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4. Globalização e Sistema Global 102

4.4. Fluxos Migratórios 120

Em seu relatório sobre globalização, o Banco Mundial (2004) enumerou conseqüências sociais, culturais da Globalização. Dentre essas conseqüências, a migração, tem gradualmente chamado a atenção. Bauman (1999) aponta que a mobilidade, característica chave da Globalização reflete-se não apenas na esfera do capital, ou da informação. Reflete-se nas pessoas, também.

O diagnóstico do Banco Mundial (2004) sobre fluxo de pessoas é o de que apesar das pressões econômicas para a migração, cresceram as restrições à imigração legal. De acordo com pesquisas feitas nos EUA e nos países da OCDE, os avanços tecnológicos aumentam a pressão por mão de obra qualificada. E, no entanto, os movimentos de imigração na sua grande maioria são compostos por pessoas não qualificadas, muitas vezes, fugindo da pobreza em seu país de origem. De acordo com o relatório,

as mudanças tecnológicas alteraram a demanda relativa por mão de obra, dando um peso maior para os trabalhadores com mais qualificação. A entrada de um grande número de migrantes não qualificados empurrou o salário relativo ainda mais para baixo, o que elevou a crescente desigualdade. (...) Uma entrada de trabalhadores pouco qualificados vindos do Hemisfério Sul, beneficiará significativamente os trabalhadores de alta qualificação do Hemisfério Norte. Seus empregos não estão ameaçados por esses migrantes, cuja presença reduzirá os preços de muitos bens que os trabalhadores qualificados consomem (inclusive alimentos, serviços de restaurante, hotéis e serviços pessoais – todas as áreas da economia em que os trabalhadores sem qualificação tendem a se concentrar). No entanto, a mesma entrada de pessoas reduzirá os salários reais dos trabalhadores locais pouco qualificados, em comparação com o que eles seriam se não houvesse a migração. (BANCO MUNDIAL, 2004, p. 113).

O relatório reconhece que os países ricos têm formulado políticas de imigração discriminatórias, que pendem em favor de migrantes com alto grau de escolaridade, e encorajando uma “fuga de cérebros” Mais ainda, o relatório reconhece que essas características relacionadas à migração - as vantagens econômicas que podem ser auferidas pelos imigrantes, em conjunto com as restrições impostas à movimentação – estimulam a proliferação da imigração ilegal e do tráfico de pessoas. De acordo com o Banco Mundial (2004),

Esse comércio ilegal de pessoas tornou-se um grande negócio, com receitas estimadas entre dez e doze bilhões de dólares por ano. Os traficantes chegam a cobrar apenas 500 dólares por uma curta viagem e, que apenas uma única fronteira é cruzada (...). O preço de uma viagem mais complexa (...) pode alcançar 70 mil dólares. Os migrantes ilegais são vulneráveis à exploração. (BANCO MUNDIAL 2004, p. 114).

A migração é o menos estudado dentre os fluxos globais. Para o Banco Mundial (2004), no entanto, é suspeito chegar a alguma conclusão decisiva a respeito deste fenômeno. As políticas discriminatórias de migração não ajudam os países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, as pressões demográficas tendem a acentuar o fluxo de migrações, o que, combinado à baixa probabilidade de que os fluxos de capital e produção estabeleçam-se a esses países, tornam o quadro bastante desanimador.

Para Castro (2001), o fenômeno das migrações tem impactos diferentes na comunidade internacional e nos Estados nacionais. Se, por um lado, o crescimento dos fluxos migratórios71 tem chamado mais a atenção dos organismos

internacionais, como a ONU, OIT, ACNUR e outros; o que tem gerado novos acordos multilaterais reconhecendo direitos desses migrantes – direitos civis, sociais, de trabalho – e propondo algumas formas de monitoramento. Além disso, a formação de blocos regionais incentiva a tomada de decisões multilaterais sobre o controle dos fluxos populacionais. Por outro lado, as políticas de migração nos países, principalmente os desenvolvidos, tornaram-se cada vez mais restritivas. Há uma tendência dos governos encararem as políticas migratórias como assuntos de segurança nacional.

As organizações de sociedade civil, neste caso, agem como instâncias de representação dessas pessoas, provendo serviços de apoio e assistência; como promotoras de educação sobre o fenômeno da migração nas regiões. Destaca-se, também a importância das organizações confessionais (pastorais, e outras organizações com cunho religioso).

Castro (2001) também aponta que:

novos agentes, como as mulheres e os jovens saem da invisibilidade (...) quando se escrutina o privado e as relações entre o público e o privado, o valor do trabalho das mulheres migrantes, na casa-e-no-mercado, sua vulnerabilidade às violências domésticas e institucionais, quer por barreiras lingüísticas, não- socialização com aparatos burocráticos e distanciamento do grupo familiar, por exemplo, assim como seus ganhos com a migração, quanto à liberdade de circulação e autonomia frente a repressões e amarras comunitárias e familiares. (...) A questão dos jovens também é uma lacuna nos estudos recentes sobre migrações de brasileiros, seu imaginário e necessidades, como por exemplo, seu desencanto com relação às possibilidades de mobilidade social no Brasil e associações entre esse desencanto, e a falta de alternativas de trabalho e a migração e com o envolvimento de jovens no tráfico e no turismo sexual. (CASTRO, 2003, pp. 16-17).

Cabe uma complementação sobre o recorte feminino na análise dos fluxos migratórios. Leary (2003) acrescenta mais alguns ângulos:

As trabalhadoras migrantes costumam pertencer aos segmentos mais pobres de seus respectivos povos, estando em situação de vulnerabilidade desde de sempre. Essa circunstância tende a agravar-se durante a sua permanecia no exterior: vistas como mão de obra barata e explorável, elas às vezes têm seus passaportes confiscados e ficam perdidas num país estrangeiro cujas leis e costumes desconhecem, não encontrando solução para os abusos de que são vítimas. (LEARY, 2003, p. 243).

71 Para ver dados sobre fluxos migratórios da América Latina para a Europa, ver Pellegrino (2004), pp. 16-18 e 22.

Considera-se abusos do tipo: condições despóticas de trabalho, longas jornadas, pouco descanso, violência verbal, física e até mesmo abusos sexuais. A tendência de feminização da migração para a Europa é notada pela OIM (Organização Internacional para Migração), em seu relatório sobre migrações de latino-americanos em 2004:

As was observed in Spain, Latin American immigrants in Italy are mostly women. The feminization of migration is particularly high and is undoubtedly related to the modality of integration of migrants into the labour market (see Table 10). There has been a growing tendency among Brazilian immigrants towards feminization (Machado Bógus, to be published). (Pellegrino, 2004, p.35).

A questão do tráfico de pessoas, para fins de exploração sexual, doação de órgãos, trabalho forçado e no caso de crianças, também adoção ilegal tem estado em maior evidência. Estimativas da Interpol, de acordo com Castro (2001), sugere que os lucros dessa atividade giram em torno de 9 bilhões de dólares. Passamos, agora, o nosso foco de estudo para esse tema.