Para que a informação seja gerada pela entidade, há um custo. Esse custo para gerar a informação é uma restrição que estará sempre presente no processo de elaboração e divulgação dos relatórios contábil-financeiros.
Também há os custos incorridos de análise e interpretação da informação por parte dos usuários da informação contábil-financeira.
Além disso, caso as informações necessárias não sejam fornecidas, os usuários terão custos adicionais para obtenção da informação por outras fontes ou por meio de estimativa.
Portanto, a restrição do custo deve ser aplicada na elaboração e divulgação dos relatórios contábil-financeiros, onde devem ser avaliados os benefícios que serão proporcionados pela elaboração e divulgação da informação, ou seja, é, literalmente, avaliar o custo-benefício de elaborar e divulgar tal informação.
1.1.4.4. Elementos das Demonstrações Contábeis
Demonstrações contábeis retratam os efeitos patrimoniais e financeiros das transações e outros eventos, agrupando-os em classes de acordo com as suas características econômicas.
Essas classes são chamadas de elementos das demonstrações contábeis, que se dividem em dois tipos:
I – elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e financeira no balanço:
– ativos; – passivos; e
– patrimônio líquido.
II – elementos diretamente relacionados com a mensuração do desempenho na demonstração do resultado:
– receitas; e – despesas.
1.1.4.4.1. Posição Patrimonial e Financeira
Os elementos diretamente relacionados com a mensuração da posição patrimonial e financeira são ativos, passivos e patrimônio líquido.
Ativo: é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual
se espera que resultem futuros benefícios econômicos para a entidade.
Exemplo: Uma máquina utilizada na produção é controlada pela entidade como resultado
de um evento passado (compra da máquina pela entidade) e do qual a entidade espera que resultem futuros benefícios (os produtos fabricados pela referida máquina geram lucro para a entidade quando vendidos).
Passivo: é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos já ocorridos, cuja
liquidação se espera que resulte em saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos.
Exemplo: Uma dívida com um fornecedor em virtude da compra de mercadorias a prazo
(dívida a pagar) corresponde a uma obrigação presente da entidade derivada de um evento já ocorrido (compra de mercadorias a prazo), cuja liquidação resultará em saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos (saída de dinheiro do caixa da empresa para pagamento dos fornecedores).
Patrimônio Líquido: é o valor residual dos ativos da entidade depois de deduzidos todos os
seus passivos, ou seja, é a diferença entre o total de ativos e o total de passivos.
Ao avaliar se um item se enquadra na definição de ativo, passivo ou patrimônio líquido, deve-se ter atenção para a sua essência subjacente e realidade econômica e não apenas sua forma legal (essência sobre a forma).
Não entendeu o que seria essa tal de “essência sobre a forma”? Está em dúvida? Então, vamos ver um exemplo.
Exemplo: A empresa J4M2 vendeu, à vista, um imóvel de sua propriedade, na Av. Rio
Branco, 100, no Rio de Janeiro, para a empresa Kaprisma, por R$ 120.000,00. Logo em seguida, a empresa Kaprisma alugou o referido imóvel para a empresa J4M2, por um ano, com um aluguel mensal no valor de R$ 1.200,00. No contrato de aluguel havia uma cláusula
que previa a possibilidade de a empresa J4M2 efetuar a recompra do imóvel ao final do seu prazo de vigência, pelo valor de R$ 120.000,00.
Repare que, neste exemplo, a forma jurídica da transação é uma venda do imóvel da J4M2 para Kaprisma, seguida de um aluguel do mesmo imóvel, agora pertencente à empresa Kaprisma, para a empresa J4M2. Vamos detalhar melhor:
Venda do Imóvel (J4M2 para Kaprisma) = R$ 120.000,00
Aluguel do Imóvel (Kaprisma para J4M2) = R$ 1.200,00 mensais por um ano (R$ 14.400,00 no total)
O contrato de aluguel possuía uma cláusula com a previsão de recompra do imóvel, ao final do prazo de vigência. Repare que o valor final desembolsado pela J4M2, caso efetuasse a recompra, seria de R$ 134.400,00, que corresponde ao valor da recompra do imóvel pela J4M2 (R$ 120.000,00), somado ao valor que foi pago pela J4M2, como aluguel, por um ano de contrato (R$ 14.400,00).
Portanto, qual foi a essência da transação? Vamos lá! O que você acha? A essência da transação é exatamente um empréstimo obtido pela J4M2 com a Kaprisma.
Veja: Na aquisição do empréstimo, a empresa J4M2 recebeu R$ 120.000,00. Além disso, a empresa J4M2 pagou R$ 1.200,00 de “juros mensais” durante um ano e, no final do período de vigência do “suposto” contrato de aluguel, recomprou o imóvel por R$ 120.000,00. Viu? Esta é a essência da transação.
1.1.4.4.1.1. Ativos
O benefício econômico futuro embutido em um ativo é o seu potencial em contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes de caixa para a entidade.
O fluxo de caixa é a diferença entre os fluxos positivo (Exemplo: recebimentos diversos) e negativo (Exemplo: pagamentos diversos).
Caixa: compreende numerário em espécie e depósitos bancários disponíveis.
Equivalentes de caixa: são aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez
(normalmente, com vencimento em até 90 dias), que são prontamente conversíveis em um montante conhecido de caixa e que estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor.
A entidade, geralmente, utiliza os seus ativos na produção de mercadorias ou prestação de serviços capazes de satisfazer os desejos e necessidades dos clientes.
Os benefícios econômicos futuros de um ativo podem fluir para a entidade de diversas maneiras.
Por exemplo, um ativo pode ser:
– usado isoladamente ou em conjunto com outros ativos na produção de mercadorias e serviços a serem vendidos pela entidade;
indústria.
– trocado por outros ativos;
Exemplo: Compra à vista de mercadorias para revenda. O dinheiro utilizado na compra é
um ativo.
– usado para liquidar um passivo;
Exemplo: Pagamento de fornecedores. O dinheiro utilizado para pagamento é um ativo. – distribuído aos proprietários da entidade.
Exemplo: Distribuição de lucros aos proprietários da entidade. O dinheiro utilizado na
distribuição é um ativo.
Muitos ativos, por exemplo, máquinas e equipamentos industriais, têm uma substância física. Entretanto, substância física não é essencial à existência de um ativo.
Exemplo: As patentes e direitos autorais são ativos, desde que deles sejam esperados benefícios econômicos futuros para a entidade e que eles sejam por ela controlados.
Muitos ativos, como contas a receber e imóveis, estão ligados a direitos legais ou a direito de propriedade. Contudo, ao determinar a existência de um ativo, o direito de propriedade
não é essencial.
Exemplo: Um imóvel objeto de arrendamento é um ativo, desde que a entidade
arrendatária controle os benefícios econômicos provenientes do imóvel.
1.1.4.4.1.2. Passivos
Uma característica essencial para a existência de um passivo é que a entidade tenha uma obrigação presente resultante de um evento passado.
Uma obrigação é um dever ou responsabilidade de agir ou fazer de uma certa maneira. As obrigações podem ser legalmente exigíveis em consequência de um contrato, por exemplo.
Exemplo: Contas a pagar por mercadorias e serviços recebidos.
A extinção de uma obrigação presente pode ocorrer de diversas maneiras: – pagamento em dinheiro;
Exemplo: Pagamento de uma conta de telefone em dinheiro. – transferência de outros ativos;
Exemplo: Um cliente deu um adiantamento em dinheiro para que empresa fabricasse
determinado produto. Como a empresa ainda não entregou o produto ao cliente, esse adiantamento de cliente é uma obrigação da empresa. No momento em que a empresa entregar o produto para o cliente (transferência de ativo – o produto é um ativo da empresa), a obrigação com o cliente se extingue.
Exemplo: Um cliente deu um adiantamento em dinheiro para que empresa prestasse
determinado serviço. Como a empresa ainda não prestou o serviço ao cliente, esse adiantamento de cliente é uma obrigação da empresa. No momento em que a empresa prestar o serviço para o cliente, a obrigação com o cliente se extingue.
– substituição da obrigação por outra; ou
Exemplo: A empresa Linotécnica precisava pagar o aluguel de sua fábrica, mas não
possuía dinheiro no momento. Para não atrasar o pagamento do aluguel, a empresa fez um empréstimo bancário, ou seja, trocou uma obrigação (aluguel a pagar) por outra (empréstimo bancário a pagar).
– conversão da obrigação em capital.
Exemplo: A empresa Linotécnica possuía uma obrigação a pagar com o seu principal
fornecedor de matéria-prima. Contudo, ela não possuía dinheiro e também não conseguiu fazer um empréstimo bancário. Para resolver a situação, a Linotécnica ofereceu uma sociedade para o seu fornecedor em troca da dívida, ou seja, o fornecedor virou sócio da Linotécnica. Portanto, nesse caso, a Linotécnica converteu a obrigação em capital social.
Uma obrigação pode, também, ser extinta por outros meios, tais como pela renúncia do credor ou pela perda dos seus direitos creditícios.