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2 O ROMANCE-FOLHETIM E A RELAÇÃO COM AS CRÔNICAS DO DESCOBRIMENTO E COM OUTRAS SÉRIES CULTURAIS

2.2 O Problema da Periodização da Literatura

A literatura do continente sofreu os mesmos critérios de historiografia que a imprensa. Tentou-se, em muitos casos, vincular o nascimento de uma literatura nacional, a partir das independências dos países. Um dos críticos literários brasileiros que se dedicou a construir um olhar da literatura como fenômeno literário, foi Afrânio Coutinho. Ele ataca justamente o problema da periodização: “A subordinação da historiografia literária à historiografia política tem dado lugar, até agora, a uma periodização em que não é levada em consideração a natureza peculiar do fenômeno literário” (COUTINHO, s.d., p. 20). Isso teria ocorrido no Brasil por adotarmos a mesma divisão de cunho político que se adotava para a literatura portuguesa. Diz ele:

Na literatura portuguesa, o critério dominante tem sido invariavelmente este: as divisões têm denominações oriundas da história geral (Idade Média, Tempos Modernos), misturados com termos provenientes da historia da arte (Renascimento), com termos simplesmente numéricos (Século VI, XVII, XIX, Quinhentismo, Seiscentismo, etc.) e outros de sentido literário (Romantismo, Classicismo). Por outro lado, os marcos são ora o limite dos séculos ora a morte de grandes figuras ou publicação de obras célebres e influentes (morte de Camões, publicação de Camões de Garret, etc.). Na literatura brasileira, também, as divisões tradicionais referem-se a critérios políticos e históricos, como era colonial e era nacional, com subdivisões por séculos ou decênios, ou por escolas literárias. De modo geral, pois, é a fórmula empírica, meramente cronológica ou a aplicação do conceito historicista e sociológico na historiografia literária (COUTINHO, s.d., p. 20- 21).

Afrânio Coutinho advoga pela “periodização estilística aplicada à história da literatura brasileira” que segundo ele, “além das vantagens gerais de abolir as tiranias sociológica, política e cronológica, que caracterizam os sistemas de periodização tradicionais, tem outras conseqüências importantes” (COUTINHO, s.d., p. 23), às quais passa a examinar detalhadamente no seu livro, dizendo que a consideração do problema conduz às seguintes conclusões:

a) O problema da periodização liga-se ao conceito da história em geral, e, em particular, ao da história literária.

b) De sua fixação decorre a compreensão do início da literatura brasileira. Que é literatura brasileira? Quando começou a literatura brasileira, no século XVI ou no século XIX? A periodização estilística realça a formação da literatura brasileira concomitante com a própria origem da civilização e do homem brasileiro no século XVI, em pleno mundo espiritual e barroco. Fica superada de todo a velha dicotomia entre literatura colonial e nacional. Uma

literatura não é colonial só porque se produz numa colônia e não se torna nacional apenas depois da independência da nação. A nossa literatura foi “brasileira” desde o primeiro instante, assim como foi brasileiro o homem que no Brasil se firmou desde o momento em que o europeu aqui pôs os pés e aqui ficou. Assim, a literatura brasileira primitiva não é colonial, mas barroca e brasileira ( COUTINHO, s.d., p. 23-24).

Pode parecer estranho para quem não está familiarizado com as discussões em torno da historiografia da literatura brasileira perguntas como essa: “Quando começa a literatura brasileira, no século XVI ou no século XIX?”. Muito se tem falado e se tem escrito sobre isso. Críticos importantes têm se debruçado sobre o problema. Citaremos brevemente apenas alguns deles. Neste caso Afrânio Coutinho está se referindo direto e principalmente ao crítico brasileiro de literatura Antonio Candido, quem escreveu no seu Formação da Literatura

Brasileira que a nossa literatura começa só no século XIX. Antonio Candido começa

estudando a nossa literatura a partir da portuguesa. Persegue uma trilha histórica recorrendo vestígios do que ele chama de “influência” de autores portugueses nos autores brasileiros, os que não chegam a formar uma literatura nacional. No capítulo 4 do primeiro volume do seu livro, quase acabando o volume, ele trata da “Independência Literária”, onde acaba por estabelecer uma relação entre a independência política e a da literatura. Diz ele:

Para antecipar o que será versado em pormenor no segundo volume desta obra, digamos desde já que o Romantismo no Brasil foi episódio de grande processo de tomada de consciência nacional, constituindo um aspecto do movimento de independência. Afirmar a autonomia no setor literário significava cortar mais um liame com a mãe Pátria. Para isto foi necessário uma elaboração que se veio realizando desde o período joanino, e apenas terminou no início do Segundo Reinado, graças em grande parte ao Romantismo que, importando em ruptura com o passado, chegou num momento em que era bem-vindo tudo que fosse mudança. O Classicismo terminou por ser assimilado à Colônia, O Romantismo à independência – embora um continuasse a seu modo o mesmo movimento, iniciado pelo outro, de realização da vida intelectual e artística nesta parte da América, continuando o processo de incorporação à civilização do Ocidente (CANDIDO, 1971, p. 303).

Não deixa de ser curiosa essa classificação histórica. Segundo ela o Brasil teria vivido um classicismo durante todo o período da Colônia. E toda a experimentação de cunho barroca que se fez nessas novas terras fica submersa durante esse período. O livro Formação

da Literatura Brasileira já traz no primeiro volume a informação de que vai estudar a história

literária a partir de 1750. O subtítulo vem entre parênteses (Momentos Decisivos). 1º Volume (1750-1836). Lembremos que 1836 é considerado como data oficial do início do Romantismo brasileiro pela historiografia literária oficial, tendo como referência a publicação da obra

poética Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. Um dos exemplos de que os períodos são marcados por datas e obras, de modo arbitrário, como denuncia Afrânio Coutinho, em fala já citada aqui.

Na crítica portuguesa sobre a literatura brasileira no período antes de 1750 encontramos vários exemplos de conselhos valorativos. Diziam os portugueses da época que os brasileiros deveriam esquecer a mitologia greco-romana e toda a tradição latina, para se concentrar na realidade do novo mundo. Deveria falar da natureza ou do indígena, por exemplo. Em outras palavras, olhar para a Europa seria continuar o que faziam os europeus. Eles não pensam na hipótese de se fazer uma cultura circular, aproveitando tudo o que vinha do mundo clássico europeu, mais aquilo que eles tinham de não clássico, e de todas as outras contribuições, árabes, africanas, ameríndias e asiáticas. Acreditavam na supremacia literária da Europa, e julgavam que o país americano deveria construir uma cultura própria através do rompimento com os modelos da tradição ocidental, trabalhando somente o que fosse autóctone. Não havia necessidade filosófica de rompimento com Portugal e com a tradição greco-romana. No novo mundo a relação inseparável entre cultura e natureza, e dentro dessa relação a evolução estética da língua portuguesa, foi criando uma literatura que foi se diferenciando de Portugal e se constituindo nacional.

É evidente que não acertamos sempre, confundimos literatura com resistência política em vários momentos. Com a atitude nacionalista, diz Antonio Candido (1971), tentou-se inventariar um passado para a literatura brasileira na tentativa de fazer frente a Portugal. Catalogava-se o que podia encontrar de parecido com literatura, para criar de forma retroativa, uma gênese da literatura brasileira. Andamos sempre bem próximos do acerto e do erro. Acusam José de Alencar de haver tomado uma atitude semelhante ao escrever livros sobre o gaúcho, o índio, o sertanejo e a vida cortesã. Queria formar uma vastidão de obras nacionais para rivalizar com Portugal e Europa. Jorge Luis Borges ironiza o historiador e crítico argentino de literatura, dizendo que “o Dr. Ricardo Rojas escreveu uma história da literatura argentina maior do que a literatura argentina” (BORGES, 1937). Há uma defesa do nacional nessa atitude de Rojas. É evidente que não são só os grandes autores que interessam, e assim se pode aumentar o número de obras de um país ou de uma cultura. O condenável é que essa postura segue a lógica binária da oposição entre colônia e metrópole, que deve ser abandonada para que se possa pensar bem a América Latina. De outro modo, alinhado com a visão sociológica europeia, Antonio Candido também parte da oposição entre colônia e metrópole. Citamos um parágrafo e meio do prefácio da 1ª edição do Formação:

Há literaturas de que um homem não pode precisar sair para receber cultura e enriquecer a sensibilidade; outras, que só podem ocupar uma parte da sua vida de leitor, sob pena de lhe restringirem irremediavelmente o horizonte. Assim, podemos imaginar um francês, um italiano, um inglês, um alemão, mesmo um russo e um espanhol, que só conhecem os autores de sua terra e, não obstante, encontrem neles o suficiente para elaborar a visão das coisas, experimentando as mais altas emoções literárias.

Se isto já é impensável no caso de um português, o que dirá de um brasileiro? A nossa literatura é galho secundário da portuguesa, por sua vez arbusto de segunda ordem no jardim das musas... (CANDIDO, 1971, p. 9). A justificativa maior de Antonio Candido para a negação da existência da literatura brasileira antes de 1750 é o fato de ele privilegiar um método de trabalho histórico e sociológico, baseado no que ele chama de sistema orgânico. Ele constrói um sistema composto pela tríade de conjunto de autores conscientes de seu papel, um conjunto de receptores, no caso formado de diferentes tipos de público leitores, e um mecanismo transmissor que liga uns aos outros. Essa visão tem causado um grande debate sobre a periodização da literatura, dentro e fora da academia. Teve adeptos e críticos opositores. Citamos parte do parágrafo propulsor de controvérsias:

Para compreender em que sentido é tomada a palavra formação, e porque se qualificam de decisivos os momentos estudados, convém principiar distinguindo manifestações literárias, de literatura propriamente dita, considerada aqui um sistema de obras ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as notas dominantes duma fase. Estes denominadores são, além das características internas, (língua, temas, imagens), certos elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização. Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns aos outros (CANDIDO, 1971, p. 23).

Haroldo de Campos foi um dos que mais provocou polêmica com os críticos e historiadores da literatura, na maioria acadêmicos, porque estes se esforçaram para defender as teses de Antonio Candido. Agiram como se o grande mestre não pudesse cometer equívocos. No livro intitulado O Seqüestro do barroco na formação da literatura brasileira:

o caso Gregório de Matos, Haroldo de Campos faz uma discussão crítica do que ele chamou

de “o mais lúcido e elegante (enquanto articulação do modelo explicativo) ensaio de reconstrução historiográfica de nossa literatura”, no caso A formação da literatura brasileira

(Momentos Decisivos), de 1959 (CAMPOS, 1989). Haroldo de Campos faz uma

literária barroca e nacional, dando-lhe importância estética e espiritual de um dos pais fundadores dela. Ao refazer a historiografia da literatura brasileira Haroldo de Campos cria outra escola, outra tendência para o historiador e o crítico literário, que poderão orientar seus trabalhos sem seguir a linha linear da evolução e culminação de um momento estético. Uma escola de pensamento, ou de pensadores, mais bem aparelhados para considerar como relevante a cultural marcada por uma veia neo-barroca, como é o caso da literatura brasileira e latino-americana, em geral. E dentro dessa nova postura aparece espaço para a revalorização das Crônicas do Descobrimento não só como documento histórico, mas também como peças literárias, exatamente pela configuração estética que as ligam com outros textos da nossa cultura. Citamos a orientação que nos dá Haroldo, já no primeiro parágrafo de O seqüestro do

barrroco:

Se há um problema instante e insistente na historiografia literária brasileira, este problema é a “questão da origem”. Nesse sentido é que se pode dizer – como eu fiz em “Da razão antropofágica” – que estamos diante de um episódio da metafísica ocidental da presença, transferido para as nossas latitudes tropicais, (...) um capítulo a que Derrida, na Gramatologia, submeteu a uma lúcida e reveladora análise, não por acaso sob a instigação de dois ex-cêntricos, Fenollosa, o anti-sinólogo, e Nietzsche, o pulverizador de certezas (CAMPOS, 1989, p. 7-8. Grifos do autor).

Essa metafísica ocidental da presença foi refutada por Oswald de Andrade ao criar a metáfora da antropofagia cultural. A antropofagia, baseada na deglutição e incorporação do outro, anula a importação da origem. Tanto que na revalorização de Gregório de Matos, Haroldo cita Oswald logo na página seguinte. Diz ele, referindo-se àqueles que tentaram diminuir ou até excluir a existência literária de Gregório de Matos:

Oswald de Andrade (“A Sátira na Literatura Brasileira”, 1945) opinava em sentido diametralmente oposto: “Gregório de Mattos foi sem dúvida uma das maiores figuras de nossa literatura. Técnica, riqueza verbal, imaginação e independência, curiosidade e força em todos os gêneros, eis então os rumos da literatura nacional” (OSWALD apud CAMPOS, 1989, p. 9. Grifos do autor).

Na literatura hispano-americana o historiador E. Anderson Imbert abre o prólogo do primeiro volume do seu Historia de la literatura hispanoamericana com a seguinte consideração:

De los muchos peligros que corre un historiador de la literatura, dos son gravísimos: el de especializarse en el estudio de obras maestras aisladas entre sí, o el de especializarse en el estudio de las circunstancias en que esas obras se escribieron. Si hace lo primero nos dará una colección de ensayos críticos discontinuos, es decir, una historia de la literatura con poca historia.

Si hace lo segundo nos dará referencias exteriores al proceso de civilización, es decir, una historia de la literatura con poca literatura (ANDERSON IMBERT, 2003, p. 7).

Anderson Imbert tem a preocupação de estudar a literatura hispano-americana como um todo produzido pelo que ele chama de as “dezenove nações”, de língua espanhola, evidentemente. Demonstra, como Antonio Candido, um certo pesar pela nossa literatura ser formada de menor quantidade de obras e de menor valor estético que a da Europa. Antonio Candido disse que a nossa literatura (a brasileira), comparada com a europeia é pobre e fraca. Anderson Imbert afirma que nossa contribuição (da literatura hispano-americana) é mínima à literatura mundial. Defende a necessidade de arrolar autores não tão bons nos seus ensaios historiográficos para não apresentar uma história tão delgada da literatura. É curioso que ele mesmo, logo após dizer no parágrafo anterior que “cada escritor afirma valores estéticos que lhe formaram, enquanto eles contemplavam o horizonte histórico, e que são esses valores que deveriam constituir o verdadeiro sujeito de uma História Literária” (ANDERSON IMBERT, 2003, p. 7), ele venha afirmar que se devem catalogar escritores malogrados para não apresentar uma história tão delgada. Aqui devemos pensar em algumas questões. Primeira, esses escritores malogrados são maus artistas sobre que ponto de vista estético? O da inteireza da obra preconizada por Aristóteles? As suas obras não estabelecem nenhuma relação com o novo ambiente onde estão sendo produzidas? Se elas estabelecem novas relações com o novo ambiente, não deveriam ser apreciadas por outros critérios ou juízos? Há legitimidade na necessidade quantitativa de obras para um país ou um continente ter literatura? Vejamos as palavras do historiador:

Nuestras contribuciones efetivas a la literatura internacional son mínimas. Bastante hemos hecho si se tienen en cuenta los mil obstáculos con que ha tropezado, y todavía tropieza, la creación literaria. El Inca Garcilaso, Sor Juana Inés de la Cruz, Andrés Bello, Domingo Sarmiento, Juan Montalvo, Ricardo Palma, José Martí, Rubén Darío, José Enrique Rodó, Alfonso Reyes, Jorge Luis Borges, Pablo Neruda y diez más son figuras que honrarían cualquier literatura. Pero, en general, nos aflige la improvisación, el desorden, el fragmentarismo, la impureza. Forzosamente tendremos que dar acogida a mucho escritor malogrado (ANDERSON IMBERT, 2003, p. 7-8).

Fica claro que a questão da quantidade aflige o crítico, e prenunciado que ele deverá se pautar por conceitos ou valores estéticos já consagrados pela crítica tradicional que ele deverá aplicar aos autores por ele mencionados.

Ainda dentro da problemática da origem merece destaque o trabalho do historiador José Miguel Oviedo, Historia de la literatura hispanoamericana. 1. De los Orígenes a la

Emancipación. Oviedo propõe uma história da literatura que remonta aos restos da literatura

pré-colombina. A palavra “restos” aqui se refere ao que chegou até o nosso conhecimento daquela cultura. Destaca os Códices mexicanos, o que restou do Popol-Vuh, dos Libros del

Chilam Balam, na zona compreendida hoje por México e Guatemala. Sobre a zona Andina diz

ele:

De la literatura de expresiones literarias en lengua quechua no cabe duda: Inca Garcilaso (4.3.1.), Guamán Poma de Ayala (4.3.2.), Santa Cruz Pachacuti, Juan de Betanzos, Sarmiento de Gamboa, Murúa, Francisco de Ávila y otros (3.2.6.), transcribieron abundantes textos en sus obras o dieron variadas noticias de ellos (OVIEDO, 1995, p. 60).

O trabalho de Oviedo, e de outros historiadores que se esforçaram na pesquisa sobre as formas de expressão dos ameríndios, que passamos a chamar de literatura, é importante não para se buscar uma origem e afirmação valorativa do passado pré-colombino, mas para conhecermos suas características. Assim, podemos verificar o quanto essa cultura, com suas cosmogonias, hinos e formas épicas adentraram ao mundo mestiço expressado pela língua portuguesa e espanhola da América. Como método de trabalho Oviedo descarta de sua historiografia toda a literatura escrita em língua indígena. Também descarta toda literatura escrita sobre o continente, dentro ou fora dele, que tenha sido feita em língua estrangeira. A obra de Schmidel, a crônica que narra os acontecimentos do Rio de la Plata y Paraguay, fica de fora porque foi escrita em alemão. Outras crônicas escritas em francês, italiano, inglês, também ficam de fora.

Vemos por essas referências que são muitos os problemas para se fazer uma abordagem profunda da cultura e da literatura latino-americanas. A origem, a periodização, e a fixação da língua são alguns deles. Outro questionamento que tem sido feito é aquele que pergunta se as obras literárias de autores latino-americanos publicadas na Europa ou Estados Unidos pertencem à literatura latino-americana, como a produção de José Martí em Nova Iorque no século XIX, e a produção de Julio Cortázar na Europa, no século XX. Consideramos que sim, são obras latino-americanas. A menos que eles tenham produzido em outros idiomas que não o português ou castelhano.

Voltando ao problema da origem, agora em relação aos gêneros literários, lemos a produção pré-colombina com alguns critérios do velho mundo. Não nos foi possível escapar totalmente dos conceitos que acompanharam os homens das caravelas. Mas afinal, temos ou não direito a essa herança ocidental? Destacamos uma passagem de Oviedo:

No podemos escapar de los hechos: incluso cuando hablamos de géneros y décimos que esto es “novela” y aquello un “poema”, estamos repitiendo esquemas y categorías que fueron pensados mucho tiempo antes del descubrimiento de América o de que su problemática cultural inquietase a nuestros espíritus. No creemos que haya que pedir disculpas por aprovecharnos de ellos, ni que sea indispensable usar una nomenclatura completamente nueva, inmaculada de toda conexión con el mundo cultural eurocéntrico; en estas materias la tentación adánica puede tener resultado contraproducente e indeseable de aislarnos más en el contexto global al que pertenecemos por derecho propio. Por ser americanos somos una fracción de Occidente, una suerte de europeos más complejos (y tal vez completos) que los europeos mismos, pues hemos sido enriquecidos por nuestras propias tradiciones indígenas y las africanas, asiáticas, árabes, etc. Somos una distinta versión de lo mismo. Nuestro costado europeo no nos encasilla: es un modo de reconocer que somos universales, aunque lo somos a nuestra manera y – a veces – al grado de casi no parecerlo (OVIEDO, 1995, p. 20). Como peruano, talvez, não houvesse necessidade de Oviedo reivindicar o direito de ser uma fração do Ocidente. Lembremos Borges quando disse que “todo latino-americano tem a tarefa de traduzir o Ocidente”.

Para finalizar este tópico e entrar na análise do folhetim, ressaltemos ainda uma