2001), Habermas observa que a natureza já não é

mais algo além do controle humano. Hoje, existe uma possibilidade real, através de uma “eugenia liberal”, de tornar disponível o que até então é (era) naturalmente indisponí- vel: a vida. A natureza humana já não é indisponível ao controle humano: [ ] “É assim que nomeio uma prática que deixa ao parecer dos países a possibilidade de intervir no genoma do óvulo fecundado. Isso não significa uma intervenção nas liberdades que competem moralmente a toda pessoa nascida, tenha sido ela gerada de forma natura ou programada de modo genético. Todavia, essa prática afeta um pressuposto natural da consciência da pessoa por ela atingida de poder agir de maneira autônoma e responsá- vel” (HABERMAS, 2004, p. 108).

312 Na Fundamentação da metafísica dos costumes a natureza é uma lei universal que

surge como desmembramento consecutivo do imperativo categórico. Deste deriva a universalidade da lei, ou seja, a natureza no seu mais abrangente sentido. Significa dizer que a realidade da coisa é determinada por uma lei universal, denominada por Kant de imperativo. Portanto, além da fórmula “única” do imperativo categórico, pode-se

plano oculto da natureza é uma interpretação do conjunto das liberdades individuais, portanto, um homem racional livre, enquanto a história é construída a partir das realizações dessas liberdades. O fio condutor que se apresenta aí é a razão ao conciliar os fins individuais, os quais se mos- tram confusos numa primeira observação, ao resultado maior, qual seja, a constituição civil perfeita313.

É fácil não perceber, no desenvolvimento individual dessas dispo- sições, algo condizente com a proposta de progresso, porque este só é ob- servado na totalidade dessas disposições. Os indivíduos agem a partir do livre arbítrio, onde encontram tudo que precisam para seu avanço moral. Portanto, ele não é guiado pelos instintos, ou por qualquer ideia inata, mas pela razão. Se puder alcançar a felicidade será por seu próprio mérito e pode tornar-se digno antes de qualquer outra coisa. Dessa forma, mesmo sem se dar conta cada geração prepara um degrau à ascensão das gerações futuras, tornando o que há de mortal no indivíduo numa imortalidade da es- pécie, única capaz de atingir a plenitude das disposições naturais humanas. As leis criadas pelos homens controlam as disposições humanas como um meio para atingir essa plenitude. O antagonismo é a “insociável

também concluir como uma de suas consequências a lei da natureza: “age como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela tua vontade, em lei universal da natureza” (KANT, 1974, p. 224). Kant se refere a natureza não em sentido material, no qual nossa sensibilidade é impressionada por um objeto, do qual não podemos conhecer a essência, mas em sentido formal, ou seja, “possível graças à constituição do nosso entendimento, segundo a qual todas as representações da sensibilidade são necessariamente referidas a uma consciência, e mediante o que se torna primeiramente possível a nossa maneira própria de pensar, a saber, o pensamento por regras e, por seu intermediário, a experiên- cia que deve inteiramente distinguir-se do conhecimento dos objetos em si” (KANT, 1988, 96).

313 Campre-Casnabet (1994, p. 108) se refere a esse plano oculto da natureza da seguinte

forma: “Essa monstruosidade ética (o fim justifica os meios) é uma necessidade inscrita na natureza e na história”.

sociabilidade” humana porque se refere à possibilidade de dissolução da sociedade devido ao conflito iminente, o qual se mostra como um meio de elevação da rudeza à cultura (KANT, 1986). Este é o inicio de um pro- cesso de iluminação que pode “finalmente transformar um acordo extor- quido patologicamente para uma sociedade em um todo moral” (KANT, 1986, p. 13-4). Não haveria progresso sem o antagonismo, porque este representa a chave para a solução do maior problema que a espécie deve resolver, uma sociedade civil na qual as disposições humanas tenham liberdade para se desenvolver com respeito à constituição civil.

A solução desse problema é a superação do estado de natureza nos âmbitos interno e externo a um Estado. O estabelecimento da or- dem social é o resultado da insociabilidade entre os homens, os quais reconhecem a necessidade do artifício da disciplina, inclusive para o desenvolvimento de suas disposições naturais. Mas, a dimensão desse problema mostra porque será o último a ser resolvido. Juntamente com a criação da sociedade civil vem a necessidade de um Senhor, o qual também precisa de um Senhor, uma vez que precisa ser tirado da pró- pria espécie humana. Advém daí a dificuldade de encontrar um gover- nante justo, seja este uma pessoa ou um grupo de pessoas, pois todos abusarão da liberdade que tem em mãos se não houver acima de si um Senhor que também o governe, segundo as leis. É uma tarefa difícil encontrar um homem perfeito entre uma humanidade imperfeita. Nesse sentido, Kant precisa recorrer a “ideia” de um governante justo, embora reconheça que “apenas a aproximação a esta ideia nos é ordenada pela natureza” (KANT, 1986, p. 16).

A guerra como meio à paz universal

Um dos pontos característicos da Filosofia da História apresen- tada por Kant é a elevação do conflito das disposições humanas ao âm- bito internacional. O estado de natureza também se encontra entre os Estados, como mais uma situação propositada pela natureza para forçar o alcance de uma sociedade civil perfeita em sentido universal. Embora pareça duvidoso, a guerra é um dos meios que a natureza encontrou para superar a insociabilidade entre os homens. Kant utiliza o conceito de natureza em sentido teórico e não religioso, por ser mais apropriado aos limites da razão humana, a qual deve manter-se nos limites da ex- periência possível. A filosofia teórica de Kant mostra como não é dada ao homem a possibilidade de conhecer o absoluto, nesse caso, o dia em que se alcançará a sociedade civil perfeita. Pois, como um ser finito pode conhecer o infinito, o incondicionado? Contudo, Kant em momen- to algum desiste de encontrar o absoluto. A sua filosofia da história é prova dessa busca, porque cria a possibilidade de aproximação à ideia, por meio da liberdade, que tem origem nas disposições naturais de cada indivíduo. Nesse sentido, a história da humanidade é uma história po- lítica porque é construída a partir de um ordenamento jurídico (HER- RERO, 1991). A sociedade cosmopolita só é possível pelo ordenamento do direito e, portanto, não se compara em nada com uma ideologia, utopia ou religião. Por isso, antes que determine esta garantia, aponta a necessidade de “examinar o “estado” que a natureza organizou para as pessoas que agem no seu grande cenário, em último termo, a garantia da paz; e, em seguida, examinar primeiro o modo como ela subministra esta garantia” (KANT, 1992, p. 143). Essa “providência” tomada pela natureza para a convivência dos homens sobre a Terra encontrou na guerra o artifício necessário para alcançar esse fim:

Quando digo que a natureza quer que isto ou aquilo corra bem não significa que ela nos imponha um dever de o fazer (pois isso o pode fazer a razão prática isenta de coação), mas que ela própria o faz quer queiramos quer não (fata volentem ducunt, nolentem trahunt) (KANT, 1992, p. 146).

Se as discórdias intensas não se mostrarem suficientes para uma submissão dos homens à coação das leis públicas, a natureza tomará pro- vidências usando a guerra como artifício e mostrará aos indivíduos a ne- cessidade dessas leis. Cada povo deve constituir-se num Estado, e como potência encontrará em seus vizinhos um contraponto, seus adversários. A solução para tais conflitos é a “Constituição Republicana”, embora seja a mais difícil de constituir porque significa alcançar a plena realização dos direitos do homem. Mais uma vez, então, a natureza age para restabelecer a vontade geral, fundada na razão, mas que se mostra impotente na prática.

A natureza age em busca da boa organização do Estado a partir da força residente no indivíduo de frear os impulsos de seus semelhantes: “o resultado para a razão é como se essas tendências não existissem e / assim o homem está obrigado a ser um bom cidadão, embora não esteja obrigado a ser moralmente um homem bom” (KANT, 1992, p. 146). A natureza mostra o quanto é necessário o estabelecimento do direito, pois o que não for feito pela razão, será feito pela natureza: “isto significa, pois, que a natureza ‘quer’ a todo o custo que o direito conserve, em último termo, a supremacia. O que não se faz aqui e agora por negli- gência far-se-á finalmente por si mesmo, embora com muito incômodo” (KANT, 1992 p. 147).

Vale lembrar que o estado de natureza é hipotético e, dessa forma, pode ser pensado racionalmente. E ainda no âmbito do pensamento este pode ser superado em vista do estabelecimento do estado civil, único capaz de as-

segurar o meu e o teu exterior e fazer os homens e os Estados permanecerem no caminho de realização da plenitude de suas disposições morais.

Para Kant, a trajetória percorrida pela humanidade aponta para uma constituição civil perfeita. A ambição entre os Estados assegura que estes não podem negligenciar nada a seu povo, sem sofrer consequ- ências em suas relações externas por conta disso. Se isto não evidencia o progresso da humanidade, mas confirma a finalidade da natureza e “traz a esperança de que, depois de várias revoluções e transformações, finalmente poderá ser realizado um dia aquilo que a natureza tem como propósito supremo, um estado cosmopolita universal, como o seio no qual podem se desenvolver todas as disposições originais da espécie humana” (KANT, 1986, p. 21,2).

Essa visão filosófica da história universal do mundo é possível, porque busca encontrar um sentido, uma ordem, em meio ao que pare- ce desordenado. A estrutura de À Paz Perpétua resume essa proposta ao distinguir entre seis artigos chamados “preliminares” ao estabelecerem as condições necessárias para a suspensão dos motivos que poderiam ocasionar a guerra entre os Estados, e três denominados definitivos que estabelecem as regras para alcançar a paz duradoura. Em geral, a obra compreende quatro pontos fundamentais: ( i ) não existe uma relação ju- rídica entre os Estados; ( ii ) o estado de natureza deve ser superado entre os Estados; ( iii ) deve-se estabelecer uma federação de Estados livros, por meio de um contrário originário, com o intuito de impedir que a intro- missão de um Estado nas decisões internas de outro; ( iv ) essa federação não deve modo algum se um Estado soberano acima dos outros Estados. Ela se refere a uma associação com a única finalidade de estabelecer a “igualdade” entre as nações. Vale salientar que se trata de uma confede- ração entre Estados soberanos, portanto, uma associação de interesses

comuns, cada um conservando sua autonomia (BOBBIO, 1992).

A interpretação de Kant situa-se no campo do possível, isto é, de uma condição que permite tão somente uma aproximação da essência do objeto em questão, nesse caso da ideia de uma constituição civil perfeita, a qual se encontra no propósito da natureza.

A filosofia kantiana da história interpreta os fatos históricos como uma teleologia natural, que segue um caminho inconsciente, não deter- minado, sem uma direção intencional a um fim, um progresso. Kant pre- tende saber se o género humano progride moralmente, de forma constan- te, ou se moralmente encontra-se estagnado, isto é, dando voltas que o fazem permanecer no mesmo lugar. Há, portanto, três possibilidades de analisar essa questão: