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2 O ROMANCE-FOLHETIM E A RELAÇÃO COM AS CRÔNICAS DO DESCOBRIMENTO E COM OUTRAS SÉRIES CULTURAIS

2.1 O Problema da Periodização da Imprensa

A periodização da imprensa é feita em cima de muitas incertezas, várias hipóteses, e não poucas conjecturas. Enrique Ríos Vicente, no seu estudo El Periodismo en

Hispanoamérica, começa a encadeação dos seus argumentos citando uma série de frases de

García Ponce, todas iniciadas por orações subordinadas:

Si la primera imprenta en llegar al continente americano fue a México (1536-1539 fecha más probable) y más tarde a Santo Domingo, Lima y otras ciudades, transcurrieron más de doscientos setenta años para que en Venezuela se llegara a los primeros intentos para su establecimiento (PONCE apud VICENTE, 1994, p. 468).

Nenhum dos dois autores estudados, nem Ponce nem Vicente, se arriscam a afirmar com certeza qual é a data exata da chegada da imprensa no México. Vicente termina o parágrafo, após fechar aspas, dizendo que “el cajista lombardo Juan Pablos se desplazó a México como regente de la primera imprenta y es considerado en México como el primer impresor de la ciudadad” (VICENTE, 1994, p. 468). De fato, há uma coincidência da instalação da imprensa no México com o aparecimento das folhas volantes (“hojas volantes”), que se constituíram como gérmen do jornalismo de gazetas, ou primeiro jornalismo, como ficou chamado. Vicente considera esse jornalismo de gazeta “equivalente ao produzido na Europa no século XVII” (VICENTE, 1994). A primeira folha volante foi impressa por Jun Pablos em 1541, e narrava, ou melhor, comentava os acontecimentos relacionados ao terremoto da Guatemala: Relación del espantable terremoto... De modo que já se pode vislumbrar uma tendência para narrar o maravilhoso, o fantástico, o real, e os costumes, dando as notícias de tal forma que o estilo narrativo vai ajustado ao conteúdo que transmite.

Com a publicação das gazetas de forma regular o México chegou a ser o primeiro país ibero-americano a estabelecer uma imprensa periódica. Alguns estudiosos apontam o início do século XVII para o estabelecimento da imprensa periódica no país. Velasco Valdés

informa que à chegada dos navios de aviso e das frotas, se publicavam folhas volantes que “contenían notícias de España y Europa en general, y a veces se hallaban ilustradas con toscos grabados” (VALDÉS, 1955, p. 16). A expressão “toscos gravados” nos dá uma pista da experimentação iconográfica que se estava vivendo naquele período. Estudos apontam que os astecas, maias, e incas tinham sistemas avançados de comunicação e que, embora não usassem nenhum alfabeto ocidental, tinham sim uma espécie de escrita baseada nas imagens, do qual o Popol Vuh, livro pintado na pedra, é um dos grandes exemplos que nos restou.

Esses sistemas primitivos (ou primeiros) foram totalmente destruídos pelos espanhóis. Foi destruído o sistema como era até então, mas não os desdobramentos desse sistema, através da penetração de seus códigos e linguagens no sistema da escrita e da imagética implantados pelos espanhóis. As gravuras dessas primeiras gazetas não satisfazem os eruditos porque não reproduzem o padrão estético dos europeus, tampouco podemos dizer, em favor delas, que seguem a estética indígena. Elas são já produtos de uma mestiçagem, tentando se adaptar a um novo meio. E isso está aquém da falta ou do excesso de tecnologia.

Vicente aponta que “as gazetas supunham um passo decisivo no mundo informativo colonial, exigido em parte pelo próprio jornalismo exterior” (VICENTE, 1994, p. 469). E esse papel foi cumprido pela Gaceta de México y Noticias de Nueva España (de janeiro a junho de 1722), a primeira em aparecer nas colônias espanholas. Seu editor, Juan Castorena y Úrsula, natural de Zacatecas, disse que decidiu colocar em prática a publicação regular ao tomar conhecimento das gazetas da Europa, que impulsionavam os ideais da Ilustração. Castorena também nos diz que organizou as notícias de acordo com a procedência. Já em ralação aos conteúdos, predominavam aqueles referentes à religião e ao governo. Entretanto, é de se estranhar que um jornal que se ocupava apenas de religião e políticas do governo, não tenha durado mais tempo, já que contava com uma boa logística. Valdés justifica o seu desaparecimento, dizendo que “el alto precio de los materiales de imprenta, la marcha del editor a Mérida y las sátiras, ahogaron la vida de nuestro primer editor” (VALDÉS, 1955, p. 16). Seria interessante investigar a quem essas sátiras eram dirigidas e qual a tipologia delas. No momento, nos basta registrar que elas dividiam espaço nas páginas com assuntos religiosos e políticos.

Na Guatemala apareceu a segunda gazeta das colônias espanholas. Chamou-se

Gaceta de Guatemala, tendo como impressor o Sr. Sebastián Arévalo. Durou um pouco mais

que a Gaceta de México, pois funcionou regularmente desde 1º de novembro de 1729 até 1731. E teve mais sorte também porque embora suprimida em 1731, voltou a funcionar em 1797. Segundo Vicente “en sus principios tuvo mucho auge. En sus páginas se encuentran

referencias muy importantes de la vida social y política del período colonial” (VICENTE, 1994, p. 469). Mas na sua reinauguração já começou a sofrer problemas de imposição e vigilância, devidos à situação que se encontrava o gazetismo na Espanha. A Resolução de fevereiro de 1731, assinada por Floridablanca, estabelecia a proibição de todos periódicos, exceto o Diario de Madrid e os de caráter oficial.6

De modo que, devido ao rumo que tomava a Gaceta de Guatemala, as autoridades montaram guarda para exercer controle e coibir a

difusão de ideias proibidas no semanário. Notamos que os jornais nascem bastante independentes, editados por um “impressor”, como eram chamados os editores e redatores da época. E algum tempo depois passam ao domínio dos Estados, que os convertem em oficiais, ou oficiosos.

O terceiro modelo de publicação periódica na América Ibérica corresponde ao Peru. Nos levantamentos de Vicente, a Gaceta de Lima apareceu em 1º de dezembro de 1743 e durou até a década de 1780. O autor cita um estudo de Temple, no qual este último diz que a dita gazeta “aunque se publicó sin interrupción, no fue muy regular”7 (TEMPLE apud Vicente, 1994, p. 469). Mas essa gazeta tem alimentado muitas opiniões controversas em relação ao seu período, e inclusive um duplo dela atormenta os historiadores e críticos. O próprio Vicente ressalta que os problemas decorrem, principalmente, do fato de que em 1715 apareceu uma Gaceta de Lima, impressa no “taller” de José Contreras y Alvarado. Essa gazeta que não é a historiada; teria surgido 28 anos antes da outra, oficial na história da imprensa peruana. Alguns estudiosos mais recentes estão relendo os estudos dos mais antigos. Castorena, por exemplo, referiu-se a um novo estilo de jornalismo gazetil, o que estaria dirigido à Gaceta Nueva, publicada em Madrid, em 1661. Mais tarde, Francisco González de Cossío, após reproduzir o números 2 de uma Gaceta Nueva de Madrid, na sua Introdução do livro Gacetas de México, vol. I, conclui que as palavras elogiosas de Castorena, nas quais ele apontavam o surgimento de um novo estilo jornalístico estavam dirigidas, na sua interpretação, à Gaceta de Lima, e não à de Madrid.

Havia um ambiente propício à implantação do jornalismo regular em Lima? Na opinião dos estudiosos sim, havia:

Lima tuvo fundamentos suficientes como para haber producido incluso algún tipo propio de gaceta (1715 señalan algunos, Cossío desde 1700), porque

6 Em Historia del periodismo español, Saiz conta como a Espanha estava atravessando, com essa

Resolução, o que ela chamou de “una larga noche” (SAIZ, 1983).

7 Não tivemos acesso direto ao texto de Temple. A referência completa é dada por Vicente: TEMPLE,

Ella Dunbar, La Gaceta de Lima del Siglo XVIII. Facsímiles de seis ejemplares raros, Univ. San

desde 1618 comenzaron a aparecer los “noticiarios” que fueron sustituyendo al periodismo primitivo. El primer “noticiario” fue publicado en 1618. Este tipo de noticiarios hacia 1622 comenzaron a estructurarse en forma de periódicos. En el famoso Diario de Lima de Suardo se relata que en 1630 “muchas nuevas vinieron de Castilla, las cuales se imprimieron a toda prisa en esta Corte. Este mismo Suardo relata en detalle el interés por las noticias de Castilla que luego de la censura correspondiente eran pasadas a los impresores. Este diario era una memoria manuscrita de lo que aconteció en el virreinato entre 1629 y 1639, redactado por Juan Antonio Suardo, bajo las órdenes del virrey Conde de Chinchón (VICENTE, 1994, p. 469-470). De todo modo é preciso observar que por mais avanços que se tenham dado ao jornalismo com o gazetismo no continente, muitos estudiosos afirmam que nos tempos da conquista não havia nascido ainda a imprensa moderna. Ela ainda não é moderna do ponto de vista tecnológico e comercial como será a futura imprensa de massa. Mas ela antecipa uma tendência futura da imprensa do mundo todo que é o duplo interesse por tudo que vem de fora e por tudo que a circunda no ambiente ao qual está inserida. E ainda devemos considerar que os relatos e as notícias dos feitos e sucessos da América já haviam começado a serem narrados pelas primeiras crônicas. Alguns consideram os cronistas como precursores do jornalismo.

Entre os cronistas já mencionados, destaca-se o alemão Ulrico Schmidel, soldado da expedição de Pedro de Mendonza, que chegou ao Rio de la Plata em 1535, e uns trinta anos

depois (1567) publicou em Frankfurt a sua obra intituladaHistoria y Descubrimiento del Río de la Plata y Paraguay. É uma crônica, com extensa enumeração de tribos, em alguns casos

desenvolvidas, diz ele, dos frutos, da pesca e das formas de organização social. Schmidel teria omitido muita coisa que presenciou, acusam muitos, e atribuem o seu proceder ao fato de ele ser militar e religioso católico fervoroso. Teria Schmidel pecado, na visão dos estudiosos da comunicação, pela imparcialidade e pela falta de objetividade nas suas reportagens. As acusações partem de uma visão assentada na crença de que o jornalismo pode ser totalmente objetivo e imparcial, negando a participação de um sujeito que participa do processo ao relator os fatos (SALLES, 2009).

A obra de Schmidel é a primeira crônica que narra de maneira cronológica os acontecimentos do Rio de la Plata y Paraguay. Importante manancial para os estudos de história da imprensa porque cobre o período de duração da imprensa que os jesuítas implantaram em Córdoba, a fim de proporcionar livros para os indígenas. Mas essa primeira imprensa de Córdoba não teve mérito para gerar uma data oficial de implantação da imprensa na Argentina. Os fatores parecem que são muitos. Primeiro, ela durou pouco tempo porque os jesuítas foram expulsos e a máquina de prensa foi fechada e abandonada num colégio

franciscano da cidade. Segundo, a história da Argentina se confundia com as do Uruguai e do Paraguai, numa total falta de delimitação geográfica do que se chamava Vice Reino do Prata. Terceiro, a Argentina preferiu fixar a data oficial da imprensa nacional a partir de um jornal liberal e nacionalista, para coincidir com o ano da sua independência, 1910. Como a data oficial da imprensa nacional brasileira antecede a da Argentina, consideraremos primeiro o problema no Brasil, e logo voltaremos ao caso argentino.

No Brasil não houve imprensa, pelo menos de modo oficial, até o começo do século XIX. A Coroa portuguesa proibia que a colônia tivesse imprensa. Todavia faltam-nos estudos que comprovem a existência e a tipologia de possíveis jornais escritos à mão em terras brasileiras. Se no começo do século XVII esses jornais eram recorrentes no México, na Guatemala e no Peru, como já vimos, inclusive a sua origem no século XVI, de certo podem ter surgido também em português na colônia luso-americana. Mas a historiografia considerou que o primeiro jornal brasileiro, escrito em língua portuguesa, surgiu no Rio de Janeiro: A

Gazeta do Rio de Janeiro (1808), mesmo ano da chegada da família real portuguesa, que viera

fugida da perseguição que Napoleão impunha aos reis da Europa. A Gazeta do Rio de Janeiro teve seu primeiro número publicado em 10 de setembro de 1808. Era uma espécie de Diário Oficial da Coroa, editado pelo frei Tibúrcio José da Rocha. Editava os decretos do rei e não tinha nenhum propósito independentista, evidentemente, como já fazia o jornalismo das gazetas dos países hispano-americanos. O presidente Getúlio Vargas, contrariando a expectativa de setores mais democráticos da sociedade brasileira, decretou o dia 10 de setembro como o dia nacional da imprensa no Brasil, com base na primeira publicação dessa gazeta.

Também por força política, a historiografia voltou a estabelecer nova data de aniversário para a imprensa nacional. No ano 2000 o Congresso Nacional aprovou um projeto, e o presidente Fernando Henrique Cardoso o sancionou, mudando o dia oficial da imprensa no Brasil de 10 de setembro para o dia 1º de junho. Essa nova data corresponde à primeira publicação do Correio Braziliense (1 de junho de 1808), apenas dois meses mais velho que o

anterior, publicado pelo brasileiro Hipólito José da Costa Pereira, quem o editava, imprimia, e o enviava desde Londres ao Brasil. Sempre de maneira clandestina. Setores ligados à imprensa, inclusive sindicatos, receberam a nova data como uma justiça, que corrigia uma injustiça. A nova data oficial deixava de reverenciar um jornal do rei para homenagear um jornal independente, gérmen de um jornalismo combativo, imparcial e objetivo. Esses foram os argumentos das associações de jornalistas brasileiros, o motor da mudança de data.

Analisando o jornal que passou a representar o dia da imprensa no Brasil vemos que

Correio Braziliense era uma publicação mensal, política, mas com grande cobertura

científica, econômica e social, que teve sua importância na formação do país. Entretanto o Brasil trocava seis por meia dúzia, pois o novo referente da data célebre não teria tido todos esses ideais. Hipólito José da Costa Pereira não teria sido assim um exemplo de jornalista combativo e imparcial. Sua biografia é controvérsia. Ao mesmo tempo em que se exilou em Londres para fugir da Inquisição, e da “lei da mordaça” que proibia a impressão de livros e jornais no Brasil, editava um jornal que vinha nos porões dos navios, recebia apoio financeiro e diplomático dos nobres da corte. Estudos apontam que o próprio rei Dom João VI era um dos leitores assíduos do Correio Brasilienze. Depois da partida do rei para Portugal, Dom Pedro I passou a ajudar financeiramente Hipólito Pereira na Europa. Estranho caso é o da mentalidade portuguesa que caminha por via de mão dupla. Ao mesmo tempo que se proíbe a impressão de qualquer jornal sob pena de prisão ou até de morte para quem desobedecer, lê e financia um jornal clandestino.

Hipólito Pereira teve um longo convívio com as autoridades portuguesas. Começou seus estudos em Porto Alegre e terminou em Lisboa. Formou-se em Leis, Filosofia e Matemática, em Coimbra, 1798. Recém-formado, foi enviado como diplomata pela Coroa portuguesa aos Estados Unidos e ao México, para onde partiu em 16 de outubro do mesmo ano de 1798, com a missão de conhecer a economia desses dois países e as técnicas industriais aplicadas pelos Estados Unidos. Voltou ao Brasil, e em 1802 foi enviado a Londres com uma nova tarefa: o objetivo declarado de adquirir obras para a Real Biblioteca e maquinário para a Imprensa Régia. Ao que tudo indica, nessa missão ele travou contato com impressores e se familiarizou com a edição de jornal. Em sua biografia consta que ele havia feito um acordo secreto com a Coroa portuguesa, no qual essa se comprometia a adquirir certo número do seu jornal, além de uma quantia em dinheiro para a sua pessoa, em troca de moderação nas críticas feitas à Monarquia. Maçom declarado e perseguido,chegou a ser preso pela Inquisição, mas conseguiu evadir-se das celas do Santo Oficio para a Espanha, disfarçado de criado, com o auxilio dos irmãos maçons. De lá, diz a sua biografia na Wikepédia, “passou para a Grã-Bretanha, onde se exilou sob a proteção do príncipe Augusto Frederico, duque de Sussex, o sexto filho de Jorge III do Reino Unido e grão-mestre da maçonaria inglesa”.8

Tal foi a vida do nosso primeiro impressor oficial, que morreu em 1823, sem chegar a saber que havia sido nomeado Cônsul do Império do Brasil em Londres, digna de um

8 HIPÓLITO DA COSTA. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%

personagem de folhetim de Eugène Sue, Ponson du Terrail, José de Alencar ou Machado de Assis.

O pioneirismo do jornalismo brasileiro é muito discutível e discutido. O político alagoano e pioneiro nos estudos da comunicação no pais, Costa Rego, defende que antes de frei Tibúrcio e Hipólito da Costa Pereira tivemos Tavares Bastos (MELO, 2010).9 Já o jornalista Carlos Alves Müller acredita que muitos outros fizeram jornalismo bem antes desses três já citados. Müller chama a atenção para Antônio Isidoro da Fonseca, quem considera o primeiro tipógrafo a imprimir no Brasil (1746). Lembra também o nome de João Soares Lisboa, editor do Correio do Rio de Janeiro, que teria reagido duramente contra uma lei de D. Pedro I que censurava a imprensa. João Soares defendia a convocação de uma constituinte brasileira. Assunto que vai provocar a desgraça de muitos defensores da imprensa. Frei Caneca, por exemplo, um dos lideres da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador, foi fuzilado. Tornou-se, segundo Müller e alguns outros, “o primeiro mártir da imprensa brasileira. E não é demais lembrar que a Revolução Pernambucana de 1817, também conhecida como “Guerra dos Padres”, além dos anseios de se independentizar do jugo econômico da Corte estabelecida no Rio de Janeiro, estava movida pelas ideias liberais que entravam no Brasil junto com os viajantes estrangeiros e por meio de livros e de outras pulicações. E Müller não nos deixa esquecer a figura do médico italiano Libero Badaró, editor do Observador Constitucional, guerreiro defensor da liberdade de imprensa, assassinado em novembro de 1830 (MÜLLER, 1999).

Já começamos a desenhar os contornos do ambiente que vai receber o primeiro folhetim publicado no Brasil, segundo os levantamentos de Marlyse Meyer, nove anos depois da morte de Libero Badaró. É o que veremos no tópico seguinte. Agora é hora de voltar às considerações sobre a imprensa na Argentina, para explicar a fixação da data oficial.

No começo do século XVIII a Companhia de Jesus introduziu a imprensa no território que compreendia o Vice Reino do Prata para produzir livros de catecismo aos indígenas, como já vimos. Alguns estudiosos indagam se deveriam incluir na história da imprensa argentina a chamada “Prensa Guarántica”, atualmente reivindicada pela historiografia do Paraguai. Não é incomum também encontrar artigos da área de comunicação na Argentina que colocam em xeque a existência dessa imprensa. O senso mais comum nos trabalhos historiográficos sobre a instalação da imprensa na Argentina é o de que os Jesuítas a instalaram em Córdoba, em 1758.

9 Ver também Por José Cristian Góes. Disponível em: <cristiangoes.blogspot.com>. Acesso em: 10

Em 1779 o Vice Rei Vértiz, de Buenos Aires, manda comprar a máquina de prensa que estava abandonada no Colégio dos Franciscanos, em Córdoba. Há descrições de quanto se pagou por ela, de como a transportaram em carretas de boi até as margens do Rio do Prata. E de quanto se gastou para consertar as suas peças que estavam danificadas, mandando vir material da Europa. No ano de 1880, logo após haver promulgado a abertura da Casa de Expósitos, um lugar onde “los hijos ilegítimos pueden educarse en el Santo Temor de Dios y ser útiles a la sociedad”, segundo fundamentação do próprio Vértiz em carta enviada ao Rei de Espanha, inaugurou a imprensa em Buenos Aires (VÉRTIZ apud MITRE 1918, cap. III). O Vice Rei deu-lhe o nome de Real Imprenta de Niños Expósitos. Por esses dados podemos supor o caráter educativo que essa imprensa deveria exercer.

De suas oficinas sairiam, em 1781, as Noticias recibidas de Europa por el Correo de

España por vía del Janeiro, e também o Extracto de las noticias recibidas de España por la vía de Portugal. En 1801 se editó el Telégrafo Mercantil, Rural, Político, Económico e Historiógrafo del Río de la Plata, por obra de Antonio Cabello y Mesa. Em suas publicações

se destacaram Manuel Belgrano, Juan José Castelli, Manuel Medrano, Domingo de Azcuénaga, e muita gente importante na história do país. Em 1802 foi fechado pela censura, tendo alcançado sua coleção os 110 números e 4 suplementos. Pouco tempo depois começou a