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2 O ROMANCE-FOLHETIM E A RELAÇÃO COM AS CRÔNICAS DO DESCOBRIMENTO E COM OUTRAS SÉRIES CULTURAIS

2.5 O Folhetim no México

No século XIX a imprensa periódica se expandiu no México e começaram a circular revistas temáticas e especializadas, políticas, humorísticas, literárias, científicas, e miscelâneas, muitas delas ilustradas. Os autores do folhetim mexicano são homens de letras e de ação. Praticamente todos eles lutaram na revolução, de um lado ou de outro. Eram homens movidos por ideais reformistas, e quando pegaram na pena o fizeram com a clara intenção de educar o povo. Se autodenominavam escritores de costumes, mas a experiência vivida e a aptidão para descrever a realidade de forma fictícia fizeram com que alguns desses escritores se colocassem bem além do simples repórter de costumes com o romance-folhetim.

Dentro dessa expansão da imprensa mexicana se publica em 1816, El Periquillo

Sarmiento, do mexicano José Joaquin Fernández de Lizardi. Um romance definido como

“satírico, sobre um personagem pitoresco e popular”. Alguns estudos apontam que Lizardi teria buscado inspiração no Lazarillo de Tormes para escrever o seu Periquillo. De fato,

podemos encontrar vários elementos da picaresca espanhola nessa obra mexicana. Lizardi conta com muita picardia as aventuras de Pedro Sarmiento e outros personagens maus e malditos. O que nos importa é ressaltar que a historiografia literária considerou El Periquillo

Sarmiento como o primeiro romance hispano-americano. E que a obra foi publicada por

entregas em folhetim. O México teria se antecipado à França no modelo de entrega por folhetins, diz Margo Glantz (1994), quem também adverte que pese a ser publicado dessa forma El Periquillo não é um folhetim. O folhetim no modelo francês de cortes suspensivos, capítulos entrecruzados viria depois com Vicente Riva Palacio, José T. Cuéllar, e principalmente, Manuel Payno.

Depois da publicação de El Periquillo Sarmiento, que se editou em 1816, houve muita experimentação narrativa no gênero novela curta, que levaria muito tempo para tentar mapeá-la aqui. A produção narrativa se acentua na década de 1830 em relação à novela curta, culminando esse tipo de narrativa da primeira metade século com a obra El fistol Del diablo (1845-1848), um folhetim de Manuel Payno. Logo termina a Reforma e o romance-folhetim mostra que já havia ganhado um público pronto para interagir.

Depois da Reforma o gênero parece haver se consolidado, tendo como destinatário um público relativamente amplo: a primeira edição de Calvario

y Tabor (1868), de Vicente Riva Palacio, por exemplo, constou de seis mil

exemplares e se esgotou em um mês. Este feito, complementado com o previsível empréstimo de cuadernillos a outras pessoas e a prática corrente

da leitura em voz alta, permite estimar que durante o primeiro ano de circulação o manuscrito foi conhecido por mais de trinta mil pessoas (AGUIAR, 2003, p. 12).

Se devemos selecionar escritores para representar cada país e cada situação de escritura, não cabe dúvida de que a figura a ser considerada em relação ao primeiro momento do folhetim no México é Manuel Payno. E sua obra mais representativa seria o romance- folhetim Los Bandidos del Río Frío. Assim como a geração de folhetinista posterior mais importante teria Mariano Azuela como representante. E a sua obra mais significativa, Los de

abajo, vem germinando a narrativa literária mexicana desde o lançamento até os dias atuais. E

toda essa modernização da narrativa mexicana começou nos jornais, de forma bastante popular.

Recentemente (1997), a pesquisadora mexicana Margo Glantz organizou e publicou uma série de ensaios nos quais se prestam homenagens a dois grandes folhetinistas mexicanos: José Tomás de Cuéllar e Manuel Payno, pelo centenário da morte dos autores. A pesquisa de Glantz sobre o folhetim mexicano se parece bastante com a pesquisa que Marlyse Meyer fez sobre o folhetim brasileiro. Revela, inclusive, que houve várias semelhanças entre os folhetins de ambos os países, não que ela faça essa aproximação, precisamos pinçar os pontos de semelhança e dessemelhança.

Gostaríamos de tecer alguns pontos sobre Los Bandidos del Río frío. Antonio Castro declara no prólogo da edição “Sepan Cuentos...”, de Porrúa:

Todo el México de mediados del siglo XIX desfila por las páginas de Los bandidos de Río Frio, y no lo creaba Payno de memoria: lo que describía lo había visto, era el México de sus recuerdos. Y éstos, en la perspectiva lejana de su patria y de su tiempo, aclaraban sus perfiles y adquirían cierta composición y tonalidad y facilitaban su dibujo (CASTRO LEAL, 1991, p. X-XI).

Payno era o cronista da revolução, que recriava a realidade através de um esforço da memória. Mas antes de tudo, era um escritor que escrevia a partir da experiência das ruas, das batalhas que ele travou como soldado. Foi tido por muitos e por muito tempo como um autor de folhetins, um escritor de novelas de costumes e nada mais. Assim tem sido catalogado nos livros de história literária e nas antologias da literatura mexicana. Glantz, questiona essa catalogação constante de Payno como folhetinesta:

Por eso me pregunto: “ ¿Podrá hacerse un estudio profundo de Payno si se le sigue catalogando solamente como un folletinista de estilo descuidado y costumbrista, o si se afirma que en él se notan todos los defectos inherentes al folletín? Estos serian los siguientes: a) sus personajes no son consistentes,

b) desaparecen del texto de repente, o su importancia textual disminuye a medida que avanza la historia, y enfin, c) sus personajes no están bien caracterizados psicológicamente como debiera suceder con los personajes de una novela realista (GLANTZ, 1994, p. 142).

Os problemas enumerados por Glantz na obra de Payno são aqueles que a crítica se apega com frequência para não reconhecê-lo como grande escritor. A pesquisadora propõe, então, buscar outros elementos na obra do escritor que o possibilitaria ser catalogado não mais como “folhetinista e autor de novelas de costumes, com estilo descuidado”. Por essa perspectiva, Glantz parece negar o valor de folhetinista para que Payno seja um escritor. Se a intenção é estudar o folhetim e reconhecer valor nos folhetinistas, que sejam dadas qualidades especificas ao folhetim, e dentro delas a qualidade para cada realizador. Neste ponto Glantz se aproxima de Meyer, quando esta lamenta que os primeiros folhetins brasileiros sejam tão “canhestros”, e não tenham o sabor dos conhecidos folhetins franceses. Faltou tanto para Meyer como para Glantz, duas grandes pesquisadoras do folhetim latino-americano, uma maior valorização do próprio folhetim.

Abandonar os personagens é de fato uma constante em Los Bandidos del Río Frío. O que precisamos é considerar essa estratégia como positiva desde certa perspectiva, e não mais negativa. O escritor constrói tantos núcleos que a obra fica descentrada, do ponto de vista de um romance tradicional. A trama e o enredo se parecem muito com as histórias contadas nas telenovelas de hoje, em que personagens de núcleos distantes ou próximos, mas separados, vão se encontrando pouco a pouco, e alguns deles nem chegam a se encontrar.

Acompanhamos o personagem do tenente coronel Juan Robreño que prestes a ser promovido na carreira militar, cai em desgraça por causa de um amor proibido e se vê obrigado a desertar, sob pena de ser fuzilado. O tenente marcha para a fronteira, e tudo leva a crer que ele será o bandido do Río Frío, mas o narrador o abandona e introduz na história um adolescente aprendiz de torneiro e carpinteiro, Evaristo, o futuro líder dos bandidos do Río Frío. Payno faz boa descrição dos personagens, não importa se eles serão abandonados ou não. A atenção em descrever cuidadosamente um personagem faz com que o leitor fique surpreso com o seu desaparecimento repentino. Payno abre o primeiro capítulo com uma notícia de jornal, na qual apresenta um caso raro para a curiosidade dos leitores: uma mulher está grávida há 13 meses:

Capítulo primero

En el mes de abril del año de 18 ... apareció en un periódico de México, el siguiente artículo:

Caso rarísimo nunca antes visto ni oído. En un rancho situado detrás de la Cuesta de Barrientos, que, según se nos ha informado, se llama Santa María

de la Ladrillera, tal vez porque tiene un horno de ladrillo, vive una familia

de raza indígena, pero casi son de razón.

La mujer, que se llama doña Pascuala, hará justamente trece meses, el día de San Pascual Bailón, que salió grávida, no se sabe si de un niño o de una niña, porque hasta ahora no ha podido dar a luz nada.

El marido, alarmado, ha mandado llamar al doctor Codorniú, que dicen es un prodigio en medicina, y dicen también que el doctor dijo que, en su vida había visto caso igual.25

Notamos que Payno usa o jornal como matéria da sua ficção que será veiculada pelo jornal. Notícias inventadas por ele, ou até mesmo verdadeiras, dão veracidade e credibilidade necessária para introduzir a sua história no rodapé do jornal. A família descrita por Payno é de raça indígena, mas como diz ele, é “quase de ração”. Esse juízo de valor demonstra certa visão positivista, de crença no progresso, na qual algumas raças que eram consideradas inferiores teriam pouco a contribuir. Na sequência do mesmo capítulo o autor introduz outra notícia de jornal como réplica da primeira e aproveita para descrever melhor os primeiros personagens, introduzindo temas relevantes da situação social mexicana como a mestiçagem e direitos à posse da terra:

Ocho o diez días después apareció en el periódico oficial un párrafo que decía así:

Cuando un periódico que se publica en la capital ha dicho que el gobierno se ha cogido tierras y la herencia de los descendientes del emperador Moctezuma, ha faltado a la verdad. En cuanto los interesados presenten las pruebas, el gobierno está decidido a hacerles justicia.

Doña Pascuala era hija de un cura de raza española, nativo de Cuautitlán.

Su hija Pascuala servía de estorbo a un eclesiástico que no quería tener en su casa más que a la dama conciliaria. Aprovechó, pues, la primera oportunidad que se le presentó y la casó con el propietario del rancho de Santa María de

la Ladrillera. El marido sí era de raza india, pero con sus puntas de caviloso

y de entendido, de suerte que se calificaba bien a estos propietarios cuando se decía que casi eran gente de razón, y a este título se daba a Pascuala el tratamiento de doña, y de don a Espiridión, el marido.

Doña Pascuala no era fea ni bonita. Morena, de ojos y pelo negro, pies y manos chicas, como la mayor parte de los criollos. Era, pues, una criolla con cierta educación que le había dado el cura, y por carácter, satirica y extremadamente mal pensada.

Don Espiridión, gordo, de estatura mediana, de pelo negro, grueso y lacio, color más subido de moreno, sin barba en los carrillos y un bigote cerdoso y parado, sombreando un labio grueso y amoratado como un morcón; en una palabra: un indio parecido poco más o menos a sus congéneres.26

25 PAYNO, Manuel. Los Bandidos de Río Frío. Disponível em: <http://www.antorcha.net/

biblioteca_virtual/literatura/bandidos/16.html>. Acesso em: 19 mar. 2010.

26 Ibidem. Disponível em: <http://www.antorcha.net/ biblioteca_virtual/literatura/bandidos/16.html>.

Na descrição da personagem Mariana, aristocrática, Payno não entra em detalhes sobre sua constituição física. A moça solteira fica grávida e tudo é narrado com muita discrição. A fala do tenente Juan ao coronel diz: “Na situação em que nos encontramos não há outro remédio que casarmos”. O leitor precisa deduzir que a moça que já conta com a proibição do conde, seu pai, ao romance, está numa situação ainda mais difícil. Mariana aproveita que seu pai está de viagem e vai até a casa humilde de uma mulher que fora camareira de sua mãe, quando esta vivia, e pede ajuda. Nesta casa, diante da imagem da Santa de Guadalupe, amparada pela camareira, a moça dá a luz como se estivesse rezando. Payno recebeu críticas negativas sobre este tratamento diferenciado para um personagem aristocrático. Também recebeu críticas positivas, pois estaria retratando de maneira metaforizando a situação da aristocracia mexicana nos tempos da Colônia. O resultado é a moça de volta à casa dos pais com a honra imaculada, e uma criança que é deixada numa pedra, em meio a um lixão, para ser devorada pelos cães. Não falta uma velhinha pobre e cheia de piedade para salvar a criança que reencontrará a mãe muito anos mais tarde, quando esta será uma senhora majestosa. O enredo vai se construindo de forma melodramática, perfeito para uma telenovela mexicana, ou latino-americana em geral. Há muitas mulheres que engravidam durante a narrativa, mas Payno deixa passar sutilmente sem detalhes. Principalmente no caso de uma mulher nobre. Glantz infere que seria uma atitude para não ferir a convenção social:

Los múltiples embarazos que deberían figurar en el relato no son nunca descritos y el vientre de la condesita es invisible textual – carece de cuerpo materno visible en la escritura –, a pesar de ser el vientre productor del niño expósito: de otra forma, proclamaría a los cuatro vientos su ilegitimidad y transgrediría las convenciones de clase (GLANTZ, 1994).

Na construção do folhetim romântico, melodramático em várias passagens, Payno constrói unidades dramáticas próprias para o teatro, o rádio ou a telenovela. Estas passagens são encaixadas dentro de outras sequências mais longas e mais sérias, ou mais sisudas como lutas revolucionárias ou discussão de outros problemas sociais. Uma dessas cenas românticas é a sequência em que o tenente Juan recebe a carta de Mariana no acampamento militar. A carta chega pelas mãos de um indiozinho de recados e muda a vida do oficial militar para sempre. Vejamos a sequência com a transcrição da carta:

Juan desdobló el rollito, pasó rápidamente la vista por las páginas escritas y exclamó arrancándose un mechón de cabellos:

- ¡Rayos del cielo! ¡EI infierno se ha conjurado contra mí! ¿Qué hacer? ¿Cómo salir de este aprieto?

Juan:

Yo no sé si Dios me ha abandonado o me quiere todavía. Quiera Dios que llegue a tu poder esta carta porque sería terrible si así no sucediese. Estoy en la casa de Agustina, que tú conoces, y me vine a ella porque... ya lo pensarás, no era materialmente posible que permaneciese un día más en la calle de Don Juan Manuel.

Me tienes aquí: mi padre llega el día ... de modo que sólo hay ocho días escasos de qué disponer. ¿Por qué no quiso mi padre que me casara contigo? ¿Porque eres hijo del administrador y él es conde?

¡Malditos mil veces los condes y los marqueses! ¡Maldito mil veces el dinero, que no ha servido sino para hacerme la criatura más infeliz de la tierra! Pero no sé ni cómo tengo valor ni aliento para escribirte estas cosas que tú sabes lo mismo que yo, cuando necesito valor y aliento para otra cosa más terrible, que es morir. Lo he pensado, es el único remedio si mi padre llega antes que tú. Es seguro que mi padre me matará con ese horroroso puñal que conozco desde que abrí los ojos.

¡Llorar! Echarme a sus pies de rodillas, pedirle perdón, todo será inútil. Entre morir cosida a puñaladas y oyendo maldiciones e injurias de mi padre, a morir sentida y llorada por Agustina y por ti, prefiero esto y lo haré, no hay duda ... acabo de examinar el cuchillo ... sí ... entrará fácilmente en mi corazón ... me acostaré en la cama, colocaré lo mejor que pueda la punta, haré un esfuerzo supremo ... Dios tendrá misericordia de mí si tú no vienes. Es necesario que entres por el balcón a la una de la mañana. Agustina te abrirá la vidriera.

Adiós.

Já podemos imaginar a sequência dramatizada do jovem arrancando a mecha de cabelos no vídeo ou a leitura saborosa da carta feita por um locutor de rádio. Por mais que seja ingênua a carta tem todos os atrativos para uma sequência digna de ser dramatizada. É folhetim no bom sentido que se dá ao gênero e não precisa ser mais do que isso. No enredo de Payno, a carta serve de ponto de virada na vida do personagem. O tenente Juan vai ao encontro da moça e o bandido Gonzalitos entra e sai de Toluca com o seu bando, sem ser atacado por falta de aviso. O bandido escapa justamente pelo lado que Juan deveria vigiar com a sua tropa. Ao regressar ao campo fica sabendo que além do bandido escapar por sua culpa ainda se dá conta de que sua tropa havia debandado por falta de comando. Estava perdido. Marcha para a fronteira, e o leitor supõe que será mais um bandido.

O personagem Evaristo, o torneiro mecânico, teve oportunidades de seguir uma vida honesta vivendo a partir do seu trabalho. Diferentemente de Juan Moreira, não se pode dizer que ele foi um injustiçado. Tornou-se o bandido do Río Frío pela sua má índole, sua ambição desmedida e os crimes que cometia em prol de obter vantagens na vida. Poder-se-ia acusar Payno de naturalista ao apresentar um mestiço de índio com propensão ao desvio moral somente pela sua condição racial. Mas o que Payno mostra é que o mau caratismo e a ambição desmedida não tem raça e nem cor, tantos são os personagens desviados quanto de

grande valor moral em todas as raças que compõem o mosaico racial mexicano representado na obra.

Na sequência de Manuel Payno, o maior destaque vem para Mariano Azuela. Raul Rivero comparou a Revolução mexicana com a revolução do folhetim, fazendo um trocadilho “a Revolução do folhetim”, que leva duplo sentido porque o assunto do folhetim era realmente a revolução:

Un médico de provincia, autor de dos novelas costumbristas de medianías, publicó por entregas un relato en un periódico de El Paso, Texas, en 1915. El hombre se llamaba Mariano Azuela. El folletín, Los de abajo, y la energía de

aquella prosa llegó a sacudir las páginas de Pedro Páramo, de Juan Rulfo y las de La muerte de Artemio Cruz, de Carlos Fuentes (RIVERO, 2008).

A ligação de Azuela a Payno é clara pela evolução da narrativa mexicana no tocante ao folhetim tendo como tema a Revolução mexicana. Os modelos franceses foram substituídos pelos folhetins mexicanos que encontraram na Revolução a sua temática nacional, com os seu conflitos sociais e a eterna tensão das relações mestiças. O jornal mediou um forma de escritura que encontrou o seu leitor, o qual passou a ditar o que lhe correspondia receber como informação e ficção. Outra vez acerta Martín-Barbero (2008) ao falar dos meios e das mediações.

Figura 11 – Cartaz do filme Los de Abajo. Drama (1978) dirigido por Servando González. México.

Los de abajo se liga já com a moderna narrativa de Carlos Fuentes, Juan Rulfo, como

diz Rivero logo acima, mas se liga também com outros grandes narradores mexicanos. Azuela trabalha com um domínio centrado no que seria escrever um romance ou uma novela. No conceito de Borges “novelista é quem conduz meia dúzia de personagens e os leva a um destino”. É o que faz Azuela. Los de abajo não apresenta vários personagens nem distintos núcleos. Conta as aventuras de um camponês, Demetrio Macías, que perseguido pelo Cacique do lugar – terra-tenente mexicano –, quem manda queimar seu rancho e perseguir sua família, se vê obrigado a fugir, sem condições de clamar pela lei que está do lado do Cacique, e se alistar nas filas da guerrilha revolucionária. O homem luta para combater o Cacique e a polícia corrupta, sem ideais políticos. Por sua bravura, torna-se um chefe militar e através de suas relações com os companheiros e adversários a ida do México vai se passando numa tela narrativa. O folhetim de Azuela perde aquela atmosfera melodramática de Payno, o romantismo de moinhas apaixonadas prestes a cometerem loucuras, personagens abandonados na meio da trama, tudo isso desaparece. O ambiente é mais áspero, e as etapas do enredo são encadeadas racionalmente com habilidade e cuidado narrativo.

Rodríguez Monegal (1992) na sua proposta de divisão da literatura latino-americana