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3. Sistemas de Defesa de Direitos Humanos 70

3.3. Os Sistemas de Proteção das Organizações Internacionais 80

3.3.2. O Sistema Americano 85

Os meios de proteção do sistema Americano – ou seja, da Organização de Estados Americanos, a OEA – são compartilhados por dois órgãos. De um lado, ha a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), a quem qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização pode apresentar a Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação do Pacto de San José por um Estado-parte. Entretanto, no caso de denúncias individuais, é preciso que o Estado reconheça a competência da CIDH para tanto, e no caso de denuncias interestatais, para seu acolhimento, uma declaração de reconhecimento é facultativa. No caso de acolhimento de uma denúncia individual, a CIDH tenta primeiramente, uma solução amigável entre as partes. Em seguida, caso não o Estado implicado não siga suas recomendações, a questão torna-se pública, e estabelece-se uma resolução declaratória ou não de culpa, e então, a comissão estabelece meios concretos de reparação. (SEITENFUS, 2003).

A CIDH teve, inicialmente, tarefas apenas de promoção em sentido estrito e não de proteção dos direitos humanos, funcionando corno órgão autônomo do sistema da OEA Suas atribuições e status institucional foram, portanto, sucessivamente fortalecidos. Uma das características mais importantes do funcionamento da CIDH consiste em sua capacidade de deslocamento ao território dos Estados americanos, com a anuência ou a convite do respectivo governo, a fim de observar in loco a situação geral dos direitos humanos. Uma vez terminada visita, é elaborado um relatório, que é enviado ao governo em questão. Muitos foram os países já inspecionados dessa forma. Alves (2003) coloca que, muitas vezes, essas missões têm efeitos preventivos: as recomendações dadas a países específicos encorajam remodelações jurídicas que afetem negativamente os direitos humanos em outros países.

Desde 1965, a II Conferência Interamericana Extraordinária ampliou o mandato da CIDH, transformando-a em instrumento de controle do referido pacto, com autorização para receber e examinar petições e comunicações a ela

submetidas, e competência para obter informações dos Estados americanos e formular recomendações. Atualmente, a CIDH tem o status de órgão principal da OEA, com a incumbência de promover o respeito e a defesa dos direitos humanos e servir corno órgão consultivo da Organização em tal matéria, além de suas funções originais. Graças a essa duplicidade de função, a CIDH tem interpretado seu mandato com grande liberalidade, ampliando significativamente suas formas de atuação. Ou seja, a CIDH passou de mero órgão de observação a órgão de ação. (ALVES, 2003, p. 78).

Além disso, os protocolos adicionais prevêem que o monitoramento e fiscalização dos direitos econômicos, sociais e culturais devem ser feitos pelo Comitê Interamericano para Assuntos Econômicos e Sociais, assim como pelo Conselho Interamericano para a Educação, Ciência e Cultura, através do exame de relatórios apresentados pelos Estados-partes. O Protocolo prevê, ainda, a possibilidade de recurso à CIDH para os casos de direitos de exigibilidade imediata.

Por outro lado, há a Corte Interamericana de Direitos Humanos, composta por sete juizes de diferentes nacionalidades dos Estados-membros, que são eleitos pelo voto da maioria na Assembléia Geral da Organização. Somente os Estados-partes e a Comissão têm direito de submeter casos à decisão da Corte.

Quanto à responsabilização do Estado, existem duas correntes de pensamento: aquela que pressupõe a regra do esgotamento dos recursos do direito interno antes do julgamento pela corte internacional da violação de direito internacional, enquanto que a segunda defende o exame imediato pela corte internacional, a partir do momento da violação, sem prejuízo da utilização dos recursos internos.

A Corte tem competências consultiva e contenciosa. A competência consultiva é ampla, permitindo a todos os membros da OEA – partes ou não do Pacto de San Jose – e a todos os outros órgãos da OEA: a Assembléia geral, o Conselho Permanente, a CIDH etc. A consulta pode ser sobre a interpretação da Convenção Americana ou de outros tratados sobre a proteção dos direitos humanos nos Estados americanos bem como sobre a compatibilidade entre as leis nacionais e esses instrumentos jurídicos regionais. A competência contenciosa para o julgamento de casos a ela submetidos, por sua vez, é limitada aos Estados-partes da convenção que a reconheçam expressamente. A maior atividade da Corte tem-se

concentrado na jurisdição consultiva, sendo poucas as sentenças judiciais já proferidas pelo órgão em questão.

3.3.3 O Sistema Europeu

O sistema europeu foi estabelecido pelo Conselho da Europa, que determina em seu estatuto que todos os Estados-membros do Conselho da Europa devem aceitar os princípios do Estado de Direito e a fruição, por todas as pessoas dentro de suas jurisdições, dos direitos humanos e liberdades fundamentais. Três são os órgãos responsáveis pela implementação da Convenção: a Comissão de Direitos Humanos, o Conselho de Ministros e a Corte de Direitos Humanos.

A Comissão de Direitos Humanos funciona em Estrasburgo, e tem por função básica receber denúncias de Estados e indivíduos, iniciando o procedimento de monitoramento e proteção. Não tem o dever de formular relatórios. A maior parte dos Estados reconhece a competência da Comissão para receber tais denúncias, o que é feito através um processo bastante rigoroso que avalia a admissibilidade das petições individuais. Sendo aceitas, inicia-se uma nova fase, a de investigação preliminar dos fatos e a tentativa de realizar de um acordo amigável entre as partes. Caso esse acordo não seja alcançado, a Comissão poderá encaminhar o caso ao Conselho de Ministros ou à Corte de Direitos Humanos. Em geral, seguem para a Corte os casos dos Estados que aceitam sua jurisdição. Os demais devem ser encaminhados para o Conselho de Ministros para que seja tomada uma decisão política. Nestes casos, após a decisão de que houve violação de direitos, é fixado um prazo para que o Estado envolvido faça a reparação. Na eventualidade de não obter as medidas de reparação, o Conselho de ministros pode levar o caso a público, ou, no extremo, expulsar o estado-membro. (VIEIRA e SÜNFELD, 1999; ALVES, 2003).

A decisão de qualquer uma das instâncias, no entanto, tem força obrigatória para os Estados-partes. Essa situação criou um sistema paralelo de controle da compatibilidade da legislação doméstica aos parâmetros estabelecidos pela Convenção Européia de Direitos Humanos, como prevenção a situações de incompatibilidade. O Conselho de Ministros é também uma instância de monitoramento da implementação das decisões da Corte ou dos acordos realizados pela Comissão.

Por fim, deve-se destacar que na maioria dos Estados europeus a Convenção ingressa automaticamente no ordenamento jurídico, com status de lei ordinária, podendo ser invocada diretamente ante os tribunais nacionais. Há alguns países, entretanto, onde a Convenção exige atos parlamentares para que os direitos ali reconhecidos possam ser reclamados junto ao judiciário. Gradualmente, no entanto, os magistrados desses países têm se permitido olhar para a Convenção como direito auto-aplicável. O sistema europeu de proteção dos direitos humanos tem sido um dos pilares do processo de constitucionalização do direito comunitário europeu, assegurando parâmetros que devem limitar não apenas os Estados, em suas relações com os seus cidadãos, mas também entre a UE e os nacionais de cada Estado.

Além do sistema americano e europeu, que brevemente descrevemos aqui, a África conta com um sistema regional de monitoramento, que ainda está começando a estruturar-se. A Organização da Unidade Africana é a responsável por essas atividades de proteção, promoção e controle de direitos humanos, adotando a Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos. A carta prevê uma Comissão Africana de Direitos Humanos que tem o encargo de realizar o monitoramento. São esses, resumidamente, os principais mecanismos internacionais de monitoramento e proteção de direitos humanos. (ALVES, 2003).